A
imprensa que censura
Professor
Nazareno*
Nenhum
regime político que amordaça a imprensa é democrático. Democracia é sinônimo de
imprensa livre. Se a mídia de um país não tiver a liberdade de publicar de
forma responsável o que deve ser publicado, então é ditadura e ponto final. É
cerceamento das liberdades. E toda democracia devia prezar pela liberdade total
de seus cidadãos. Durante a Ditadura Militar no Brasil, entre 1964 e 1985, a
imprensa esteve sob o tacão dos militares, que mantinham um censor dentro das
redações das principais emissoras de rádio e de televisão e também dentro dos
jornais e das revistas. Eram os “milicos” que decidiam o que o povo
devia ler, assistir, ouvir. Músicas foram censuradas. Novelas foram proibidas
de ir ao ar. Filmes inteiros foram desaprovados. Programas foram editados às
pressas para agradar ao censor de plantão. Toda a arte estava subjugada a
outras vontades.
Jornalistas
foram torturados e mortos, cantores foram perseguidos e exilados, dramaturgos
foram calados à força, escritores censurados e colocados no ostracismo. A
perseguição aos meios de comunicação foi uma constante durante aqueles
terríveis anos de chumbo. Mas tudo isto, ainda bem, já faz parte de um passado
que não deve mais ser repetido neste país. Mas será mesmo? A censura pode até
não existir mais. Só que por ironia das ironias somente na área do poder
público. A “mania” de censurar textos, artigos de opinião, reportagens
dentre outras produções continua a todo vapor dentro de muitas redações. Alguns
sites de notícias no interior de Santa Catarina, por exemplo, não permitem que
se façam críticas aos prefeitos de algumas cidades lá. Muitos dos deputados
estaduais também têm o privilégio de não serem criticados pela mídia. Tudo é censurado.
Qualquer
notícia de cunho negativo envolvendo o alcaide de uma dessas cidades
catarinenses e também alguns dos parlamentares estaduais é censurada na hora e
nem precisa ter censor indicado pelo governo como na época da ditadura. Parece
até que os donos de muitos órgãos noticiosos aprenderam a lição de censurar com
os “brucutus dos quartéis”, que mandavam e desmandavam na opinião dos
outros. A situação é tão calamitosa hoje que a Folha de São Paulo e a rádio
Jovem Pan criticam abertamente o governo Lula enquanto a rede Globo faz elogios
rasgados ao atual presidente. Por alguns míseros trocados, a censura volta a
incomodar de novo sem se levar em conta o verdadeiro papel da mídia. Pode-se
imaginar o que acontece dentro dessas mesmas redações em anos eleitorais. A
grana deve correr solta para que todos adulem os muitos políticos corruptos.
Julian Assange,
jornalista australiano e dono do site Wikileaks, está preso até hoje em Londres
por que denunciou países que bisbilhotavam outros países. Se for extraditado
para os EUA, será condenado à morte. E ninguém move uma palha sequer para que
ele seja libertado. Grande parte da mídia mundial está se lixando para o
destino de Assange. A liberdade de expressão nesse caso para nada serve. No
Brasil, tivemos o caso “Vaza-Jato”. Só que praticamente nenhum órgão da
grande imprensa nacional noticiou nada sobre a farsa que foi a pseudo-operação
que prendeu Lula em 2018 e abriu caminho para o fascismo do governo de Jair
Bolsonaro. Se nas sociedades democráticas a informação e a opinião sofrem tais mutilações,
imagine-se o que não se passa em países como Rússia, China, Cuba, Venezuela e
Coreia do Norte. Devíamos ser livres para divulgar tudo e ao mesmo tempo
assumir as responsabilidades pelo que publicamos. A Constituição diz isso.
*Foi Professor em Porto Velho.
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