quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Quem Matou “O Matador” ou Cada Um No Seu Quadrado

Carlos Moreira
caixadesilencio@gmail.com


Houve um tempo em que textos e autores eram caçados e proibidos, colocados numa lista negra e considerados abjetos, como se pudessem provocar loucura e outras doenças, ou por serem satânicos, ou ainda por representar uma crítica a nada velha e boa Tradição, Família e Propriedade. Não. Eu não estou falando da Idade Média ou da Reforma, que disputaram entre si em termos de requinte de crueldade. Nem do nazifascismo, fogueira nem um pouco santa de tudo o que fosse contrário ao seu purismo. Nem do regime militar brasileiro e sua burra censura (existe censura inteligente?), calando os “cálices”, as flores e os tropicalismos desta nação multicolor. Estou falando de hoje, do Estado de Rondônia e da censura explícita que o livro “O Matador” (Patrícia Melo, Companhia das Letras) acaba de sofrer.
Em resumo: o livro havia sido indicado à lista do Vestibular Unir deste ano, sugerido por professores gabaritados do departamento de Letras. Foi divulgado em edital, comprado e lido por centenas de candidatos ou leitores curiosos, comentado e resenhado por professores. Até aí tudo certo, a carruagem passava bem entre os cães que ladram, ou dormem. Mas eis que alguns e-mails (meia-dúzia, senão menos) são enviados à Instituição criticando a indicação da obra. Até aí tudo certo, a literatura sempre gerou críticas, a polêmica é sua essência, e o livro está aí para isso mesmo, gerar discussão e reflexão. Mas, de repente, deu tudo errado. Numa ação (ação?) de completa covardia intelectual, parte da Reitoria, sem sequer consultar professores, Departamento ou Colegiado, cede à pressão desta massa anônima e medieval e simplesmente retira o livro de sua lista, abrindo um precedente absurdo e perigoso: a censura sai de seu casulo, estamos de novo sob suas asas.
Não sei o que outros professores e autores pensam a respeito, não sei se a editora ou a autora irão se pronunciar sobre o caso, e ignoro o que tem a dizer a respeito a Anistia Internacional, Ong’s de liberdade de expressão ou o Vaticano. Não sei. Mas penso que perdemos um espaço ao obscurantismo, um espaço valioso conquistado realmente a duras penas, durante séculos, e que se nós, leitores autores estudantes professores intelectuais, enfim, gente com o maldito vício de pensar, não enfrentarmos essa corrente, estaremos literalmente abdicando de pelo menos trezentos anos de luta pelo pensamento livre, pela universidade livre e pela liberdade artística e intelectual. Estaremos voltando não a passos largos, mas aos pulos, a uma idade média de índex e fogueiras (hoje metamorfoseadas ou não em processos e mandatos), a uma fase de cegueira sem a menor chance de atingirmos o glamour do barroco.
Quero levantar apenas algumas questões. Primeiro: os estabanados autores das críticas leram o livro, leram de fato o livro todo, até à última página? Segundo: o compreenderam, compreenderam a idéia central e as outras mensagens, subliminares? Terceiro: entendem realmente alguma coisa de literatura, ou seja, são leitores de verdade, críticos, ou têm alguma formação na área ou consultaram alguém da área antes de acenderem as tochas e começarem a sua divertida (e pervertida: Freud e Groddeck explicam) caça às bruxas? As mesmas perguntas valem para aqueles que, dentro da Universidade, abriram mão de sua responsabilidade intelectual, permitindo que uma opinião pública infundada e localizada interferisse no processo acadêmico e ferisse a própria autonomia da Universidade. Quem indicará a próxima lista de livros, a Opus Dei ou um congresso de teólogos?
Pingos nos iis: o livro “O Matador” é uma narrativa urbana, pós-moderna, de linha hiper-realista, que trata explicitamente de dois pontos: 1) a violência urbana, em especial a banalização dessa violência e a formação de milícias armadas, tema aliás bastante atual, e 2) as raízes da violência, do mal em si, no ser humano, a relatividade dos conceitos e o que nos faz “maus” ou nos leva a cometer violências de qualquer espécie mesmo que estejamos abarrotados de boas intenções. Em nenhum momento o livro faz apologia à violência, em momento algum acena com a ambigüidade da complacência, que oculta sempre a megalomania daqueles que se sentem no poder de perdoar. Deixa apenas que o leitor sinta e reflita o ser humano e sua violência, e a que conseqüências esse caminho conduz. Basta ver o desfecho do livro para se perceber isso. Além do mais, se a violência e o sexo não podem mais ser objeto de leitura e discussão, que não se leia mais, por exemplo, o velho testamento, repleto que está de sodomias e atrocidades (basta reler a história de Sodoma e Gomorra, ou como o povo escolhido se relacionava com as nações vizinhas).
Quanto à linguagem do livro, é preciso relembrar o conceito de verossimilhança, tão caro a todos os tipos de realismo. Significa, trocando em miúdos, representar “a vida como ela é”, ou como eu a vejo sem fantasias nem idealizações românticas (o que esse povo leu não ultrapassou “A Moreninha”?). Ou seja, se o narrador do romance é um sujeito desequilibrado, envolvido com drogas e suburbano, que não representa em nada a exceção à regra de seu contexto social de injustiças e marginalizações, como querer que ele seja “lírico”, fale um português castiço, ou cheio de metáforas, ambigüidades, ironias e pleonasmos? Mais que isso: por que considerar apenas esta linguagem como “poética”, “literária”, “admirável”? Abaixo os puristas! Todas as palavras cabem na literatura, ela é um espaço de possibilidades, o mundo do possível em que o paternal “Não Pode” perde completamente o sentido. Senão, vamos precisar banir, censurar, cortar, queimar, a seguinte lista, que faço às pressas e de memória: Catulo, Safo, metade das cantigas medievais, metade de Shakespeare, Jonh Dohne, Gregório de Matos, Bocage, Voltaire, Montesquieu, todo Marquês de Sade (claro!), Baudelaire, Rimbaud, Isidore Ducasse e, chegando ao querido século XX, James Joyce, Eliot, Augusto dos Anjos, Mário de Andrade, Fernando Pessoa (aquele desbocado do Álvaro de Campos...), Drummond, Maiakovski, Jorge Amado, José Saramago (como não?), Hilda Hilst, Leminski, Waly Salomão, sem contar com os novos trovadores, tão livres e criativos. Ou seja: vamos reduzir a prosa e a poesia a uma insípida, inodora e incolor... catequese.
Isso em se tratando apenas da linguagem, porque se incluirmos os temas, as cenas e as psicologias das personagens teremos de voltar a um período pré-linguístico, em que, não podendo usar as palavras (e os palavrões) para expressar nosso ser, grunhíamos e fuçávamos e estrugíamos como animais que somos. Aliás, voltar no tempo é um ideal da maioria dessas almas pudicas de pretensa moralidade que, com a desculpa de proteger a Moral e os Bons Costumes, oculta na verdade sua profunda ignorância e recalque. E explica porque tantos hoje são capazes de pregar contra o uso da camisinha na África sub-saariana, enquanto milhões de pessoas morrem de aids todo ano nessa região. Ou porque gastam tanta energia impedindo pesquisas com células-tronco, o mais promissor avanço da ciência médica no último século e que pode salvar, de fato, muitas vidas. Não sei vocês, mas, para mim, isso é muito mais obsceno que qualquer palavrão que se possa dizer ou inventar.
A ESCOLA QUE OFERTA A EDUCAÇÃO DOS SONHOS

Suamy V.Lacerda de Abreu1


Aquela onde estudantes conscientes de que necessitam estudar para vencer na vida deslocam-se sozinhos para a sala de aula sem que ninguém precise pressioná-los. Aquela onde os professores dirigem-se à sala de aula automaticamente na hora que o sinal toca, preenchem o diário perfeitamente seguindo a ementa e nem precisam de supervisão, também não fazem greve porque são apaixonados pela educação, sacerdotes compromissados com a causa. Não existem alunos pelos corredores e nem se pensa em evasão escolar como falam os Conselhos Tutelares. Evasão Interna é zero e a retenção é abaixo de 15% como deseja o MEC para justificar os recursos recebidos junto a UNESCO. Pois bem, essa escola não existe, e ela passou a ser vislumbrada apenas por pessoas que desconhecem a realidade da educação no Brasil, despreparados para sequer entender que a situação das escolas principalmente as públicas não dependem de seus gestores, nem de seus mantenedores sejam municipais ou estaduais e sim da necessidade de uma revisão urgente na legislação civil brasileira. Como pensar escola produtiva nos dias atuais com a existência dos valores legais que não correspondem a valores morais? Como continuar lutando com forças externas à escola como órgãos de justiça e empresas que repassam suas obrigações para os gestores escolares? Como fazer, pais entenderem que a escola é uma instituição formal e não um clube de passeio, espaço para namoro de seus filhos ou o depósito onde se deixam seres humanos para passar o dia ? Como conscientizar as familias que PROFESSOR é um título e que não se trata de babá de filho de ninguém? Como conversar com pais que querem filhos aprovados a qualquer custo não importando se os mesmos possuem os conhecimentos necessários à aprovação ou não? Se o estudante passa no vestibular é “superdotado”. Se não passa é “coitado”, e a causa do fracasso é o fato de ter estudado em “escola pública”. E ainda tem pais dizendo:”quero matricular meu filho numa escola boa”. Existe?
Ainda hoje, grande número de pessoas não vêm na escola um espaço capaz de ajudá-los a absorver os conhecimentos necessários a suas sobrevivências e, ainda tem “imbeciotas” (fusão de imbecil + idiota) que afirmam estar atrás de certificados, como se o certificado respondesse uma prova de concurso vestibular. Somente o pseudo-professor não compreende que essa criança ou jovem que agora está a sua frente futuramente poderá ser seu médico, advogado ou até mesmo o facínora que vai assaltá-lo. A maioria dos políticos que hoje exercem mandatos foram “educados” por alguns professores que talvez não tenham levado seu trabalho a sério, quiçá seja essa a causa da situação chegar onde chegou. Enquanto a Lei de Gerson imperar neste país estaremos fadados a continuar convivendo com Escolas Públicas improdutivas onde, o aluno brinca de aprender (quer apenas passar de ano para satisfazer aos pais), os professores brincam de dar aulas, supervisores querem controlar a qualidade das aulas através dos diários de classe ora, isso é fracasso puro pois, quando um professor quer, encapa os diários com bordados e rosas, entra na sala de aula, preenche tudo como manda o figurino e vai jogar baralho com os alunos, e os bobos ainda afirmam, “- o tio fulano é legal, ele nem aperta a gente”. Qualquer idiota sabe que os alunos não aprendem nada com “professor bonzinho”, só aprendem com os estigmatizados como “ruins”, que fazem cobrança das tarefas propostas, enfim aqueles que apertam o parafuso até cuspir a rosca. Para que possamos sonhar com uma escola que produza, é necessário uma transformação na forma como se pensa e se faz educação.
As escolas já estão sobrecarregadas com suas obrigações legais, não suportam mais receber pressões externas de órgãos que inclusive nada tem a ver com o seu funcionamento. Nos dias atuais, instituições criam projetos piratas e querem implantar nas escolas, afirmando tratar-se de interesse social, na realidade não possuem a formula nem para suas instituições, é a descoberta da América, o que incomoda é ser 516 anos após Colombo. Primeiro precisamos mudar enquanto sociedade se não quisermos ser vitimados pelo processo. Porém, tudo isso inicia na escola e por enquanto estamos longe de alcançar o modelo sonhado! Quem ler favor esquecer a ilha JBC. AMÉM.

1 Suamy V. Lacerda de Abreu - Professor de História - Diretor – J.B.C.