Eu
fui à Brigada de Selva
Professor
Nazareno*
Depois
do resultado das últimas eleições para presidente do Brasil, não resisti e
compareci ao campo da 17ª Brigada de Infantaria e Selva de Porto Velho, capital
de Roubônia. O meu coração verde-amarelo não se conteve quando
cheguei àquele belo e patriótico ato cívico e vi milhares de cidadãos
protestando contra o resultado das eleições que deu a vitória a Luiz Inácio Lula
da Silva. O candidato da maioria daquelas pessoas havia perdido o pleito por “apenas”
2,1 milhões de votos e a única saída no momento era reivindicar do TSE um outro
resultado que atendesse toda aquela gente patriótica. E para isso era
necessário também pedir a ajuda das Forças Armadas, representadas na atrasada
província pela 17ª Brigada. Intervenção militar no país inteiro e a consequente
anulação das eleições era o apelo de todos os “democratas” que ali estavam
com as suas famílias.
Meu
coração pulsava incansável de delírios patrióticos. Eu via que bem no meio
daquela multidão extasiada estava certamente o futuro do Brasil. A importância
de Roubônia no cenário nacional e até internacional podia ser
vista nos rostos daqueles compatriotas mais do que nacionalistas. “Se Roubônia
parar, o Brasil inteiro também para” era o pensamento de muita gente. Conversei
com alguns deles para compartilhar meu ufanismo rondoniano e também brasileiro.
Fiquei apenas uma manhã naquele ambiente mais do que igualitário e dessa forma
aprendi com os participantes excelentes conhecimentos cívicos que levarei para
a vida inteira. Senti que quase todos dali são “democratas de carteirinha”
e que também respeitam os direitos das minorias. Homens, mulheres e crianças em
busca de só um sonho: o crescimento do país e a glória da pátria.
Ouvi
muitos dizerem que estão em vigília por conta própria. Apenas pelo instinto de
servir à nação. Muitos gritavam eufóricos que o salário mínimo do país, por
exemplo, deveria ser como o de Portugal ou até maior. “Nosso amado Brasil
pode pagar um salário de dois mil euros por mês”. E nós, os empresários mais
conscientes, vamos lutar por isso”, diziam os mais exaltados. Vi muitas
mulheres gritando contra a exploração feminina no mercado de trabalho e também
contra a discriminação racial. O ódio que quase todos dali demonstravam contra
a desigualdade social era visível. “Igualdade para todos”, era o lema
mais comum que se ouvia naquele insólito ambiente. Disse a eles que falassem
mais baixo senão os militares do lado de dentro poderiam ouvir e por isso se
aborrecerem. “Não bebam tanta cerveja e cuidado com as músicas tocadas”,
alertei-lhes.
Chegou
uma hora que eu não me contive e afirmei: “devido à importância desse
movimento quase que sagrado, todos vocês deveriam ser indicados para receber o
prêmio Nobel da Paz ou outra honraria qualquer”. Isso porque vocês são um povo
ordeiro e pacífico, são cidadãos de bem, muitos evangélicos tementes a Deus e irmanados
por um bem comum: o amor incondicional ao Brasil. Esse movimento patriótico em
frente aos quartéis de todo o país ficará para sempre marcado nos corações e
mentes de todos os brasileiros e também de todos os povos da América Latina e
talvez até do mundo. Democratas e apreciadores dos direitos humanos, defensores
do meio ambiente, críticos da exploração capitalista, ativistas do comunismo,
amantes das esquerdas, pensadores individuais, adoradores de pastores... Todos
merecem o reconhecimento de quem, por absoluta falta de tempo, não pôde estar
ali brigando por um Brasil melhor para todos nós.
*Foi Professor em Porto
Velho.
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