Rondonienses
guerreiros!
Professor Nazareno*
Estou muito otimista!
Mas muito otimista mesmo com tanta demonstração de patriotismo, de determinação
e de civismo. Nunca em meus mais de sessenta anos de vida vi um povo tão
abnegado e tão profundamente lutador pelos seus direitos. Dos 450 mil
habitantes da capital de Rondônia, pelos menos uns 120 mil saíram às ruas na
tarde deste último sábado. Cifra impressionante para os padrões de qualquer
cidade do mundo, uma vez que mais de 25 % dos habitantes estavam lá lutando por
um objetivo, uma finalidade. Nestes tempos bicudos em que a participação
política está dividida e relegada a um segundo plano, eis que a “capital dos destemidos pioneiros” mostra ao mundo o
bravo exemplo de como reivindicar melhorias para a sociedade e para as futuras
gerações. Uma tristeza eu ter nascido lá pelos cafundós da Paraíba. Devia ter
nascido aqui em Rondônia.
Não há espetáculo mais belo de se ver. Mais de cem mil pessoas, rondonienses e “rondonienses de coração”, protestando nas ruas de Porto
Velho contra o desemprego, a inflação, a corrupção, a apatia dos governantes em
geral, a falência da saúde, da educação e também pelo abandono da capital e
contra a falta de políticas públicas para a população mais carente do Estado.
Todos em uníssono gritando contra a tentativa de golpe da extrema-direita
reacionária contra um governo legitimamente eleito. A chiadeira era geral
também contra o absurdo genocídio dos Yanomamis. “Cadeia para todos os
culpados!”, gritavam. Isso é que é civismo e amor à pátria. Pense num povo
que tem ancestralidade. Um prêmio Nobel é o que essa gente merece. Onde estão
as academias sueca e norueguesa que não veem esta bravura, esta determinação, a
garra, o patriotismo e esta luta heroica?
Cartazes, faixas, banners enfeitavam as ruas. O frenesi era geral. Havia até
quem protestasse contra a política externa de Vladmir Putin, da Rússia, contra
a Ucrânia. Muitos daqueles politizados e cultos cidadãos mandavam vários recados
para todos os políticos de Rondônia. “Agora, não aceitamos mais administração
meia-boca, de faz de conta” dizia um cartaz. “E nada de administrar a coisa pública só para a elite privilegiada”,
dizia outro. Havia reclamações de toda ordem: “a nova rodoviária da cidade não
pode ser uma simples obra eleitoreira e muito menos ficar sem a sua conclusão
definitiva assim como o novo hospital de pronto-socorro”, alertava a
multidão eufórica. A ponte escura do suicídio, os eternos alagamentos da cidade,
a poeira e a fumaça sufocantes do verão, saneamento básico e limpeza são
cobranças desse povo guerreiro. Eles só pedem respeito!
Pessoas
desenvolvidas, decididas, bem informadas, conscientes de seus direitos e
batalhadoras sempre vão reivindicar melhorias de seus governantes. E de forma
pacífica, respeitosa e ordeira. E isso é o que se vê com muita frequência em
Porto Velho, terra de pessoas que têm no respeito e na higiene suas maiores qualidades.
As ruas onde houve aquela “passeata-monstro”, por exemplo,
principalmente a Carlos Gomes e a Sete de Setembro, ficaram até mais limpas
quando terminou o grande ato cívico. Pedaços de papel algum se viam jogados no
chão. Garrafas de água deixadas a esmo era uma raridade. Preservativos usados,
absorventes femininos ou cascas de picolé sequer se viam esquecidos pelas
limpas ruas e avenidas. E vai ser assim todos os anos. “O povo unido, jamais será vencido”, era o mantra que
ecoava quando a astuta multidão intelectualizada e consciente caminhava de
punhos cerrados. Juro que escutei ali a internacional socialista!
*Foi Professor em Porto Velho.
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