quarta-feira, 28 de junho de 2023

The Passion Flower Arraial

The Passion Flower Arraial

 

Professor Nazareno*

 

            Old Port, cidade provinciana perdida nos cafundós, suja e muito atrasada, se prepara como de costume nos meados do ano para as grandes festividades alusivas a São João. O famoso arraial Passion Flower reúne todos os anos a matutada simplória e ridícula, que representa o que de melhor existe na sociedade oldportiana. O triste festival tenta imitar a breguice e a matutice já existentes há muito tempo entre os seus toscos e visionários habitantes. Para não perder a tradição costumeira, muitos moradores da cidade vendem seus carros, sítios e até suas casas para poderem passar uma noite com a família saboreando as comidas que são vendidas ali a preço de ouro. Muitas barracas de guloseimas, montadas em meio à sujeira e a imundície, deleitam seus poucos visitantes e também lhes arrancam os olhos da cara para servir gororobas de sabor exótico e repulsivo.

            Fala-se que naquele sinistro lugar, frequentado geralmente por pessoas pobres e miseráveis, circulam muitos dólares e euros. O requinte e o luxo ali verificados justificam esta regalia. Só que nenhuma casa de câmbio pode ser verificada nos arredores. Madames bem arrumadas e usando bolsas Louis Vuitton, compradas nas zonas leste e sul da cidade, são vistas todas as noites degustando vatapá com galinha picante. Poucas pessoas entendem o nome dado para aquela festa matuta, para aquele arraial sem santo. A fruta da paixão, que dá nome àquele grosseiro festival, sequer existe por aquelas bandas. Não há na cidade, nem na província inteira, uma só árvore dessa espécie vegetal. Old Port não tem mobilidade urbana, mas a classe política já providenciou vários ônibus urbanos saindo de cada bairro para as proximidades do malfadado festejo. E a matutada aproveita.

            Muita gente reclama que aquilo é uma festa só para os ricos da cidade. Só que naquele lugar praticamente não há pessoas ricas. Diferente, por exemplo, da “Go Who Wants Band” que desfila todo Carnaval e leva toda qualidade de gente pobre para beber cachaça barata e sujar as ruas da imunda municipalidade. Old Port está em franca extinção e por isso não tem absolutamente nada para divertir seus tristes e desolados moradores. A capital provincial perde habitantes a cada ano que passa. O último censo disse que a cidade tem hoje um pouco mais do que 460 mil habitantes quando as pessoas apostavam que essa cifra já estava superando os 600 mil moradores. Sem mobilidade urbana, sem rede de esgotos, sem água tratada, muito violenta e sem recantos de lazer, muita gente se aposentou e “montou no porco”. Assim, em pouco tempo não terá mais nenhum morador.

            Além do mais, dizem que nessas festas juninas têm muitas quadrilhas, poeira e matutos. Ver isso, todo mundo da cidade consegue sem fazer muito esforço nem gastar o dinheiro que não tem. As quadrilhas já fazem parte da vida diária de quase toda a população oldportense. Não há uma só campanha política que não se formem várias delas. Já os matutos fazem parte da paisagem urbana há muito tempo enquanto a poeira é companheira dos moradores em todo verão. Dessa maneira, nem o dinheiro público enterrado ali, cerca de 1,2 milhão de reais, conseguiu turbinar a festa brega. A cidade, totalmente dominada na política pela direita e pela extrema-direita, é muito pobre e sempre viveu só de ciclos. Só que hoje não há nenhum ciclo à vista. Por isso, o empobrecimento das pessoas e a falta de qualidade de vida são coisas até naturais no esquecido rincão. Tomara que não comece agora o ciclo dos arraiais caros e impopulares!

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

sábado, 24 de junho de 2023

Os pilares da sociedade

Os pilares da sociedade

 

Professor Nazareno*

 

            Dinheiro, fé em Deus, putaria e drogas são, não necessariamente nessa ordem, os principais pilares que sustentam a sociedade moderna. No Brasil principalmente, esses quatro itens têm o poder de determinar quase todas as ações da maioria das pessoas. Cerca de 98 por cento dos habitantes, sejam ricos, classe média ou pobres, buscam dinheiro todos os dias. A maioria faz isso para poder suprir as suas necessidades diárias, mas há uma outra parcela, bem menor, que o faz para poder acumular além da riqueza o poder absoluto. Dinheiro sempre foi e ainda é a mola mestra do mundo como também hoje em dia é sinônimo de dominação sobre as outras pessoas. Dificilmente existe uma atividade humana em todo o mundo que não esteja ligada ao “vil metal”. Por isso, fala-se que não há nada mais importante do que o dinheiro. E que nem Deus consegue competir com ele.

            Deve ser por isso que no passado, a humanidade criou Deus para tentar fazer um contraponto com a riqueza e a prosperidade cada vez mais reinantes entre os homens. A fé em um ser supremo, que talvez nem exista, sempre movimentou multidões desde os mais primórdios tempos. Inventaram-se histórias mirabolantes sobre esse ser divino, escreveram livros e mais livros, descreveram milagres, criaram-se descendentes diretos dessa divindade e também muitos seguidores e assim a arapuca foi armada. Jesus Cristo para os cristãos, Maomé para os muçulmanos, Abraão, Davi, Moisés. Difícil existir uma sociedade hoje em dia que não tenha o seu Deus já pronto e acabado. E já disseram que essa fé em Deus até remove montanhas. Sêneca, filosofo grego, disse que Deus não existe para as pessoas inteligentes, é uma realidade para as ignorantes e útil para os governantes.

Outro pilar muito forte que está presente e comanda grande parte da sociedade moderna é a putaria. A política dos países, por exemplo, é a putaria exercida na sua plenitude somente para se conseguir dinheiro de maneira mais fácil. No Brasil geralmente quem entra na política se esmera em mentir e a roubar o dinheiro tomado pelos impostos. Os pobres ficando cada vez mais pobres e os ricos ficando cada vez mais ricos. Existe putaria maior do que se pagar um salário chamado de mínimo somente para que os pobres continuem na pobreza e sempre miseráveis? Se a política é só putaria, imagine-se as invenções que ela faz para manter a mesmice. Inventaram a inflação, as religiões, as festas religiosas (também chamadas de culturais), o futebol, o Carnaval e outras tolices só para divertir os pobres e mantê-los felizes e, dessa forma, esquecerem as suas agruras. É mole?

As drogas são outro importante pilar que sustenta a hipocrisia da sociedade. Elas sempre foram usadas como maneira mais fácil de se “fugir” da realidade.  O próprio Jesus Cristo, no começo da sociedade cristã, fez da água o vinho para entreter os seus conterrâneos. Entra governo e sai governo e ninguém combate esse vício, que só aumenta. Não existe uma única cidade do Brasil e talvez até do mundo mesmo, das maiores às menores, que não tenha já disseminado entre os seus moradores o uso da maconha, da cocaína, do crack, da heroína, do cigarro, do álcool e de outras drogas. Mas o pior ainda vai nos chegar. E o caos completo já se iniciou: a mistura desses quatro pilares. Putaria: a política usa a religião e às vezes ambas usam o tráfico de drogas como degraus para se conseguir mais dinheiro ainda. Por enquanto, a hipocrisia esconde todos esses defeitos. A humanidade não deu certo e se Deus criou o homem, devia repensar e recomeçar tudo.

 

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

quarta-feira, 21 de junho de 2023

A imprensa que censura

A imprensa que censura

 

Professor Nazareno*

 

            Nenhum regime político que amordaça a imprensa é democrático. Democracia é sinônimo de imprensa livre. Se a mídia de um país não tiver a liberdade de publicar de forma responsável o que deve ser publicado, então é ditadura e ponto final. É cerceamento das liberdades. E toda democracia devia prezar pela liberdade total de seus cidadãos. Durante a Ditadura Militar no Brasil, entre 1964 e 1985, a imprensa esteve sob o tacão dos militares, que mantinham um censor dentro das redações das principais emissoras de rádio e de televisão e também dentro dos jornais e das revistas. Eram os “milicos” que decidiam o que o povo devia ler, assistir, ouvir. Músicas foram censuradas. Novelas foram proibidas de ir ao ar. Filmes inteiros foram desaprovados. Programas foram editados às pressas para agradar ao censor de plantão. Toda a arte estava subjugada a outras vontades.

            Jornalistas foram torturados e mortos, cantores foram perseguidos e exilados, dramaturgos foram calados à força, escritores censurados e colocados no ostracismo. A perseguição aos meios de comunicação foi uma constante durante aqueles terríveis anos de chumbo. Mas tudo isto, ainda bem, já faz parte de um passado que não deve mais ser repetido neste país. Mas será mesmo? A censura pode até não existir mais. Só que por ironia das ironias somente na área do poder público. A “mania” de censurar textos, artigos de opinião, reportagens dentre outras produções continua a todo vapor dentro de muitas redações. Alguns sites de notícias no interior de Santa Catarina, por exemplo, não permitem que se façam críticas aos prefeitos de algumas cidades lá. Muitos dos deputados estaduais também têm o privilégio de não serem criticados pela mídia. Tudo é censurado.

            Qualquer notícia de cunho negativo envolvendo o alcaide de uma dessas cidades catarinenses e também alguns dos parlamentares estaduais é censurada na hora e nem precisa ter censor indicado pelo governo como na época da ditadura. Parece até que os donos de muitos órgãos noticiosos aprenderam a lição de censurar com os “brucutus dos quartéis”, que mandavam e desmandavam na opinião dos outros. A situação é tão calamitosa hoje que a Folha de São Paulo e a rádio Jovem Pan criticam abertamente o governo Lula enquanto a rede Globo faz elogios rasgados ao atual presidente. Por alguns míseros trocados, a censura volta a incomodar de novo sem se levar em conta o verdadeiro papel da mídia. Pode-se imaginar o que acontece dentro dessas mesmas redações em anos eleitorais. A grana deve correr solta para que todos adulem os muitos políticos corruptos.

Julian Assange, jornalista australiano e dono do site Wikileaks, está preso até hoje em Londres por que denunciou países que bisbilhotavam outros países. Se for extraditado para os EUA, será condenado à morte. E ninguém move uma palha sequer para que ele seja libertado. Grande parte da mídia mundial está se lixando para o destino de Assange. A liberdade de expressão nesse caso para nada serve. No Brasil, tivemos o caso “Vaza-Jato”. Só que praticamente nenhum órgão da grande imprensa nacional noticiou nada sobre a farsa que foi a pseudo-operação que prendeu Lula em 2018 e abriu caminho para o fascismo do governo de Jair Bolsonaro. Se nas sociedades democráticas a informação e a opinião sofrem tais mutilações, imagine-se o que não se passa em países como Rússia, China, Cuba, Venezuela e Coreia do Norte. Devíamos ser livres para divulgar tudo e ao mesmo tempo assumir as responsabilidades pelo que publicamos. A Constituição diz isso.

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

quarta-feira, 14 de junho de 2023

As consequências do frio

As consequências do frio

 

Professor Nazareno*

 

            Frio extremo em Rondônia! Caminhamos a passos largos para o fim do mundo, é a crença que se tem nestas terras tórridas. Lugar de baixas latitudes e por isso mesmo muito quente e abafado, eis que a “terra dos destemidos pioneiros” se vê de uma hora para outra sob a influência de uma forte massa de ar polar continental. O fenômeno da friagem chega enfim às terras karipunas baixando as temperaturas para algo em torno dos 23/25 graus. Há relatos de que em algumas cidades do interior, como Vilhena e Guajará-Mirim, o “frio neste atípico verão foi mais intenso ainda. Acostumados aos quase 40 graus diários e com direito a mormaço e muito suor, os rondonienses bateram o queixo. Ainda assim, muitos desejam ardentemente que esta “friaca atemporal” se transforme eternamente no clima típico dessas quentes paragens. “Devia ser sempre assim”, afirmam.

            O problema é que esse pitoresco “clima de frio intenso” traz muitas consequências para os rondonienses e porto-velhenses principalmente. Apesar de não termos tantos mendigos perambulando pelas ruas como em algumas ricas e abastadas cidades do sul do país, o festival de bizarrices por aqui é uma constante. O mau cheiro de barata, mofo e naftalina dos agasalhos doados pelos parentes sulistas toma conta das já sujas e imundas ruas da capital. Desacostumados com a novidade climática, é comum ver algumas pessoas “desfilando” com suas estranhas “roupas de inverno”, que usam no dia a dia somente para dormir no frio de seu ar condicionado. Outra consequência desse frio é o aumento no uso de lenha, carvão e gás de cozinha, não para aquecer os ambientes da casa, mas para esquentar água para o banho diário, já que quase não há chuveiros elétricos por aqui.

            Só que com a temperatura mais amena, Porto Velho fica muito mais fedorenta e insalubre, pois a catinga das ruas e dos esgotos, que correm a céu aberto pela cidade, não se dissipa tão facilmente. O bom é que os ratos, cobras e outros animais peçonhentos não saem às ruas facilmente. Moscas varejeiras e urubus também desaparecem das avenidas e latas de lixo espalhadas pelas calçadas nestes dias de clima um pouco mais diferente. Fala-se que neste clima até os políticos de Rondônia roubam menos. Quase não se fala em escândalos de desvios de verba pública. Talvez seja porque a classe política acha que está na Europa, no Japão ou mesmo em algum país mais desenvolvido e civilizado onde a roubalheira é bem menor do que nestas terras inóspitas e incivilizadas. Neste clima, a Praça Marechal Rondon, por exemplo, fica muito mais parecida com a  Fontana de Trevi.

            Como já disse: Porto Velho e Rondônia definitivamente não combinam com o tempo gélido. Isso é temperatura para lugares ricos e bem desenvolvidos. Porém, vi algumas emissoras de rádios da capital e também alguns supermercados fazendo a campanha do agasalho como em alguns dos mais frios lugares do sul do país. Não é incrível a sensibilidade dessa gente? Tomara que os termômetros subam logo. É muito deprimente ver cidadãos usando roupas rotas, molambentas e folgadas que não lhe cabem no corpo. Até para comer alguma coisa nestes dias lúgubres é difícil. Farinha d’água com peixe frito, tacacá e banana frita deviam ser sinônimos só de calor e de dias ensolarados e calorentos. Para beber algo é outro tormento. Existe coisa mais bizarra e antiquada do que presenciar muitos rondonienses bebendo vinho vagabundo daqueles vendidos em garrafas de plástico? À espera da fumaça e da devastação ambiental, celebremos o “frio”.

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

quinta-feira, 8 de junho de 2023

Marcha para o Satanás


 

Marcha para o Satanás

 

Professor Nazareno*

 

            Existe já há algum tempo a Marcha para Jesus. Milhões de cristãos evangélicos saem às ruas das principais cidades do Brasil quase sempre no dia de Corpus Christi para prestar homenagens ao, segundo eles, “único filho de Deus”. Porém, hoje deveria existir também uma outra marcha levando-se em consideração o que a maioria das pessoas que se acham religiosas dizem e fazem no seu cotidiano. Seria a Marcha para Satanás. Esta deveria ser também bem representativa, uma vez que o “Anjo do Mal” igualmente tem muito poder. O Cão nunca foi derrotado por Deus e até hoje tem se mostrado um inimigo à altura do Todo Poderoso. Além do mais, as pessoas de um modo geral não seguem o Capeta diretamente, mas costumam fazer tudo o que dele deriva. O nosso Salvador é sinônimo do bem e das coisas boas, enquanto o Tinhoso representa tudo o que é do mal.

            A História nos ensina que Jesus Cristo certamente não teve muito apego ao dinheiro. Coisa que muitos dos seus seguidores não o fazem. Dinheiro só pode ser coisa do Cramunhão mesmo. Foi Cristo que expulsou os vendilhões do templo e censurou abertamente a ambição desmedida daqueles que diziam seguir os seus passos. Jeová nunca deu importância para o dinheiro ou a riqueza, já os seus seguidores não conseguem viver sem o vil metal. Aliás, foi o Filho das Trevas que sempre esteve ligado à ambição, à usura e à exploração. Judas, por exemplo, traiu o Santíssimo por 30 dinheiros, dizem as escrituras. Na política, o Messias não pode estar ligado à direita ou à extrema-direita, posições ideológicas que defendem o capitalismo e a exploração do homem pelo homem. Por isso, entende-se que o Rei dos Reis só podia militar num desses partidos de esquerda.

            O Filho de Deus era de esquerda, com toda a certeza. Ele repartia o pão, amava a todos sem se importar com suas origens, cor, raça, gênero ou posição social e combatia, nas suas ações, a elite da época e os poderosos de Roma. Por causa disso, o Senhor das Trevas o perseguia sem dó. Duvido que a esquerda tenha crucificado e matado a Jesus. Quem fez isso foram os ricos e poderosos a mando do Império Romano. Fazer uma marcha dessas é algo justo, mas de certa maneira não representa os ideais de muitos que dela participam. As pessoas hoje geralmente são violentas, injustas, ambiciosas, más, mentirosas, hipócritas e creem só no dinheiro e na riqueza. E tudo isso é coisa do Capiroto. Por isso, a “Marcha para o Satanás” também tinha que acontecer todos os anos. Seria algo até representativo. E quem tramaria um golpe de Estado: Jesus Cristo ou o Lúcifer?

            E quem tentaria tomar as terras dos povos originários? E quem deixaria esses mesmos povos, como os yanomamis, morrerem à mingua sem a mínima proteção do Poder Público? Jesus Cristo certamente não pregaria o ódio entre os irmãos e nem incentivaria a compra de armas pela população. Tremo só de pensar que o Altíssimo divulgasse mentiras e fake news. Óbvio que o unigênito de Deus jamais destruiria o meio ambiente em busca de ouro e de outros metais preciosos. O respeito à natureza seria uma de suas ações mais fortes. E nunca tentaria implantar uma monstruosa ditadura para governar o seu povo. O Nazareno é democrático, podem ter certeza disso. Nada de golpes de Estado, de censura, torturas e nem de perseguições e mortes a seus oponentes. Por isso, é fácil entender por que o Redentor pode não estar sendo representado nesta marcha. A hipocrisia criou uma coisa, mas segue outra. Os gays são representados na marcha deles?

 

 


*Foi Professor em Porto Velho.

domingo, 4 de junho de 2023

Porto Velho, capital de Roraima

Porto Velho, capital de Roraima

 

Professor Nazareno*

 

            Raríssimas pessoas no Brasil sabem que Porto Velho é a capital de Rondônia. Já a capital de Roraima é, claro, Boa Vista. São duas cidades do mesmo tamanho, sem nenhuma importância na realidade nacional ou mesmo regional e que contam hoje cada uma com pouco mais de 400 mil habitantes segundo as últimas contagens do IBGE. Ambas as cidades são como favelas imundas: feias, desarrumadas, sujas, fedorentas, sem água tratada, sem mobilidade urbana, sem esgoto, sem arborização e sem áreas de lazer. Estão atualmente, segundo o ITB, Instituto Trata Brasil, nas últimas colocações em qualidade de vida dentre as 27 capitais brasileiras. A confusão se faz, provavelmente, por que as duas capitais incorporaram ultimamente aos seus já pobres e miseráveis cidadãos, milhares de imigrantes venezuelanos que pedem esmolas em seus raros sinais de trânsito.

            Apesar de ter poucos moradores, as duas sinistras cidades têm na área da política algo muito estranho. São cidades dominadas pela extrema-direita reacionária, apesar da visível miséria e da pobreza extrema que se observam em suas imundas e sujas ruas e avenidas. Boa Vista eu não conheço, mas tenho a certeza de que a vista por lá também não é muito boa. Já Porto Velho é o meu reduto. Tenho a infelicidade suprema de morar nesta “filial do inferno” há mais de quarenta anos. E, via de regra, nestas quatro décadas nada mudou por aqui. Porto Velho, Boa Vista, Macapá e Rio Branco são lugares que não deviam sequer existir como cidades de tão sujas, feias e desorganizadas que são. Muito menos como capitais de Estados. São lugares ermos que mais se parecem com “currutelas fedidas” sem eira e nem beira. Mas são capitais e por isso devem ser entendidas como tal.

            Quase ninguém no restante do Brasil viaja para essas cidades. Os preços das passagens aéreas são os mais caros que há. Seus acanhados aeroportos mais se parecem com aqueles precários campos de pouso de meados do século passado. Recebem diariamente um ou dois voos regulares e só. Nenhuma dessas arriscadas aglomerações urbanas tem um só atrativo turístico que justifique a aventura de alguém se deslocar para cá. Nesse perdido submundo de atrasos e dificuldades até a hora local está mais atrasada em relação ao restante do país com exceção de Macapá no isolado e distante Amapá. Deve ser por isso que confundir Rondônia com Roraima deve ser a coisa mais normal do mundo para quem tem a sorte e o deleite de morar em lugares mais desenvolvidos e civilizados. Muitas cidades do mundo, há três ou quatro séculos, eram menos patógenas.

            Acre, Rondônia, Roraima e Amapá são tão distantes da realidade de um morador de São Paulo, Curitiba ou Porto Alegre, por exemplo, que mais se parecem com nomes daquelas províncias distantes do Nepal ou da Nigéria. Porto Velho, a capital de Roraima, nasceu a partir de um rio, o Madeira, mas já lhe deu as costas faz tempo. Até na sua principal avenida, a Sete de Setembro, os carros e as pessoas só saem em vez de chegarem. Antes era bem arborizada e tinha até mão dupla. Já a lendária praça da Estrada de Ferro Madeira Mamoré foi esquecida há tempos e o porto do Cai N’Água, que originou a cidade, é hoje um lugar podre, sujo, violento e insalubre, talvez em homenagem à cidade horrorosa que o rodeia. Os barcos de turismo foram abandonados e hoje pegam seus poucos visitantes no barranco íngreme e escorregadio que sobrou. Até as “andorinhas cagonas” nos abandonaram. Não parece, mas isso aqui já foi administrado pela esquerda.

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

quinta-feira, 1 de junho de 2023

Anseios patéticos da sociedade

Anseios patéticos da sociedade

 

Professor Nazareno*

 

            O Brasil está dividido politicamente. Metade da população é da direita e da extrema-direita. A outra metade é da esquerda e eleitora do PT, PSOL e de partidos socialistas. Os primeiros geralmente são anticomunistas, militaristas, conservadores ferrenhos e defensores de Deus, da família e da pátria. Podem até não serem mais da TFP, mas defendem com unhas e dentes o famoso tripé Tradição, Família e Propriedade. São evangélicos na sua maioria, porém há também muitos judeus, católicos e talvez até muçulmanos entre eles. Já os esquerdistas em sua maioria defendem o comunismo, a reforma agrária e os direitos humanos. Uns querem um Estado mínimo sem muitas interferências na vida do cidadão comum. Entendem que o trabalho é o principal caminho para o acúmulo de capital, enquanto os outros defendem um Estado grande e paternalista.

            Ambos os grupos lutam ou já lutaram desesperadamente para vencer na vida, ou seja, para ganhar dinheiro sem, no entanto, demonstrar muita preocupação como isto iria acontecer. Difícil não encontrar hoje um sujeito que não queira ver seu filho ser futuramente um médico, juiz ou funcionário público, já que muita gente ainda acredita, como na música “Ouro de Tolo” de Raul Seixas, que é um médico, padre ou policial que ainda contribuem para o nosso belo quadro social. Médico, juiz e mesmo alguns militares hoje no Brasil ganham dinheiro como ninguém. Salários astronômicos e totalmente distante da combalida realidade nacional. Fato este que num passado recente fez um candidato a presidente se eleger com o mote de “caçador de marajás”. Fila do osso, aceso a programas sociais e a outras esmolas oficias não fazem parte da “dolce vita” dessa gente.

            Morar em condomínio fechado, bem longe dos pobres, famintos e miseráveis, ter um bom plano de saúde para não ter que sofrer nas filas dos “açougues” da vida e colocar os filhos para estudar em escolas particulares livrando-se do péssimo sistema de Educação pública do país, são apostas das classes média e também de outros indivíduos que estão na fila dos privilegiados. Morar em casa própria e ter um carro novo também são prêmios bastante disputados pelos emergentes nacionais. Possuindo esse “patrimônio”, já se pode fazer doações para os moradores da vila Miséria, por exemplo, sem nenhuma dor de consciência. Não só para o lixão de Porto Velho, mas também para toda e qualquer favela espalhada pelas cidades do país. Assim, o Brasil da “Casa Grande & Senzala” se perpetua a olhos vistos para a felicidade geral de todos: pobres, ricos e também os de classe média.

            Assim, o objetivo maior de muita gente é vencer na vida ganhando rios de dinheiro sem se importar com a péssima qualidade de vida dos habitantes da nação como um todo. Somos um país muito rico, mas com pessoas muito pobres. A lorota de que se precisa trabalhar muito para vencer na vida, deixa muita gente escrava do dinheiro, da riqueza. É muito comum hoje ver algumas pessoas ao chegar à velhice se lamentando dos bons momentos que perderam por que estavam presas ao trabalho durante toda a vida útil que tiveram. Ser feliz devia ser o primeiro mandamento na vida de qualquer pessoa. Em muitos casos, a busca pela felicidade foi transformada na busca por dinheiro. O dinheiro, já faz tempo, virou Deus para muitos. “E da vida não se leva nada, somente a vida que se leva”. Todo patrimônio que se conseguiu juntar com tantos sacrifícios fica para a briga dos outros. Diga a um rico que viver bem é ele servir, dar, repartir, amar e compreender...

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.