O
Brasil tem jeito, sim!
Professor
Nazareno*
O Brasil praticamente
tem apenas um só problema: a desigualdade social. E é essa aberração social que
dá origem a todos os outros obstáculos que vivenciamos diariamente em nossa
sociedade. Desde que Cabral chegou em terras tupiniquins, a infâmia da luta de
classes nos perseguiu pelos séculos seguintes até hoje. Mas o homem branco
português não se misturou aos “selvagens” que aqui encontrou. Depois
veio a escravidão e milhões de negros africanos vieram para fazer parte da
sociedade nacional. Os chamados escravos foram explorados ao máximo pela
ambiciosa elite branca. Desde então, a “casa grande e a senzala”
adornaram e perpetuaram por séculos o que vemos até os dias atuais: pouquíssimos
cidadãos desfrutando de muito dinheiro, prestígio e bonança enquanto a maioria
dos brasileiros, negros e indígenas, vivendo na mais absoluta miséria e
pobreza.
Essa perversa realidade,
que sempre esteve sob responsabilidade da elite branca nacional, é a maior
identidade do nosso país. Esses poderosos sempre se identificaram com os ideais
europeus e por isso não pouparam esforços para dominar e explorar quem se
colocasse em seu caminho. Historicamente negros e indígenas quase não têm
acesso aos melhores postos dentro da nossa estratificada sociedade. No Brasil
quase não há escolas de boa qualidade e os serviços públicos são de péssima
qualidade. Aqui paga-se um salário mínimo miserável e quase toda a riqueza
nacional está nas mãos dos banqueiros, políticos, latifundiários, industriais e
magnatas. O Brasil tem hoje mais de 30 milhões de pessoas que passam fome, pois
vivem na mais extrema pobreza. Enquanto isso, neste ano de 2023 o país deve
produzir mais de 302 milhões de toneladas só de grãos.
Isso sem falar em
carnes, peixes, aves, frutas, legumes. Ou seja, cada brasileiro teria, por ano,
em tese, quase duas toneladas de alimentos à disposição para saciar a sua fome.
Em Rondônia, por exemplo, o Estado fechou o ano de 2022 com quase 18 milhões de
cabeças de gado. Isso para uma população inferior a 1,6 milhão de habitantes.
Isto é, quase 12 cabeças para cada pessoa. E quem come carne por aqui? Qual o
preço dessa iguaria e os seus derivados? Basta ir a um supermercado e ver o
absurdo. Enquanto a casa grande se locupleta de proteínas, a senzala tomba de
fome. O Brasil é injusto com seus habitantes e essa injustiça se verifica
também pelos Estados e municípios do país. A crise de fome dos Yanomamis é
fichinha se olharmos a situação caótica por que passa a maioria dos brasileiros
pobres das periferias. E qual o governante que vai resolver essa vergonha?
Nenhum deles. Seja
da direita, da esquerda ou da extrema-direita. A maioria dos nossos políticos
está à disposição apenas da elite e dos endinheirados. O establishment está
montado há tempos. E é a elite endinheirada que praticamente banca a eleição de
quase toda essa gente. Então, é a essa elite que eles servem e não aos pobres e
aos miseráveis. A criação de mais políticas macroeconômicas pelos governantes
até que poderia amenizar os graves problemas do Brasil. Mas quem tentar fazer
isso, sai do poder mais rápido do que entrou. Lula, a esquerda e o PT, neste
aspecto, são iguais ao Bolsonaro, ao Michel Temer e a tantos outros presidentes
e governos que já tivemos. Estamos no século XXI e ainda convivemos vergonhosamente
com a desigualdade social. A fila do osso, a crise dos Yanomamis, a favelização
da sociedade, a falta de escolaridade, a fome e a miséria são até normais. Mas
o Brasil tem jeito, sim! Basta a elite querer isso.
*Foi Professor em Porto
Velho.
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