Uma
casa mal-assombrada
Professor
Nazareno*
É
a nova rodoviária que estão querendo fazer em Porto Velho, Roraima. Pelos
desenhos já publicados, percebe-se que o sinistro empreendimento é muito feio,
sem jeito, disforme, desengonçado e que se parece mais com uma daquelas casas
mal-assombradas da Idade Média. Uma construção em estilo “meio gótico”,
cavernoso mesmo. Coisa típica de Porto Velho. Há mais de quarenta anos que
tenho a suprema infelicidade de morar nesta currutela fedorenta e sempre ouvi
falar que iriam construir “muito em breve” um novo terminal de
passageiros. E agora parece que a coisa vai finalmente sair do papel. Não sou
arquiteto, mas não vi no “projeto” nada de atrativo para uma nova
estação de ônibus em pleno século XXI. Aquilo só será usado por gente pobre,
lisa e desassistida, que é maioria na cidade. Nada há ali que chame a atenção. É
que não estamos na Europa!
A
construção, de aspecto medonho e assustador, vai ser erguida no mesmo lugar da
atual rodoviária ali bem no meio da segunda capital mais suja e imunda do
Brasil. Na Jorge Teixeira entre D. Pedro e Carlos Gomes. Mas será que vão
canalizar o podre, letal, insalubre e fedido Canal dos Tanques que margeia a
obra? Será que vão construir lá dentro uma parada para os ônibus urbanos que quase
inexistem na “capital das sentinelas avançadas”? Para onde vão mendigos
e noiados que “enfeitam” o lugar? E como 2024 é ano de eleições
municipais, é bem capaz que a sua inauguração coincida com a campanha
eleitoral. Porto Velho tem um porto rampeado no rio Madeira, mas que vive a
maior parte do tempo fechado. As pessoas que vêm de Manaus ou até mesmo do
baixo Madeira quase sempre têm que se equilibrar para escalar o barranco íngreme
e escorregadio. Um perigo!
O
aeroporto da cidade, dizem com toda a pompa e orgulho, é internacional, só que
não faz um voo sequer nem para Guayaramerín/Bolívia, única experiência no
exterior para muitos porto-velhenses. O “campo de pouso” daqui deve ter
um ou dois voos diários e sempre está às moscas. Mobilidade urbana também inexiste
na pior capital do Brasil em IDH. Aqui é difícil viver com dignidade e
decência, mas de igual maneira não há como chegar e nem sair de forma que não
seja também tão humilhante. Quase tudo por aqui é estranho, surreal. Porto
Velho sempre se orgulhou de ter o ginásio Cláudio Coutinho, mas que até hoje
não serve para absolutamente nada, uma vez que por aqui não existe nenhum
esporte na cidade que valha a pena ser disputado naquele abandonado e também
feio lugar. Teatro há logo dois: Banzeiros e o das Artes. Nunca assisti a uma
peça teatral neles.
A
“Porto Velho Bus Station” vai concorrer de igual para
igual em feiura e em mau gosto com os viadutos tortos, íngremes e ainda mal
acabados da cidade, com a ponte escura do suicídio, que para nada serviu até
hoje, e com as inúteis “passarelas do atraso” lá no Espaço Alternativo.
As lindas estações de trens e ônibus nas mais civilizadas capitais da Europa
enchem os olhos de seus usuários. Limpas, asseadas, luxuosas, práticas e muito
seguras. Mesmo em algumas cidades do sul do país e até pelo interior de Rondônia
não se vê tamanho “desmantelo e horror” numa obra que demorou quase meio
século somente para sair do papel. Deviam ter feito antes uma pesquisa com várias
opções e modelos para serem escolhidos pelos usuários. Democracia serve para
isso também. E quem tiver coragem e necessidade de vir a Porto Velho terá medo,
mas voltará no tempo. O ideal é a rodoviária ficar ali pelo Cai n’Água mesmo.
Até que iria combinar com a cidade porca.
Um comentário:
Isso é um ARTIGO DE OPINIÃO,
nada de redação 👎👎👎👎👎
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