Bolsonaro
não perdeu para Lula
Professor
Nazareno*
Passadas
as eleições presidenciais no Brasil em 2022, a ideia que se tem é que o atual
presidente do país, Jair Messias Bolsonaro, foi severamente derrotado pelas
urnas. Ledo engano! Claro que o ex-presidente Luiz Inacio Lula da Silva foi o
vitorioso, digamos assim, do jogo final. Só isso! Mas convenhamos que o maior
cabo eleitoral do petista foi o próprio presidente Bolsonaro. Senão vejamos:
dos 27 senadores eleitos, pelo menos 19 deles eram seguidores do atual
presidente. Dos 27 governadores dos Estados, 22 eram do mesmo partido ou da
mesma coligação que apoiava o “Bozo”. Romeu Zema em Minas Gerais,
Tarcísio de Freitas em São Paulo e Cláudio Castro no Rio de Janeiro são
exemplos claros de apoiadores de Jair Bolsonaro. Damares Alves, Magno Malta, Tereza
Cristina, Marcos Pontes e até o vice-presidente, Hamilton Mourão, foram todos eleitos
senadores.
O
polêmico ex-ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, foi eleito deputado
Federal por São Paulo. Eduardo Bolsonaro, o filho 03 do presidente, se reelegeu
fácil deputado federal pelo Rio. Deltan Dallagnol também ganhou no Paraná. Quem
estava ao lado do presidente só não foi eleito por que não quis se candidatar. Sérgio
Moro se elegeu senador pelo Paraná e até a sua esposa também ganhou uma vaga de
deputada federal, só que por São Paulo. A onda bolsonarista ainda está a pleno
vapor. A direita e a extrema-direita lideradas pelos conservadores e
reacionários “passaram o rodo” nestas eleições. Mesmo a diferença de
votos entre Lula e Bolsonaro ao final do segundo turno foi mínima. Pouco mais
de 2 milhões de sufrágios num universo de 156 milhões de eleitores. E das 5
regiões do país, Lula só ganhou no Nordeste. Mas por que Jair Bolsonaro não se
reelegeu?
Bolsonaro
perdeu para ele mesmo. Perdeu para a sua língua afiada e para as suas
declarações desumanas, grosseiras e cruéis. Perdeu quando na pandemia deixou
faltar oxigênio em Manaus e depois imitou pessoas morrendo de Covid. Perdeu
quando disse que a jornalista Vera Magalhães ia dormir pensando nele. E também
quando disse que um filho seu jamais seria homossexual, pois fora bem criado.
Perdeu quando no golpe contra a Dilma Rousseff em 2016, homenageou o coronel
Brilhante Ustra, um notório torturador da Ditadura Militar. Irritado, o “Bozo”
disse que não tinha onde comprar vacinas contra a Covid-19. “Só se for na
casa da tua mãe!”, gritou para um pobre cidadão que lhe questionou por que
ainda não havia vacinas no país. Ele também afirmou que não era coveiro e por
isso não queria saber quantas pessoas a pandemia já havia matado aqui.
Grosso, acintoso, deselegante e mal educado, Bolsonaro achava que jamais iria ter que disputar uma eleição de novo. Pensou que o seu cargo era eterno. Mas todo mundo, inclusive a mídia, que ele atacava diariamente, estava gravando tudo, guardando tudo. Conheço muita gente que votou nos candidatos dele, mas não nele. Derrotado, o infeliz pode a partir de agora ser abandonado pelos seus ex-seguidores e ter que desistir para sempre da política. Tem que se recolher à sua insignificância para lamber as feridas da derrota humilhante que sofreu. Bolsonaro é tão tosco e fraco que perdeu para “um ladrão”, como os bolsonaristas mais exaltados costumam dizer. No entanto, a direita e a extrema-direita devem continuar no jogo político. Só que têm que encontrar um líder mais educado e mais humano para lhes representar A democracia é isso: a dialética dos extremos para se chegar a um consenso. Raro é o eleitor que prefere agressividade à paz.
*Foi Professor em Porto
Velho.
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