quinta-feira, 27 de abril de 2023

A Amazônia é do Brasil?

A Amazônia é do Brasil?

 

Professor Nazareno*

 

            Sim e não. A área total da Amazônia é superior a 7,5 milhões de quilômetros quadrados dos quais mais de cinco milhões pertencem ao Brasil. Dessa forma, o nosso país divide a região com vários outros países vizinhos como o Peru, Colômbia, Bolívia, Guianas e Venezuela. Óbvio que a pergunta do título questiona sobre a soberania total do Brasil ou dos países citados na cobiçada e rica região. E não resta a menor dúvida de que o Brasil detém a total soberania apenas em sua parte. E o mundo inteiro assim reconhece. Da mesma forma que a Ucrânia sempre deteve a total soberania sobre a península da Crimeia. Muito antes de 1991, a região sempre fez parte da Ucrânia. A Carta das Nações reconhece não só os direitos do Brasil sobre a sua parte da Amazônia como também os direitos dos ucranianos sobre aquela península, anexada ilegalmente pela Rússia em 2014.

            O presidente Lula, infelizmente, parece que não vê dessa forma. Disse em recente entrevista dada na Espanha que não cabe a ele decidir de quem é a Crimeia. Ora, a Crimeia sempre foi da Ucrânia e ponto final. Assim como grande parte da região amazônica é do Brasil. Dissimulado, Lula tergiversa quando dá declarações sobre a atual guerra que os russos desencadearam quando unilateralmente invadiram a Ucrânia em fevereiro do ano passado. Se, por exemplo, uma potência estrangeria invadir a Amazônia e tomá-la à força, como fez a Rússia com a Ucrânia, será que o nosso presidente teria a desfaçatez de dizer a mesma coisa? A fala de Lula caminha na contramão do mundo quando ele dá estas declarações absurdas e erradas sobre a política internacional. Bolsonaro com sua tosca política externa tornou o Brasil um pária e Lula parece que quer seguir o mesmo caminho.

            Apesar de ter figurado por mais de cinco décadas como uma das dez maiores potências econômicas mundiais, o Brasil sempre foi um desastre quando tenta se envolver nos problemas planetários. Uma autoridade de Israel já disse certa vez que o nosso país é um anão diplomático. Ou seja, não apita nada na conjuntura internacional. E Lula sabe disso muito bem. O ex-presidente da França Charles de Gaulle já teria dito que “o Brasil não é um país sério”. Não consigo entender porque ele quer tentar resolver um problema para o qual não foi eleito. E pior: se meter numa questão já tomando partido. Bolsonaro parece que não gostava da Ucrânia, só da Rússia do seu amigo Putin. Lula dá a entender a mesma coisa. A Rússia invadiu e tomou a Crimeia da Ucrânia e só Belarus, Venezuela e Coreia do Norte dizem que a península pertence aos russos. E o Lula diz que não sabe.

            Os nossos problemas estão aqui dentro. Precisamos resolver urgentemente a monstruosa desigualdade social que sempre nos atormentou. Precisamos debelar a inflação. A questão fiscal nunca foi resolvida. O problema do aumento dos combustíveis tem que entrar em pauta. A violência crescente nas cidades e também no campo precisa diminuir. A falta de mobilidade urbana nas grandes cidades tem que ser atacada. O Brasil precisa punir exemplarmente os responsáveis pela tentativa de golpe do 08 de janeiro.  Nosso país precisa melhorar a infraestrutura para exportar melhor a sua enorme produção de commodities e acima de tudo, precisamos “desbolsonarizar” a política interna. A guerra na distante Ucrânia não pode ser um assunto que um presidente do nosso país queira “meter o bedelho”. Lula certamente não gostaria que alguém dissesse não saber que o Brasil não tem soberania nenhuma sobre a Amazônia. Pare de falar tolices, homem!

 

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

 

 

terça-feira, 25 de abril de 2023

Calama/RO, onde pulsa o Brasil

Calama/RO, onde pulsa o Brasil

 

Professor Nazareno*

 

            A simpática e bela vila de Calama, situada na divisa entre os Estados de Rondônia e Amazonas é um desses lugares paradisíacos que em muitos aspectos lembra muito bem a realidade do Brasil inteiro. Tive o indescritível prazer de conhecer e morar no distrito bem no início da década de 1980, onde por cinco anos fui professor e depois diretor da Escola General Osório.  Mesmo sendo uma réplica do país, Calama tem peculiaridades incríveis jamais vistas no mundo inteiro. Durante a década de 1980, por exemplo, o lugar já dispunha de placas solares para a captação de energia solar, mas não usava a conhecidíssima tração animal. Ainda hoje os moradores da simpática vilazinha usam o telefone celular através da precária internet local, mas não dispõem de ligações em seus aparelhos. Lá não tem torre de telefonia celular e a telefonia móvel também desapareceu.

            No aspecto da política, Calama não difere muito de outras milhares de localidades espalhadas por este Brasil afora. De um modo geral, as autoridades nunca lhe deram muita importância, pois são muito poucos os eleitores inscritos na localidade. Mal elegem um vereador para a capital Porto Velho. Por isso a precariedade em todos os sentidos é muito comum. Um vereador, geralmente nascido em outra localidade, apresenta alguém para ser nomeado administrador do distrito. Calama tem um “hospital” que sempre funcionou a duras penas, apesar dos esforços hercúleos dos funcionários ali lotados. A Escola General Osório teve um bom ensino médio e hoje alguns de seus esforçados alunos fazem o ENEM em Humaitá no Amazonas. O nome da principal escola do distrito homenageia uma pessoa que em nada contribuiu para a existência do lugar. E no Brasil inteiro é assim.

            Os professores de Calama, desde a minha época e apesar das muitas dificuldades encontradas, são os verdadeiros heróis desconhecidos, que levam conhecimento e vivência para todos. Em Calama eu aprendi muito mais do que ensinei. Mas a “Veneza esquecida do Madeira” merece bem mais atenção. O agressivo barranco logo a sua frente parece querer se vingar da inépcia das autoridades e por isso todo ano avança sem tréguas. Por causa da geografia da região, Calama pode ter surgido bem antes do que a capital Porto Velho. Porém, em meio a tantos dissabores, o ribeirinho calamense mostra o que poucos porto-velhenses têm: alegria, simplicidade, honestidade e acima de tudo muita hospitalidade. As pessoas de Calama, no geral, são como velhos irmãos: acolhem todos sem nenhuma distinção. Mas Porto Velho sempre está de costas para Calama e o Madeira.

            Calama tinha que ser diferente do Brasil. O nome de sua maior escola, por exemplo, deveria mudar. Deveria se chamar Escola Professor Goldsmith Correa Gomes. Quem não se lembra do lendário professor Godi? O comerciante Joaquim Pires, dona Mercedes, Gegé Pantoja, Sr. Permínio, senhor Benjamim Silva do posto de saúde, Sr. Alfredo Teles, um administrador irretocável. “Seu” Branco da Ceron. “Seu” Zui. Dona Safira do São Francisco. São tantos os nomes das grandes figuras calamenses que já se foram que é impossível citar todas elas aqui. Até um crime histórico já se cometeu na esquecida vilazinha. “Mataram” de propósito o velho casarão do padre. A centenária construção era um dos poucos símbolos do Segundo Ciclo da Borracha em terras rondonienses. Mas foi derrubada sem deixar vestígios. Como acontece também em Porto Velho e no Brasil. Só que Calama resiste bravamente e assim povoa os corações e mentes.

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

terça-feira, 18 de abril de 2023

Ucrânia: outro erro de Lula

Ucrânia: outro erro de Lula

 

Professor Nazareno*

 

            Em fevereiro de 2022 a Rússia invadiu a Ucrânia com tropas, tanques e disparos de mísseis hipersônicos. Antes, em 2014, os russos já haviam tomado à força a península da Crimeia que sempre pertenceu aos ucranianos. Apesar dos protestos mundiais, a guerra continua até hoje, mesmo com a decretação de sanções internacionais. Estados Unidos e União Europeia, principalmente, fornecem armas para os ucranianos na vã tentativa de conter a ofensiva russa. A Ucrânia sempre foi um país dividido. Parte de sua população é formada por russos étnicos. As províncias do Donbass no leste do país e quase toda a região da Crimeia são formadas por populações que falam o idioma russo e sempre tiveram ligações com a pátria de Vladimir Putin. O governo russo sempre viu a Ucrânia como parte de seu território e não admite a adesão dela à União Europeia e nem à OTAN.

            Distante, essa guerra lá no leste europeu deveria ter poucas chances de apresentar consequências para o Brasil. Mas os toscos presidentes brasileiros insistem em “meter o bedelho” num problema que não lhes pertence e muito menos aos nossos cidadãos, apesar de vivermos hoje em um mundo globalizado. Primeiro foi o desastrado Jair Bolsonaro, que visitou a Rússia às vésperas de o conflito ser deflagrado. Alegou na época que o Brasil precisava do fertilizante russo e que tinha boas relações com eles por causa dos BRICS. Agora é a vez de Lula fazer e dizer besteiras e tolices. Em sua recente visita à China, o “Sapo Barbudo” falou pelos cotovelos e com isso pode ter colocado o Brasil numa situação vexatória perante as grandes potências internacionais. Acusou os Estados Unidos e a União Europeia de fomentarem essa guerra e de não quererem a paz. Um despropósito.

Parece até que Lula aprendeu com o Bolsonaro a falar abobrinhas. Antes, no plano interno, Lula disse, sem provas, que o Sérgio Moro estava com armação no caso do PCC. Aliás, a sua língua solta pode nos causar sérios problemas. Acusar os Estados Unidos e os europeus de prolongar uma guerra abjeta que eles não começaram e nem são os responsáveis é um disparate sem tamanho. A Ucrânia foi invadida e estuprada por uma potência estrangeira. E Lula, dissimulado, defende também o estuprador. Os russos estão tomando à força porções do território ucraniano e esperam que o mundo ocidental aceite isso sem reclamar. O Brasil recebeu o ministro russo Serguei Lavrov e se juntou à Rússia para condenar as sanções sem mencionar que os russos são os agressores. Agindo assim, Lula “detona” nossa diplomacia e nos coloca numa situação humilhante perante o mundo.

Os Estados Unidos já disseram que as falas de Lula sobre a guerra na Ucrânia são muito problemáticas. Já a União Europeia disse que não é verdade que os EUA e os europeus estejam ajudando a prolongar esse conflito. “A verdade é que a Ucrânia é soberana e vítima de uma agressão ilegal, uma violação da Carta das Nações Unidas”, dizem os europeus. China, União Europeia e Estados Unidos são, nessa ordem, os maiores parceiros comerciais do Brasil. Não devíamos criar situações embaraçosas com nenhum deles. A Ucrânia já convidou Lula para visitar Kiev para tentar fazê-lo compreender as razões reais dessa guerra absurda. O presidente Lula, no entanto, precisa ser contido urgentemente por seus assessores senão vai fazer pior do que o Bolsonaro. Sua língua desastrada pode criar mais problemas do que soluções. É guerra? Temos que ficar neutros como sempre e buscar a paz pelos canais competentes. Será que o Lula está ficando gagá?

 

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

domingo, 16 de abril de 2023

Maldade com muita convicção

Maldade com muita convicção

 

Professor Nazareno*

 

            Depois dos quatro anos do desgoverno Jair Bolsonaro no Brasil, entre 2019 e 2022, cujo legado maior foi a ruindade, a morte de indígenas, o preconceito contra as minorias, os ataques à democracia, a misoginia, o roubo de joias, o negacionismo à ciência, o incentivo à destruição ambiental, a corrupção às escondidas, a homofobia e muitos outros tipos de maldades e anacronismos, eis que surgem perguntas bastante incômodas: por que em pleno século XXI, tanta gente ainda se identifica com estas pautas totalmente repudiadas no mundo mais civilizado? Por que o bolsonarismo tem hoje, segundo pesquisas, mais de 22 milhões de seguidores só no Brasil? Por que Jair Bolsonaro teve nas últimas eleições quase 60 milhões de votos apenas no segundo turno? Por que no primeiro turno, direita e extrema-direita elegeram a grande maioria de seus candidatos?

            Muitos dizem que se o “genocida” ex-presidente tivesse trazido a vacina contra a Covid-19 ainda em novembro de 2020 e não tivesse debochado tanto dos mortos e dos infectados pelo vírus, ele não encontraria adversários à altura e teria ganhado as eleições com mais de 75 por cento dos votos válidos. A maldade, portanto, não está somente no “Mito”, mas em todos aqueles que lhe deram apoio político, nele votaram e ainda hoje o defendem com unhas e dentes. Óbvio que a própria opinião política conservadora não quer mais se desgastar com as barbaridades ditas pelo ex-chefe da nação. Bolsonaro já é “carta fora do baralho” e assim muita gente hoje já quer se livrar dele. Por isso, muitos comentaristas políticos apostam que ele não será preso agora pelos crimes que cometeu, mas perderá seus direitos políticos e certamente ficará no ostracismo por um bom tempo.

            Winston Churchill teria dito que a democracia é a pior forma de governo, à exceção de todas as outras demais formas. Ou seja, hoje em dia baseando-se nesta afirmação, o mundo dito civilizado condena ferozmente as ditaduras, o fascismo, a censura, as perseguições políticas, o desrespeito aos direitos humanos, os golpes de Estado, os massacres, os genocídios e também todas as outras monstruosidades que se perpetrem contra os povos. Mas a pergunta insiste: por que no Brasil, Jair Bolsonaro e seus asseclas são ainda tão endeusados por seus seguidores e puxa-sacos? Talvez a resposta seja: por causa do dinheiro e do poder. O sujeito pode até ser contra toda esta relação de maldades, de preconceitos e de arbitrariedades, mas se ganhar bem para segui-la que mal há nisso? Pensa-se: “às favas com a democracia. Primeiro eu, depois Mateus”.

Sou contra toda e qualquer censura usada pelos meios de comunicação, mas se eu recebo muito dinheiro do prefeito, da Assembleia Legislativa ou do governador em exercício para não falar mal de nenhum deles, não vejo problema algum”, devem pensar, por exemplo, muitos dos donos desses mesmos meios. Numa hora dessas, os picaretas proprietários dessa abjeta imprensa escroque sequer se lembram do grande Joseph Pulitzer. “Com o tempo, uma imprensa cínica, mercenária, demagógica e corrupta formará um público tão vil como ela mesma”, disse o jornalista e pensador. O dinheiro sempre corrompeu e ainda corrompe a quase todos. Assim, as muitas maldades de Jair Bolsonaro e do chamado Bolsonarismo encontraram eco no meio de grande parte da nossa ambiciosa sociedade. Por isso, para muitos não interessa se temos capitalismo, comunismo, socialismo, ditadura ou a democracia. “Sou do mal, mas ganho bem”. E daí?

 

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

segunda-feira, 10 de abril de 2023

Cem dias de esperanças

Cem dias de esperanças

 

Professor Nazareno*

 

Com apenas cem dias desse atual governo do PT, iniciado em janeiro de 2023, o presidente Lula já tem seis pedidos de impeachment protocolados na Câmara dos Deputados. Com igual período de tempo à frente do governo em 2019, o ex-presidente Jair Bolsonaro tinha apenas dois pedidos. Mas a dita “vantagem” do Bozo termina aí. Espera-se que Lula não vá ter mais de 150 pedidos para sair do Planalto. Nos quatro anos de administração, no entanto, o “Mito” contabilizou pelos menos 153 pedidos para deixar o poder. O desastre do desgoverno Bolsonaro se multiplicou de forma alarmante durante a pandemia do Coronavírus e continuou até o último dia quando o ex-presidente fugiu para os Estados Unidos. Lula começa seu legado em alto estilo e até já frustrou um golpe de Estado tramado por fascistas reacionários da extrema-direita no 08 de janeiro de 2023.

Embora não tenha números tão garbosos e otimistas nas pesquisas, o terceiro governo Lula começa de forma avassaladora se comparado aos primeiros cem dias do ridículo governo do ex-capitão do Exército. Em apenas cem dias, Lula e o PT fizeram o Brasil voltar a ser respeitado nos fóruns internacionais. Da Guerra na Ucrânia ao respeito ao meio ambiente, do restabelecimento de relações diplomáticas com os vizinhos latino-americanos ao pleito de uma vaga permanente no Conselho de Segurança da ONU e a volta do protagonismo nos BRICS, o governo Lula tem demonstrado a cada dia a convicção de que o nosso país precisa voltar aos trilhos das questões mais espinhosas do mundo. Estamos a duras penas deixando de ser um pária internacional. O presidente já se encontrou com o primeiro-ministro da Alemanha e com o presidente Joe Biden dos EUA.

Na próxima semana Lula estará na China para reuniões bilaterais com o presidente daquele país Xi JinPing. No plano interno, apesar dos muitos problemas a serem enfrentados e resolvidos, o presidente petista já aplicou várias goleadas no governo passado. O mundo reagiu com otimismo, esperanças e muita tranquilidade quando Lula estancou a crise dos índios Yanomamis, por exemplo, e livrou de genocídio certo aquele povo originário. O garimpo em terras indígenas foi proibido e o meio ambiente respirou mais aliviado. A Amazônia volta a ter mais protagonismo num mundo cada vez mais agressivo em suas políticas ambientais. A Alemanha e a Noruega voltaram a contribuir com o Fundo Amazônia cujos recursos estavam congelados havia pelo menos uns 4 anos. Voltamos a ter esperanças de que alguma coisa vai melhorar com o atual governo. Será?

O “nove dedos” reajustou em quase dez por cento o salário dos funcionários públicos, que estavam há quase sete anos sem nenhum aumento. Outro grande alívio por aqui. O programa Mais Médicos voltará a funcionar, graças a Deus e também ao presidente Lula. A Educação está agora de cara nova e com mais recursos: foram reajustadas as bolsas de graduação, pós-graduação, iniciação científica, mestrados e bolsas de permanência. Em apenas 100 dias de governo Lula, pelo menos 200 mil novos empregos já foram criados. E tudo isso não é favor nenhum, mas obrigação de um governo que foi eleito para isso mesmo: trabalhar em benefício dos mais pobres e necessitados. Cadê a fila do osso? Será que sumiu mesmo? A carne teve a maior diminuição de preço dos últimos 15 meses. E se continuar assim, em breve muita gente vai realmente estar consumindo cortes mais selecionados da iguaria. Os bolsonaristas vão é se matar de ódio.

 

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

terça-feira, 4 de abril de 2023

Uma casa mal-assombrada

Uma casa mal-assombrada

 

Professor Nazareno*

 

            É a nova rodoviária que estão querendo fazer em Porto Velho, Roraima. Pelos desenhos já publicados, percebe-se que o sinistro empreendimento é muito feio, sem jeito, disforme, desengonçado e que se parece mais com uma daquelas casas mal-assombradas da Idade Média. Uma construção em estilo “meio gótico”, cavernoso mesmo. Coisa típica de Porto Velho. Há mais de quarenta anos que tenho a suprema infelicidade de morar nesta currutela fedorenta e sempre ouvi falar que iriam construir “muito em breve” um novo terminal de passageiros. E agora parece que a coisa vai finalmente sair do papel. Não sou arquiteto, mas não vi no “projeto” nada de atrativo para uma nova estação de ônibus em pleno século XXI. Aquilo só será usado por gente pobre, lisa e desassistida, que é maioria na cidade. Nada há ali que chame a atenção. É que não estamos na Europa!

            A construção, de aspecto medonho e assustador, vai ser erguida no mesmo lugar da atual rodoviária ali bem no meio da segunda capital mais suja e imunda do Brasil. Na Jorge Teixeira entre D. Pedro e Carlos Gomes. Mas será que vão canalizar o podre, letal, insalubre e fedido Canal dos Tanques que margeia a obra? Será que vão construir lá dentro uma parada para os ônibus urbanos que quase inexistem na “capital das sentinelas avançadas”? Para onde vão mendigos e noiados que “enfeitam” o lugar? E como 2024 é ano de eleições municipais, é bem capaz que a sua inauguração coincida com a campanha eleitoral. Porto Velho tem um porto rampeado no rio Madeira, mas que vive a maior parte do tempo fechado. As pessoas que vêm de Manaus ou até mesmo do baixo Madeira quase sempre têm que se equilibrar para escalar o barranco íngreme e escorregadio. Um perigo!

            O aeroporto da cidade, dizem com toda a pompa e orgulho, é internacional, só que não faz um voo sequer nem para Guayaramerín/Bolívia, única experiência no exterior para muitos porto-velhenses. O “campo de pouso” daqui deve ter um ou dois voos diários e sempre está às moscas. Mobilidade urbana também inexiste na pior capital do Brasil em IDH. Aqui é difícil viver com dignidade e decência, mas de igual maneira não há como chegar e nem sair de forma que não seja também tão humilhante. Quase tudo por aqui é estranho, surreal. Porto Velho sempre se orgulhou de ter o ginásio Cláudio Coutinho, mas que até hoje não serve para absolutamente nada, uma vez que por aqui não existe nenhum esporte na cidade que valha a pena ser disputado naquele abandonado e também feio lugar. Teatro há logo dois: Banzeiros e o das Artes. Nunca assisti a uma peça teatral neles.

            A “Porto Velho Bus Station” vai concorrer de igual para igual em feiura e em mau gosto com os viadutos tortos, íngremes e ainda mal acabados da cidade, com a ponte escura do suicídio, que para nada serviu até hoje, e com as inúteis “passarelas do atraso” lá no Espaço Alternativo. As lindas estações de trens e ônibus nas mais civilizadas capitais da Europa enchem os olhos de seus usuários. Limpas, asseadas, luxuosas, práticas e muito seguras. Mesmo em algumas cidades do sul do país e até pelo interior de Rondônia não se vê tamanho “desmantelo e horror” numa obra que demorou quase meio século somente para sair do papel. Deviam ter feito antes uma pesquisa com várias opções e modelos para serem escolhidos pelos usuários. Democracia serve para isso também. E quem tiver coragem e necessidade de vir a Porto Velho terá medo, mas voltará no tempo. O ideal é a rodoviária ficar ali pelo Cai n’Água mesmo. Até que iria combinar com a cidade porca.    

 

 

 *Foi Professor em Porto Velho.

sábado, 1 de abril de 2023

A volta do Grande Imbecil

A volta do Grande Imbecil

 

Professor Nazareno*

 

            Depois de passar exatos três meses nos Estados Unidos fugindo do Brasil, ainda não se sabe o porquê, o derrotado e vil ex-presidente do Brasil, Jair Messias Bolsonaro, resolveu voltar ao país. Usando um avião da FAB, o ex-chefe da nação viajou para fora do Brasil no dia 30 de dezembro do ano passado para não ter que passar a faixa presidencial para Luiz Inácio Lula da Silva e admitir publicamente a humilhante derrota que sofreu nas urnas para o petista e para a esquerda. Talvez com medo de ser deportado dos EUA, uma vez que seu visto de turista tinha terminado e cada vez mais está perdendo eleitores desiludidos no Brasil, o “Bozo” deixa a terra do Pateta muito menor do que quando por lá chegou ainda com a patente de Presidente da República. Neste curto período, os seus seguidores tramaram um dos mais fracassados golpes de Estado já vistos.

            Doentes, cegos e ensandecidos pelo “Grande Imbecil” alguns desses seguidores mais radicais resolvem invadir Brasília no dia 08 de janeiro de 2023 e promovem um quebra-quebra generalizado depois de atacar, em pleno dia de domingo, as sedes dos três poderes da República. Os tresloucados golpistas vandalizaram a capital federal e depredaram o Palácio do Planalto, o Supremo Tribunal Federal e o Congresso Nacional. Quase sem nenhuma resistência pela frente, os baderneiros bolsonaristas só foram contidos quando a PM do Distrito Federal resolveu agir. Os “patriotas arruaceiros” que foram identificados já estão devidamente presos e muitos deles vão ter que pagar pelos danos que cometeram nos órgãos públicos. Há desconfiança, sem muitas provas, de que Bolsonaro e sua trupe incentivaram esses atos golpistas para que fosse decretada a GLO.

Uma vez decretada a Garantia da Lei e da Ordem, os militares poderiam voltar a mandar na caótica situação e o governo recém-eleito poderia perder poder. Então, como pensavam os golpistas, o “Grande Imbecil” voltaria triunfante da Flórida direto para o Palácio do Planalto. Mas para o bem de todos e felicidade geral da nação, o plano golpista falhou e deu tudo errado para eles. Uma vez no país, Bolsonaro agora tem que lutar para se livrar da cadeia por causa das maldades que fez durante os seus quatro anos de governo. O povo Yanomami, por exemplo, agradece a todos os seus deuses que Lula e o PT assumiram o poder para acabar com o sofrimento desse povo originário. O genocídio desses indígenas era só uma questão de tempo. De pouco tempo, aliás. O garimpo ilegal e as agressões ao meio ambiente estão suspensos por enquanto. O mundo respira aliviado.

Os crimes cometidos pelo governo anterior são muitos e têm que ser apurados e punidos na forma da lei. A questão das joias da Arábia Saudita precisa ser investigada a fundo. Contrabando de joias e pedras preciosas é crime e não pode ficar impune. As mais de 700 mil mortes causadas pela Pandemia da Covid-19 é outro caso escabroso para ser investigado. Por que as vacinas não foram adquiridas a tempo para começar a imunização de parte de nossa população? Quantas pessoas morreram por falta dessas vacinas? De quem é a responsabilidades por mais este genocídio? Por que, já devidamente vacinado contra a Covid-19, o ex-presidente incentivou aglomerações e negou o tempo todo a gravidade da pandemia? Apesar de ainda ter popularidade, o “Grande Imbecil” precisa responder por todos seus crimes. Próxima sexta, a PF quer seu depoimento sobre o caso das joias. Do começo ao fim, o 38º presidente foi uma farsa, só que impressiona os tolos.

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.