segunda-feira, 28 de novembro de 2022

O Brasil é goleado pela Suíça


O Brasil é goleado pela Suíça

 

Professor Nazareno*

 

            Comparar o Brasil com a Suíça é uma covardia sem tamanho. Isso apesar de o nosso país ter uma população vinte e cinco vezes maior do que a do país europeu. O território do Brasil em quilômetros quadrados é “apenas” 207 vezes maior do que a Suíça. E em recursos naturais, a nação sul-americana também desbanca o pequeno país do centro da Europa. Apesar desses números garbosos que existem aqui, a Suíça, no entanto, dá uma goleada sem tamanho no Brasil quando as estatísticas se referem às questões sociais. O primeiro gol suíço está na renda per capita dos dois países. Enquanto o Brasil está numa ridícula posição, a Suíça tem uma das maiores rendas per capita do mundo. No país europeu, cada cidadão recebe por ano quase incríveis noventa mil dólares. Aqui, a renda por pessoa não chega sequer a dez por cento disso. Pobreza e fome são as nossas parceiras.

            E a Suíça não para de fazer gol em nós. Várias organizações internacionais como Organização Mundial do Comércio, a OMC, Organização Mundial da Saúde, a OMS, Organização Internacional do Trabalho, a OIT, e a Cruz Vermelha Internacional têm sede nas cidades suíças enquanto ninguém tem coragem de ter suas sedes nas violentas e atrasadas cidades brasileiras. Aliás, o terceiro gol suíço em nós está exatamente na violência existente nas duas sociedades. Pelo menos 60 mil cidadãos brasileiros são assassinados todos os anos. Enquanto isso, esse número não passa de 40 mortes anuais lá na Confederação Helvética. A Suíça tem uma qualidade de vida invejável. Pelo décimo ano consecutivo fica entre os três melhores países do mundo para se viver. Zurique é a segunda melhor cidade da Terra. Qual o “sem noção” que escolheria o Brasil para viver?

            Os suíços são todos muito bem educados. Há pelo menos quatro idiomas oficiais no país: Alemão, Francês, Italiano e Romanche. Mas o Inglês é largamente utilizado pelo povo. Dificilmente se encontra um cidadão do país que não fale pelo menos dois ou três línguas de forma fluente. No Brasil só se fala uma espécie de dialeto do Português que somente os nativos compreendem. Por aqui quase ninguém escreve na língua pátria, já que o índice de analfabetos é muito grande. O analfabetismo funcional em nosso país é muito superior aos 50 por cento de toda a população adulta. As escolas suíças são um primor. Aqui, nem é bom falar sobre o nosso sistema de Educação. O pequeno país europeu já ganhou pelo menos 26 vezes o Prêmio Nobel. O Brasil jamais teve um único premiado. Corrupção na Suíça é inexistente. E eles não têm nem um Lula nem um “Bozo”.

            Todo ano na Suíça assume um presidente de cada uma das 4 etnias. Eles têm eleições normalmente e jamais contestam os resultados. Ninguém fica rezando em frente aos muros dos quartéis. Além do mais, os suíços têm o melhor chocolate do mundo sem ter um só pé de cacau. Produzem os melhores derivados de leite do planeta e são pontuais com os seus relógios conhecidos no mundo inteiro. Os produtos suíços são conhecidos e aceitos em todo o mundo rico e civilizado. Todas as grandes cidades da Suíça são limpas, organizadas, aconchegantes, arborizadas e têm mobilidade urbana impecável. E ao contrário do Rio de Janeiro, São Paulo, Recife, Porto Velho, Manaus ou qualquer outra cidade brasileira, ninguém é roubado ao chegar a Genebra, Lausanne ou Berna. Já no futebol, os suíços não são tão bons como nas coisas sérias. Mesmo assim, participando de uma Copa do Mundo só perdem de 1 X 0 jogando contra os times chamados de “bons”.

 

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.


quinta-feira, 24 de novembro de 2022

Brasil, uma vitória sem brilho

Brasil, uma vitória sem brilho

 

Professor Nazareno*

 

            Terminada a primeira rodada da “Copa da Homofobia” no Catar, observa-se que até agora, dentro de campo, os jogos não apresentaram grandes surpresas. Fora dos gramados, no entanto, têm-se visto muitos escândalos envolvendo algumas das seleções participantes, que protestam contra as autoridades do país sede. O Brasil no primeiro jogo contra a fraca seleção da Sérvia não encantou como deveria. Mesmo ganhando de 2 X 0 num jogo morno e insosso, a badalada seleção canarinho conseguiu apenas um placar “um tanto quanto apertado” se compararmos esse pífio resultado a outros como o “passeio” de 7 X 0 que a Espanha deu na Costa Rica, os 2 X 0 que a Holanda deu no forte Senegal, os 4 X 1 da França sobre a Austrália e os assustadores 6 X 2 que a Inglaterra aplicou no Irã. Essas fortes seleções já largaram na frente e são candidatas diretas ao título do torneio.

            A Sérvia está muito longe de ser considerada uma potência do verdadeiro futebol, como alguns dos países citados anteriormente. Geralmente participa de uma Copa do Mundo como “franco-atirador” e se contenta com qualquer resultado que vier. Os outros participantes do grupo do Brasil nesta Copa de 2022 são mais fracos ainda: Camarões e Suíça. Dessa forma, mesmo sem jogar um futebol digno de admiração, o Brasil deve passar da primeira fase sem maiores problemas. Os perrengues, entretanto, podem começar a surgir a partir do mata-mata já nas oitavas de final. De acordo com o sorteio já realizado anteriormente, Portugal, Uruguai ou Coreia do Sul podem estar no nosso caminho depois da primeira fase. Já nas quartas de final, fase em que geralmente o Brasil cai, o páreo deve ser bem mais duro: Espanha, Alemanha, Bélgica ou até mesmo Croácia.

Só tem pedreira pela frente. E isso se o Brasil, com este futebol infantil e medíocre, conseguir continuar vencendo os seus duelos. As poderosas esquipes da Alemanha e da Argentina, nossos arqui-inimigos no futebol, por exemplo, já decepcionaram nas suas respectivas estreias. Enquanto os germânicos perderam de 2 X 1 para o Japão, os “hermanos” foram batidos pela fraca Arábia Saudita pelo mesmo placar. Por isso, seria bom que os brasileiros colocassem suas “barbas de molho”. O técnico Adenor Bachi, que praticamente só convocou jogadores “velhos” para representar o Brasil, deve sentir calafrios de pensar que poderá enfrentar mais na frente equipes repletas de jogadores jovens como a Espanha e a Inglaterra. O badalado Neymar nada fez na partida e ainda saiu machucado. Nada de gol. isso apesar de quase um milhão de reais que ganha por dia.

Tenho certeza de que raríssimos brasileiros hoje conseguem escalar de cor a seleção de seu país como acontecia com a saudosa seleção e 1970 no tricampeonato e a de 1982, que não ganhou aquela copa. Poucos desanimados torcedores sabem o nome de uns dois ou três jogadores e só. E pior: como se vai torcer por um time todo vestido de roupas verde-amarelas, as cores do Bolsonaro, do bolsonarismo e da extrema-direita reacionária? Foi apenas uma rodada, mas até agora essa Copa do Catar não apresentou absolutamente nada que justificasse que esse país muçulmano do mundo árabe fosse a sede. O time da Alemanha fez o mais espetacular protesto: a foto oficial da equipe alemã estava com os 11 jogadores com as mãos à boca para denunciar a censura imoral que a FIFA impôs aos participantes. Já que não apresentou um bom futebol, nossos jogadores bem que poderiam dar declarações políticas para aparecerem mais. O mundo agradeceria.

 

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

domingo, 20 de novembro de 2022

Anulem as eleições de 2022

Anulem as eleições de 2022

 

Professor Nazareno*

 

            Desde que foram anunciados os resultados das eleições no Brasil, principalmente quando saiu a apuração final no segundo turno para presidente da República dando vitória ao petista Luiz Inácio Lula da Silva, a direita, a extrema-direita, os conservadores e os reacionários de um modo geral estão “chiando” e criando muita confusão pelo país. Os golpistas financiam e colocam multidões nas ruas para fazer protestos, bloquear estradas, interditar ruas e também acampar em frente aos quartéis das Forças Armadas exigindo na maioria dos casos que os militares deem um golpe de estado e anulem as eleições, que eles, os golpistas, não reconhecem. Jair Bolsonaro, o “Deus” dessa gente perdeu o pleito por apenas 2,1 milhões de votos num universo de mais de 156 milhões de eleitores. Uma pergunta: eles querem anular as eleições em geral ou “somente” os votos para presidente?

            Será que esses farsantes de ocasião desconfiam também dos resultados do primeiro turno quando a extrema-direita e os reacionários praticamente elegeram todos os seus candidatos? Ou somente estão colocando em xeque o resultado do segundo turno em que o “Bozo” perdeu a reeleição? Será que os já eleitos e proclamados vencedores vão aceitar tranquilamente a anulação do pleito sem nada falar? Romeu Zema em Minas Gerais, Tarcísio de Freitas em São Paulo e Cláudio Castro no Rio de Janeiro, para não citar pelo menos mais outros dezenove governadores conservadores que foram eleitos pelos estados, vão concordar sem mais nem menos com esta anulação e vão ficar calados? Quase todas as assembleias legislativas estaduais, a Câmara dos Deputados e o Senado federal também elegeram praticamente só candidatos conservadores e da extrema-direita.

As urnas eletrônicas assim como o TSE, para o cidadão que foi eleito, devem ser instituições muito confiáveis, é o que se presume. Se a vitória de toda essa gente foi algo absolutamente normal e legal, como podem as eleições, apenas no segundo turno, serem alvo de desconfianças? Já disse e repito: Jair Messias Bolsonaro não perdeu para Lula. Perdeu para ele mesmo. Para a sua língua desaforada, para a sua falta de educação, para a sua grosseria e para a sua estupidez. Porém, o atual presidente do país deixa uma lição muito importante para o futuro da política: o candidato que for grosso, que desdenhar dos outros, que negar a ciência, que não respeitar direitos individuais, enfim, que agir sem filtros no que fala, como agiu o senhor Bolsonaro durante os quatro anos em que esteve no poder, jamais será eleito nem reeleito para nada. A elite sabe que ele foi e é um estorvo.

Todos merecem respeito e consideração. As mulheres, os homossexuais, negros, esquerdistas, religiosos, ateus, índios, quilombolas, minorias em geral são todos seres humanos. Como pode um presidente da República, que devia representar a todos, ser tão descortês e mal-educado? Bolsonaro nunca esteve à altura do cargo para o qual foi equivocadamente eleito em 2018. Por isso ele não ganhou o pleito. Simples assim! O próprio Romeu Zema, govenador mineiro reeleito, reconheceu a burrice e talvez a “falta de comunicação” do sujeito que apoiou no segundo turno. Tenham coragem de pedir para que se anulem as eleições, mas que se cancelem os dois turnos e não apenas aquele que derrotou o “aprendiz de fascista”. Jair Messias Bolsonaro já é carta fora do baralho. No Brasil e no mundo inteiro. E por isso, devia a partir de janeiro próximo, sem a imunidade do cargo que não quis respeitar, ser julgado, condenado e preso. Devia mofar no xilindró.

 

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

quarta-feira, 16 de novembro de 2022

Vou torcer contra a seleção

Vou torcer contra a seleção

 

Professor Nazareno*

 

            A Copa do Mundo de futebol está começando no Catar, país riquíssimo do Oriente Médio. Esta edição do torneio será jogada em novembro e dezembro em vez das tradicionais realizações no meio do ano coincidindo sempre com o verão europeu. Em 2022 decidiu-se realizar os jogos no final do ano para driblar o desumano calor daquela região. Como sempre, o Brasil vai participar junto a outras grandes seleções de renome internacional desse esporte, mas com honrosas exceções como a Itália, Suécia, Nigéria, Colômbia e Chile. E também como sempre vou torcer contra a seleção nacional: não é justo o Brasil ganhar um campeonato jogando o futebol medíocre como o que tem apresentado nos últimos jogos. Além do mais, o nosso grupo tem uma média de idade muito alta para este esporte com 28,4 anos. Como um time tão longevo pode ter sucesso?

            Como se não bastasse esse terrível obstáculo, o técnico do Brasil, o senhor Adenor Leonardo Bacchi, parece que entende muito pouco de futebol. Convocou, por exemplo, o Daniel Alves com quase 40 anos e deixou craques bem mais novos e mais produtivos de fora. Gabigol do Flamengo e Gustavo Scarpa do Palmeiras são prova desta insanidade futebolística. Isso para não citar outros grandes craques que não irão ao Catar. O Brasil, pentacampeão do mundo nesta modalidade de esporte, há um bom tempo que já não tem mais o mesmo carisma e a mesma competência para fazer grandes atuações. Países como a Dinamarca, a Bélgica e a Croácia vêm se destacando com grandes seleções nacionais. Isso sem falar na poderosa Alemanha, na Argentina e na Holanda. Aliás, foram a Holanda, a Alemanha e a Bélgica respectivamente que despacharam o Brasil nas últimas três copas.

            E nem é bom falar nas sempre favoritas França, Inglaterra e Espanha. Com uma seleção muito velha e praticamente só com jogadores “estrangeiros” a seleção canarinho pode dar um vexame após o outro nesta Copa do Mundo. Raríssimos jogadores de futebol dos nossos times hoje em dia querem ficar no Brasil. Quase todos eles optam pelos dólares e pelos euros dos riquíssimos e organizados campeonatos europeus. Já decidi: não vou torcer pela seleção do Brasil nesta Copa do Mundo de futebol. Há times muito melhores para aplaudir. Tremo só de pensar em torcer por um time repleto de bolsonaristas dentro de campo: aquelas camisas amarelas podem ser um prenúncio de que a política pode imitar o futebol, pois quase todos os jogadores da nossa seleção são bolsonaristas de carteirinha, como o Neymar, que pediu votos para o “ex-Mito”. Extrema-direita? Tô fora!

            Sempre tive vergonha de vestir essa camisa amarela e feia que, para mim, nada diz ou acrescenta. E quando vejo alguém a usando, tenho delírios esquisitos. Nas últimas eleições, torci contra o Bolsonaro e deu certo: ele perdeu a contenda. E apesar de eu ter votado no Lula, a minha maior alegria foi mesmo ter se livrado do “Bozo”. O pior é que quase todos os prognósticos sobre a Copa do Mundo estranhamente colocam o Brasil como o principal favorito. Parece até coisas ditas somente para nos enganar. “Que venha o hexa dessa vez! Rumo ao hexa! Brasil, não tem pra ninguém!” são as manchetes mais do que otimistas. Nenhuma, no entanto, nos prepara para uma possível e previsível derrota. Por isso, a cada Copa perdida uma tristeza imensa toma conta do país inteiro. Porém se perdermos dessa vez, poderemos fazer como os bolsomínions mais fanáticos: sairemos às ruas e exigiremos a entrega da taça. Já pensou se a FIFA acreditar na loucura?

 

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

sábado, 12 de novembro de 2022

Eu fui à Brigada de Selva

Eu fui à Brigada de Selva

 

Professor Nazareno*

 

            Depois do resultado das últimas eleições para presidente do Brasil, não resisti e compareci ao campo da 17ª Brigada de Infantaria e Selva de Porto Velho, capital de Roubônia. O meu coração verde-amarelo não se conteve quando cheguei àquele belo e patriótico ato cívico e vi milhares de cidadãos protestando contra o resultado das eleições que deu a vitória a Luiz Inácio Lula da Silva. O candidato da maioria daquelas pessoas havia perdido o pleito por “apenas” 2,1 milhões de votos e a única saída no momento era reivindicar do TSE um outro resultado que atendesse toda aquela gente patriótica. E para isso era necessário também pedir a ajuda das Forças Armadas, representadas na atrasada província pela 17ª Brigada. Intervenção militar no país inteiro e a consequente anulação das eleições era o apelo de todos os “democratas” que ali estavam com as suas famílias.

            Meu coração pulsava incansável de delírios patrióticos. Eu via que bem no meio daquela multidão extasiada estava certamente o futuro do Brasil. A importância de Roubônia no cenário nacional e até internacional podia ser vista nos rostos daqueles compatriotas mais do que nacionalistas. “Se Roubônia parar, o Brasil inteiro também para” era o pensamento de muita gente. Conversei com alguns deles para compartilhar meu ufanismo rondoniano e também brasileiro. Fiquei apenas uma manhã naquele ambiente mais do que igualitário e dessa forma aprendi com os participantes excelentes conhecimentos cívicos que levarei para a vida inteira. Senti que quase todos dali são “democratas de carteirinha” e que também respeitam os direitos das minorias. Homens, mulheres e crianças em busca de só um sonho: o crescimento do país e a glória da pátria.

            Ouvi muitos dizerem que estão em vigília por conta própria. Apenas pelo instinto de servir à nação. Muitos gritavam eufóricos que o salário mínimo do país, por exemplo, deveria ser como o de Portugal ou até maior. “Nosso amado Brasil pode pagar um salário de dois mil euros por mês”. E nós, os empresários mais conscientes, vamos lutar por isso”, diziam os mais exaltados. Vi muitas mulheres gritando contra a exploração feminina no mercado de trabalho e também contra a discriminação racial. O ódio que quase todos dali demonstravam contra a desigualdade social era visível. “Igualdade para todos”, era o lema mais comum que se ouvia naquele insólito ambiente. Disse a eles que falassem mais baixo senão os militares do lado de dentro poderiam ouvir e por isso se aborrecerem. “Não bebam tanta cerveja e cuidado com as músicas tocadas”, alertei-lhes.

            Chegou uma hora que eu não me contive e afirmei: “devido à importância desse movimento quase que sagrado, todos vocês deveriam ser indicados para receber o prêmio Nobel da Paz ou outra honraria qualquer”. Isso porque vocês são um povo ordeiro e pacífico, são cidadãos de bem, muitos evangélicos tementes a Deus e irmanados por um bem comum: o amor incondicional ao Brasil. Esse movimento patriótico em frente aos quartéis de todo o país ficará para sempre marcado nos corações e mentes de todos os brasileiros e também de todos os povos da América Latina e talvez até do mundo. Democratas e apreciadores dos direitos humanos, defensores do meio ambiente, críticos da exploração capitalista, ativistas do comunismo, amantes das esquerdas, pensadores individuais, adoradores de pastores... Todos merecem o reconhecimento de quem, por absoluta falta de tempo, não pôde estar ali brigando por um Brasil melhor para todos nós.

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

quarta-feira, 9 de novembro de 2022

E se Lula tivesse perdido?

E se Lula tivesse perdido?




 Professor Nazareno*

 

 

Terminadas as eleições gerais de 2022, o Brasil sai do pleito do mesmo jeito que entrou: com a maioria de sua população sem uma posição político-ideológica definida. Isso apesar de a extrema-direita ter reeleito o presidente do país bem como a maioria dos governadores estaduais e de ter conseguido praticamente a supremacia em todas as casas legislativas. Das assembleias legislativas nos Estados passando obviamente pelo Congresso Nacional, Jair Bolsonaro e sua turma “passaram o rodo” e conseguiram eleger quase todos os seus candidatos. A derrota da esquerda no Brasil é histórica e apenas reflete aquilo que acontece em quase todas as eleições: quem está comandando a máquina e tem a chave do cofre, geralmente não tem muitas dificuldades de atrair o voto dos muitos eleitores pobres e miseráveis do país. E foi assim com o próprio PT em eleições passadas.

            Além do mais, as esquerdas no Brasil nunca foram unidas. Veja-se, por exemplo, o caso do candidato Ciro Gomes. A própria mídia, bastante afinada com o pensamento da direita e da extrema-direita, execrou Lula e o PT durante a operação Lava-Jato e dessa maneira contribuiu para a ascensão de Jair Bolsonaro e de sua turma ao Planalto. Embora a maioria de nossa população não seja da extrema-direita, vai ser muito difícil a partir de agora tirar os reacionários direitistas do poder. A não ser que se dê um golpe como aquele dado em 2016. A esquerda quando governou o país entre 2003 e 2016 pouco ou nada fez para mudar o establishment. Lula não acabou com a desigualdade social monstruosa que temos. Não investiu em um novo e moderno sistema de educação. Não tirou ninguém da miséria. Fez só umas “coisinhas” aqui e ali e não preparou o Brasil para os novos desafios.

            Ainda assim, os esquerdistas se envolveram em vários escândalos de corrupção e de muitas roubalheiras. O assalto à Petrobrás, o Mensalão e tantos outros vergonhosos acontecimentos durante os governos petistas marcaram para sempre a sofrida sociedade nacional. Zé Dirceu, Antônio Palocci, Geddel Vieira Lima, Paulo Roberto Costa, Alberto Youssef, Pedro Barusco e tantos outros cidadãos que dilapidaram o Estado jamais serão esquecidos pelos políticos da direita. “Lula apenas mostrou o consumo a alguns pobres”, teria dito o ex-presidente do Uruguai José Mujica. De fato, a miséria não foi debelada totalmente. Apenas amenizada e em alguns poucos casos apenas. Os banqueiros ganharam dinheiro como nunca durante os governos de esquerda no Brasil. E esse papo de “dar dinheiro para quem não trabalha” nunca foi um bom negócio. Foi um tiro no pé.

            Sabe-se que Jair Bolsonaro também “não é flor que se cheire”, mas o desumano aprendiz de miliciano e genocida como presidente jamais investiu dinheiro dos brasileiros em “países amigos” e convenhamos que os casos de corrupção em seus quatro anos de governo não se comparam nem de longe a outros governos passados incluindo aí os poucos anos dos governos de esquerda. Bolsonaro foi muito cruel com os brasileiros durante a pandemia de Covid-19. Deixou faltar oxigênio em Manaus, impediu a chegada da vacina, manchou a imagem do Brasil no exterior, participou de “rachadinhas”, não respeitou o meio ambiente e em alguns casos foi mal-educado, homofóbico, grosso, negacionista, racista e misógino. Mas soube como baixar de última hora o preço da gasolina e abriu as torneiras do Estado para ajudar os pobres e miseráveis. Deu certo. Só resta agora ao PT chorar e fazer oposição responsável ao novo governo. Depois, acordei!

 

                         

                         *Foi Professor em Porto Velho.

domingo, 6 de novembro de 2022

Bolsonaro não perdeu para Lula

Bolsonaro não perdeu para Lula

 

Professor Nazareno*

 

            Passadas as eleições presidenciais no Brasil em 2022, a ideia que se tem é que o atual presidente do país, Jair Messias Bolsonaro, foi severamente derrotado pelas urnas. Ledo engano! Claro que o ex-presidente Luiz Inacio Lula da Silva foi o vitorioso, digamos assim, do jogo final. Só isso! Mas convenhamos que o maior cabo eleitoral do petista foi o próprio presidente Bolsonaro. Senão vejamos: dos 27 senadores eleitos, pelo menos 19 deles eram seguidores do atual presidente. Dos 27 governadores dos Estados, 22 eram do mesmo partido ou da mesma coligação que apoiava o “Bozo”. Romeu Zema em Minas Gerais, Tarcísio de Freitas em São Paulo e Cláudio Castro no Rio de Janeiro são exemplos claros de apoiadores de Jair Bolsonaro. Damares Alves, Magno Malta, Tereza Cristina, Marcos Pontes e até o vice-presidente, Hamilton Mourão, foram todos eleitos senadores.

            O polêmico ex-ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, foi eleito deputado Federal por São Paulo. Eduardo Bolsonaro, o filho 03 do presidente, se reelegeu fácil deputado federal pelo Rio. Deltan Dallagnol também ganhou no Paraná. Quem estava ao lado do presidente só não foi eleito por que não quis se candidatar. Sérgio Moro se elegeu senador pelo Paraná e até a sua esposa também ganhou uma vaga de deputada federal, só que por São Paulo. A onda bolsonarista ainda está a pleno vapor. A direita e a extrema-direita lideradas pelos conservadores e reacionários “passaram o rodo” nestas eleições. Mesmo a diferença de votos entre Lula e Bolsonaro ao final do segundo turno foi mínima. Pouco mais de 2 milhões de sufrágios num universo de 156 milhões de eleitores. E das 5 regiões do país, Lula só ganhou no Nordeste. Mas por que Jair Bolsonaro não se reelegeu?

            Bolsonaro perdeu para ele mesmo. Perdeu para a sua língua afiada e para as suas declarações desumanas, grosseiras e cruéis. Perdeu quando na pandemia deixou faltar oxigênio em Manaus e depois imitou pessoas morrendo de Covid. Perdeu quando disse que a jornalista Vera Magalhães ia dormir pensando nele. E também quando disse que um filho seu jamais seria homossexual, pois fora bem criado. Perdeu quando no golpe contra a Dilma Rousseff em 2016, homenageou o coronel Brilhante Ustra, um notório torturador da Ditadura Militar. Irritado, o “Bozo” disse que não tinha onde comprar vacinas contra a Covid-19. “Só se for na casa da tua mãe!”, gritou para um pobre cidadão que lhe questionou por que ainda não havia vacinas no país. Ele também afirmou que não era coveiro e por isso não queria saber quantas pessoas a pandemia já havia matado aqui.

            Grosso, acintoso, deselegante e mal educado, Bolsonaro achava que jamais iria ter que disputar uma eleição de novo. Pensou que o seu cargo era eterno. Mas todo mundo, inclusive a mídia, que ele atacava diariamente, estava gravando tudo, guardando tudo. Conheço muita gente que votou nos candidatos dele, mas não nele. Derrotado, o infeliz pode a partir de agora ser abandonado pelos seus ex-seguidores e ter que desistir para sempre da política. Tem que se recolher à sua insignificância para lamber as feridas da derrota humilhante que sofreu. Bolsonaro é tão tosco e fraco que perdeu para “um ladrão”, como os bolsonaristas mais exaltados costumam dizer. No entanto, a direita e a extrema-direita devem continuar no jogo político. Só que têm que encontrar um líder mais educado e mais humano para lhes representar A democracia é isso: a dialética dos extremos para se chegar a um consenso. Raro é o eleitor que prefere agressividade à paz.

 


*Foi Professor em Porto Velho.

sexta-feira, 4 de novembro de 2022

E que venha o socialismo!

E que venha o socialismo!

 

Professor Nazareno*


            Com a recente vitória de Lula e do PT no Brasil, desencadeando dessa forma a nova “onda rosa” na América Latina, ficou cada vez mais fácil implantar o socialismo ou até mesmo o comunismo de uma vez por todas em terras tupiniquins. Cuidado para não confundir: Venezuela, Cuba, Coreia do Norte e China não são países socialistas muito menos comunistas. Nunca foram! São só ditaduras ferozes de partido único governadas na maioria dos casos por uma elite imoral e abjeta que explora a maioria de seus cidadãos. Falo aqui do “socialismo” dos países escandinavos como Suécia, Noruega e Finlândia. Falo também da Alemanha, da Dinamarca, da Suíça e de muitos outros países da Europa ocidental em cujas sociedades já foi abolida há muito tempo a exploração do homem pelo homem. E o Brasil há mais de 50 anos figura entre as dez maiores economias do mundo.

            E para transformar nosso país em uma nação socialista, Lula e o PT não precisam tomar nada de ninguém. Basta para isso criar políticas macroeconômicas de distribuição de renda e de riquezas. Taxar as grandes fortunas do país, por exemplo, já seria um bom começo. Poderia também, por meio de uma PEC e sempre em parceria com o Legislativo, propor alguns limites de lucros das grandes empresas, holdings, indústrias, bancos e conglomerados aqui instalados. Nada de dar dinheiro “de graça” para ninguém. Insistir também na criação de empregos e trabalhos para toda a população mais carente do país. Aumentar paulatinamente o valor do nosso salário mínimo, que hoje está em torno de apenas 200 dólares mensais. Em Portugal, por exemplo, o menor salário equivale a quase 750 dólares enquanto na Alemanha e na França é muito superior a 1500 dólares por mês.

            Como pode o segundo maior produtor de alimentos do mundo ter mais de 33 milhões de pessoas passando fome e vivendo na mais absoluta miséria? Como pode o agronegócio do país “estourar” de tanto ganhar dinheiro sempre às custas dos mais pobres e dos mais necessitados? Lula e o PT precisam também investir dessa vez em um sistema de Educação pública de excelência para todos. Repito: não pode haver nenhum desejo de se tomar nada de ninguém para resolver os nossos seculares problemas. Não há também a menor necessidade de se criar revoluções nem brigas ou conflitos desnecessários. É preciso para isso apenas ter coragem, disposição, negociação política e competência. Em uma sociedade mais igualitária, os conflitos e os problemas sociais poderiam diminuir consideravelmente. Médico ganhando igual a professor e advogado ganhando igual a juiz.

            E, claro, liberdade e democracia para todo e qualquer cidadão que paga seus impostos. Nada de brigas institucionais como as verificadas nos últimos anos por um governo imoral e indecente. Para que armar a população, por exemplo? As Forças Armadas, a PRF, a Polícia Federal, as polícias dos Estados têm que ser instituições de Estado e não de governos. E óbvio que precisam ser muito mais valorizadas e melhor remuneradas. É preciso também melhorar, e muito, a imagem do Brasil no exterior, que foi brutalmente deteriorada nos últimos quatro anos. O novo governo precisará respeitar o meio ambiente e coibir os desmatamentos, o garimpo ilegal e os incêndios na Amazônia se quiser ter respeito na nova ordem mundial. O socialismo ou o comunismo empregados no Brasil com responsabilidade e com seriedade só nos traria alegrias e felicidades. Porém junto ao Centrão, temo que Lula e o PT serão apenas reféns do capital. Como foram todos!

 

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

 

terça-feira, 1 de novembro de 2022

Lula: um alívio planetário

Lula: um alívio planetário

 

Professor Nazareno*

 

            A vitória de Lula e do PT nas eleições presidenciais do Brasil foi comemorada no mundo inteiro. Não foi apenas uma vitória política de um simples partido ou de uma tendência ideológica mais progressista. Guardadas as devidas proporções, o mundo e principalmente o Brasil inteiro respiraram aliviados com a derrota de Jair Messias Bolsonaro e de tudo de ruim que ele e seus fanáticos seguidores sempre representaram. Assim como a derrota de Donald Trump nos Estados Unidos, o planeta todo respirou muito mais tranquilo com a saída de Bolsonaro do Planalto. Mal educado e grosso, o mandatário brasileiro ainda não reconheceu a sua retumbante derrota passadas mais de 40 horas do pleito que o devastou. Já o Biden, presidente dos EUA, confirmou a vitória do Lula uns 40 minutos depois da confirmação pelo TSE do sucesso do petista. Um recorde.

            Avesso aos bons costumes e à boa educação, Bolsonaro demorou quase 40 dias para reconhecer a vitória do atual presidente norte-americano. A demora em entender que perdeu as eleições no Brasil para a esquerda pode estar no fato de ser uma reação dele para “melar o jogo” e não sair facilmente do poder. Aliás, como fez o seu ídolo lá nos Estados Unidos. Por aqui, inconformados com a humilhante derrota que sofreram nas urnas, muitos caminhoneiros bloquearam as estradas do país pedindo um golpe militar e a consequente anulação das eleições. Talvez insuflados pelo presidente e também pelos bolsonaristas mais exaltados, esses trabalhadores mostram ao mundo a sua intolerância e o seu pouco ou nenhum apreço pela democracia. Precisam respeitar as leis e entender as regras do jogo. Por isso, o bolsonarismo sem o Bolsonaro pode desaparecer para sempre.

            O mundo civilizado assim como grande parte dos brasileiros ainda estão com muito medo do Bolsonaro e do bolsonarismo mais radical. Acuado e calado, o infeliz pode usar essa paralisação absurda dos caminhoneiros para ser o “presidente do caos” e dessa maneira dar um golpe na nossa frágil democracia. Engana-se, no entanto, quem pensa que o aprendiz de miliciano e genocida está em silêncio: inconformado com a derrota, faz muito barulho ao não condenar os atos antidemocráticos como esse de alguns caminhoneiros. A verdade é que a partir de agora, dos generais aos soldados rasos, dos marechais e almirantes até os brigadeiros, todos deverão bater continência para o ex-metalúrgico que muitos chamaram de ladrão. Lula, diferente do Bolsonaro, tem o respeito do mundo inteiro. Da China ao Índico. Dos EUA à Europa. Da América Latina à África.

            Agindo assim, Jair Bolsonaro tem que ser varrido da política para sempre. Ele tem sido um terrível mal para o Brasil e também para boa parte do mundo, que o odeia. O seu negacionismo da ciência, o atraso das vacinas contra a Covid-19, a falta de oxigênio em Manaus, a falta de boas maneiras, o descaso, o ódio e também as suas infames, toscas, cruéis e desrespeitosas declarações debochando dos quase 700 mil mortos pela pandemia no Brasil são uma prova cabal de sua malignidade, da falta de humanidade e do seu desumano e insensível caráter. O deputado André Janones, por exemplo, o acusa de ter insuflado a atual greve dos caminhoneiros. Por isso, grande parte dos eleitores que votaram em Lula não o fizeram por apoiar o petista, mas simplesmente para se livrar do Bolsonaro e de sua agressiva forma de agir. O mundo festejou sua derrota. Bolsonaro se vai, mas infelizmente sua marca ainda ficará por um bom tempo entre os seus seguidores.

 

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.