As
consequências do frio
Professor
Nazareno*
Frio
extremo em Rondônia! Caminhamos a passos largos para o fim do mundo, é a crença
que se tem nestas terras tórridas. Lugar de baixas latitudes e por isso mesmo
muito quente e abafado, eis que a “terra dos destemidos pioneiros” se vê
de uma hora para outra sob a influência de uma forte massa de ar polar
continental. O fenômeno da friagem chega enfim às terras karipunas baixando as
temperaturas para algo em torno dos 23/25 graus. Há relatos de que em algumas
cidades do interior, como Vilhena e Guajará-Mirim, o “frio” neste
atípico verão foi mais intenso ainda. Acostumados aos quase 40 graus diários e
com direito a mormaço e muito suor, os rondonienses bateram o queixo. Ainda
assim, muitos desejam ardentemente que esta “friaca atemporal” se
transforme eternamente no clima típico dessas quentes paragens. “Devia ser sempre
assim”, afirmam.
O
problema é que esse pitoresco “clima de frio intenso” traz muitas
consequências para os rondonienses e porto-velhenses principalmente. Apesar de
não termos tantos mendigos perambulando pelas ruas como em algumas ricas e
abastadas cidades do sul do país, o festival de bizarrices por aqui é uma
constante. O mau cheiro de barata, mofo e naftalina dos agasalhos doados pelos
parentes sulistas toma conta das já sujas e imundas ruas da capital.
Desacostumados com a novidade climática, é comum ver algumas pessoas “desfilando”
com suas estranhas “roupas de inverno”, que usam no dia a dia somente
para dormir no frio de seu ar condicionado. Outra consequência desse frio é o
aumento no uso de lenha, carvão e gás de cozinha, não para aquecer os ambientes
da casa, mas para esquentar água para o banho diário, já que quase não há
chuveiros elétricos por aqui.
Só
que com a temperatura mais amena, Porto Velho fica muito mais fedorenta e
insalubre, pois a catinga das ruas e dos esgotos, que correm a céu aberto pela
cidade, não se dissipa tão facilmente. O bom é que os ratos, cobras e outros
animais peçonhentos não saem às ruas facilmente. Moscas varejeiras e urubus
também desaparecem das avenidas e latas de lixo espalhadas pelas calçadas
nestes dias de clima um pouco mais diferente. Fala-se que neste clima até os
políticos de Rondônia roubam menos. Quase não se fala em escândalos de desvios
de verba pública. Talvez seja porque a classe política acha que está na Europa,
no Japão ou mesmo em algum país mais desenvolvido e civilizado onde a
roubalheira é bem menor do que nestas terras inóspitas e incivilizadas. Neste
clima, a Praça Marechal Rondon, por exemplo, fica muito mais parecida com
a Fontana de Trevi.
Como
já disse: Porto Velho e Rondônia definitivamente não combinam com o tempo
gélido. Isso é temperatura para lugares ricos e bem desenvolvidos. Porém, vi algumas
emissoras de rádios da capital e também alguns supermercados fazendo a campanha
do agasalho como em alguns dos mais frios lugares do sul do país. Não é
incrível a sensibilidade dessa gente? Tomara que os termômetros subam logo. É
muito deprimente ver cidadãos usando roupas rotas, molambentas e folgadas que
não lhe cabem no corpo. Até para comer alguma coisa nestes dias lúgubres é
difícil. Farinha d’água com peixe frito, tacacá e banana frita deviam ser
sinônimos só de calor e de dias ensolarados e calorentos. Para beber algo é
outro tormento. Existe coisa mais bizarra e antiquada do que presenciar muitos
rondonienses bebendo vinho vagabundo daqueles vendidos em garrafas de plástico?
À espera da fumaça e da devastação ambiental, celebremos o “frio”.
*Foi Professor em Porto
Velho.
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