quinta-feira, 23 de fevereiro de 2023

Porto Velho sem a BANDA


Porto Velho sem a Banda

 

Professor Nazareno*

 

            Se não existisse a Banda do Vai Quem Quer, certamente Porto Velho seria um pouco mais triste do que já é, uma vez que por estas bandas não há muita coisa que possa divertir e distrair a sofrida população. Porto Velho talvez seja a única capital do país que não tem futebol de verdade. Não há sequer um estádio decente para abrigar partidas desse esporte. A não ser que se admita que o decaído Aluízio Ferreira seja um estádio e que Genus e Porto Velho sejam times de futebol. A cidade tinha o arraial Flor do Maracujá, realizado geralmente em junho. Tinha também uma grande feira agropecuária, a Expovel, que acontecia também em meados do ano. Mas tanto um quanto o outro simplesmente sumiram sem maiores explicações. Nada restou. Só mesmo essa Banda que desfila todo sábado de Carnaval. O problema são as toneladas de lixo que ela produz pelas ruas daqui.

            Há mais de vinte anos, no entanto, que eu vou às ruas, no outro dia pela manhã, e documento com fotos o que a Banda deixou no dia anterior. E por incrível que pareça, a cada ano que passa, percebe-se que a situação de sujeira, lixo e imundície só piora. Muitos foliões não têm a mínima decência de preservar a própria cidade onde moram. Urina, fezes, garrafas quebradas, muito plástico e papel deixados pelo caminho como se a capital dos rondonienses fosse uma lixeira, uma latrina, uma fossa a céu aberto. E o pior é que a cidade de Porto Velho realmente é mesmo tudo isso. E não é somente a Banda que deixa esse rastro de falta de civilidade. Marcha para Jesus, Passeata do Orgulho Gay, ou mesmo qualquer festa realizada na lendária EFMM ou em outro local, o que se vê depois, infelizmente, são toneladas de entulhos deixados pelos participantes. Falta de civilidade?

            Porém, alguns adeptos da sujeira vão logo dando desculpas esfarrapadas para o que está errado. “Mas existem os garis da prefeitura para quê?” Indagam. E mais: “em todas as cidades onde acontece o Carnaval é normal sujarem as ruas”. Fala-se à boca miúda que “sujeira é muito bom porque dá emprego para os garis”. Só que ninguém quer morrer para que os coveiros fiquem empregados. Triste, mas esse raciocínio enviesado e anacrônico parece que também é compartilhado pelos responsáveis da Banda do Vai Quem Quer assim como pelos órgãos públicos. A prefeitura da cidade, por exemplo, poderia fazer campanhas na mídia para alertar a população brincante sobre a sujeira. Poderia também, com antecedência, colocar caçambas papa-entulhos pelos caminhos da folia. E não só distribuir sacolas para recolher o lixo individual, mas incentivar a limpeza.

            Óbvio que não se deseja, como erradamente se pensa, o fim da Banda de Porto Velho, fato que já aconteceu com o Flor do Maracujá e a Expovel. Resido há mais de quarenta anos nessa cidade e percebi que aqui não há festa do padroeiro como existe em Calama, Nazaré, Humaitá, João Pessoa ou qualquer outra cidade ou capital espalhadas por este país afora. Por isso, a Banda tem que existir e desfilar todos os anos, sim! Mas não custa nada melhorá-la para o bem da cidade, dos brincantes e das famílias que gostam do Carnaval. Estresse, sem necessidade, com a Polícia Militar acontece praticamente todos os anos. Isso tem que ser evitado a todo custo. O Carnaval é uma festa do povo. E é preciso respeitar essa realidade. Mas todos os responsáveis, os foliões, assim como todas as autoridades constituídas do município deveriam também respeitar a cidade que lhes dá abrigo não a sujando tanto. Haverá lixo e monturo na Marcha Gay e na Parada para Jesus?

 

 


*Foi Professor em Porto Velho.


domingo, 19 de fevereiro de 2023

Rondonienses guerreiros!


 


Rondonienses guerreiros!

 

Professor Nazareno*

 

Estou muito otimista! Mas muito otimista mesmo com tanta demonstração de patriotismo, de determinação e de civismo. Nunca em meus mais de sessenta anos de vida vi um povo tão abnegado e tão profundamente lutador pelos seus direitos. Dos 450 mil habitantes da capital de Rondônia, pelos menos uns 120 mil saíram às ruas na tarde deste último sábado. Cifra impressionante para os padrões de qualquer cidade do mundo, uma vez que mais de 25 % dos habitantes estavam lá lutando por um objetivo, uma finalidade. Nestes tempos bicudos em que a participação política está dividida e relegada a um segundo plano, eis que a “capital dos destemidos pioneiros” mostra ao mundo o bravo exemplo de como reivindicar melhorias para a sociedade e para as futuras gerações. Uma tristeza eu ter nascido lá pelos cafundós da Paraíba. Devia ter nascido aqui em Rondônia.

            Não há espetáculo mais belo de se ver. Mais de cem mil pessoas, rondonienses e “rondonienses de coração”, protestando nas ruas de Porto Velho contra o desemprego, a inflação, a corrupção, a apatia dos governantes em geral, a falência da saúde, da educação e também pelo abandono da capital e contra a falta de políticas públicas para a população mais carente do Estado. Todos em uníssono gritando contra a tentativa de golpe da extrema-direita reacionária contra um governo legitimamente eleito. A chiadeira era geral também contra o absurdo genocídio dos Yanomamis. “Cadeia para todos os culpados!”, gritavam. Isso é que é civismo e amor à pátria. Pense num povo que tem ancestralidade. Um prêmio Nobel é o que essa gente merece. Onde estão as academias sueca e norueguesa que não veem esta bravura, esta determinação, a garra, o patriotismo e esta luta heroica?

            Cartazes, faixas, banners enfeitavam as ruas. O frenesi era geral. Havia até quem protestasse contra a política externa de Vladmir Putin, da Rússia, contra a Ucrânia. Muitos daqueles politizados e cultos cidadãos mandavam vários recados para todos os políticos de Rondônia. “Agora, não aceitamos mais administração meia-boca, de faz de conta” dizia um cartaz. “E nada de administrar a coisa pública só para a elite privilegiada”, dizia outro. Havia reclamações de toda ordem: “a nova rodoviária da cidade não pode ser uma simples obra eleitoreira e muito menos ficar sem a sua conclusão definitiva assim como o novo hospital de pronto-socorro”, alertava a multidão eufórica. A ponte escura do suicídio, os eternos alagamentos da cidade, a poeira e a fumaça sufocantes do verão, saneamento básico e limpeza são cobranças desse povo guerreiro. Eles só pedem respeito!

Pessoas desenvolvidas, decididas, bem informadas, conscientes de seus direitos e batalhadoras sempre vão reivindicar melhorias de seus governantes. E de forma pacífica, respeitosa e ordeira. E isso é o que se vê com muita frequência em Porto Velho, terra de pessoas que têm no respeito e na higiene suas maiores qualidades. As ruas onde houve aquela “passeata-monstro”, por exemplo, principalmente a Carlos Gomes e a Sete de Setembro, ficaram até mais limpas quando terminou o grande ato cívico. Pedaços de papel algum se viam jogados no chão. Garrafas de água deixadas a esmo era uma raridade. Preservativos usados, absorventes femininos ou cascas de picolé sequer se viam esquecidos pelas limpas ruas e avenidas. E vai ser assim todos os anos. “O povo unido, jamais será vencido”, era o mantra que ecoava quando a astuta multidão intelectualizada e consciente caminhava de punhos cerrados. Juro que escutei ali a internacional socialista!

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2023

O Brasil tem jeito, sim!

O Brasil tem jeito, sim!

 

Professor Nazareno*

 

O Brasil praticamente tem apenas um só problema: a desigualdade social. E é essa aberração social que dá origem a todos os outros obstáculos que vivenciamos diariamente em nossa sociedade. Desde que Cabral chegou em terras tupiniquins, a infâmia da luta de classes nos perseguiu pelos séculos seguintes até hoje. Mas o homem branco português não se misturou aos “selvagens” que aqui encontrou. Depois veio a escravidão e milhões de negros africanos vieram para fazer parte da sociedade nacional. Os chamados escravos foram explorados ao máximo pela ambiciosa elite branca. Desde então, a “casa grande e a senzala” adornaram e perpetuaram por séculos o que vemos até os dias atuais: pouquíssimos cidadãos desfrutando de muito dinheiro, prestígio e bonança enquanto a maioria dos brasileiros, negros e indígenas, vivendo na mais absoluta miséria e pobreza.

Essa perversa realidade, que sempre esteve sob responsabilidade da elite branca nacional, é a maior identidade do nosso país. Esses poderosos sempre se identificaram com os ideais europeus e por isso não pouparam esforços para dominar e explorar quem se colocasse em seu caminho. Historicamente negros e indígenas quase não têm acesso aos melhores postos dentro da nossa estratificada sociedade. No Brasil quase não há escolas de boa qualidade e os serviços públicos são de péssima qualidade. Aqui paga-se um salário mínimo miserável e quase toda a riqueza nacional está nas mãos dos banqueiros, políticos, latifundiários, industriais e magnatas. O Brasil tem hoje mais de 30 milhões de pessoas que passam fome, pois vivem na mais extrema pobreza. Enquanto isso, neste ano de 2023 o país deve produzir mais de 302 milhões de toneladas só de grãos.

Isso sem falar em carnes, peixes, aves, frutas, legumes. Ou seja, cada brasileiro teria, por ano, em tese, quase duas toneladas de alimentos à disposição para saciar a sua fome. Em Rondônia, por exemplo, o Estado fechou o ano de 2022 com quase 18 milhões de cabeças de gado. Isso para uma população inferior a 1,6 milhão de habitantes. Isto é, quase 12 cabeças para cada pessoa. E quem come carne por aqui? Qual o preço dessa iguaria e os seus derivados? Basta ir a um supermercado e ver o absurdo. Enquanto a casa grande se locupleta de proteínas, a senzala tomba de fome. O Brasil é injusto com seus habitantes e essa injustiça se verifica também pelos Estados e municípios do país. A crise de fome dos Yanomamis é fichinha se olharmos a situação caótica por que passa a maioria dos brasileiros pobres das periferias. E qual o governante que vai resolver essa vergonha?

Nenhum deles. Seja da direita, da esquerda ou da extrema-direita. A maioria dos nossos políticos está à disposição apenas da elite e dos endinheirados. O establishment está montado há tempos. E é a elite endinheirada que praticamente banca a eleição de quase toda essa gente. Então, é a essa elite que eles servem e não aos pobres e aos miseráveis. A criação de mais políticas macroeconômicas pelos governantes até que poderia amenizar os graves problemas do Brasil. Mas quem tentar fazer isso, sai do poder mais rápido do que entrou. Lula, a esquerda e o PT, neste aspecto, são iguais ao Bolsonaro, ao Michel Temer e a tantos outros presidentes e governos que já tivemos. Estamos no século XXI e ainda convivemos vergonhosamente com a desigualdade social. A fila do osso, a crise dos Yanomamis, a favelização da sociedade, a falta de escolaridade, a fome e a miséria são até normais. Mas o Brasil tem jeito, sim! Basta a elite querer isso.

 

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2023

A dura realidade da Turquia

A dura realidade da Turquia

 

Professor Nazareno*

 

            Um violento terremoto de quase oito graus na escala Richter sacudiu o sul da Turquia e noroeste da Síria e até agora já foram contabilizadas mais de 21 mil mortes. A OMS estima que esse número assustador pode chegar a mais de 40 mil. Uma tragédia sem precedentes que merece a atenção de todos os países do mundo. A cidade turca de Iskenderun próxima à fronteira com a Síria e um dos epicentros do terremoto vive uma situação inusitada. Com esta tragédia, a realidade dessa cidade é de assustar qualquer humano. As pessoas não têm água tratada nem saneamento básico, o que piora, e muito, a situação de caos vivida pelos sofridos habitantes. Uma pequena chuva já alaga todas as ruas e avenidas. A água podre e infecta corre a céu aberto contaminando quem dela se aproxima. Para piorar o drama, muitas árvores foram arrancadas pelo poder público local.

            Iskenderun é uma capital de província e tem uma população de aproximadamente 500 mil pessoas e quase todos vivem como pobres e miseráveis. Uma espécie de “ao Deus dará”, uma vez que as autoridades municipais nunca se preocuparam com a qualidade de vida dos munícipes. O prefeito da cidade, Sevahc Nodlih, um ultradireitista reacionário e conservador, que já foi reeleito e administra o lugar já há seis longos anos, disse que nada pode fazer para ajudar as pessoas atingidas pela catástrofe. A fedentina nas sujas ruas é uma triste rotina que acompanha aqueles pobres moradores há anos. Fala-se que o povo dali é muito sujo e porco. O terremoto praticamente atingiu toda a província onde se localiza Iskenderun. O governador provincial, Ahcor Socram, outro ultradireitista, também não tem feito absolutamente nada para sanar os problemas de sua administração.

            Parece que a incompetência dos homens públicos na Turquia é algo muito comum. O próprio presidente do país, Recep Tayyip Erdogan, já reconheceu publicamente que o governo federal não tem feito “o necessário” para fazer frente à terrível catástrofe. “Possivelmente muitas pessoas vão morrer no meio desse lodaçal”, teria declarado ele recentemente. Os mortos se amontoam aos milhares. Os feridos não param de chagar ao único hospital de pronto-socorro da cidade. Muitas pessoas, pobres em sua maioria, dormem espalhadas pelo chão frio e em imundos quartos improvisados que nem banheiro têm. Nem banheiros nem camas para acomodar a todos. Quando chove, alaga tudo. Parece até um campo de extermínio. Faltam médicos, enfermeiros e todo tipo de profissional de Saúde para atender à demanda. Iskenderun tem o pior sistema de Saúde de toda a Turquia.

            Até para receber ajuda externa é difícil, pois aquela cidade turca não tem sequer uma rodoviária decente. O prefeito Sevahc Nodlih até que prometeu fazer uma nova. Só que entra ano e sai ano e fica tudo na promessa. O raciocínio deve ser o seguinte: “povo porco tem que usar pocilga mesmo”. No âmbito da província, a realidade é a mesma. O governador fala há tempos em construir um novo hospital de pronto-socorro para Iskenderun e toda a sua gente, mas até agora nada. A câmara de vereadores e a Assembleia da província nada fazem também para amenizar o caos. Legisladores incompetentes e muitos deles corruptos. Um deputado provincial, por exemplo, está preocupado com o número de pessoas que se suicidam na única ponte que há no município. Aliás, uma ponte inútil e imprestável que só serve mesmo para as pessoas se suicidarem, já que não liga “nada a nada”. Gente, a Turquia devia ser ajudada por todos nós depois desse terremoto.

 

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2023

Flamengo, time sem-vergonha

Flamengo, time sem-vergonha

 

Professor Nazareno*

 

            O Brasil não para de dar vexames ao mundo. Nos últimos quatro anos o nosso país envergonhou os seus habitantes como nunca antes visto na nossa triste história. Na política, com o ex-presidente Jair Messias Bolsonaro, mostramos a nossa incapacidade de conviver com os anseios democráticos. O dia oito de janeiro de 2023 ficará marcado para sempre como um dos dias mais macabros da nossa existência. Já no início do terceiro governo Lula, mostramos ao planeta inteiro como tratamos os nossos povos originários. A tragédia dos Yanomamis no Estado de Roraima, no Norte do país, disse para quem quisesse ouvir que somos muito piores do que foram os nazistas quando o assunto é genocídio e extermínio de povos. Massacramos nossos indígenas sem dó nem piedade. Destruímos, desmatamos e envenenamos nossas florestas como se não houvesse amanhã.

Porém, um dos maiores vexames está na área dos esportes. Nunca fomos tão desmoralizados por países até então insignificantes como agora. Na Copa do Mundo do Catar, caímos vergonhosamente para a Croácia nos pênaltis e ficamos fora da competição bem antes do tempo. No campeonato mundial de clubes, jogado no Marrocos em 2023, a decepção foi maior ainda: o “todo poderoso” Flamengo do Rio de Janeiro, decantado em verso e prosa como um dos melhores times de futebol da atualidade mundial, perdeu para o desconhecidíssimo Al-Hilal da Arábia Saudita. Não! Não foi para nenhum time europeu de ponta ou mesmo para qualquer equipe de futebol que sempre vemos jogar na Argentina, por exemplo. Dessa vez o Flamengo não perdeu para o Barcelona, Liverpool, Milan, Bayern de Munique, Boca Juniores, River Plate ou Independiente. Foi o Al-Hilal.

Certamente raríssimos torcedores do Brasil sabem hoje pronunciar corretamente o nome do algoz de agora do rubro-negro carioca. Muito menos sabem dizer de qual país é esse time de nome exótico. E pior: os brasileiros escaparam de uma solene goleada. Perder somente de 3 X 2 para os guerreiros e entusiasmados sauditas pode até ser considerada uma vitória para os flamenguistas, que saíram no lucro. O placar mais justo do jogo teria sido uns cinco ou seis gols para o time saudita. O Flamengo não jogou absolutamente nada na partida. Aliás, como sempre faz quando enfrenta um time um pouco mais disciplinado e bem treinado. Por isso, foi dominado o jogo inteiro e mesmo empatando ainda no primeiro tempo em 1 X 1, sempre esteve em desvantagem no placar. Pressionado o jogo todo, fez dois pênaltis infantis que foram convertidos em 2 belos gols.

O Flamengo é tão ruim que se jogar hoje contra o Real Ariquemes ou o Porto Velho certamente vai perder feio. Mas contra o Volta Redonda, o Bangu, Madureira ou o Resende faz aquele “piseiro” no campeonato carioca. Esse time do Flamengo é a cara do Brasil de hoje: totalmente sem brilho, sem entusiasmo, sem nenhum encanto, fracassado e sem confiança alguma. Um time sem-vergonha mesmo. Em respeito aos seus milhões de torcedores, devia se retirar de todos os campeonatos de que vai participar neste ano de 2023. A decepção para todos seria bem menor se fizesse isso. O problema é que igualmente não há times bons no Brasil. Até nisso somos também uma vergonha mundial. É como na política nacional: elegemos o Lula não porque o ex-metalúrgico seja alguém bom, carismático e confiável para nos governar. Fizemos isso porque tínhamos que nos livrar do Fascismo que estava nos espreitando. Flamengo e Brasil, desgosto até quando?

 

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

sábado, 4 de fevereiro de 2023

E se Bolsonaro fosse reeleito?

E se Bolsonaro fosse reeleito?

 

Professor Nazareno*

 

            E pior é que esta terrível possiblidade quase que se concretizava. Jair Bolsonaro perdeu as eleições no segundo turno para o ex-metalúrgico Lula por uma margem muito apertada de votos. O petista teve apenas 50,9 % dos votos válidos, enquanto Bolsonaro teve 49,1 por cento, ou seja, uma diferença de menos e dois pontos percentuais. Foram pouco mais de dois milhões de votos num universo de quase 160 milhões de eleitores.  É quase certo que Lula e o PT não vão fazer um bom governo, como já aconteceu nas outras duas vezes anteriores, por isso a pergunta mais comum de se ouvir hoje é: e se fosse o Bolsonaro que tivesse sido reeleito, como seria o destino do Brasil a partir de agora? Aliás, já no primeiro turno dessas mesmas eleições o “Bozo” ganhou com folga a contenda e fez “cabelo, barba e bigode”. Elegeu senadores, governadores e deputados aos montes.

            Desde o ano de 2019, início do governo de Jair Bolsonaro, que o Brasil degringolou de vez. Não foi um governo tão autoritário, mas foi fascista e incoerente o quanto pôde. Na questão ambiental, com essa gente no poder por mais quatro anos, os Yanomamis seriam extintos de uma vez por todas e a Amazônia seria riscada do mapa com tantos garimpeiros e destruidores da floresta. Bolsonaro disse que no seu governo não haveria um centímetro a mais de terra demarcada para os indígenas. Aí seria o fim de todos os povos originários, com certeza. O rio Madeira em Rondônia, por exemplo, seria tomado por multidões de garimpeiros em busca de ouro. Mercúrio às toneladas seria derramado sem dó no já debilitado e agredido rio. Outras áreas da região também seriam exploradas e a floresta inteira arderia sob o fogo. E ninguém punido. Seria a nova ordem.

            Todas as minorias nacionais seriam escorraçadas e todos os seus direitos cassados. Homossexuais seriam mortos às centenas, os negros discriminados ainda mais, mulheres talvez até tivessem que usar burcas. E todo mundo armado. Com a reeleição, o Estado não seria mais laico. Religião, somente a evangélica. E todas as outras seriam perseguidas e seus adeptos punidos. O STF teria 15 ministros, oito dos quais colocados pelo presidente reeleito para que tivesse a maioria absoluta naquele tribunal. No Senado e na Câmara dos Deputados não haveria oposição. Todos os parlamentares de esquerda seriam cassados e caçados sumariamente. Universidades fechadas, professores presos, todas as escolas de ensinos fundamental e médio do país seriam transformadas em escolas militares. E os governadores seriam da direita e da extrema-direita assim como sempre foi em Rondônia.

            Emissoras de televisão e outras mídias que não compactuassem com a nova ordem política seriam todas colocadas fora do ar. Sites, jornais e rádios não teriam censura abertamente, mas seriam “vigiados de perto”. A Globo não duraria um mês sequer na nova administração de Jair Bolsonaro. A BR-319 seria imediatamente asfaltada e multidões de grileiros, posseiros, madeireiros ilegais, invasores de florestas e outros tipos de bandidos chegariam ao seu entorno para ocupar as terras. A Amazônia, enfim, seria transformada em deserto e veria o seu triste fim. Milicianos e militares incompetentes assumiriam cargos importantes no governo e as vacinas seriam proibidas. Imunidade de rebanho a partir de 2023 para toda e qualquer doença provocada por vírus. As eleições seriam indiretas. Flávio, Carlos e Eduardo Bolsonaro seriam os futuros presidentes do país. Ser roubado agora por Lula é fichinha diante do que a gente se livrou. Foi um alívio?

 

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2023

O Holocausto Yanomami

O Holocausto Yanomami


Professor Nazareno*


É possível que o povo Yanomami no Norte do Brasil, fronteira de Roraima com a Venezuela, já esteja num rápido processo de extinção. Mas foi nos últimos quatro anos que a agressiva campanha genocida se intensificou contra todos esses brasileiros há muito esquecidos. “Se eu for eleito, os índios e os quilombolas não terão um só centímetro de terra demarcada”. Mais: “a cavalaria dos Estados Unidos foi muito competente, pois matou quase todos os índios daquele país e hoje eles não têm mais este problema. Já a cavalaria do Brasil foi incompetente e não matou nenhum índio por aqui”. Frases de um ex-presidente do país. Ou “Os Yanomamis não são um povo. São apenas selvagens que moram em território brasileiro”. “Esses índios são muito preguiçosos, pois são apenas uns 30 mil que vivem num território maior do que a Suíça e ainda estão passando fome?”.

O atual governador de Roraima, Antônio Denarium, disse: “esses índios têm que se aculturar e parar de viver no mato como bichos”. A situação já tomou dimensões apocalípticas. O avanço do garimpo ilegal, muitas vezes incentivado pelas fracas ações de fiscalização do ex-governo Bolsonaro, praticamente decretou o fim desse povo. Fome, doenças, abandono, contaminação pelo mercúrio, estupros e mortes produzem cenas reais que podem ser comparadas às crianças famélicas que se veem na África subsaariana. Com mais de 30 milhões de famintos no país inteiro, foram os pobres Yanomamis, no entanto, os que se prestaram ao triste espetáculo televisivo cujas imagens correm o mundo para nos encher outra vez de vergonha. Muitos veem naquilo uma semelhança com os corpos dos judeus encontrados em campos de concentração nazistas da segunda guerra mundial.

E quem é o genocida responsável por esse caos entre os Yanomamis? Não é só o Bolsonaro, não. A sociedade brasileira como um todo nunca teve muita consideração pelos indígenas e também por outros povos originários. O massacre começou exatamente em 22 de abril de 1500 com Pedro Álvares Cabral. Dos pouco mais de 6 milhões de indivíduos no início, quantos indígenas ainda restam hoje no Brasil? Durante todo este tempo, fomos acostumados simplesmente a discriminar, isolar, explorar e a matar essa gente considerada na maioria das vezes como “inferiores”. Mas foi no governo de Jair Bolsonaro que foi dado o criminoso ataque final ao genocídio dos indígenas. Óbvio que os bolsonaristas devem ter pensado que “se morrerem alguns selvagens não dá em nada, pois na pandemia foram quase 700 mil brasileiros mortos e tudo ficou por isso mesmo”.

A desfaçatez e a total burrice dessa gente chegam a ser algo hilário. E num mundo globalizado, a já desgastada imagem do Brasil no exterior piora ainda mais. Isso sem falar que maltratar seus semelhantes é um ato desumano, cruel e nazista. Porém falar em desumanidade e desrespeito aos direitos humanos no governo que findou é “chover no molhado”. O governo Lula precisa urgentemente cuidar dos enfermos, recuperar as áreas invadidas e também expulsar todos os garimpeiros dali. E não somente na área dos Yanomamis em Roraima, mas em todo o território nacional. No rio Madeira em Rondônia, por exemplo, é comum todo dia se ver dragas e mais dragas garimpando ouro tranquilamente. “Só não vê quem não quer”. Esse país precisa ser passado a limpo e o governo Lula tem tudo para fazer corretamente o “dever de casa”. Basta não roubar. E o dinheiro para isso existe. Alemanha e Noruega já voltaram a financiar o Fundo Amazônia.

 

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.