terça-feira, 1 de outubro de 2019

Aniversário cabuloso


Aniversário cabuloso

Professor Nazareno*

             Capital de Roraima, a cidade de Porto Velho está fazendo aniversário. São 105 anos de desgraças e infortúnios. Não se sabe como um lugar tão desprezível e inóspito consegue viver tanto tempo assim sem se autodestruir. Protegida pelo Satanás, seu padroeiro maior, a cidade sempre foi um arremedo de currutela sem eira nem beira. Com raros dois por cento de saneamento básico e praticamente sem água potável, o amaldiçoado lugar não consegue se livrar do nada honroso título de “a pior dentre as capitais do Brasil para se viver”. Os números do Instituto Trata Brasil a colocam num patamar bem pior do que as miseráveis cidades da África subsaariana. Se o mundo civilizado a conhecesse, seria classificada como uma espécie de Porto Príncipe tupiniquim. Uma Eritreia das Américas, uma Cabul ou uma Damasco da Amazônia.
            Em termos de desgraceiras e de baixa qualidade de vida, Porto Velho é um lugar ímpar no mundo. Com mais de dez mil focos de queimadas, a fumaça dos incêndios nas suas florestas em 2019, por exemplo, assombrou o mundo civilizado e deu o tom da falta de qualidade de vida de seus desafortunados moradores. Envolta em uma nuvem de fuligem por mais de três meses seguidos, a “currutela fedida” ardeu sob o fogaréu apocalíptico. Viver por aqui só se for por obrigação, falta de sorte ou teimosia. Sem árvores, o calor é infernal. Porto Velho praticamente não tem transportes coletivos muito menos mobilidade urbana. O acanhado aeroporto faz raríssimos voos para os lugares civilizados e o custo das passagens é absurdo. Turistas não há, já que ninguém se aventura a visitar estas distantes terras. Sequer o marechal Rondon foi aqui enterrado.
            A capital de Roraima é um lugar onde nada dá certo. Quando alguém daqui por acaso aparece na TV de fora é uma festa na cidade. Uma breguice sem tamanho. Dizer em cadeia nacional que Rondônia não é Roraima é um feito equivalente a ganhar um Prêmio Nobel. Logo depois, todos se esquecem e a vida volta a ser o que era antes: uma chatice só. Aqui tinha Expovel, que se transformou em ExpoPorto. Tem o Arraial Flor do Maracujá, mas ainda sem data e local definido depois de quase quarenta anos. Existe também uma banda de Carnaval que emporcalha de lixo e imundícies as ruas e avenidas por onde passa. Uma fedentina só. Aqui já teve também outra banda, a “Versalle”, que fez só um “sucesso” e praticamente desapareceu. Obras de arte e monumentos não existem. Só as pinturas mal feitas nos viadutos. Há um “açougue” e uma ponte escura.
            Mas estranhamente muitos políticos querem administrar o lugar. São incontáveis os pré-candidatos que vão concorrer às eleições no ano que vem. Para se ter uma ideia, muitas crianças da zona rural do município ainda não começaram sequer o ano letivo de 2018 por falta de transporte escolar. Um verdadeiro crime contra a humanidade. Energia elétrica por incrível que pareça há, mas é uma das mais caras do Brasil, apesar das inúmeras hidrelétricas que o município se orgulha de possuir. Os apagões voltaram e é um desafio viver com os carapanãs. Nem precisa dizer que a cidade tem uma Câmara de Vereadores que para nada serve. Porto Velho é como aquele planeta gigante que os astrônomos descobriram recentemente, mas que segundo as teorias atuais, “não deveria sequer existir”. Ou então temos de admitir que estupros, lixo, lodo, fedentina, carniça, tapurus, merda, esgoto a céu aberto e violência são agora pré-requisitos de uma cidade.




*É Professor em Porto Velho.

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