Porto
Velho sem a Banda
Professor
Nazareno*
Se
não existisse a Banda do Vai Quem Quer, certamente Porto Velho seria um pouco
mais triste do que já é, uma vez que por estas bandas não há muita coisa que
possa divertir e distrair a sofrida população. Porto Velho talvez seja a única
capital do país que não tem futebol de verdade. Não há sequer um estádio
decente para abrigar partidas desse esporte. A não ser que se admita que o decaído
Aluízio Ferreira seja um estádio e que Genus e Porto Velho sejam times de
futebol. A cidade tinha o arraial Flor do Maracujá, realizado geralmente em
junho. Tinha também uma grande feira agropecuária, a Expovel, que acontecia também
em meados do ano. Mas tanto um quanto o outro simplesmente sumiram sem maiores
explicações. Nada restou. Só mesmo essa Banda que desfila todo sábado de
Carnaval. O problema são as toneladas de lixo que ela produz pelas ruas daqui.
Há
mais de vinte anos, no entanto, que eu vou às ruas, no outro dia pela manhã, e
documento com fotos o que a Banda deixou no dia anterior. E por incrível que
pareça, a cada ano que passa, percebe-se que a situação de sujeira, lixo e
imundície só piora. Muitos foliões não têm a mínima decência de preservar a
própria cidade onde moram. Urina, fezes, garrafas quebradas, muito plástico e
papel deixados pelo caminho como se a capital dos rondonienses fosse uma
lixeira, uma latrina, uma fossa a céu aberto. E o pior é que a cidade de Porto
Velho realmente é mesmo tudo isso. E não é somente a Banda que deixa esse
rastro de falta de civilidade. Marcha para Jesus, Passeata do Orgulho Gay, ou
mesmo qualquer festa realizada na lendária EFMM ou em outro local, o que se vê
depois, infelizmente, são toneladas de entulhos deixados pelos participantes.
Falta de civilidade?
Porém,
alguns adeptos da sujeira vão logo dando desculpas esfarrapadas para o que está
errado. “Mas existem os garis da prefeitura para quê?” Indagam. E mais: “em
todas as cidades onde acontece o Carnaval é normal sujarem as ruas”. Fala-se
à boca miúda que “sujeira é muito bom porque dá emprego para os garis”.
Só que ninguém quer morrer para que os coveiros fiquem empregados. Triste, mas
esse raciocínio enviesado e anacrônico parece que também é compartilhado pelos
responsáveis da Banda do Vai Quem Quer assim como pelos órgãos públicos. A
prefeitura da cidade, por exemplo, poderia fazer campanhas na mídia para
alertar a população brincante sobre a sujeira. Poderia também, com
antecedência, colocar caçambas papa-entulhos pelos caminhos da folia. E não só
distribuir sacolas para recolher o lixo individual, mas incentivar a limpeza.
Óbvio
que não se deseja, como erradamente se pensa, o fim da Banda de Porto Velho, fato
que já aconteceu com o Flor do Maracujá e a Expovel. Resido há mais de quarenta
anos nessa cidade e percebi que aqui não há festa do padroeiro como existe em
Calama, Nazaré, Humaitá, João Pessoa ou qualquer outra cidade ou capital
espalhadas por este país afora. Por isso, a Banda tem que existir e desfilar todos
os anos, sim! Mas não custa nada melhorá-la para o bem da cidade, dos
brincantes e das famílias que gostam do Carnaval. Estresse, sem necessidade,
com a Polícia Militar acontece praticamente todos os anos. Isso tem que ser
evitado a todo custo. O Carnaval é uma festa do povo. E é preciso respeitar
essa realidade. Mas todos os responsáveis, os foliões, assim como todas as
autoridades constituídas do município deveriam também respeitar a cidade que
lhes dá abrigo não a sujando tanto. Haverá lixo e monturo na Marcha Gay e na
Parada para Jesus?
*Foi Professor em Porto Velho.
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