quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

Loucos conduzem cegos


Loucos conduzem cegos

Professor Nazareno*

            A tragédia teatral Rei Lear de Shakespeare produzida há mais de quatro séculos está de volta à realidade. Nela, um rei louco comanda todo um povo que está cego pelas circunstâncias e falta de conhecimentos. O Brasil, guardadas as devidas proporções, está também vivendo esta tragédia bem ao pé da letra. O governo de Jair Bolsonaro retrata perfeitamente a obra de Shakespeare. O “rei” daqui pode até não ser louco, mas antes e durante a campanha eleitoral falou tantas barbaridades e loucuras que muitas pessoas diziam que ele realmente “não tinha juízo”. Bolsonaro zombou dos quilombolas, atacou os homossexuais, ridicularizou a mulher, desrespeitou os direitos humanos, fez chacotas com esquerdistas, falou mal de todos e se portou como um verdadeiro doido. Porém, muito pior do que a postura deprimente dele foi a escolha dos seus ministros.
            Pelo menos dois assessores do atual governo nos dão a impressão de que realmente estamos vivendo em séculos passados. Damares Alves, já apelidada de “Doidamares”, ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos é uma figura ímpar neste governo. A pastora evangélica é motivo de piadas e chacotas toda vez que faz uma declaração. Ricardo Pérez Rodríguez, colombiano de nascimento e que ainda se expressa com um forte sotaque castelhano, completa a sinistra lista de ministros “desmiolados” do governo do “Mito”. Mas ainda há outros assessores do Bolsonaro que não deixam quaisquer dúvidas de que são pessoas “sem o menor juízo e totalmente sem preparo suficiente” para estarem assumindo postos tão importantes no governo de um país. A real impressão que se tem é que “um desequilibrado” se juntou a outros loucos.
            A ministra “Doidamares” iniciou suas loucuras dizendo ter visto Jesus Cristo em cima de um pé de goiaba. Foi chacota nacional. Virou piada nas redes sociais e os brasileiros “mais sensatos” quase lhe comem o fígado. Mas ela não parou por aí. Depois afirmou em rede nacional que “de agora em diante, os meninos vestem azul e as meninas vestem rosa”. Foi novamente massacrada, teve que pedir publicamente desculpas e voltou atrás nas suas declarações alucinadas. Já o ministro colombiano, que afirma ser patriota com o país dos outros, não fica atrás da insana ministra. Determinou recentemente que se deve cantar o Hino Nacional nas escolas de todo o país. E foi além com a sua demência explícita: “todas as crianças devem ser filmadas cantando”. Foi achincalhado publicamente, voltou atrás na sua decisão e pediu desculpas públicas.
            Os mais de 57 milhões de cidadãos brasileiros, “cegos” e desprovidos de conhecimentos mínimos e que votaram nessa gente conduzindo-a ao poder maior no país não merecem ser governados dessa maneira absurda e surreal. O Brasil, apesar de já terem dito não ser um país sério, não merece essa gente desmiolada lhe governando. É um “volta atrás com pedidos de desculpas” jamais visto na nossa História. Os “Bolsominions” estão em polvorosa e muitos já não têm mais onde botar a cara de tanta vergonha. O Brasil não tem sorte mesmo: tirou os ladrões petistas do poder por meio de um golpe constitucional e na sequência colocou outros ladrões comandados por Temer e sua gente e agora, achando que tinha resolvido seus problemas, tem que conviver com lunáticos varridos no governo. O povo, na sua ignorância eterna, de nada desconfia e crê que está sendo bem conduzido. Pena: Shakespeare e o mundo continuam rindo de nós.




*É Professor em Porto Velho.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

A UNIR e o “jeitinho”


A UNIR e o “jeitinho

Professor Nazareno*

            Unir é a Universidade Federal de Rondônia, embora a sigla não represente corretamente este Estado, cuja sigla é RO e não “R”. É uma universidade “meia-boca” sem nenhum prestígio sequer local ou regional. Lendo-se sua abreviatura, totalmente errada, não há a certeza de que se trata de um órgão federal muito menos em qual Estado se situa. A UFPB, por exemplo, é Universidade Federal da Paraíba. Já a UFPR é, claro, a Universidade Federal do Paraná. Mas o problema da única universidade pública de Rondônia não é somente a sua sigla. Nela funciona, por exemplo, há anos o curso de Medicina sem que haja um hospital universitário. Ali nem uma UPA há. Não duvidaria jamais da competência dos médicos formados por lá, mas um hospital ou até mesmo um “açougue” funcionando ali ajudaria e muito na formação de todos esses profissionais.
             Porém, mesmo com toda essa extrema penúria acadêmica, a Unir não é muito frequentada pelos alunos rondonienses. Estes se contentam somente com os cursos de menor procura. Em Medicina, para se ter uma ideia, há uma verdadeira invasão de acadêmicos vindos de outras unidades da federação. Por isso, ouvi falar de um projeto defendido pelo Deputado Federal Léo Moraes no sentido de se discutir a admissão “diferenciada” dos alunos de Rondônia. Um acinte, um absurdo se isso for verdade. Léo Moraes deve ser um homem inteligente e sabe que a Unir é bancada com recursos federais, embora se situe em terras karipunas. Logo, todo aluno de outra unidade da federação tem o direito de não ser barrado ali. Criando esta reserva de vagas se admitiria também que universidades de fora do Estado proíbam rondonienses de estudarem nelas?
            Tanto Léo Moraes quando os defensores desta excrescência deviam procurar saber por que alunos de Rondônia não conseguem entrar em sua única universidade pública para estudar e consequentemente atacar o problema e não criar “jeitinhos”. Essa postura me mete medo: os alemães, na década de 30 do século passado, também passaram a discriminar cidadãos não nascidos em território germânico. E deu no que deu. Se este absurdo atemporal for concretizado, seus idealizadores com certeza não pararão por aí. E a próxima medida discriminatória seria talvez a admissão de alunos pela cor da pele, pelo sexo ou pela posição político-filosófica. Léo Moraes certamente entraria para a História deste fracassado Estado se ajudasse a criar uma universidade estadual ou até municipal. Aí sim, poderiam implantar essas barreiras discriminatórias.
Os estudantes rondonienses são bons e têm competência de serem até melhor e mais bem preparados do que os do Sul do país ou de qualquer outra parte do mundo. Sou professor e sei disso. Não podem é querer triunfar da pior forma possível, criando “penduricalhos”, “bolsonarices” e “cláusulas de barreiras” só porque nasceram aqui. As escolas de ensinos Fundamental e Médio de Rondônia têm que melhorar e muito. Principalmente as públicas. E todos nós profissionais da educação temos que lutar para que isso aconteça. Rondônia é um dos poucos Estados do Brasil que não possuem uma universidade estadual ou municipal. E isso é tão vergonhoso quanto inventar quebra-galhos” absurdos, dispensáveis e anacrônicos. Duvido que os alunos do curso de Direito da mesma Unir, que vão representar o Brasil na Áustria em uma competição mundial, entraram na universidade de forma errada e na mamata. Há como não se orgulhar deles?




*É Professor em Porto Velho.

sábado, 23 de fevereiro de 2019

Rondônia será bombardeada?


Rondônia será bombardeada?


Professor Nazareno*

            Desde a Segunda Guerra Mundial que o Brasil não participa de uma guerra de verdade. E mesmo assim, naquele conflito entramos somente por causa da pressão dos Estados Unidos, já que o ditador Getúlio Vargas mantinha relações até amistosas com o III Reich de Adolf Hitler. Fomos ao conflito e não mudamos absolutamente nada na geopolítica mundial. O Brasil, como sempre, serviu de chacota internacional na época. E eis que agora estamos na iminência de participar de outra guerra: o governo do “Mito”, lacaio dos interesses norte-americanos, insiste na derrubada do ditador Nicolás Maduro da Venezuela. O nosso país não deveria se meter em assuntos internos de outras nações. O problema da Venezuela deve ser resolvido pelos venezuelanos. A nossa participação deveria ser de ajuda humanitária e respeitando a autodeterminação alheia.
            Bastou um capitão e um general assumirem a Presidência da República para que a ameaça de guerra pairasse sobre nós. Carlos Bolsonaro, um dos filhos-problema do nosso presidente, defendeu uma solução militar para a crise venezuelana e o assassinato do presidente do país vizinho. Mesmo sendo submisso a Donald Trump, que pretende se apoderar do petróleo da Venezuela, Jair Bolsonaro não deve embarcar nesta aventura maluca. O ditador Maduro não tem nada a perder e sob intensa pressão internacional pode piorar as coisas para nós. A Venezuela já posicionou mísseis SV-300 ao lado da nossa fronteira. Além do mais, eles têm os temíveis caças Sukhoi-30. E qual é a nossa tecnologia para um conflito desses? Uma guerra agora seria o caos, o fim. Será que os eleitores do “Mito” estão festejando a possibilidade de brigas com os nossos vizinhos?
            Tremo de medo só de pensar na possibilidade de bombardearem partes do nosso território. Já pensou se mísseis forem lançados contra Rondônia e Porto Velho? Porém, acho que as forças bolivarianas não perderiam tempo com esta “província de bosta”. As hidrelétricas da região “iriam para o saco” em pouco tempo e nem precisariam da força do velho rio Madeira enfurecido. Com as bombas, a merda abundante que existe na cidade jorraria a esmo. Porto Velho viraria uma fedentina só. Algo até normal para seus habitantes. Será que as nossas “forças” conseguiriam impedir a catástrofe sobre nós? Os supersônicos Sukhoi-30 dariam um passeio nos nossos “teco-tecos” já enferrujados e obsoletos. Isso sem falar na Rússia e na China, aliados de Maduro, que certamente entrariam no conflito. Rondônia ser riscada do mapa seria algo muito bom para todos.
Mas não vai haver guerra nenhuma e Rondônia não será destruída desta vez. Nossas Forças Armadas são muito fracas para o combate, pois têm munição para apenas uma hora de conflito. Nossa guerra deveria ser para combater a pobreza, a péssima educação que temos, a violência interna, a injustiça, o analfabetismo e a desigualdade social. Não para matar vizinhos pobres. E quem precisa no momento de ajuda humanitária é o nosso país, não os venezuelanos. Além do mais, “a ajuda humanitária para a Venezuela é apenas um pretexto para a invasão daquele país”, dizem os russos e chineses, que já estão monitorando a situação. Ainda assim, se eu morasse em Manaus ou Boa Vista, por exemplo, estaria “com as barbas de molho”. Se o Brasil “piorar as coisas”, teremos apenas “um lacaio do imperialismo fazendo a vontade do seu patrão, os EUA”. Apenas dois meses de governo e já temos a iminência de uma guerra. É mole?




*É Professor em Porto Velho.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

Sirenes debochadas e tardias


Sirenes debochadas e tardias


Professor Nazareno*


O brasileiro só fecha a porta depois que foi roubado”. Esse é um dos ditados populares mais corretos e perfeitos de que se tem notícia. E a triste realidade que estamos vivendo não nos deixa nenhuma dúvida. A tragédia de Brumadinho em Minas Gerais é um claro exemplo disso. Antes do rompimento da barragem, nenhuma sirene tocou para alertar as pessoas do perigo iminente. O resultado foi mais de 320 mortes. Agora, depois da tragédia consumada, todo dia é um soar de sirenes por todos os cantos. Moradores das várias cidades que têm barragens já perderam o sossego. “Ninguém consegue mais dormir direito com o barulho, desnecessário agora, dessas sirenes”, disse um morador de Nova Lima em Minas Gerais. “Parece que elas estão debochando de nós, pois tocam a esmo sem nenhum perigo à vista”, reclamam outros moradores.
No Brasil infelizmente as coisas parecem que só funcionam assim. E o atual governo do “Mito” Jair Bolsonaro não deixa quaisquer dúvidas. É um governo que só produz notícias ruins. Mas agora é tarde. O cara já está instalado no Planalto e de lá só vai sair depois de pelo menos uns quatro anos. A hora é de começar a cobrar responsabilidades de quem o elegeu para tentar evitar outra desgraça dessa no futuro. “O nosso país não merecia um governo desses e nem ser governado dessa maneira”, é a impressão que se tem. A maioria dos assessores escolhidos é de um amadorismo fora do comum. Parece um governo de mentirinha. Da exótica ministra Damares Alves até o recém-exonerado ministro Gustavo Bebiano e passando pelo ex-juiz Sérgio Moro que as trapalhadas se sucedem numa frequência nunca vista. “Estamos no mato sem cachorro”.
Dá nojo ver a cara lavada dos eleitores do “Bozo” tentando arranjar desculpas para os embustes do “Mito”. E ainda não se completaram nem dois meses desse governo atrapalhado. As barbaridades que ele falava antes de ser eleito deviam ter sido levadas em conta antes de se elegê-lo para governar um país complexo como o Brasil. Todos os seus eleitores foram mais uma vez enganados e nada podem fazer a não ser lamentar. Em Rondônia, a situação até agora em nada mudou. O nepotismo é uma triste realidade que teima em se repetir nesse Estado na maior cara de pau. O número de comissionados sem concurso já passou a incrível marca das quatro mil contratações e ainda vem mais por aí. Nenhum governo anterior conseguiu esta cifra absurda. Se isso for mudança é uma mudança para pior. Até merenda está faltando nas escolas nesse início de governo.
Sérgio Moro, o outrora sisudo e “competente” juiz da Lava Jato e agora Ministro da Justiça, já disse que “Caixa 2” não é mais corrupção. Por isso, até virou chacota nas redes sociais. A impressão que se tem é que o Brasil perdeu um juiz fiel às leis e ganhou um ministro que compactua descaradamente com o pensamento da classe política vigente. O laranjal do PSL, partido que elegeu o presidente, está aí para todo mundo ver e vergonhosamente contemplar. É um escândalo atrás do outro, infelizmente. Os filhos do Bolsonaro são piores do que os filhos do Lula. Michel Temer e muitos de seus colaboradores continuam soltos e as punições abrandam-se e diminuem cada vez mais. As sirenes tocam e mostram a terrível barafunda em que este país se meteu. Só que elas estão tocando muito tarde. A desgraça já está feita. O Brasil virou piada no mundo civilizado. A lama podre já começou a inundar todo o país. Entramos na Idade Média.




*É Professor em Porto Velho.

sábado, 16 de fevereiro de 2019

Essa conta é nossa, sim!


Essa conta é nossa, sim!


Professor Nazareno*

            Alguns “gatos pingados” foram recentemente às ruas de Porto Velho para protestar contra o aumento de mais de 25 por cento na conta de energia elétrica em Rondônia. Muitos políticos oportunistas também estavam lá fazendo discursos zangados contra a Energisa e a Aneel, a estatal que cuida do setor energético. Falas raivosas e cheias de emoção contaminaram o insólito ambiente. Aplausos e mais aplausos ecoavam cada vez que alguém falava. Só que aquele “circo dos horrores” não passou de uma encenação patética, ridícula, sem sentido e totalmente fora de hora e de propósito. Se realmente a classe política local e algumas pessoas daqui estão contra esse aumento que eles consideram abusivo, por que permitiram que a antiga Ceron, as Centrais Elétricas de Rondônia, fosse privatizada por um dos menores preços do mercado?
            Dava até pena quando os sindicalistas e alguns funcionários saíam às ruas para protestar contra a iminente privatização da empresa. Eram ridicularizados pelas pessoas e acusados de não quererem trabalhar. “Bando de preguiçosos e arruaceiros” era o falatório que mais se ouvia. “Tem que privatizar mesmo, só assim ela funcionará melhor”, diziam todos de peito estufado. O consumidor rondoniense sempre desdenhou dos trabalhadores e dos sindicalistas. E muitos dos atuais políticos sequer saíam de seus afazeres para defender quem quer que fosse. A Ceron foi privatizada e vendida a preço de banana (50 mil reais) sem que houvesse no momento uma só voz a se levantar contra este absurdo. Agora, depois que o leite está derramado e a desgraça já instalada, querem protestar e mostrar serviço dizendo que estão ao lado de toda a população sofrida.
Tarde demais. A classe política covardemente deixou que mais este patrimônio dos rondonienses fosse “doado” a forasteiros. Votaram em massa no Bolsonaro e na sua trupe mesmo sabendo que a “privataria” vai continuar sem freios. Caerd, Porto, aeroporto, estádio, BR-364, BR-319, ponte sobre o rio Madeira e até o próprio Estado de Rondônia pode ser dado de graça para quem é de fora. Com o falido BERON foi assim, gerando uma dívida absurda e eterna que pagamos até hoje. E o que os rondonienses ganharam com isso? Nada. No caso das hidrelétricas do rio Madeira, que segundo seus sábios técnicos “nem Deus as arrebenta”, o saldo que ficou foi só de desgraças, caos social e infortúnios. Estupraram o meio ambiente de Rondônia e o presente que ficou para grande parte da capital foi “viver sob a espada de Dámocles”.
Os rondonienses de um modo geral são explorados, estuprados, enganados, roubados, vilipendiados e nada fazem. Não resistem contra o opressor. Não esboçam qualquer reação contra a destruição de seu meio ambiente, por exemplo. Por isso, este “aumentozinho” nas contas de energia elétrica é apenas mais uma face da patifaria a que nos acostumaram. Rondônia nunca foi governada por um legítimo filho da terra. Sua fedorenta e suja capital nunca foi administrada por um rondoniense. Os melhores empregos são dados aos forâneos. Então, essa conta é nossa, sim! Temos que pagá-la sem esboçar um pio. E vem mais aumento por aí. Não entendo o porquê da chiadeira: “ganhamos” um Shopping Center para os nossos jovens, “ganhamos” uma linda ponte, “ganhamos” viadutos, “ganhamos” uma excelente passarela para fazermos “fotinhas”, “ganhamos” um lindo aeroporto internacional. Povo feliz, reclamando de barriga cheia.




*É Professor em Porto Velho.

domingo, 10 de fevereiro de 2019

O JBC dá certo. Por quê?


O JBC dá certo. Por quê?

 Professor Nazareno*

            JBC é a escola Professor João Bento da Costa da zona sul de Porto Velho. É uma escola pública mantida pelo Estado de Rondônia. É relativamente nova, pois tem pouco mais de 20 anos de funcionamento. Mas é uma escola muito diferente da triste realidade do falido sistema educacional de Rondônia e do Brasil. Apesar de ser pública, a referida escola pode ser comparada em alguns itens às melhores escolas particulares de Porto Velho. Sou suspeito para falar da excelência deste estabelecimento de ensino, já que trabalho lá há mais de duas décadas e onde há exatos 17 anos ajudei a criar, com os professores José de Arimatéia de Geografia e Walfredo Tadeu de História, o Projeto Terceirão na escola pública. O professor Suamy Vivecananda, atual secretário de Estado da Educação nos ajudou muito nesta tarefa e foi um dos seus primeiros diretores.
            Com o professor Suamy à frente do Projeto Terceirão, a escola JBC alcançou níveis espetaculares de rendimentos para uma escola pública. Ano após ano, os alunos foram sendo aprovados em vestibulares espalhados pelo país afora. Da Unir, a Universidade Federal de Rondônia, às mais respeitadas universidades do sul do país, os alunos do JBC conquistaram vagas e mais vagas com as suas notas. Letras/Português, Licenciatura em História, em Química, Direito, Bacharelados, Medicina, Engenharias, Psicologia, dentre muitos outros cursos, foram opções dos “nossos meninos”. O trabalho de excelência, no entanto, continuou com o professor Chiquinho Lopes na direção da escola por oito anos seguidos e que a partir de agora tem nas professoras Lady Ribeiro e Juci Graminholi, a certeza de continuidade da “escola pública que sempre deu certo”.
            Claro que Porto Velho e Rondônia têm algumas outras escolas públicas muito boas também. Porém, o diferencial do JBC talvez sejam os professores. Além, claro, de excelentes alunos que já passaram pelo estabelecimento de ensino. Das turmas de primeiros anos até o Projeto Terceirão, há uma “simbiose” entre os mestres. Professor do João Bento não faz greve, embora não concorde com o salário de miséria que recebe. “Aqui é proibido o aluno ter aula vaga”, diz um professor do projeto. “Nós substituímos o colega que está doente ou impossibilitado de ir trabalhar”, conclui. O JBC acompanha as provas do ENEM e incentiva todos a estudar e dar o máximo de si. Por isso, os alunos Estevão Belfort e Dawson Melo fizeram 980 pontos na redação. Teynan Antônio e Luiz Henrique fizeram 960 pontos e Thiago Espósito e Francianni Diniz, 940.
            Mesmo com alunos obtendo notas de “aluno de qualquer escola particular”, o João Bento da Costa ainda tem sérios problemas de infraestrutura e a última reforma feita na escola, que durou “somente” o ano inteiro de 2018, trouxe sérios transtornos a professores, funcionários e alunos. Ainda assim, no ano passado, o JBC representou Rondônia nos Estados Unidos quando o diretor Chiquinho foi lá para receber o prêmio de gestão escolar/2017. “As aulas no JBC deveriam ser de turno integral já há tempos”, lamenta um dos professores do Projeto Terceirão. “Agora com o professor Suamy à frente da SEDUC este sonho pode se tornar uma realidade”, avalia. Os professores desta escola ganham a mesma coisa que os professores de outras escolas estaduais de Rondônia, mas fazem questão de dizer que escola pública de qualidade ainda é possível e se faz com muita garra. O João Bento quer ser diferente do outro João: o “açougue”.




*É Professor em Porto Velho.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019

Tragédias com jeitinho


Tragédias com jeitinho


Professor Nazareno*

            
            Acidentes acontecem. Isso é um fato. Mas no Brasil eles são de certa forma consequências da “brasileirice” e do famoso jeitinho que costumam orgulhar tanta gente por aqui. As tragédias se multiplicam pelo país e somente neste início de ano, já tivemos dois casos que chocaram o mundo: o rompimento da barragem em Brumadinho e o terrível incêndio na concentração do Flamengo, o Ninho do Urubu. O saldo das duas catástrofes é aterrador: quase 400 mortos. Porém, o pior nestes dois casos é que tudo isto poderia ter sido evitado. Isso se esses fatos tivessem ocorrido em um país sério do Primeiro Mundo, onde segurança é levada ao pé da letra. Para se ter uma ideia, o Flamengo foi multado pelos menos 30 vezes pela Prefeitura do Rio de Janeiro por causa de suas instalações. O local não tinha alvará de funcionamento, ainda assim funcionava.
            Segundo ainda a Prefeitura do Rio, faltava um documento do Corpo de Bombeiros e por isso o centro de treinamentos estava interditado. Infelizmente tem sido assim em quase todas as nossas tragédias. Providências só são tomadas depois que acontece o pior. Pouco tempo depois, todo mundo se esquece do ocorrido e a vida “volta ao normal”. Foi assim em Santa Maria na Boate Kiss quando por total irresponsabilidade dos seus proprietários e também do Poder Público, pelo menos 242 jovens perderam a vida. Até hoje, seis anos depois, ninguém foi preso e parece que nunca será. Muito menos responsabilizado pela tragédia que chocou o mundo. Nos dias que se seguiram, boates espalhadas pelo Brasil inteiro foram vasculhadas e fiscalizadas como se o nosso país fosse os Estados Unidos ou a Alemanha. Tudo encenação pura.
            Em Brumadinho, a barragem da Vale soterrou mais de 350 trabalhadores brasileiros. Na Justiça, até agora, não aconteceu absolutamente nada com o presidente da companhia e nem com os seus donos. Somente alguns funcionários foram presos e já soltos dias depois. Preso mesmo quem ficou foram os pobres trabalhadores. E na lama tóxica da barragem assassina. Agora, sirenes tocam quase todos os dias para alertar a população. Outra encenação estúpida somente para mostrar eficiência: por que estas malditas sirenes não tocaram na hora da tragédia para avisar a todos? Depois da hecatombe em Minas Gerais, barragens no Brasil inteiro estão sendo fiscalizadas pelas autoridades. Menos a de Santo Antônio a sete quilômetros do centro de Porto Velho e a de Jirau, pois estas barragens, segundo seus “sábios” técnicos, são totalmente seguras.
            Parece que todos têm a certeza de que “nem Deus estoura essas barragens de Rondônia”. E como o brasileiro só coloca a tranca na porta depois que foi roubado, é bom “botarmos as barbas de molho”. A hidrelétrica de Santo Antônio fica de frente para a capital do Estado. Está bem ali só esperando a hora de testar a “capacidade humana”. Quem já foi orientado dos riscos se uma possível tragédia acontecer? Nunca houve treinamento para uma evacuação em massa. Sabe-se que em Rondônia as autoridades não evacuam as pessoas, mas nas pessoas. Onde há sirenes pela cidade? Quantas mortes ocorrerão em caso de rompimento daquele “troço” cheio de lama? Se o pior acontecer, quem será responsabilizado? Por que a Capitania dos Portos daqui  permite, por exemplo, que barcos viajem sem que ninguém seja obrigado a usar o colete salva-vidas? Brumadinho, Mariana, Santa Maria. Porto Velho seria só mais um nome?




*É Professor em Porto Velho.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

“Pornografias” na escola


Pornografias” na escola


Professor Nazareno*

            
       Recentemente a ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares “goiabeira” Alves afirmou por meio de um vídeo publicado nas redes sociais que em uma escola daqui de Porto Velho foi aplicada uma prova que mostrava pornografia em uma de suas questões. Segundo a ministra do “Mito”, numa tirinha da Turma da Mônica de Maurício de Souza havia diálogos “totalmente imorais” dos personagens. A ministra não citou o nome da escola nem deu muitos detalhes sobre as pessoas envolvidas no episódio, mas eu já sei qual é a escola citada por ela. É a escola Professor João Bento da Costa, uma das melhores escolas públicas de Rondônia, e o professor sou eu, o Professor Nazareno. Porém, a imoralidade que citei diante de meus alunos em sala de aula não usava nenhuma tirinha de gibi e também não fazia parte de nenhuma avaliação.
            Eu tive a ousadia de certa vez dizer para os meus pupilos que o Brasil tem um dos piores sistemas de educação do mundo, segundo o Pisa. Existe “putaria” pior do que essa? Falei para eles que enquanto no Primeiro Mundo as escolas são de tempo integral já há várias décadas e que lá os professores são muito bem remunerados e reconhecidos pelo Poder Público, no país da “ministra da goiabeira” essas questões sequer são discutidas pela classe dirigente que se reveza no poder. Disse-lhes também que todos os governos do Brasil, inclusive um de esquerda que recentemente nos governou, jamais valorizaram a educação, os professores e as escolas. A sociedade nacional também compartilha desse pensamento estúpido e que por isso vivemos em uma das nações mais injustas e violentas do mundo. “Aqui, quem tem um olho emigra”.
            A ministra Damares não falou, mas eu disse em sala de aula outra grande “indecência”: o problema do atraso no nosso sistema de educação não é ideologia de gênero, esquerdismo exagerado, ideologização ou escola com partido, já que a maioria dos alunos não sabe nem o que significam essas palavras. O “problema” aqui é outro: desvalorização do professor, falta de material didático-pedagógico, ausência dos pais na vida escolar dos filhos, falta de recursos, escolas caindo aos pedaços, drogas na porta dos estabelecimentos, violência contra os educadores, governos despreparados, falta de merenda e de transporte escolar. Cantar o hino nacional e fazer ordem unida, por exemplo, não leva ninguém a lugar nenhum. Outro dia disse à molecada que estamos numa nova era no Brasil: “as meninas sequestram índios e os meninos criam milícias”.
            Existe “obscenidade” pior no Brasil do que um aluno passar doze anos na escola pública e de lá sair semianalfabeto? É isso que às vezes digo sem nenhum acanhamento para os meus meninos. Muitos ficam envergonhados com tanta “devassidão”.  Durante minhas explanações muitas vezes cito Nietzsche, Fernando Pessoa, Florbela Espanca, Simone de Beauvoir, Sartre, Karl Marx, Foucault, Carlos Drummond dentre muitos outros autores e personagens “imorais” da História e da Literatura. Só não caio na tolice de lhes dizer que “a terra é plana” que “menina veste rosa e menino veste azul” ou que “Jesus costuma subir em pés de goiabas”. Sou imoral e indecente mesmo: costumo mostrar a realidade para todos os meus pupilos. Tento ensinar-lhes a pensar embora não consiga fazer isso com todos eles. Será que a “ministra da goiaba” viu algumas das notas de redação dos alunos do JBC no último Enem? Acho que ela ficaria horrorizada.




*É Professor em Porto Velho.

Politicamente “incorreto”


Politicamente “incorreto


Professor Nazareno*


  Diz a História que o imperador romano Calígula teria no auge de sua demência nomeado o seu cavalo Incitatus como senador. Fala-se inclusive que logo após, o mesmo quadrúpede deveria ser nomeado cônsul. Mais de dois mil anos depois, também no auge da sua demência coletiva, parte do povo brasileiro elegeu Jair Messias Bolsonaro como o seu presidente. Como a vida medíocre, a cultura tosca, as atitudes grosseiras, a carreira militar desqualificada, a contribuição parlamentar nula, a inconsistência partidária, o linguajar chulo, seus comentários impróprios à moral, sua fala cheia de barbaridades e a sua total incompetência na diplomacia política influenciaram o voto de quase 58 milhões de brasileiros? O país foi tomado de uma hora para outra pelo “empoderamento da burrice”. Merecemos mesmo ter outro Incitatus?
O Brasil infelizmente é a cara de seus governantes. E como não existe governo corrupto com sociedade honesta e nem o contrário, a eleição de um sujeito xucro para governar os brasileiros foi a coisa mais normal do mundo. Assim como Donald Trump representa grande parte dos eleitores norte-americanos, Bolsonaro também representa muito bem os seus eleitores. Monoglota e incapaz de proferir um discurso com coerência, o atual presidente do Brasil é apenas mais um representante de plantão das classes mais abastadas que sempre dominaram e deram as cartas na sociedade nacional. As barbaridades ditas por ele e que serviram para elegê-lo até que diminuíram, mas a escolha de seus assessores continua a provocar situações vexaminosas entre os cidadãos brasileiros e fazem a festa de uma imprensa cada vez mais “antenada” pela crítica.
As declarações da “ministra da goiabeira” Damares Alves são um “prato cheio” para os chargistas de plantão. Em apenas um mês, o desgoverno do “Mito” é um festival de declarações sinistras e de desmentidos. Durante a campanha, Bolsonaro disse, por exemplo, que era preciso afrouxar todas as leis ambientais, pois os “coitados dos empresários” estavam sofrendo muito por não conseguirem produzir de forma satisfatória. Foi aplaudido e com isso ganhou muitos votos. A tragédia de Brumadinho, no entanto, fez o governo e o seu líder se calarem e reconhecerem a realidade dos fatos. Em Davos na Suíça, o Brasil nunca foi tão mal representado. Até o intérprete escalado para o evento sequer falava corretamente o Inglês. O “Mito” também resolveu enveredar pelo caminho do populismo barato. Porém, a hipocrisia mostrou a real face dos fatos.
Bolsonaro assinou o termo de posse com uma caneta barata, mas na prática o Brasil teve a posse presidencial mais cara de toda a História. A primeira-dama fez um belo discurso em libras, a língua de sinais, porém a secretaria que cuida da educação de surdos foi extinta logo depois. Embora a comitiva presidencial tenha se hospedado em um hotel de luxo na Suíça, o “Mito” se permitiu fotografar comendo em um bandejão. Bolsonaro é fotografado lavando roupa enquanto o patrimônio da família presidencial é estimado em mais de 15 milhões de reais. E após o COAF detectar movimentações suspeitas de Flávio Bolsonaro, o presidente disse que “se seu filho errou que pague”. Só que o diretor do COAF foi exonerado pelo próprio presidente e, a pedido, o STF barrou investigações sobre o assunto. Com medo de boicote dos árabes, o Brasil não vai mais mudar sua embaixada em Israel para Jerusalém. Establishment: o politicamente correto?





*É Professor em Porto Velho.