Aniversário
cabuloso
Professor
Nazareno*
Capital de Roraima, a cidade de Porto Velho
está fazendo aniversário. São 105 anos de desgraças e infortúnios. Não se sabe
como um lugar tão desprezível e inóspito consegue viver tanto tempo assim sem
se autodestruir. Protegida pelo Satanás, seu padroeiro maior, a cidade sempre
foi um arremedo de currutela sem eira nem beira. Com raros dois por cento de
saneamento básico e praticamente sem água potável, o amaldiçoado lugar não
consegue se livrar do nada honroso título de “a pior dentre as capitais do Brasil para se viver”. Os números do
Instituto Trata Brasil a colocam num patamar bem pior do que as miseráveis
cidades da África subsaariana. Se o mundo civilizado a conhecesse, seria
classificada como uma espécie de Porto Príncipe tupiniquim. Uma Eritreia das
Américas, uma Cabul ou uma Damasco da Amazônia.
Em termos de desgraceiras e de baixa
qualidade de vida, Porto Velho é um lugar ímpar no mundo. Com mais de dez mil
focos de queimadas, a fumaça dos incêndios nas suas florestas em 2019, por
exemplo, assombrou o mundo civilizado e deu o tom da falta de qualidade de vida
de seus desafortunados moradores. Envolta em uma nuvem de fuligem por mais de
três meses seguidos, a “currutela fedida”
ardeu sob o fogaréu apocalíptico. Viver por aqui só se for por obrigação, falta
de sorte ou teimosia. Sem árvores, o calor é infernal. Porto Velho praticamente
não tem transportes coletivos muito menos mobilidade urbana. O acanhado
aeroporto faz raríssimos voos para os lugares civilizados e o custo das
passagens é absurdo. Turistas não há, já que ninguém se aventura a visitar
estas distantes terras. Sequer o marechal Rondon foi aqui enterrado.
A capital de Roraima é um lugar onde
nada dá certo. Quando alguém daqui por acaso aparece na TV de fora é uma festa
na cidade. Uma breguice sem tamanho. Dizer em cadeia nacional que Rondônia não
é Roraima é um feito equivalente a ganhar um Prêmio Nobel. Logo depois, todos
se esquecem e a vida volta a ser o que era antes: uma chatice só. Aqui tinha
Expovel, que se transformou em ExpoPorto. Tem o Arraial Flor do Maracujá, mas
ainda sem data e local definido depois de quase quarenta anos. Existe também
uma banda de Carnaval que emporcalha de lixo e imundícies as ruas e avenidas
por onde passa. Uma fedentina só. Aqui já teve também outra banda, a “Versalle”, que fez só um “sucesso” e praticamente desapareceu.
Obras de arte e monumentos não existem. Só as pinturas mal feitas nos viadutos.
Há um “açougue” e uma ponte escura.
Mas estranhamente muitos políticos
querem administrar o lugar. São incontáveis os pré-candidatos que vão concorrer
às eleições no ano que vem. Para se ter uma ideia, muitas crianças da zona
rural do município ainda não começaram sequer o ano letivo de 2018 por falta de
transporte escolar. Um verdadeiro crime contra a humanidade. Energia elétrica
por incrível que pareça há, mas é uma das mais caras do Brasil, apesar das
inúmeras hidrelétricas que o município se orgulha de possuir. Os apagões
voltaram e é um desafio viver com os carapanãs. Nem precisa dizer que a cidade
tem uma Câmara de Vereadores que para nada serve. Porto Velho é como aquele
planeta gigante que os astrônomos descobriram recentemente, mas que segundo as
teorias atuais, “não deveria sequer existir”.
Ou então temos de admitir que estupros, lixo, lodo, fedentina, carniça,
tapurus, merda, esgoto a céu aberto e violência são agora pré-requisitos de uma
cidade.
*É
Professor em Porto Velho.
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