Eu “amo” a Energisa
Professor
Nazareno*
A Energisa é agora
a companhia de eletricidade de Rondônia. Só que ela é de Cataguases, Minas
Gerais. Foi fundada em 1905 e hoje tem várias subsidiárias de energia elétrica
espalhadas por todo o Brasil. É uma empresa de ponta. A competência e o arrojo
em suas ações a credenciam para ser uma das melhores concessionárias desse
setor não somente no Brasil, mas no mundo inteiro. Já devia ter faturado por
diversas vezes o prêmio de melhor empresa para se trabalhar. As revistas Exame
e Época Negócios, assim como a Great Place to Work não cansam de rasgar elogios
ao desempenho, à correção, à competitividade e principalmente ao respeito às
draconianas regras e leis do mercado. Trabalhar na Energisa é um deleitoso
prazer. Seus sortudos funcionários e colaboradores não param de, com alegria,
enaltecer seu lugar de trabalho.
“Tudo aqui é feito com amor, humanidade, lisura
e muita compreensão”, dizem à boca larga os seus risonhos trabalhadores. Pensamento
rotineiro dentro da Energisa: com salários de primeiro mundo, vantagens
pessoais inimagináveis e infinitas outras regalias, não há como não se dedicar
“de corpo e alma” a uma empresa “quase santa” como essa. A Energisa comprou a antiga Ceron por um preço
justíssimo. O processo de privatização dos bens públicos era um antigo desejo
de toda a população rondoniense. Povo de sorte, os políticos locais logo se
encarregaram de fazer todo o processo andar. Por isso, ninguém tem mais
saudades da Ceron nem dos constantes apagões. Foram os políticos de Rondônia
que deram mais este “presente” para o
sofrido povo desse Estado. A Energisa talvez só perca em bondade e
credibilidade para essa mesma classe política.
Porém, é exatamente na relação com o
público consumidor que a empresa se destaca. Hoje, praticamente não há um só
rondoniense que não teça loas à sua empresa de energia. Toda a população foi
beneficiada com as tarifas sociais praticadas pela Energisa. Os contadores de
luz, devidamente regulados e aferidos dentro da lei, não deixam quaisquer
dúvidas da justeza dela. “Uma empresa
assim deveria ir para a Alemanha, Bélgica ou mesmo o Japão, a fim de prestar os
seus relevantes serviços”, é o que se comenta com frequência. Reclamação,
nenhuma. Insatisfação, nada. Além, do mais, foi a Energisa que ensinou aos
rondonienses os sinônimos de Capitalismo e privatização. Economia de energia
passou agora a fazer parte do cotidiano de muitas pessoas daqui. E isso é muito
bom, pois a natureza agradece. E tudo isso graças a quem?
A Energisa gosta tanto de Rondônia e de
sua gente que incentiva até a liberdade de expressão. Parte da mídia chega
também a enaltecê-la. Os jornalistas podem escrever o que quiserem sem ter que
enfrentar tipo nenhum de censura ou cerceamento de opinião. A relação dessa
empresa privada com os órgãos do Estado, no entanto, é de fazer inveja aos mais
rotundos defensores do Neoliberalismo. A briosa Polícia Civil do Estado, por
exemplo, sem muita coisa a fazer devido à escassez de violência nas cidades,
foi uma aliada de primeira hora da companhia. Não raro, veem-se homens fardados
acompanhando o trabalho de troca de contadores ou mesmo quando tiverem de
cortar o fornecimento de luz. Outras reconhecidas instituições públicas como o
IPEM e o PROCON também não mediram esforços para colaborar com a empresa
privada. Será que ela não gostaria de comprar também a Caerd, os Correios e até
o próprio Estado?
*É
Professor em Porto Velho.
Nenhum comentário:
Postar um comentário