sábado, 12 de novembro de 2022

Eu fui à Brigada de Selva

Eu fui à Brigada de Selva

 

Professor Nazareno*

 

            Depois do resultado das últimas eleições para presidente do Brasil, não resisti e compareci ao campo da 17ª Brigada de Infantaria e Selva de Porto Velho, capital de Roubônia. O meu coração verde-amarelo não se conteve quando cheguei àquele belo e patriótico ato cívico e vi milhares de cidadãos protestando contra o resultado das eleições que deu a vitória a Luiz Inácio Lula da Silva. O candidato da maioria daquelas pessoas havia perdido o pleito por “apenas” 2,1 milhões de votos e a única saída no momento era reivindicar do TSE um outro resultado que atendesse toda aquela gente patriótica. E para isso era necessário também pedir a ajuda das Forças Armadas, representadas na atrasada província pela 17ª Brigada. Intervenção militar no país inteiro e a consequente anulação das eleições era o apelo de todos os “democratas” que ali estavam com as suas famílias.

            Meu coração pulsava incansável de delírios patrióticos. Eu via que bem no meio daquela multidão extasiada estava certamente o futuro do Brasil. A importância de Roubônia no cenário nacional e até internacional podia ser vista nos rostos daqueles compatriotas mais do que nacionalistas. “Se Roubônia parar, o Brasil inteiro também para” era o pensamento de muita gente. Conversei com alguns deles para compartilhar meu ufanismo rondoniano e também brasileiro. Fiquei apenas uma manhã naquele ambiente mais do que igualitário e dessa forma aprendi com os participantes excelentes conhecimentos cívicos que levarei para a vida inteira. Senti que quase todos dali são “democratas de carteirinha” e que também respeitam os direitos das minorias. Homens, mulheres e crianças em busca de só um sonho: o crescimento do país e a glória da pátria.

            Ouvi muitos dizerem que estão em vigília por conta própria. Apenas pelo instinto de servir à nação. Muitos gritavam eufóricos que o salário mínimo do país, por exemplo, deveria ser como o de Portugal ou até maior. “Nosso amado Brasil pode pagar um salário de dois mil euros por mês”. E nós, os empresários mais conscientes, vamos lutar por isso”, diziam os mais exaltados. Vi muitas mulheres gritando contra a exploração feminina no mercado de trabalho e também contra a discriminação racial. O ódio que quase todos dali demonstravam contra a desigualdade social era visível. “Igualdade para todos”, era o lema mais comum que se ouvia naquele insólito ambiente. Disse a eles que falassem mais baixo senão os militares do lado de dentro poderiam ouvir e por isso se aborrecerem. “Não bebam tanta cerveja e cuidado com as músicas tocadas”, alertei-lhes.

            Chegou uma hora que eu não me contive e afirmei: “devido à importância desse movimento quase que sagrado, todos vocês deveriam ser indicados para receber o prêmio Nobel da Paz ou outra honraria qualquer”. Isso porque vocês são um povo ordeiro e pacífico, são cidadãos de bem, muitos evangélicos tementes a Deus e irmanados por um bem comum: o amor incondicional ao Brasil. Esse movimento patriótico em frente aos quartéis de todo o país ficará para sempre marcado nos corações e mentes de todos os brasileiros e também de todos os povos da América Latina e talvez até do mundo. Democratas e apreciadores dos direitos humanos, defensores do meio ambiente, críticos da exploração capitalista, ativistas do comunismo, amantes das esquerdas, pensadores individuais, adoradores de pastores... Todos merecem o reconhecimento de quem, por absoluta falta de tempo, não pôde estar ali brigando por um Brasil melhor para todos nós.

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

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