quarta-feira, 21 de junho de 2023

A imprensa que censura

A imprensa que censura

 

Professor Nazareno*

 

            Nenhum regime político que amordaça a imprensa é democrático. Democracia é sinônimo de imprensa livre. Se a mídia de um país não tiver a liberdade de publicar de forma responsável o que deve ser publicado, então é ditadura e ponto final. É cerceamento das liberdades. E toda democracia devia prezar pela liberdade total de seus cidadãos. Durante a Ditadura Militar no Brasil, entre 1964 e 1985, a imprensa esteve sob o tacão dos militares, que mantinham um censor dentro das redações das principais emissoras de rádio e de televisão e também dentro dos jornais e das revistas. Eram os “milicos” que decidiam o que o povo devia ler, assistir, ouvir. Músicas foram censuradas. Novelas foram proibidas de ir ao ar. Filmes inteiros foram desaprovados. Programas foram editados às pressas para agradar ao censor de plantão. Toda a arte estava subjugada a outras vontades.

            Jornalistas foram torturados e mortos, cantores foram perseguidos e exilados, dramaturgos foram calados à força, escritores censurados e colocados no ostracismo. A perseguição aos meios de comunicação foi uma constante durante aqueles terríveis anos de chumbo. Mas tudo isto, ainda bem, já faz parte de um passado que não deve mais ser repetido neste país. Mas será mesmo? A censura pode até não existir mais. Só que por ironia das ironias somente na área do poder público. A “mania” de censurar textos, artigos de opinião, reportagens dentre outras produções continua a todo vapor dentro de muitas redações. Alguns sites de notícias no interior de Santa Catarina, por exemplo, não permitem que se façam críticas aos prefeitos de algumas cidades lá. Muitos dos deputados estaduais também têm o privilégio de não serem criticados pela mídia. Tudo é censurado.

            Qualquer notícia de cunho negativo envolvendo o alcaide de uma dessas cidades catarinenses e também alguns dos parlamentares estaduais é censurada na hora e nem precisa ter censor indicado pelo governo como na época da ditadura. Parece até que os donos de muitos órgãos noticiosos aprenderam a lição de censurar com os “brucutus dos quartéis”, que mandavam e desmandavam na opinião dos outros. A situação é tão calamitosa hoje que a Folha de São Paulo e a rádio Jovem Pan criticam abertamente o governo Lula enquanto a rede Globo faz elogios rasgados ao atual presidente. Por alguns míseros trocados, a censura volta a incomodar de novo sem se levar em conta o verdadeiro papel da mídia. Pode-se imaginar o que acontece dentro dessas mesmas redações em anos eleitorais. A grana deve correr solta para que todos adulem os muitos políticos corruptos.

Julian Assange, jornalista australiano e dono do site Wikileaks, está preso até hoje em Londres por que denunciou países que bisbilhotavam outros países. Se for extraditado para os EUA, será condenado à morte. E ninguém move uma palha sequer para que ele seja libertado. Grande parte da mídia mundial está se lixando para o destino de Assange. A liberdade de expressão nesse caso para nada serve. No Brasil, tivemos o caso “Vaza-Jato”. Só que praticamente nenhum órgão da grande imprensa nacional noticiou nada sobre a farsa que foi a pseudo-operação que prendeu Lula em 2018 e abriu caminho para o fascismo do governo de Jair Bolsonaro. Se nas sociedades democráticas a informação e a opinião sofrem tais mutilações, imagine-se o que não se passa em países como Rússia, China, Cuba, Venezuela e Coreia do Norte. Devíamos ser livres para divulgar tudo e ao mesmo tempo assumir as responsabilidades pelo que publicamos. A Constituição diz isso.

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

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