O Brasil sem
professores
Professor
Nazareno*
Aposentado, hoje
já não sou mais professor. Mas durante ‘rápidos’
43 anos, orgulhosamente eu ministrei aulas em muitos dos recantos deste imenso
país. Do já distante ano de 1976 no Colégio de Araçagi, interior da Paraíba,
até a Escola João Bento da Costa de Porto Velho, Rondônia e passando pela
escola General Osório de Calama no baixo rio Madeira, fui protagonista da “mais importante atividade” que um
sujeito pode exercer. O professor no Brasil nunca foi valorizado nem pela
sociedade muito menos pelos governantes. O Magistério sempre foi um trabalho de
risco e hoje, com a volta à Idade Média e ao obscurantismo patrocinado pelos
atuais governantes, assumir uma sala de aula tornou-se uma profissão tão
perigosa quanto ser policial no Rio de Janeiro ou mesmo trabalhar enfrentando o
perigo e a morte. O risco é iminente todo dia.
Por lidar com o conhecimento e a
ideologia e, portanto, a libertação do indivíduo, essa faina sempre foi vista
com desconfiança pela classe política e também pela elite nacional. Por isso,
atualmente ser professor é assumir um risco fora do normal. A perseguição aos
decentes tornou-se maior e mais direcionada ainda nestes tempos de “O Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”.
A perseguição aos mestres não se resume apenas aos baixos salários, mas
principalmente à questão da ideologia dentro das salas de aula. Recentemente em
Rondônia, a “patacoada das tabelas com os
salários da categoria” empreendida pela SEDUC e pelo governo do Estado
mostrou o quanto esses profissionais servem de massa de manobra aos interesses
escusos dos “donos do poder”. Além de
ganharem pouco, viram chacota pelo governante de plantão.
A “profissão das profissões” nunca foi fácil e hoje está mais difícil
ainda em terras tupiniquins. Muito diferente dos países civilizados: estive
recentemente na Alemanha e lá o profissional mais bem remunerado pelo Estado é
o professor. A justificativa: “todos os
outros profissionais passaram pela sala de aula e precisaram do mestre. Do
médico à chanceler do país”. Nem precisa dizer o motivo por que a Alemanha
já conquistou mais de cem vezes o prêmio Nobel. No Japão, outra grande potência
mundial, o professor não precisa se curvar diante do imperador. Para os
orientais “um país que não tem
professores, também não terá imperador”. O Brasil nunca conquistou um só
prêmio Nobel e sua maior marca de exportação, além das commodities do setor
primário, tem sido só “perna de jogador e
bumbum de mulher”.
Não adianta a mídia comprada pelo
governo nem a própria sociedade não reconhecerem a importância dos mestres. Um
país que não valoriza seus profissionais de sala de aula não pode se
desenvolver. E o mundo civilizado é prova disso. E como muitos professores “abrem corações e mentes” de seus alunos,
isso irrita sobremaneira os poderosos. E sempre foi assim, entra governo e sai
governo. Durante a Ditadura Militar, nos governos neoliberais, durante a
esquerda e está sendo assim agora. O bom professor é aquele que se propõe a
abrir os olhos de quem não quer enxergar. O lendário e bom professor Paulo
Freire, reconhecido no mundo inteiro e demonizado no governo atual, já dizia
que “o bom professor é aquele que ao
ensinar também aprende”. Por isso, neste dia dedicado a todos nós, parem
com as hipocrisias baratas. Vamos nos alegrar em ser a cabeça da sociedade, “a única parte que pensa”. Tranquilo: eu faria
tudo de novo.
*É
Professor em Porto Velho.
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