terça-feira, 29 de janeiro de 2019

E se fosse Santo Antônio?


E se fosse Santo Antônio?


Professor Nazareno*

            
        Como de costume, a tragédia que se abateu sobre Brumadinho em Minas Gerais, quando se rompeu uma barragem da Mineradora Vale matando centenas de pessoas, serviu para os brasileiros tentarem colocar a “tranca na porta” depois de ela ter sido arrombada. A tragédia se repete depois de apenas três anos, quando a mesma mineradora teve outra barragem rompida em Mariana matando 19 pessoas e causando danos irreparáveis à natureza. “Os brasileiros não apreendem com as tragédias e as deixam se repetirem com uma frequência incrível”, é o que se fala. As providências só são tomadas na hora em que acontece a hecatombe, depois todos se esquecem do fato e a vida continua normalmente. Foi assim com a boate Kiss em Santa Maria no Rio Grande do Sul, foi assim com Mariana e será assim, infelizmente, com Brumadinho.
Por isso, uma pergunta que não quer calar e que nos assusta diariamente é sobre a situação das hidrelétricas no rio Madeira. E se este fato tivesse acontecido com a barragem de Santo Antônio que está a apenas sete quilômetros da capital? Essas barragens são mesmo seguras a ponto de reter toda a água e resíduos do caudaloso rio? E em caso de rompimento, que medidas seriam adotadas para salvar vidas a jusante do rio? Claro que quando se levantam essas hipóteses, o pessoal das duas hidrelétricas sai rapidamente em defesa de seu empreendimento se esquecendo de que estamos no Brasil, país onde o que vale é só o lucro imediato das empresas e jamais a vida de pessoas inocentes. Porto Velho, a suja, mal cuidada e fedorenta cidade, tem quase 600 mil habitantes no caminho direto das águas enfurecidas em caso de um rompimento.
Não haverá tempo suficiente para avisar a ninguém em caso de tragédia. Que tipos de treinamento são feitos com as pessoas que moram em bairros como Triângulo, Baixa da União, Balsa e no centro da cidade? E as áreas ribeirinhas como São Carlos, Calama, Nazaré, Humaitá e inúmeras outras localidades rio abaixo? São duas grandes hidrelétricas a montante de um dos maiores e mais caudalosos rios do mundo. É muita água em caso de rompimento. Se Jirau arrebentar, Santo Antônio não consegue segurar as águas e se for Santo Antônio, essas mesmas águas levariam poucos minutos para inundar todo o centro da capital e provocar a morte imediata de milhares de pessoas além dos prejuízos incalculáveis. Dizer que isto nunca acontecerá é uma rotina macabra que faz lembrar a trágica história do Titanic: “nem Deus afunda este navio”, diziam.
As usinas de Jirau e de Santo Antônio em Rondônia podem se romper, sim. São obras feitas por seres humanos num país onde o que vale é o “jeitinho”. Óbvio que ninguém espera muito menos torce para isso acontecer. Mas construir uma hidrelétrica a poucos quilômetros de uma área urbana densamente povoada é de uma estupidez sem tamanho. Além do mais, que benefícios essas construções trouxeram para Rondônia e para seu povo? Até a conta de energia elétrica para os rondonienses aumentou de forma absurda nos últimos dias. Durante a enchente histórica de 2014, que pode ter sido por culpa dessas construções absurdas, Santo Antônio e Jirau ficaram jogando a culpa uma na outra. A fiscalização deve ser redobrada e os executivos dessas empresas precisam mostrar à população que tipos de providências tomarão em caso de catástrofe, pois nada mais poderá ser feito quando corpos de rondonienses aparecerem boiando em Macapá.





*É Professor em Porto Velho.

sábado, 26 de janeiro de 2019

“A Terra é plana”


“A Terra é plana”


Professor Nazareno*


       Sim, a terra é plana! Como um prato. E tem uma enorme borda arredondada que nos limita do espaço sideral. Se navegarmos muito, poderemos cair num abismo profundo. Além do mais, o nosso planeta é o centro do universo. Galileu Galilei, Nicolau Copérnico, Isaac Newton, Johannes Kepler, dentre outros, foram apenas embusteiros. Não fui à Europa de navio com medo de encontrar este abismo gigantesco. Todas as teorias que dizem ser redondo o nosso planeta estão erradas e já foram ultrapassadas. A lei da gravidade nunca existiu e se teimarem dizendo que ela existe, o nosso presidente a revogará com uma simples canetada. Isso precisa ser informado às crianças deste país. Elas, durante décadas, foram ensinadas de forma errada. Nossas escolas precisam adotar urgentemente essas novas teorias e esses novos conhecimentos.
Na física está provado que a água ferve a mais ou menos 100 graus Celsius. Quem ferve a 90 graus é o ângulo reto. Todos os “cidadões” deste país precisam saber disto. A História, principalmente a do Brasil, precisa ser recontada a todos os interessados. Não só os “cidadões”, mas também os “Pseudos” intelectuais precisam se atualizar urgentemente sobre a verdade. Muitos professores de História, infelizmente, distorceram o real conceito das coisas. Karl Marx, por exemplo, durante a Primeira Guerra Mundial fez discursos inflamados, porém totalmente alheios à realidade dos fatos. Foi contra o Neoliberalismo, mas gostava de frequentar shoppings centers todos os dias. Na Literatura é importante frisar que Machado de Assis, durante a Segunda Guerra Mundial, produziu muitas obras. Ele e seu amigo de infância, Ferdinand Pessoa.
Foi a arca de Noé quem deu início às colonizações e civilizações que hoje conhecemos. Charles Darwin nunca existiu como foi propalado. A Teoria da Evolução das espécies creditada a ele é uma falácia sem tamanho. O homem foi criado por Deus. Está tudo escrito e bem explicado na Bíblia. O primeiro homem foi Adão e a primeira mulher, Eva, foi criada a partir de sua costela. E todos nós, claro, somos filhos do pecado. Hitler era de esquerda e amava os homossexuais, negros e todos os portadores de deficiências. Homem nasce homem e tem que usar azul. Já a mulher nasce mulher e deve usar sempre rosa. Simone de Beauvoir não entendia de nada. Os homossexuais são uma aberração da natureza e por isso o governo proporá a todos eles a “cura gay”. Os negros nunca sofreram maus tratos nem injustiças e imploraram para ser escravizados.
Nunca houve ditadura militar no Brasil. O que houve foi apenas um “militarismo vigiado”. Os militares são heróis nacionais que só corrigiram os rumos do país em 1964. Torturas, maus tratos e perseguições a opositores são apenas muitas das lorotas contadas por esquerdistas e desocupados. Na Europa, “pais masturbam bebês” que têm menos de um ano de idade, por isso este continente não merece a menor atenção do mundo. Os melhores discursos em fóruns mundiais devem ter apenas seis minutos ou até menos tempo. Defensores de direitos humanos não deviam existir, pois é óbvio que “bandido bom é bandido morto”. Jesus Cristo sempre aparece para as pessoas desesperadas em cima de um pé de goiaba e Porto Velho é a capital de Roraima. Por tudo isso, é muito importante que o nosso “Mito”, um homem de grandes dotes intelectuais e amplos conhecimentos, revise todas as questões dos próximos ENEM’s. É o Brasil mudando!





*É Professor em Porto Velho.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

Porto Velho dos meus sonhos


Porto Velho dos meus sonhos

Professor Nazareno*

O dia é 24 de janeiro. É mais um dentre tantos feriados em Porto Velho e eu não sabia. O dia seguinte, como de praxe, será também decretado ponto facultativo, pois é uma sexta-feira “imprensada” antes de um fim de semana. Não sei que data se comemora, mas mesmo assim eu amo esta cidade. Sua excelente mobilidade urbana com transportes coletivos de qualidade lembra muitas cidades da Europa e dos Estados Unidos. Viver em Porto Velho é só motivo de orgulho e satisfação. A infraestrutura da capital é um primor. Cada prédio suntuoso que dá inveja às mais antigas construções da história da humanidade. Não se sabe como uma sociedade organizada “caprichou” tanto em sua estrutura de organização. Pontes, viadutos, nova sede da Assembleia Legislativa, sede do Executivo, sedes dos Ministérios Públicos, sede dos fóruns Cível e Criminal.
Dizem que o novo prédio da Assembleia Legislativa do Estado de Rondônia teria custado mais de cem milhões de reais do contribuinte rondoniense, que “clamava há tempos pela construção desse edifício pós-moderno”. “É um prédio do povo de Rondônia e servirá a esse mesmo povo”, disse um dos políticos daquela casa ignorando que a “casa de leis” só produziu escândalos e já surrupiou esse mesmo povo. Ainda assim, os rondonienses devem estar muito orgulhosos não só de seus políticos, mas também de eles terem um suntuoso edifício para poder trabalhar na paz e no conforto supremo. Como o trabalho de um deputado estadual é muito exaustivo, eles mereceram mais este mimo proporcionado com o dinheiro público. Nunca se entenderá porque os décimos quarto e décimo quinto salários dados a eles foram retirados injustamente.
Porém este prédio da Assembleia Legislativa é fichinha perto da sede do Poder Executivo estadual. O Palácio Rio Madeira esnoba em modernidade e conforto. O CPA em Porto Velho é um capricho da engenharia moderna. O Centro Político e Administrativo de Rondônia tem elevadores confortáveis, salas amplas e ventiladas, corredores largos, praça urbanística com jardins floridos o ano inteiro, acessos rápidos, janelas panorâmicas, estacionamento para muitos veículos, centrais de ar condicionado em todas as dependências, comodidade por toda parte. Dentro do CPA a estrutura é de Primeiro Mundo, embora muitos digam que a produtividade seja brasileira mesmo. Sua iluminação nos finais de ano atrai milhares de pessoas para fazer “fotinhas” para as redes sociais. Mas ainda há inúmeros outros prédios públicos que esnobam aconchego.
A sede do Poder Judiciário, por exemplo, é um deslumbre só. Seus banheiros se parecem com os dos mais modernos aeroportos internacionais do mundo. Trabalhar ali é uma grande satisfação e felicidade. O conforto e a tranquilidade abundam. Porto Velho merecia um ambiente daqueles, claro. As sedes dos Ministérios Públicos são de tirar o fôlego. Amplas, modernas, agradáveis. O prédio do Ministério Público Estadual em nada destoa dos demais citados. É só requinte. Já o Ministério Público Federal, mesmo que um pouco distante dos demais, também nada fica devendo em comodidade e bem-estar. Isso porque não se viu ainda a sede dos fóruns Cível e Criminal de Porto Velho. O prédio, ainda em construção no centro da cidade, é só luxo e inovações e já ganhou prêmios em várias categorias. Porto Velho também tem um lindo “açougue”: o João Paulo Segundo, um prédio “mais ou menos” na zona sul. Parabéns aos porto-velhenses!




*É Professor em Porto Velho.

terça-feira, 22 de janeiro de 2019

Dr. Hildon, herói de Rondônia


Dr. Hildon, herói de Rondônia


Professor Nazareno*


Não votei no Dr. Hildon Chaves para prefeito de Porto Velho e talvez nunca votasse nele. Pertence ao PSDB, um partido conservador e reacionário que participou descaradamente do golpe contra a ex-presidente Dilma Rousseff e os “petralhas”. Além do mais, ele não é filho de Porto Velho e por isso pode não nutrir nenhum sentimento telúrico por esta podre, fedorenta e abandonada cidade. E com o passar do tempo tudo isto ficou comprovado na administração do pernambucano. Viajou para o exterior várias vezes, buscou o conforto do Primeiro Mundo em vez de descer o rio Madeira, por exemplo, para visitar Calama, São Carlos, Nazaré ou mesmo os distritos da BR 364 na Ponta do Abunã. Ele não está sendo um bom prefeito para a capital de Roraima, é verdade. Mas fez duas coisas que só merecem aplausos de todos os porto-velhenses.
Recentemente, o Dr. Hildon Chaves e o governador eleito de Rondônia, o coronel Marcos Rocha, também outro cidadão nascido fora deste Estado, decidiram heroicamente não investir dinheiro público nas festas de Carnaval em Porto Velho. Já disse várias vezes que as “Festas de Momo” devem continuar existindo normalmente, mas têm que ser bancadas somente com verbas próprias. O dinheiro público, que sempre andou muito escasso, deve ser aplicado em saúde, educação, mobilidade urbana e outras atividades importantes da sociedade. Não é justo que tenhamos ainda um “açougue” como o João Paulo Segundo enquanto dinheiro é investido em folia mundana e sem sentido. O prefeito e o governador acertaram em cheio. O problema agora é saber se estas verbas serão mesmo investidas em tudo o que eles prometeram.
Tem que haver muita fiscalização, portanto. Os carnavalescos de Porto Velho e de Rondônia, que ficaram à míngua e sem grana, devem ficar de olho nas futuras ações da Prefeitura de Porto Velho e do Estado. Eles e toda a população que vota. Mas o ato heroico do prefeito não se retingiu somente a este fato. Na inauguração do novo prédio da Assembleia Legislativa do Estado de Rondônia, ele não compareceu nem mandou representante. E fez muito bem. O que representa para este Estado essa Assembleia? Aquilo não é uma casa de leis. Foi durante muito tempo uma casa de roubar o povo. Escândalos e mais escândalos, que enlamearam o já sujo nome deste Estado, foi praticamente o que mais se viu ali. Quantos ex-presidentes daquela casa já foram ou ainda estão presos? Eu jamais iria àquele lugar participar de qualquer festa. Teria dó.
Mas de cem milhões de reis foi quanto nós pagamos para se construir aquele “palacete dos demônios”. Um absurdo levando-se em consideração as mazelas que temos em Rondônia. Um internauta, senhor Lúcio Soares, escreveu num comentário que fez no site Rondoniaovivo: “a Assembleia Legislativa de Rondônia é o lugar mais fétido e podre do Estado devido ao seu vergonhoso histórico de escândalos de corrupção, além é claro da sua ineficiência e inutilidade. Então vem a pergunta: Pra quê a construção de um novo prédio? Tudo o que é inútil se joga fora, no lixo. Não tem sentido construir um espaço caro e luxuoso para uma instituição pública que só tem envergonhado os rondonienses”. Será que o prefeito de Porto Velho percebeu tudo isto e resolveu boicotar a inauguração daquilo? Na bisonha festa que teve quem hasteou a bandeira do nosso município foi o prefeito de Teobroma. Onde fica mesmo Teobroma?




*É Professor em Porto Velho.


quinta-feira, 10 de janeiro de 2019

Prof. Carlos, um sonhador


Prof. Carlos, um sonhador


Professor Nazareno*

            
          Carlos Alberto Bezerra de Freitas ou simplesmente professor Carlos do colégio Classe A é uma dessas pessoas que passam pela nossa vida e deixam não só saudades, mas principalmente muitos ensinamentos. Professor de Química formado em Campina Grande, interior da Paraíba, o professor Carlos chegou a Rondônia ainda na década de 1980 e começou a lecionar no colégio Orlando Freire em Porto Velho. Junto com outros colegas professores acreditou na ideia de uma educação de qualidade e por isso fundaram o Classe A, colégio que se tornou uma referência na educação de Rondônia nos últimos tempos. Durante 12 anos consecutivos, o colégio do professor Carlos liderou o ENEM, Exame Nacional do Ensino Médio, em todo o Estado de Rondônia. O Classe A também é líder absoluto nas aprovações do ITA e em várias outras escolas.
            Tive o prazer de trabalhar com o professor Carlos no Classe A. Entre 2004 e 2013 prestei serviços àquela escola de renome e lá aprendi muitas coisas com o jovem e dedicado mestre. Disciplina, organização pedagógica e competência formavam o tripé de sua visão escolar. E isso ele implantou com maestria no seu estabelecimento de ensino durante quase três décadas. Ser “aluno Classe A” não era para qualquer um. Estar morando em Rondônia e estudar em uma das 200 melhores escolas do Brasil sempre foi um privilégio, um grande orgulho. Carlos sempre soube como ninguém escolher a sua equipe de professores e colaboradores. Incentivava a todos e sempre sincero e acolhedor, não media esforços para ajudar os que mais necessitavam. Do servente ao mais graduado professor, ele tratava a todos com igualdade e muito respeito.
Da Páscoa Solidária aos mais incríveis projetos sociais e educacionais. Assim era a rotina de uma das melhores escolas de Rondônia e do Brasil. Muito diferente de minhas posições, o professor Carlos sempre acreditou em Rondônia e nas potencialidades de sua gente. “Devo tudo o que tenho a este brilhante Estado”, costumava me dizer sem arrodeio, quando “chateado” lia alguns dos meus textos. Tentei, sem sucesso, várias vezes convencê-lo a não gostar de um lugar tão atrasado, sujo e inóspito. “É preciso ter gratidão, Babaloo!”. Guardadas as devidas proporções, a Educação de Rondônia se divide em duas partes bem distintas: antes e depois do Colégio Classe A. Impossível para muitos médicos, advogados, engenheiros, e tantos outros profissionais liberais não se lembrarem dos ensinamentos deste grande homem.
Suas lições de honestidade, competência, humildade, reconhecimento e acima de tudo humanidade nunca serão esquecidas pelas novas gerações. O professor Carlos do colégio Classe A nos deixará muitas saudades, é verdade. Sua ida precoce nos entristece como se tivéssemos perdido alguém da nossa família. E perdemos mesmo: a família Classe A está de luto por esta irreparável e insubstituível perda. A educação de Rondônia perdeu um dos seus maiores baluartes e um dos seus maiores incentivadores. Carlos engrandeceu o nome de Rondônia dentre as melhores escolas do país. Eu fico um pouco mais pobre agora que meu amigo “resolveu” nos deixar. Mas todos nós temos de nos conformar. São as regras já estabelecidas e que não podemos e nunca vamos mudar. Aos familiares, minhas mais sinceras condolências. Carlos se foi, mas nos deixou sua marca indelével. Seu sonho se transformou em realidade. E o Classe A nos será eterno.




*É Professor em Porto Velho.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2019

Merda na cidade sitiada


Merda na cidade sitiada


Professor Nazareno*


   Porto Velho, a eterna capital de Roraima, se transforma agora durante o rigoroso inverno amazônico na “Veneza do Norte” devido às fortes chuvas na região. Já durante o verão, no meio do ano, pode ser chamada também de a “Pequim dos Trópicos” devido à poeira e à fumaça das criminosas queimadas. Nesta quarta-feira, dia 9 de janeiro de 2019, a capital dos rondonienses amanheceu do jeito que o diabo gosta: toda alagada e sitiada pela lama podre. Suas principais ruas e avenidas foram tomadas por água infecta e fedorenta congestionando o já precário trânsito e transformando a vida dos seus moradores num verdadeiro inferno. As ruas viraram rios. Os previsíveis vendavais amazônicos da época castigaram impiedosamente a mais suja e imunda dentre as capitais do Brasil e pioraram ainda mais o inexistente IDH dos seus infelizes moradores.
Entra prefeito e sai prefeito e a desgraça não acaba. Grande parte dos habitantes da cidade se parece com hienas: felizes, embora tenha que comer carne podre a vida toda. Acredita-se que já se adaptaram ao inferno que é viver aqui. O festival de merda boiando e invadindo as precárias residências parece alegrar muita gente. Ninguém, mas quase ninguém, cobra absolutamente nada das autoridades municipais. Pagam o seu IPTU e seguem felizes com a sua macabra rotina de conviver no meio de tanta bosta. O penúltimo prefeito da cidade, o Dr. Mauro Nazif, nada fez para acabar com o rotineiro tormento, embora tivesse sido sua principal promessa de campanha. Nada fez, mas foi eleito deputado federal com uma soma assombrosa de votos dos tolos porto-velhenses. É inútil procurar saber de quem é a culpa pela hecatombe que vivemos todos os anos.
Muitos daqui são porcos e por isso também “contribuímos” para a catástrofe. Jogamos lixo no chão, entupimos os raros bueiros, não somos higiênicos e não cuidamos da nossa urbe. Se Porto Velho fosse uma mulher, todos nós seríamos enquadrados na Lei Maria da Penha. É claro que as autoridades têm também a sua parcela de culpa. O atual prefeito, o Dr. Hildon Chaves do PSDB, se elegeu prometendo transformar a “maldita currutela fedida” em uma cidade boa e digna para se morar. Fez até versinhos ridículos durante a campanha eleitoral para enganar os otários. Deu certo: foi eleito com uma soma avassaladora de votos. “Vou curar tuas feridas, limpar todos teus cantos, enterrar os desencantos” disse o mentiroso político. E ainda falou que não ia enganar, pois só sabia realizar. E concluiu: “vou perfumar os teus canteiros e ares”.
Mas tudo isso pode ser “café pequeno” diante do que pode estar por vir. O rio Madeira não dá tréguas e promete para 2019 uma enchente avassaladora pior do que aquela de 2014. Sem a menor infraestrutura, a cidade será coberta de dejetos e lama podre. Como se já não nos bastassem o lixo, a carniça, a fedentina, a merda, os ratos e os urubus que enfeitam a paisagem urbana. O pandemônio que se anuncia pode ser a tão esperada chuva de merda na cidade. Porto Velho não tem água tratada e sua rede de esgotos não é superior a três por cento. Raríssimos habitantes daqui sabem o que é limpeza. Cobramos, às vezes, das autoridades, mas geralmente não damos o exemplo. Além do mais, o inverno amazônico está apenas no começo. Faltam os meses de janeiro quase todo, fevereiro e março. Até lá talvez já tenhamos aprendido “a comer merda” e a “matar a sede com água podre”. Há turista disposto a presenciar bosta no meio da rua?




*É Professor em Porto Velho.

terça-feira, 8 de janeiro de 2019

Ícone em apenas dez dias


Ícone em apenas dez dias


Professor Nazareno*


   Mal tomou posse na Presidência da República, o senhor Jair Messias Bolsonaro, o “Mito”, encantou a todos com a sua maestria em saber bem administrar o povo brasileiro. Demonstrou competência, carisma, sabedoria e acima de tudo bom senso na difícil arte de conduzir os destinos de um país tão complexo como o nosso. O Brasil nunca mais será o mesmo depois desta “administração dourada”. Cercado pelo que de melhor há em termos de pessoal, ministros e assessores, Bolsonaro é um poço de sabedoria que já está recusando convites de várias universidades e centros de pesquisas do mundo para dar palestras sobre administração, visão de mundo e principalmente humanidades. Harvard, MIT, Cambridge, Sorbonne, Stanford, dentre outras escolas, querem seus ensinamentos. Se John Reed estivesse vivo, outra grande obra seria escrita.
Os dez dias que abalaram o Brasil” seria mais um best-seller com tiragens esgotadas em centenas de idiomas. Os eleitores de Bolsonaro estão encantados com todas as suas ações como o líder maior do país. Muitos dos professores de História e  apoiadores de primeira hora do “Mito” estão deslumbrados e extremamente satisfeitos com o seu “Estimado Líder”. Desde a posse, suas sábias decisões comovem a todos. Da caneta Bic ao relógio barato, o país não fala em outra coisa. As redes sociais não param de mostrar os feitos do “mais humilde dos homens”, que fora mandado por Deus para salvar o Brasil e os brasileiros. Muitos homossexuais, travestis, quilombolas, indígenas, educadores, pais de família e outras minorias se regozijam de orgulho e felicidade pela retumbante e acertada escolha que fizeram. De “Mito”, ele logo será promovido a Deus.
Seus filhos são amados pelo Brasil inteiro. Íntegros, honestos e batalhadores nunca se envolveram em escândalos. Sempre estiveram ali, colados ao lado do pai e mostrando o real valor da família.  Seu vice é também outra estupenda figura de enorme aceitação popular. Militar de excelentes serviços prestados ao país ele tem um filho que, apenas por sua ilibada competência, vai prestar assessoria ao Banco do Brasil com um salário de 37 mil reais mensais. A ministra da ‘Mulher, Família e Direitos Humanos’ não poderia ter sido uma melhor escolha por parte do “sábio” presidente. Damares “Goiabeira” Alves emociona a todos com a sua fala e as suas elucubrações. Desbancou Simone de Beauvoir com a sua retórica e os seus saberes quase divinos. E já sabiamente previu: “menino veste azul e menina veste rosa”. É uma ministra “terrivelmente” cristã.
Para onde se olhe nestes poucos dias de administração Bolsonaro, o que se vê é um festival de competência, brilhantismo, profissionalismo e amor pelo Brasil. Até nos Estados, muitos dos governadores que foram eleitos à sua sombra se esmeram em mostrar trabalho só para agradar e satisfazer o “abençoado” líder. Funcionários comissionados foram todos demitidos para o bem geral. Nepotismo, por exemplo, é uma palavra já devidamente riscada do mapa político nacional. Relações com a mídia é algo incentivado desde o primeiro dia de governo. No plano externo, nada de subalternidade aos interesses internacionais. “O Brasil a partir de agora assumirá em definitivo a sua verdadeira posição no mundo globalizado”, é o mantra que mais se ouve no Itamaraty. Não consigo entender: onde estivemos neste tempo todo que não vimos essas pessoas abençoadas para nos liderar? “Bolsonaro que estás no céu, santificado seja teu nome...”.




*É Professor em Porto Velho.

domingo, 6 de janeiro de 2019

Parabéns, prefeito e governador!


Parabéns, prefeito e governador!


Professor Nazareno*


        O prefeito de Porto Velho Dr. Hildon Chaves e o recém-eleito governador do Estado coronel Marcos Rocha tomaram recentemente uma heroica decisão: não vão colocar dinheiro público para patrocinar o Carnaval de Porto Velho em 2019. Decidiram também que qualquer verba disponível será (?) investida nas áreas da saúde e da educação do município e do Estado. Para se ter uma ideia, as escolas de samba daqui pediram à prefeitura “somente” meio milhão de reais para sair às ruas. Um acinte, uma piada de mau gosto, um desrespeito aos contribuintes. Um Estado cuja capital tem um “açougue” como o João Paulo Segundo não pode mesmo investir um só centavo público numa festa que só serve para sujar as já emporcalhadas ruas. Uma cidade como Porto Velho, a pior dentre as capitais do Brasil em IDH, não pode gastar dinheiro com orgia.
Porto Velho e Rondônia não têm cultura. Aliás, nunca tiveram. E não adianta citar a Sociologia, a Filosofia ou a Antropologia para dizer o contrário. Tudo aqui é cópia, e muito mal feita, do que acontece lá fora. O Carnaval daqui é uma porcaria que não chega nem aos pés do que acontece no Rio de Janeiro. O mês de junho é uma desgraça só, que sequer imita Parintins ou mesmo Manaus. Festas juninas iguais a Campina Grande na Paraíba nem em sonho. Futebol, se esta bobagem for cultura, também não existe por aqui. Só um tal de Genus faz a alegria de cinco ou seis torcedores. Aqui só se torce pelos times de fora. Então, para que se gastarem milhões em reais com estádios ou estrutura desportiva? Até o “ginásio de esportes” da cidade, o Cláudio Coutinho, tem servido para tudo menos para a verdadeira prática de esportes.
Não tenho nada contra o Carnaval, o São João, a quadrilha, o boi, o futebol ou outra “manifestação cultural” qualquer. Elas têm que existir e em alguns casos até divertem as pessoas. Mas tudo tem que ser bancado com o seu próprio dinheiro. Agora, se não têm recursos para existir, que desapareçam e deixem o Erário em paz. Não sei se a famosa banda consegue sobreviver sem verbas oficiais. Se conseguir, ótimo. Desfile com os seus brincantes e dê estrutura para todos eles. Nada de sujar e emporcalhar as já imundas ruas com lixo, imundície, sujeira e depois não mandar limpar nada. O Poder Público, na maioria dos casos, oferece a rua, a polícia para fazer segurança e ainda tem seus horrorosos hospitais entupidos de gente baleada, esfaqueada e ferida por acidentes de trânsito, tudo consequência da folia. Verbas para educação e saúde é o mais correto.
Porém, tomara que essa verba seja mesmo investida nessas áreas tão carentes do nosso Estado e de nossa cidade. É preciso que haja fiscalização. Chega de “açougue” e de UPAS sem remédios e médicos. Não votei em nenhum dos dois, mas sou obrigado a admitir que eles estão certíssimos nesta decisão. Agiram como estadistas de Primeiro Mundo: primeiro as necessidades, depois as festas e o supérfluo. A tal “Marcha para Jesus” se recebe ajuda oficial, essa prática tem que ser abolida também. Da mesma forma, nada contra a religião de ninguém. Mas é preciso se levar em conta que não há nada mais rico e cheio de dinheiro do que essas Igrejas. Claude Lévi-Strauss, antropólogo franco-belga, disse que se quiser acabar com um povo, basta acabar com a sua cultura. Em Porto Velho e em Rondônia acontece o contrário: se acabar essas tolices, salvará esse povo do desperdício e da miséria. E lhe dará uma melhor existência.




*É Professor em Porto Velho.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2019

O Brasil de Angela Merkel


O Brasil de Angela Merkel


Professor Nazareno*

                
               Independente de quem tenha dito a célebre frase, o Brasil realmente não é um país sério. Mal tomou posse, o novo governo “de salvação nacional” apenas deu prosseguimento às “brasileirices” já amplamente conhecidas por todos nós. De norte a sul do país o que se viu em apenas dois ou três dias foi um espetáculo de bizarrices e de ações governamentais que lembram os velhos governos. Nada mudou ainda. O povo, burro e desinformado como sempre, foi às urnas na vã esperança de ter dias melhores e o que se vê é um festival de velhas práticas quando se trata da coisa pública. “É muito cedo para se colher resultados”, dirão alguns eleitores ainda otimistas a essa altura do campeonato. O governo Bolsonaro já começou todo errado e o do coronel Marcos Rocha em Rondônia também. Até agora, nada se viu de novo “nem aqui e nem acolá”.
            O governo do Bolsonaro vai ficar caracterizado como o governo das cores”, como muito bem disse o professor Francisco Xavier Gomes de Cacoal: “a campanha foi feita em verde, amarelo e azul. Na posse, ele declarou guerra ao vermelho. Nossa bandeira nunca será vermelha, disse. A ‘ministra da goiabeira’, Damares Alves, declarou em discurso que ‘menina usa rosa e menino usa azul’. O motorista da família ganha em um ano uma grana preta. Um dos filhos de Bolsonaro parece gostar mais de laranja. O SBT, a TV da família, faz a parte da imprensa marrom. E o clima está ficando cinza...”. Em países sérios como a Alemanha, por exemplo, nenhum governante se sustentaria no cargo por muito tempo se falasse essas tolices para a nação. Mas no Brasil, o nível de leitura de mundo do nosso eleitorado dispensa qualquer comentário.
            Já pensou a chanceler alemã Angela Merkel demitir todos os funcionários comissionados e fazer propaganda disso? Óbvio que ela diria que demitiu muitos, mas iria contratar outros tantos. “Tiro os teus e coloco os meus”, é a regra daqui. Não haverá economia de nada. As despesas podem inclusive aumentar com tantos funcionários contratados sem concurso. Comissionado é uma velha prática que precisa acabar, simples assim! Só que nenhum governante eleito falou isso para o eleitorado. E na maior cara de pau continuará com a prática. É preciso “despetizar” o governo. Porém, como nada é para sempre, depois haverá também a necessidade de “desbolsonarizar” esse mesmo governo? E viajar a custa do contribuinte? Se a presidente da Croácia, Kolinda Kitarovic visse o péssimo exemplo dado em Rondônia, ficaria envergonhada.
            Se esse governo fosse realmente sério, a ministra Damares Alves não daria tantas declarações folclóricas e absurdas. “Ou se cala ou será advertida”. Será que ela já ouviu falar em Simone de Beauvoir? O caos se aproxima: em vez de tentar resolver os problemas reais do país, Bolsonaro quer combater o que nunca existiu como kit gay, ideologia de gênero e Socialismo. O Brasil socialista é um engodo inimaginável que só existe na cabeça dele e de alguns de seus seguidores. Em Rondônia, será que o novo governador não percebeu a tolice que fez ao viajar a Brasília e de ter deixado o Estado quase três dias praticamente sem funcionar? E nem precisa citar o escândalo das diárias. Os novos governantes deveriam imitar Angela Merkel e não continuar com as mesmas práticas do Temer, da Dilma, do Lula e do PT. O Brasil queria mudanças, mas onde é que estão elas? Ou esses novos “sábios” mudam sua postura ou nada mudará no país.




*É Professor em Porto Velho.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

Rondônia: já começou errado


Rondônia: já começou errado


Professor Nazareno*


        O governador de Rondônia é o coronel Marcos Rocha do PSL. Foi eleito com mais de 530 mil votos e tomou posse ontem, dia primeiro de janeiro, como manda o figurino. Mas hoje, dia 2, já é feriado em todo o Estado. E quem decidiu isto não foi ele,  o governador atual. Foi o seu antecessor, Daniel Pereira, que sequer concorreu à reeleição. Ainda no cargo, Daniel determinou que a data de instalação do Estado de Rondônia deveria ser antecipada em dois dias. Ou seja, o seu decreto assinado no dia 28 de dezembro de 2018, quando ainda era governador de Rondônia, “invadiu” a administração do seu sucessor. Nenhum artigo ou inciso da Constituição local prevê que um governador pode “ordenar” no mandato do outro. Se houver qualquer antecipação de feriado ou outra providência futura, isso deveria ser atribuição do atual governante.
Antecipar feriado para coincidir com outros feriados é uma invenção tipicamente brasileira. Mas está errado e os primeiros a não permitir essa “brasileirice” deviam ser os governantes. O fato histórico aconteceu em data específica e isso não pode e nem deve ser mudado por decretos ou questões que fogem à lógica e à compreensão. O dia da independência do Brasil é sete de setembro, por exemplo. Nada de antecipar ou adiar essa data. Nem essa e nem nenhuma outra. É desrespeitoso com nossos ancestrais e com a própria História. O Estado de Rondônia foi criado no dia 22 de dezembro de 1981 e instalado no dia 4 de janeiro do ano seguinte. São datas históricas da nossa realidade e acabou a conversa. Feriado no dia 2 de janeiro em Rondônia é uma aberração criada somente para atender a desconhecidos interesses alheios. Isso devia ser proibido por lei.
O novo governo foi eleito para mudar a realidade do país. E também a do nosso Estado. “São novos tempos e novos costumes”. É o que se comenta. Mas já começou aceitando as velhas regras e inclusive “cumpriu” um feriado em sua administração que fora criado por outro governante totalmente alheio ao seu mandato. Não são coisas de Rondônia apenas. São coisas do Brasil, que insistem em permanecer incutidas na nossa cultura e na nossa História, infelizmente. Será que os eleitores mudaram tudo para tudo continuar do mesmo jeito? A nomeação de parentes direitos para a administração pública foi algo tenazmente combatido durante anos no Brasil. É nepotismo e precisa ser banido da vida pública deste país. E o que se vê lamentavelmente é um festival de nomeações “domésticas” de norte a sul do país. Parece até com os governos dos Sarney.
E não adianta dizer que é uma questão pequena, algo sem importância que não faz diferença nenhuma. Faz diferença, sim, pois as mudanças reais de uma sociedade começam sempre nas pequenas coisas. Tão brasileiro quanto saquear uma carga tombada, esse costume enraizado e desrespeitoso de “antecipar feriados para coincidir com outros feriados” tem que acabar. É uma espécie de corrupção às avessas. E os novos governantes prometeram solenemente dar um fim a essas velhas práticas. Mas em Porto Velho, a “capital brasileira das farmácias” quase não foi sentida essa mudança de datas, pois quem tem dinheiro caiu fora para passar Réveillon nas praias do Nordeste, na paradisíaca Serra Gaúcha e até fora do país. Num lugar onde a principal emissora de TV transmite o Jornal Nacional com uma hora de atraso, que mal há em um governador “invadir” a administração do outro e antecipar um simples feriado? É Rondônia, mano!




*É Professor em Porto Velho.