domingo, 30 de setembro de 2018

Rondônia de luto


Rondônia de luto


Professor Nazareno*

             O dia é dois de outubro. E a tristeza é uma só: Porto Velho, a insólita, suja, fedorenta e amaldiçoada capital dos rondonienses está completando 104 anos de muita agonia e sem absolutamente nada para comemorar. Roraima inteira devia estar de luto por esta data tão triste em seu calendário. Porto Velho é a pior dentre as capitais do Brasil em saneamento básico e água tratada. O Instituto Trata Brasil praticamente aponta nossa capital como um lugar inóspito para se viver, uma vez que tem um dos piores IDH’s do país. Diferente de cidades relativamente novas como algumas do Centro-Sul do Brasil, a exemplo de Blumenau, Londrina e Maringá, a “Capital da Fedentina” desponta como a pior em limpeza e urbanização. E para piorar este ranking, o lugar é violento, sem planejamento, desarborizado, quente e sem mobilidade urbana.
            Morar em Porto Velho é como uma praga rogada em outras encarnações, se isso existir. Nada, mas absolutamente nada na cidade nos traz alegria. Com raríssimos 2% de rede de esgotos é comum encontrarmos nas ruas merda boiando a céu aberto. Água encanada há, mas não chega a 30%, por isso o abastecimento geralmente é feito a partir de poços rasos, sujos, cavados ao lado de fossas sépticas. Doenças já erradicadas nos lugares desenvolvidos e civilizados há séculos como lombriga, conjuntivite, sarna, diarreia crônica e coceiras são rotina por aqui. E não tem como se tratar adequadamente. O “açougue” João Paulo Segundo, uma espécie de hospital de pronto-socorro é o único logradouro público disponível para atender aos milhares de pacientes. Entra governo e sai governo e o “velho açougue” lá atestando a incompetência das nossas autoridades.
            A cidade aniversariante é um lugar tão desgraçado que nunca teve um filho seu para lhe administrar nestes 104 anos de existência. Desde o maranhense Major Guapindaia até o pernambucano Hildon Chaves que os eleitores fazem questão de escolher para prefeito somente os cidadãos de fora. A rotina urbana é dividida em duas estações anuais. O inverno com muita merda, lama, lodo, sujeira, mato, fedentina, lixo, carniça, ratos, urubus, baratas, percevejos, carapanãs e toda sorte de insetos. E o verão com poeira sufocante, fumaça das queimadas, buracos nas ruas e mais bosta. Nunca entendi porque os funcionários públicos lotados na cidade não recebem uma espécie de adicional de insalubridade. Aqui se corre o risco de contrair malária, dengue, Zika, esquistossomose, lepra, curuba, febre tifo e outras doenças já erradicadas na civilização.
Porto Velho está aniversariando e como presente maior deveria receber um decreto de extinção. Ou pelo menos perder a condição de ser capital de um Estado, já que não reúne nenhuma qualidade para isso. Não tem porto, não tem aeroporto internacional, não tem rodoviária decente, não tem praças floridas, não tem arborização e nem recantos de lazer. Muitos dos filhos da terra e aqueles “de coração” ficam bravos quando alguém ousa apontar essas verdades. São pessoas que gostam de viver no lodaçal urbano. A “capital das sentinelas avançadas” é um lixo, uma imundície, um buraco quente imprestável e mal administrado. Eu fico é envergonhado quando meus parentes vêm da Serra Gaúcha e de Curitiba para me visitar. Já lhes pedi que não façam mais sacrifícios desnecessários. Como dar os parabéns para uma currutela fedida assim? Meus pêsames, Porto Velho! O lugar é tão ruim que podia ser a morada do Bolsonaro.




*É Professor em Porto Velho.

quinta-feira, 27 de setembro de 2018

Desculpem-me, grafiteiros!


Desculpem-me, grafiteiros!


Professor Nazareno*

            
         Às vezes fazemos coisas sem pensar e por isso nos arrependemos amargamente pelas nossas ações. Uma dessas coisas inomináveis que eu fiz foi criticar recentemente e de forma irresponsável a “ARTE” dos grafiteiros nos viadutos de Porto Velho. Pior: disse que aquele excelente trabalho de brilhantismo e galhardia não tinha a veia crítica, reflexiva e não apresentava resquícios de inteligência. Santo Deus, quanta tolice! O trabalho de vocês está muito acima da arte e do reconhecimento. Um Nobel, deveria ser o prêmio para quem criou aquelas divinas aquarelas. As Academias sueca e norueguesa deveriam mandar emissários a Porto Velho só para premiar tão belo trabalho artístico. Provavelmente eles vão criar mais um prêmio anual ou então substituir o de Literatura somente para agraciar vocês de forma mais justa. Aquela obra-prima será eternizada.
            Cada desenho é uma história à parte. É uma lição de vida. Uma aula. É um ensinamento para esta e para as futuras gerações. Cada criação de vocês nos remete à História, à reflexão, à criticidade, à filosofia, ao bom senso. Vocês são artistas de verdade, não aquelas porcarias que vemos nos livros de História. Rembrandt, Da Vinci, Van Gogh, Michelangelo e tantos outros ficaram na poeira diante de suas belas telas. Hoje eles sentiriam vergonha se vissem suas criações. A história da arte agora se divide em duas: antes dos viadutos de Porto Velho e depois deles. O Renascimento deveria começar agora: a partir desse insubstituível trabalho de criatividade e veia artística. Olhando cada desenho, nossos olhos se enchem de lágrimas. Já testemunhei pessoas chorando de emoção diante de algumas telas. Turista agora é o que não faltará por aqui.
Os próprios viadutos de Porto Velho também deviam ser citados como obra de engenharia. Deveriam também ser reconhecidos internacionalmente e receber uma espécie de Oscar da Engenharia e da Arquitetura. Acabaram para sempre com os engarrafamentos e embelezaram a cidade. Aquilo ali só pode ter sido trabalho de um Jaime Lerner ou de um Pereira Passos. Gostaria de saber qual foi a cabeça que os criou. Construídos em tempo recorde e sem usar um centavo a mais do que o previsto, as obras colocaram a “capital dos destemidos pioneiros” como uma das mais importantes metrópoles do mundo. Eles são iluminados, versáteis, práticos, limpos e de extrema utilidade para os usuários. E vocês viram tudo isso. Gênios que são! E captaram cada detalhe em seus “pincéis”. Não há como não se orgulhar de ser porto-velhense, mano!
Quero também pedir desculpas à banda da “música da coberta”. Sucesso nacional e de grande reconhecimento internacional, ela com sua agenda sempre lotada, em breve desbancará os Beatles, Abba e Bee Gees. Essa banda de Porto Velho é um primor. Só não vê (e ouve) quem não quer. Mas tenho uma pequena crítica ao trabalho  de vocês: por que não desenharam também a foto dos vários políticos daqui? Prefeitos, governadores, deputados, senadores e vereadores por exemplo? Eles é que são os heróis de verdade desse inteligente povo. Não fosse o pouco tempo de vocês, gostaria de ter algumas dessas obras pintadas em minha humilde casa. Toda aula minha a partir de agora lembrará os viadutos de Porto Velho. Será que daria para retirar alguns daqueles desenhos para serem mostrados no Louvre de Paris e no Metropolitan de Nova Iorque? Mas sem aquela montanha de lixo, pois os apreciadores estrangeiros são mais exigentes.




*É Professor em Porto Velho.

quarta-feira, 26 de setembro de 2018

Quando falham os governantes



Quando falham os governantes


Professor Nazareno*

                    À medida que se aproximam as eleições, cresce uma certeza ainda mais incômoda entre os eleitores brasileiros: o segundo turno será decidido de novo entre os dois polos ideológicos da opinião pública nacional. Pelo menos é o que indicam até agora as pesquisas. Só que dessa vez teremos a presença não mais da direita conservadora com o PSDB, mas da extrema-direita reacionária representada pelo Bolsonaro. É para muitos o pior cenário para o país, pois a divisão se acentuará ainda mais e a futura governabilidade ficará comprometida. O grupo que chegar ao poder poderá sofrer boicote nas suas pretensões de governar. Por isso, até agora nenhum candidato desponta como alternativa viável neste cenário de intrigas e divisões. Não há o fiel da balança que tenha grande experiência administrativa para resolver o caos.
                O brasileiro só fala em crise. Povo na sua maioria preguiçoso, indolente, falso, subletrado, sem nenhuma leitura de mundo e também chegado às mamatas oficiais, o cidadão comum deste país reclama de tudo. Em período de eleições como agora ele se esmera na arte de pedir. Não pode ver um candidato que vai logo dizendo quais são as suas necessidades. E dificilmente se pensa na coletividade, nos problemas que atingem a todos. “Candidato bom é aquele que resolve os meus problemas primeiro”, pensa-se de forma egoísta. Assim, a eleição deste ou daquele candidato em nada vai contribuir para resolver os inúmeros problemas socais do país. De novo, o grupo que governará a nação pelos próximos quatro anos buscará apenas meios para se perpetuar no poder. Para muitos, a estratégia é somente de poder e não de governo.
                 A perigosa ascensão da extrema-direita neste pleito, no entanto, é apenas fruto da incompetência e do fracasso dos sucessivos governos de direita e de esquerda, embora esta tenha governado apenas 13 anos enquanto aquela governou o resto do tempo. No Brasil infelizmente os 518 anos de História para nada serviram. Temos uma das piores desigualdades sociais do mundo e os nossos maiores problemas são desemprego, educação de péssima qualidade, saúde pública em frangalhos, corrupção endêmica na sociedade, falta de infraestrutura em portos, aeroportos e estradas, violência alarmante, caos social. Enquanto isso, os candidatos discutem ideologia de gênero, novos tipos de família e outras tolices mais. E muitos eleitores estão aborrecidos porque o Jean Wyllys ou o Alexandre Frota pode ser o novo ministro da Educação.
                 Antes das eleições, o que se ouve dos eleitores é "vou anular o meu voto! Não vou votar em ninguém! Vou votar em branco! Nas eleições a gente dá o troco!”. Tudo falácia, rompança, mentira, pois mal chegam as campanhas políticas e estão todos lá torcendo pelos seus candidatos e brigando por eles. Olhando o que dizem as pesquisas, dá até medo em saber quem são os cidadãos que serão eleitos em Rondônia e no Brasil. “Me engana que eu gosto”. Tudo mais do mesmo. Nos próximos quatro anos continuará a mesma “merda de sempre” se depender dessas eleições. Dá para acreditar nesses brasileiros? Os governantes falham, mas o eleitor falha mais ainda ao colocá-los para nos governar. Muitos vão escolher o candidato que defenderá a sua família como se ele, o eleitor, não pudesse fazer isso. E como de costume, quase ninguém se lembrou da educação quando escolheu o seu preferido. Brasil: quando todos falham, vem o abismo.




*É Professor em Porto Velho.

segunda-feira, 24 de setembro de 2018

Rondônia: viadutos sem Arte


Rondônia: viadutos sem Arte


Professor Nazareno*

            
            A principal diferença entre uma obra de arte e um simples desenho é porque a primeira induz o apreciador ao raciocínio, à inteligência, à reflexão. A obra de arte se eterniza por que mostra o novo e o inusitado. Já o desenho simples não passa de uma cópia, às vezes até mal feita, apesar da boa vontade e do talento do desenhista. Dificilmente uma obra de arte é produzida por um sujeito que tem apenas o senso comum, o conhecimento rasteiro e a pouca leitura de mundo. A tela Guernica de Pablo Picasso é um exemplo disso. O mestre espanhol se esmerou em trabalhar elementos coesivos, interdisciplinares e fez um alerta com a sua obra: o perigo do Holocausto pelos nazistas, fato que se comprovou pouco tempo depois. Artista é o que cria, que revoluciona. Já o desenhista é um copiador que não demonstra inteligência no que faz.
Em Porto Velho, vários desenhistas até bem intencionados tentam rabiscar telas de gosto duvidoso nos desnecessários viadutos da cidade. Nem perceberam que por se tratar de época de campanha política o seu trabalho só serviria para isso: fazer proselitismo alheio. E até agora não fizeram nenhum desenho que não fosse cópia, até bem feita, diga-se. Não há ali nada que se possa dizer que é uma obra de arte daquelas eternizadas pelos renascentistas europeus. Da Vinci, Rembrandt, Picasso, Van Gogh e Michelangelo devem se remexer no túmulo se forem apresentados àquilo. O “trabalho artístico” dos viadutos está muito feio tornando ainda mais horríveis aquelas paisagens horrorosas e cheias de lixo. Pior: muitos dos porto-velhenses, que nada entendem de arte e bom gosto, ficam inebriados e maravilhados com todas as horrendas caricaturas.
Não se vê ali, por exemplo, nenhum desenho que nos remeta à reflexão e ao conhecimento, infelizmente. É quase tudo “cópia da cópia” sem nenhum resquício de inteligência. Ademais, deviam registrar naquele ambiente o que de fato representa a cidade de Porto Velho: um saco cheio de lixo com tapurus esparramados. Nada representaria melhor a “capital da fedentina”, que tem uma das piores qualidades de vida do Brasil. Mas hipocritamente esconderam isso dos transeuntes. Só está faltando desenharem a foto de algum candidato. Uma lástima, mas os rondonienses de um modo geral ficam encantados com tolices e bizarrices. A “montanha-russa do atraso” no superfaturado Espaço Alternativo é um claro exemplo dessa mania esdrúxula. A ponte escura do rio Madeira e a “Praça da Bosta” na EFMM corroboram esta sinistra tese.
Rondônia não tem cultura nem arte. Nunca teve. Tudo aqui é cópia mal feita do que acontece em outros lugares. Parintins, Campina Grande e Rio de Janeiro são as vítimas mais corriqueiras desse plágio. Cadê o sucesso de uma banda que “encantou” o Brasil com a música “vinte graus e uma coberta”? Aqui, cultura é distribuir cachaça durante o Carnaval para as pessoas saírem pulando pelo meio da rua emporcalhando tudo por onde passam. Um dos teatros da cidade quase foi devorado por cupins e passa mais tempo fechado do que encenando espetáculos. Sua serventia tem sido apenas para congressos, cultos evangélicos, aulões e outras atividades alheias à verdadeira arte. Até no esporte, o nosso Estado é uma piada: sem time em nenhuma modalidade esportiva, tem-se que importar jogos para o recém-inaugurado Ginásio Cláudio Coutinho. Arte que não leva à reflexão não é arte, é cópia. Fato: Rondônia só copia o “resto” do Brasil.




*É Professor em Porto Velho.

sexta-feira, 21 de setembro de 2018

Meu candidato NÃO é fascista!


Meu candidato NÃO é fascista!


Professor Nazareno*

            
             Já escolhi o candidato em quem poderei votar nas próximas eleições para Presidente da República. Dentre todos eles, não há um melhor e que represente tão bem todos os anseios e pensamentos da esmagadora maioria dos brasileiros. E já vou logo adiantando: ele NÃO é fascista. Nunca foi, embora seja cria da caserna. Chegou ao posto de capitão e por isso tem pensamento e mentalidade moldada dentro dos quartéis. Pode até ter certo viés antidemocrático, porém a sua “visão de mundo” supera todas as adversidades possíveis. De propostas simplistas para administrar um país de enorme complexidade, o meu escolhido não assimila nem de longe os resquícios que marcaram os perdedores do Tratado de Versalhes. E é apenas uma coincidência ele ter subido nas preferências por causa da crise econômica, desemprego, corrupção e violência urbana.
            As ideias do meu guru são mesmo revolucionárias. De início, prega-se armar toda a população para combater a violência desenfreada. Esqueçam códigos, leis, tratados, convenções, acordos e outras “tolices” mais. Embarquem no caminho perigoso e sem volta da “violência se combate com mais violência”. Pode até ser uma reedição da lei de Talião, mas “é melhor ter uma sociedade de cegos e banguelas do que ter de viver acossado nas mãos de bandidos ou de comunistas”. “Bandido bom é bandido morto”. Aliás, a lição da caserna foi-lhe muito útil mesmo: impossível viver numa sociedade dominada pelos adoradores de Karl Marx. Fora do campo ideológico, no entanto, as soluções fáceis grassam naturalmente para o delírio de seus eleitores. Negros, índios, mulheres e minorias como homossexuais e quilombolas já sentem um frio na espinha.
            O meu candidato NÃO é tirano, mas entende que existe uma ordem natural das coisas. Por isso, defende intransigentemente a família tradicional, mesmo já tendo se casado três vezes e de ter dois filhos “por fora”. Ele é o máximo: tem quatro filhos homens e “fraquejou” quando nasceu o quinto, uma menina. Mas NÃO é misógino. E vou logo avisando: nada de Estado Laico. “O negócio aqui é Estado Cristão”. Gays, esquerdistas, mulheres e até alguns tipos de religião podem sofrer “privações” por parte do governo. E está liberada de agora em diante a nossa capacidade de fazer piada com eles. Não há fascismo nenhum em mostrar o peso dos negros em arroubas ou de se recusar a estuprar mulher feia. Será que só as bonitas é que mereceriam este tratamento? E filhos bem criados não “viram” homossexuais nem se casam com mulheres negras.
Meu futuro presidente NÃO é despótico, mas defende que a mulher deve ganhar menos do que o homem porque engravida todos os anos. Não há tirania também em se usar a estupidez e a ignorância como armas políticas para defender seus ideais. Muitos já fizeram isso. Só que agora, meio que tardio, prega-se abertamente a utilização do voto útil para derrubar o meu escolhido. Tolice, ele é fruto da incompetência da Direita e da Esquerda e por isso fica muito difícil parar com as suas investidas. Estado fraco, corrupção sem controle, leniência da lei e da ordem, judiciário corrupto, privilégios, caos social, injustiça secular e desigualdade social abriram o caminho para ele e agora estão querendo se arrepender? O meu preferido não é um homem de carne e osso como esses de vocês e NÃO é ditador. “É uma mentalidade, uma ideia, uma imaginação que quer usar a democracia para asfixiá-la no seu nascedouro”. Será que ele vai conseguir?




*É Professor em Porto Velho.

quarta-feira, 19 de setembro de 2018

Desafio aos candidatos


Desafio aos candidatos


Professor Nazareno*

Como de costume, nestas eleições são muitos os candidatos. Só para presidente da República são mais de uma dúzia deles. Em Rondônia tem outra penca querendo ser governador do Estado. Para senador, deputado federal e deputado estadual os números se multiplicam exponencialmente. Todos prometendo aquilo que sabem que jamais poderão cumprir. São, portanto, mentirosos e enganadores da boa fé do idiota eleitor. Porém, eles não se preocupam em fazer isso: faz parte do jogo político e todos, eleitores e candidatos, já se acostumaram à hipocrisia que movimenta as campanhas. Terminadas as eleições, recolhem-se aos seus afazeres e aos trancos e barrancos o país, os Estados e muitas vezes os municípios continuam a sua rotina de colapso e de desrespeito ao povo. Os cidadãos que pagam impostos seguem tendo negados seus direitos mais elementares.
Mas no jovem, atrasado e subdesenvolvido Estado de Rondônia, por exemplo, não há a menor necessidade de se fazer tantas promessas inatingíveis. Três realizações, isso mesmo, apenas três fatos poderiam ser resolvidos sem a necessidade de se mentir tanto para os simplórios eleitores. Com isso, metade dos problemas estaria sanada e a “Latrina do Brasil” poderia ter dias melhores. A fumaça absurda que todos os anos atormenta os moradores do Estado. O calvário do “açougue” João Paulo Segundo e o saneamento básico da pior capital do Brasil para se viver. Claro que há inúmeros outros problemas a serem resolvidos como melhoria na qualidade da educação pública, combate à corrupção e melhoria das estradas para escoamento da produção. Só que o sujeito que resolver estes três entraves, jamais deixará de ganhar eleições neste Estado.
Em tempos de preservação do meio ambiente, o governador que resolvesse definitivamente a terrível questão das queimadas nesta parte da Amazônia, ganharia notoriedade internacional. Todos os anos nesta época é um horror morar nas cidades de Rondônia. A fumaça insuportável provoca mortes, fecha aeroportos e lota os precários hospitais da região. Será que nenhum dos candidatos vê este calvário que todos nós, inclusive eles mesmos, sofrem? Estrutura há de sobra no aparelho do Estado para enfrentar o caos. Com inúmeros órgãos responsáveis pela preservação ambiental esta hecatombe amazônica anual poderia ter um fim sem muito esforço. Outro problema é o “açougue” João Paulo Segundo da capital. Será que os candidatos acham bonita sua existência? O “campo de extermínio de pobres” sempre manchou a imagem do Estado.
Quase nenhum dos candidatos, quase nenhuma autoridade daqui parece já ter precisado dos serviços do velho “açougue”. Deve ser por isso que fazem pouco caso dele. O terceiro problema a ser resolvido seria fazer saneamento básico nas cidades rondonienses principalmente na capital Porto Velho. Ver a “cidade da fedentina” figurar todos os anos como o pior lugar do Brasil para se viver parece que não faz nenhuma vergonha aos políticos, mesmo aqueles que são filhos da terra. Por isso, espero que o professor Alecks Palitot e a ativista social Luciana Oliveira, se eleitos, comecem a pensar nesta possibilidade. Seria muito bom também que outros candidatos, que se orgulham de serem filhos da terra, começassem a se movimentar neste sentido. Todos temos esses direitos e não é pedir demais a quem tem o poder de saná-los. Candidato bom não promete, faz: fim das queimadas, mais atenção à saúde e saneamento básico.




*É Professor em Porto Velho.

sábado, 15 de setembro de 2018

Desvendando o rondoniense


Desvendando o rondoniense



Professor Nazareno*

            
     Já ouvi dizer várias vezes que o brasileiro precisa ser estudado devido às suas inúmeras esquisitices. Resultado do cruzamento genético das três etnias majoritárias da espécie humana: negro, branco e oriental, o cidadão do nosso país de um modo geral, segundo as teorias deterministas mais conservadoras, não tem concorrente no mundo todo. Levando-se em consideração este pensamento quem precisa também ser analisado seriamente é o sujeito nascido em Rondônia, um rincão atrasado, subdesenvolvido e esquecido do restante da humanidade. Se o brasileiro comum é fruto de uma mistura racial, o rondoniense ou rondoniano é fruto da “mistura dessa mistura”. Nem superior nem inferior a nenhum outro povo, mas dono de uma esquisitice tamanha nas suas ações que a Antropologia levaria milênios para compreender como eles ainda sobrevivem.
            Muito estranho que os rondonienses tenham como ídolo maior um gaúcho e não um autêntico filho da terra. Coronel Jorge Teixeira de Oliveira, um preposto da ditadura militar em terras karipunas e que jamais teve um único voto dos eleitores rondonienses, desponta como um verdadeiro Deus por aqui. José Maurício Bustani, diplomata de reconhecimento internacional nunca foi citado pelos moradores locais. Raríssimos rondonienses sabem que ele nasceu em Porto Velho. Carlos Ghosn, megaempresário de sucesso na área automobilística nasceu também em Rondônia, mas por aqui quase ninguém sabe disto. O rondoniano comum costuma endeusar apenas quem nasceu em outro lugar. Tanto é que quase nenhum deles jamais governou o Estado. A prefeitura da capital nunca teve um administrador nascido em terras karipunas. Todos vieram de fora.
            É muito esquisito que o povo rondoniense, mesmo sendo honesto e correto em sua maioria, nas eleições quase só vota e elege candidatos ladrões e corruptos. E de preferência que tenha nascido em outro Estado. O governo estadual, as câmaras municipais e o Poder Legislativo local, por exemplo, estão infestados de forâneos. Neste aspecto, Rondônia é a puta do Brasil e ainda tem que pagar pelo preservativo. Muitos se satisfazem quando pegam um empreguinho qualquer no segundo ou terceiro escalão das administrações públicas. “Tudo para quem é de fora, nada para os nativos” parece ser o lema deste povo bisonho. Os melhores empregos, as melhores colocações, as melhores terras. Tudo para os visitantes. A imponente floresta Amazônica, o Cerrado no Cone Sul do Estado e até o majestoso rio Madeira foram estuprados só para atender aos outros.
            O cidadão daqui parece que está muito bem conformado com o “açougue” João Paulo Segundo, um campo de extermínio de pobres feito sob medida para matar somente quem nasceu aqui. Sim, porque quem é de fora geralmente tem bons planos de saúde e quando a “coisa se complica” volta para se tratar em seus locais de origem. A fumaça criminosa todos os anos alegra também muitos cidadãos nativos. “É o pregresso chegando”, dizem euforicamente. Porto Velho ser a pior dentre as capitais do Brasil em saneamento básico, qualidade de vida e queimadas traz euforia para todos. Futebol nem existe por aqui. Só os times de fora é que merecem destaque. E todo final de ano muitos passam suas férias nas praias do Nordeste, no exterior e também no Centro-Sul do país. Aqui só ficam os pobres. Rondoniense adora andar de barco, mas sem colete. Será que estas “qualidades sinistras” habitam também os que se dizem rondonienses de coração?





*É Professor em Porto Velho.

terça-feira, 11 de setembro de 2018

BR-319, uma estrada inútil


BR-319, uma estrada inútil


Professor Nazareno*

            Todo ano de campanha política é a mesma ladainha: a rodovia Álvaro Maia ou BR- 319, que liga Porto Velho e Manaus finalmente vai sair do papel e voltará a existir. Tolice, bobagem, conversa para boi dormir, sonho inatingível, lengalenga inútil. Sem nenhuma importância para o desenvolvimento do país, a esquecida estrada cortando o coração da Amazônia já existiu de fato. Inaugurada em 1976, mas sem nenhuma manutenção, ela resistiu só até o início dos anos 80 e hoje se transformou num lamaçal intransponível durante o período de chuvas do rigoroso inverno amazônico. Os dois governos estaduais e o governo federal sempre fizeram pouco caso da sua existência, por isso ela desapareceu. O seu reaparecimento, no entanto, seria a repetição de um erro que pode trazer seriíssimas consequências ambientais para toda a região que ela corta.
            Se a velha estrada não tem nenhuma importância para o Brasil, para a região Norte é igualmente desnecessária. O Amazonas praticamente nada produz em termos de agropecuária e a pouca produção de Rondônia pode ser escoada pela BR-364 em direção ao sul do país. Gastar bilhões de reais para reativar uma estrada fantasma apenas para transportar farinha d’água e peixe Jaraqui é uma insensatez sem tamanho que vai de encontro a toda e qualquer teoria macroeconômica. Isso sem falar que temos o melhor meio de transporte em uso: os rios da região, cuja extensão entre as duas capitais é totalmente navegável. Rasgar a floresta para reativar um caminho que liga “o nada a coisa alguma” é simplesmente decretar a morte de toda a Amazônia brasileira. Com a “Trans-Jaraqui”, em pouco tempo nenhuma árvore será mais vista em seu longo trajeto.
            Fala-se que o atual govenador do Amazonas, Amazonino Mendes, não tem nenhum interesse nessa rodovia uma vez que ele seria dono de várias empresas de navegação. Além do mais, os manauaras e os amazonenses de um modo geral não querem se ligar a Rondônia nem ao restante do Brasil. Se quisessem, não teriam gasto um bilhão e trezentos milhões de reais para construir uma ponte ligando Manaus ao Cacau Pirera e a Iranduba do outro lado do rio Negro. Uma ponte entre Manaus e o  Careiro da Várzea e consequentemente à velha rodovia, teria tirado há tempos a capital do Amazonas do isolamento. Mas ninguém lutou para isso. Sem essa ponte, as duas cidades continuariam sem nenhuma ligação por terra, uma vez que sempre haverá a necessidade de uma balsa para cruzar a área do encontro das águas próxima a Manaus.
            Decretar o fim da Amazônia e de todas as suas riquezas naturais somente para satisfazer a vontade de meia dúzia de turistas pobres é o fim da picada. Tolice por tolice já existe uma ponte aqui que não tem nenhuma serventia mesmo. Chega de gastar dinheiro à toa. E quem teria coragem de dirigir 12 ou 14 horas apenas para tomar banho de rio? Essa idiotice nós já fazemos aqui há tempos. Humaitá já sobrevive em função de Porto Velho e duvido que alguém de bom senso queira se ligar à “capital da sujeira”. Reconstruir a 319 seria a indução talvez ao maior crime ambiental de que se tem notícia. As ONG’s ambientalistas do Brasil e a opinião pública internacional deviam se movimentar para evitar mais esse desastre ecológico. A pavimentação da BR-364, por exemplo, além da enorme devastação ambiental e dos problemas que causou, resultou na burrice que é conhecida hoje por Rondônia. E quem precisaria errar mais uma vez?





*É Professor em Porto Velho.

sábado, 8 de setembro de 2018

Turismo na fumaça



Turismo na fumaça


Professor Nazareno*

           
             Porto Velho, a capital de Roraima, é o cu do mundo. Disso quase todo mundo que tem o azar de morar por aqui sabe. Claro que essa comparação não é para ofender ninguém, pois se deve respeitar essa parte do corpo humano. Sabe-se também que é a última dobra do esfíncter anal e que tem talvez a pior qualidade de vida dentre as capitais do país. E nesta época do ano, a fumaça tóxica das criminosas queimadas dão o toque urbano característico da cidade. Estamos no início de setembro, em pleno verão nesta parte do Brasil, com temperaturas beirando os 40 graus, umidade relativa do ar muito baixa e fumaça sufocante. Visitar a cidade só se for a negócios. Turismo neste buraco quente e asfixiante nem pensar. O apelido de antessala do inferno é fácil de entender se alguém passar pelo menos uma hora andando por suas ruas quentes e sujas.
            Por isso, o desfile de sete de setembro em Porto Velho é algo patético no meio de todo este ambiente infernal. Pelotões se perdem em meio à densa camada de fuligem. Pior: o Corpo de Bombeiros, ironizando a todos os presentes ali, desfila seus modernos carros de combate a incêndios florestais. Autoridades se cumprimentam e o povão aplaude a todos no meio daquele verdadeiro inferno na terra. Entra ano e sai ano e a fumaça densa atormenta os moradores. Crianças e velhos doentes lotam os poucos e despreparados hospitais públicos. Rinite alérgica, asma, bronquite, sinusite e outras doenças da estação é o que mais se observa nesta época. Uma vergonha se levarmos em consideração que aqui temos Bombeiros, SIPAM, Sivam, Sema, IBAMA dentre muitos outros órgãos responsáveis pela defesa do meio ambiente e das florestas equatoriais.
            Ninguém sabe qual a época do ano é a pior por aqui. Quando terminar este suplício sufocante, vêm as chuvas torrenciais com rajadas de ventos que derrubam árvores, torres de comunicação, sinais de trânsito e provocam as já famosas alagações com lama podre entrando nas residências feitas de palafitas. As ruas sem esgotos ou saneamento básico se enchem rapidamente de água contaminada e pútrida. Os poucos bueiros são tomados por lixo, papel, plástico e garrafas pet provocando um caos urbano só visto nas piores cidades do mundo subdesenvolvido. O martírio na “capital do lixo” passa a ser movido a água. Só escapa da hecatombe quem tem a sorte de morar nos dois ou três únicos edifícios da urbe. Para completar a bagunça, a cidade não tem mobilidade urbana nenhuma. Moto táxis, táxis compartilhados e ônibus velhos completam o caos.
            Sem nenhum acanhamento, os políticos estão agora à cata de votos. Mesmo aqueles que nada fizeram pela cidade. Na maior cara de pau os miseráveis prometem mundos e fundos para os sofridos eleitores porto-velhenses. Só que quanto menos eles fizerem por Porto Velho e por Rondônia mais chances eles terão de ser eleitos. Essa rotina amaldiçoada se repete a cada ano que tem eleições. Nenhum deles promete, por exemplo, acabar com a fumaça e o lodaçal, marcas registradas das duas únicas estações climáticas da cidade. Passam-se as eleições, sai verão, entra inverno e a rotina de sofrimento e angústias continua a nos fazer companhia. Para fazer turismo na “capital da fedentina” é necessário usar máscara no verão e botas sete léguas no inverno. As campanhas do governo do Estado, em outdoor e cartazes, para acabar com as queimadas não são lidas porque há muita fumaça. Turismo em Rondônia: estágio para o inferno.




*É Professor em Porto Velho.

quinta-feira, 6 de setembro de 2018

Uma facada no Brasil


 Uma facada no Brasil 

Professor Nazareno*

O covarde ataque contra a vida do presidenciável Jair Bolsonaro durante atos de  campanha eleitoral em Minas Gerais mostra ao mundo a verdadeira face do Brasil: incivilidade, violência, selvageria, ódio, vingança, desejos homicidas e acima de tudo intolerância às posições políticas divergentes. A facada durante o trágico atentado político atingiu não apenas o candidato do PSL, chamado por muitos de “mito”, mas principalmente acertou a já fragilizada imagem do Brasil no mundo civilizado. Jair Bolsonaro nem nenhum outro ser humano merecia sofrer algo tão bárbaro e medieval como esse ataque abominável. Ideias se combatem com outras ideias. Argumentos se contestam com outros argumentos. Posições políticas contrárias se enfrentam com outras posições políticas, nunca com tiros, facadas ou violência gratuita e premeditada.
Eu particularmente nunca concordei e nem concordo com a maioria das posições políticas assumidas pelo candidato Bolsonaro. Não só as ideias do ex-militar, mas de muitos outros candidatos que estão nesta disputa. Entendo que a solução para o Brasil não passa pela violência nem pelo acirramento do ódio entre as pessoas. No campo das ideias e dos argumentos tenho as minhas convicções que são totalmente divergentes das dele e de todos os seus apoiadores e simpatizantes. Nenhum atentado vai destruir ideias e substituí-las por outras. Só a dialética, o debate saudável e a discussão podem levar a um consenso. Os problemas da democracia têm que ser resolvidos sempre com mais democracia. Essa estupidez inexplicável coloca o nosso país ao lado das atrasadas repúblicas bananeiras e também das nações terceiro-mundistas da África subsaariana.
Essa agressão infame não foi somente contra um candidato à Presidência da República. Foi contra a civilidade e também contra qualquer ser humano que deseja a paz e a tolerância entre os cidadãos. E tomara que a barbárie tenha sido apenas mais um atentando político e não, como muitos já estão afirmando nas redes sociais, que se trata de uma encenação sórdida para arrebatar mais votos, admiração e apoio ao ex-militar da extrema direita. “Atentado sem sangue?” é a frase dos opositores que mais se vê na internet. A campanha política tem que ser tranquila. São os projetos que precisam ser discutidos e não as pessoas ou suas atitudes. Nada de querer metralhar militantes do PT ou de qualquer outro partido. Essa postura lamentável provoca infelizmente mais ódio entre o povo. O Brasil vive hoje dias de muita tensão desde o fatídico golpe de 2016.
O voto de Jair Bolsonaro na ocasião do golpe contra a ex-presidente Dilma Rousseff do PT foi uma incitação grosseira à violência e à tortura. Pouca gente se esqueceu daquele triste episódio. O ódio e a insensatez, que não justificam facadas, cresceram e infelizmente culminaram nesta incivilidade. Nada de dar porrada em pessoas. Nada de “bandido bom é bandido morto”, de pena de morte, de diminuição da maioridade penal, de ataques a homossexuais, quilombolas e outras minorias, nada de desrespeitos aos direitos humanos nem de perseguição a ninguém. Tomara que Jair Bolsonaro saia logo dessa com muito mais saúde e disposição para poder entender que suas posições políticas estão equivocadas, ultrapassadas e que por isso merecem ser repensadas e mudadas para o bem do Brasil e de todos nós. Saúde longa ao “mito”. O nosso país não precisa de violência nem de radicalismos para ter futuro. Precisa de paz.





*É Professor em Porto Velho.