Esquizofrenia
coletiva
Professor
Nazareno*
O mundo ferve: a América Latina
ferve, a Europa ferve, a África ferve. Na Espanha, os catalães saem às ruas
para protestar e mostrar sua insatisfação contra a decisão da Suprema Corte do
país em punir líderes separatistas. No Equador, multidões fazem o governo
direitista de Lenin Moreno recuar no aumento de mais de cem por cento dado aos
combustíveis. No Chile, mais de um milhão e duzentas mil pessoas protestam nas
ruas de Santiago contra o aumento no preço das passagens de metrô e
principalmente contra as políticas neoliberais do governo de Sebastián Piñera. Os
chilenos pedem mais justiça e o fim da desigualdade social que estão vivendo. Enquanto
isso, o Brasil vive uma calmaria sem precedentes à espera de o Flamengo se
tornar bi campeão da Taça Libertadores na mesma Santiago conflagrada pelos
protestos sociais.
Diferente das grandes manifestações
de 2013, quando multidões foram às ruas “por
causa de um aumento de apenas 20 centavos nos preços das passagens de metrô em
São Paulo”, hoje o brasileiro não é nem a sombra daqueles manifestantes
furiosos. Parece até que o objetivo “daquilo
tudo” era só um jogo de teatro para nos confundir. Calados e passivos,
assistimos ao golpe parlamentar dado na Dilma Rousseff e no PT em 2016, quando
ascendeu ao poder a quadrilha do PMDB de Michel Temer. Vimos tranquilamente a
roubalheira continuar dilapidando nossas riquezas. De camarote, assistimos ao
aumento da corrupção dos governantes e nunca mais saímos às ruas para protestar
contra nada. O fascismo hipócrita e anacrônico assume o poder nacional e sob a
nossa complacência e esquizofrenia coletiva, dita as regras como se tudo fosse
normal.
Muito pior do que o Chile, o
Equador, a Catalunha, a Bolívia ou qualquer outro país conflagrado, continua-se
a viver hoje no Brasil dias turvos na política e na economia, mas ainda assim
permanecemos acomodados como sempre. Desde o Brasil Colônia, a nossa sociedade
é vítima da monstruosa desigualdade social e nada fez nem faz para combater essa
desgraça nacional. Toda a riqueza produzida praticamente vai para as mãos de
poucos enquanto a maioria sofre as agruras sem fim. A violência desenfreada nas
grandes cidades, a fome, embora sejamos um dos maiores produtores de alimentos
do mundo, a corrupção, a injustiça e a roubalheira descarada nos remetem à
eterna condição de país de miseráveis. Com um dos piores sistemas de educação
do mundo e com a saúde pública toda sucateada, muitos brasileiros ainda riem
feito hienas.
A Amazônia em 2019 ardeu e ainda
arde sob o criminoso fogo do agronegócio. O mundo civilizado foi quem gritou
contra a fumaça das queimadas. As paradisíacas praias do Nordeste estão
infestadas e poluídas de petróleo. Os rios da região Sudeste estão cheios de
lama. Mariana e Brumadinho ainda contam seus mortos. A região Sul padece sob o
agrotóxico, o veneno na agricultura. E o governo fascista de Bolsonaro nada
faz. A privatização e o Neoliberalismo atingiram até a distante população de
Rondônia com a roubalheira da Energisa. A desigualdade social só aumenta. Por
aqui, o “açougue” João Paulo Segundo ainda
não saiu do papel para atender como seres humanos os rondonienses. A briga no
Brasil ainda é Direita X Esquerda. E ninguém diz nada. E ninguém faz nada. E
ninguém protesta. E ninguém vai às ruas mostrar suas insatisfações. Mas, se o
Flamengo perder a Libertadores, aí a revolução começa na hora.
*É
Professor em Porto Velho.
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