quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

Coronavírus em Rondônia

Coronavírus em Rondônia

Professor Nazareno*

            Até que enfim. Graças a Deus o terrível coronavírus chegou a Rondônia: sim, por que foi a hora de as autoridades daqui mostrarem ao mundo como enfrentar de forma competente a mais nova ameaça à humanidade. Uma família residente na zona leste desta capital, cansada da lama e das alagações, foi passar as férias de fim de ano na China e lamentavelmente trouxe para nós a terrível hecatombe. O governo do Estado colocou toda a sua infraestrutura para atender as pessoas contaminadas. Rondônia não é a China, mas aqui foram construídos dois enormes hospitais em apenas uma semana. Um, na parte leste da cidade e o outro nas proximidades do Porto Velho Shopping. Todas as pessoas com febre, tosse ou suspeitas de estarem com o terrível vírus foram levadas a um desses hospitais de referência. Só dependia da classe social de cada um.
            Equipes médicas do “açougue” João Paulo Segundo e do Hospital de Base se revezaram para dar conta de tanto trabalho. Todos eles muito atenciosos, competentes e dedicados. Cientistas e pesquisadores ligados à  Unir, a Universidade de Rondônia, e às universidades São Lucas, Uniron e FIMCA estiveram feito loucos na corrida para isolar o vírus e encontrar logo a cura para a doença. Nunca se viu em Rondônia um frenesi como esse. Nem no último verão, durante as apocalípticas queimadas da floresta, o governo mostrou tanta competência, rapidez e boa vontade para resolver um problema. Levas e mais levas de funcionários comissionados, “aqueles sujeitos que devem ser contratados em vez dos concursados”, se apresentaram espontaneamente para ajudar nos trabalhos. A mídia, antes omissa, esteve também ajudando em todas as tarefas.
            A classe política do Estado “entrou na jogada” e não mediu esforços para ajudar os seus eleitores infectados. Enquanto deputados e vereadores mandavam seus “assessores” distribuírem máscaras, muitos deles não paravam de fazer visitas aos internados. Essa síndrome do coronavírus mostrou ao Brasil como os políticos de Rondônia são importantes para um povo. Muitos inclusive abriram mão do seu auxílio-moradia em benefício dos mais carentes e necessitados. Rodeado de seus mais de 200 funcionários comissionados, um deputado estadual teria dito que daqui não sairia enquanto a questão não fosse resolvida e o vírus mortal totalmente debelado. “Morrerei aqui junto com o meu povo” teria dito o bom parlamentar. Isso é Rondônia, mano! Chineses, europeus, africanos e norte-americanos deveriam seguir este grande exemplo.
            Morrer contaminado por uma doença de nível internacional é o que muitos cidadãos de Rondônia querem hoje, infelizmente. “Chega! Já estamos cansados de morrer de malária, de infecção hospitalar, de ataques de lombrigas, dengue e até de fome”, é o que muitos diziam. “Queremos o coronavírus entre nós”, gritavam eufóricas muitas pessoas. Estranho e irônico, mas percebia-se certo ar de felicidade na maioria dos cidadãos contaminados. Via-se que depois da construção desses novos hospitais em tempo recorde e da empatia dos políticos com o seu povo, qualquer morte já seria uma dádiva. Até a antes odiada Energisa teria contribuído para sanar as dificuldades do povo sofrido do Estado. “” faltou energia na cidade oitenta vezes durante a epidemia. Uma coisa inédita, algo até inacreditável. Inédito também o trabalho da Polícia Civil, do Procon e IPEM. Nenhum erro na contagem dos mortos. A China não é aqui. Ainda bem.



*Foi Professor em Porto Velho.

domingo, 26 de janeiro de 2020

A sucata como História


A sucata como História


Professor Nazareno*

            A Estrada de Ferro Madeira Mamoré ou simplesmente “Ferrovia do Diabo” em Porto Velho, capital de Rondônia, foi uma daquelas obras que marcaram a história de toda a humanidade. Foi. No passado mesmo, pois a mesma deixou de existir já faz um bom tempo. O desrespeito aos seus construtores e à própria origem da capital dos rondonienses é algo jamais imaginado em qualquer sociedade minimamente civilizada. O cemitério de locomotivas, esquecido e apodrecendo a céu aberto, parte o coração de quem ainda tem coragem de caminhar entre as “tetânicas ferrugens” que lhe adornam. Rondônia perdeu a sua História para o descaso, para a irresponsabilidade. Hoje os pedaços que restaram da histórica ferrovia estão sendo vendidos como sucatas. O que restou de seus trilhos “defende” muitas casas. Seu outrora brilho internacional apagou.
            Os rondonienses não servem nem para defender suas origens” é a impressão que se tem. Diferentes de outros povos como os europeus, que hoje ganham fortunas mostrando a turistas e visitantes as suas grandiosas obras do passado. E um passado que algumas vezes ultrapassa os milhares de anos. A EFMM tem pouco mais de cem anos. E já está totalmente destruída e aniquilada. A enchente histórica de 2014 deu o tiro de misericórdia na velha ferrovia. Hoje a prefeitura de Porto Velho está “escavacando por lá” para fazer não se sabe ainda o quê. O PT gastou 11 milhões de reais na praça para que os desocupados continuassem cagando nela. Enquanto a China gasta uma semana para construir um enorme hospital devido à crise do coronavírus, os remendos e consertos na velha Madeira Mamoré demoram meses e até anos. Esperando as eleições?
            O que se percebe é que para o mundo, a abandonada ferrovia tem História e importância. Já para muitos rondonienses não passa de um lixo, de algo descartável. Toda festa ou comemoração que lá se faz, toneladas de dejetos são jogadas na grama. Guardadas as devidas proporções, é como se fosse as ruas de Porto Velho para a Banda do Vai Quem Quer: quantidades de lixo, monturo e sujeira é o presente que fica toda vez que o bloco desfila. Na EFMM a imundície e a carniça abundam como se aquilo fosse uma terra de ninguém. E se for a “mãe de Rondônia” como muitos dizem, teve o desprazer de ser estuprada silenciosamente por seus ingratos filhos. Se o diabo atentasse e eu fosse rondoniense teria vergonha de dizer que “aquilo” é um patrimônio histórico do lugar onde nasci. Tenho certeza de que qualquer povo, por mais rústico, se acanhava.
            Em 2020, Porto Velho terá eleições para prefeito e vereadores. Mas de 20 pré-candidatos estão na corrida. Não se sabe ainda o porquê de uma cidade tão abandonada, tão saqueada, tão desprezada, tão cheia de lama e alegações, tão problemática, ainda desperta o desejo de muitos para lhe administrar. Aqui só se veem problemas. A melhor época do ano nestas distantes terras são as férias de dezembro e janeiro quando “enxurradas” de porto-velhenses invadem as praias do Nordeste e os estados e cidades mais civilizadas e organizadas do Sul do Brasil para passar as férias e postar fotos nas redes sociais. Sempre disse que em Rondônia não tem cultura. Pelo menos uma cultura própria que fosse a marca peculiar de sua gente. E agora desconfio que também não tem História. A não ser que o “açougue” João Paulo Segundo, a ponte escura, as hidrelétricas, que elevaram a conta de energia, e a ferrugem da EFMM sejam tradição.




*Foi Professor em Porto Velho.

sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

O “açougue” e o coronavírus

                                                                        Foto: Emily Wang
O “açougue” e o coronavírus


Professor Nazareno*

            O ano 2020 iniciou com a ameaça global de um vírus extremamente letal. De novo, a espécie humana corre o risco iminente de ser dizimada. O coronavírus foi diagnosticado inicialmente na China, já matou dezenas de pessoas e se espalha no mundo numa velocidade espantosa atingindo vários países. A OMS, Organização Mundial da Saúde já pensou em decretar um alerta de epidemia global. Cientistas, pesquisadores, virologistas, epidemiologistas, infectologistas e outros “istas” estão em polvorosa e praticamente já correndo contra o tempo para chegar à vacina ou a outro remédio para debelar a perigosa ameaça. Mas se esta hecatombe chegasse a Rondônia, o assombro da humanidade poderia mudar. Calma! Um vírus tão renomado jamais viria para este fim de mundo isolado. E se vier, aqui temos o “açougue” João Paulo Segundo.
            Esse insólito hospital público de Porto Velho é tão importante que resiste há décadas sem que governante nenhum lhe substitua. Aqui se constroem fóruns de mármore, palácios de vidros, assembleias legislativas de cristal e muitos outros prédios suntuosos sem que sobre um só centavo para se construir um novo “açougue”. Sua importância é tanta que se algum político em início de carreira promete lhe substituir, vira logo pré-candidato a prefeito da “currutela fedida”. Além do mais, se esse insolente coronavírus aparecer por aqui será aniquilado na hora por outros vírus e bactérias muito mais resistentes. Os corredores do nosso mais importante “açougue” são depositários de espécies incríveis de agentes epidêmicos. E as ruas de Porto Velho também. O mundo científico precisa nos ver. Isso sem falar na competência das equipes médicas daqui.
            Foi no “açougue rondoniano”, que num caso inédito e curioso, amputaram uma paciente e assim a mesma não pôde mais assinar seu nome e com isso, perdeu a possiblidade de receber auxílios do INSS. Como não se orgulhar desse renomado hospital que, via de regra, vira manchete nacional? Além do mais, a própria cidade de Porto Velho, a pior dentre as capitais brasileiras para se viver e a última colocada em saneamento de água e esgotos, é também uma ameaça à rebelde enfermidade. Sujeira, carniça e imundícies espalhadas no meio das ruas sempre foram uma constante. Não é qualquer vírus que resistiria a esta suja capital. Ainda não entendi por que a comunidade científica internacional não se muda imediatamente para Porto Velho a fim de estudar as curas para esta ameaça global. O problema é saber se este vírus ataca também os ricos.
            Sim, por que no “açougue” de Porto Velho só os pobres e miseráveis é que morrem. É uma cruel realidade que as autoridades e as pessoas normais daqui nunca entenderam o porquê. Mas a capital de Rondônia deve ser um lugar maravilhoso, pois só neste ano de 2020 já tem uma penca de mais de 20 pré-candidatos a prefeito da cidade. E todos eles, claro, prometendo construir um novo “açougue”. E se forem espertos, todos eles vão também prometer beijar, amar, acariciar e cuidar da “maldita currutela”. Se já deu certo antes... O que custa tentar nas próximas eleições? Como visto, o coronavírus teria uma vida muito difícil em terras karipunas. Além do “açougue” temos também o Hospital de Base com qualidade e competência já reconhecidas no mundo inteiro. Isso sem falar nas muitas policlínicas espalhadas pela cidade e na medicina particular de Rondônia. Já estou com pena desse tal coronavírus!



*Foi Professor em Porto Velho.

terça-feira, 21 de janeiro de 2020

Muito obrigado, meninos!

Muito obrigado, meninos!


Professor Nazareno*

            Não sou mais professor. Profissão cativante e maravilhosa que me fez doar alma e coração por pelo menos 43 anos de minha vida. Em Rondônia foram 39 anos. Quatro décadas dedicadas ao Magistério e à arte de tentar ensinar e aprender com a molecada. E valeram a pena os anos dedicados às futuras gerações. Cansado, esgotado, um tanto pobre de dinheiro, mas não de espírito, saí em 2019 para a aposentadoria prometendo que tão cedo não voltava aos batentes escolares. Mas durou pouco a minha promessa. E o motivo é um tanto sublime: muitos dos alunos da Escola João Bento da Costa de Porto Velho “arrebentaram” nas notas da prova de Redação do Enem/2019. É tanta nota boa nas Redações que eu já estou arrependido de tê-los deixado “tão precocemente”. Um festival de competência e de notas altas virou rotina naquela excelente escola pública.
            Junto com outros colegas professores, ajudei a fundar em 2001, na Escola Professor João Bento de Porto Velho, o Projeto Terceirão na escola pública objetivando o ingresso de alunos “carentes” nas universidades públicas. Deu certo e de lá para cá, uma leva de muitos alunos foram mandados direto do JBC para as principais universidades particulares e públicas espalhadas pelo Brasil afora. Professores, médicos, engenheiros, advogados, psicólogos, arquitetos, enfermeiros, jornalistas ostentam hoje a “marca” JBC em seus valorosos currículos. E quando pensei que tudo já tinha terminado, eis que surgem com toda a garra e desenvoltura “os heroicos meninos de 2019” com suas excelentes notas em Redação para fazer inveja a qualquer escola particular, não só de Rondônia, mas do Brasil. “Cuidado com o meu coração, garotos!”.
            Porém, não foram somente os meninos do JBC a fazer bonito com essas suas notas fenomenais. A excelente Escola Major Guapindaia, dirigida e liderada por uma admirável equipe de professores, também deu conta do recado com notas muito boas. Fazer a assombrosa marca de 980 pontos em Redação foi “algo até simples” lá no Major. Assim como na gloriosa Escola Tiradentes de Porto Velho, a campeoníssima em notas boas no ENEM. É um festival de notas altas. Mesmo nas caríssimas escolas particulares de Porto Velho deve ter tido aluno com notas boas também. E isso é muito bom. Bom para os alunos, bom para a Educação, bom para Porto Velho, bom para Rondônia, bom para o Brasil. E crédito para quem merece: os próprios alunos. Lendo-se qualquer texto de 900 pontos percebe-se de imediato a leitura de mundo de quem o fez.
            A maioria das escolas públicas de Porto Velho e de Rondônia tem equipes de professores muito bem qualificadas e focadas sempre no ENEM. João Bento da Costa, Major Guapindaia, Tiradentes, dentre muitas outras, são escolas públicas, mas de ponta. “Não ficam devendo muita coisa às caras escolas particulares”. Pena que o Poder Público pague um salário tão miserável a esses profissionais. Pena que a sociedade brasileira como um todo insista, em pleno século XXI, em não valorizar a Educação e o saber. E todos os anos “os meninos do JBC” mostram que é possível mudar: eles estudam e fazem a diferença. Já pensou se no João Bento da Costa, e nestas outras escolas públicas também, a garotada tivesse aulas em período integral com pelo menos 250 dias letivos ao ano? Já pensou se em vez de fundo eleitoral e salário para político ladrão, esse dinheiro fosse levado para essas escolas? Sonhei. Mas obrigado, meninos!



*Foi Professor em Porto Velho.

domingo, 19 de janeiro de 2020

E o “Mito” não será nada...

E o “Mito” não será nada...

Professor Nazareno*

            Parafraseando a sentença “da besta” Joseph Goebbels, copiada acintosamente por um dos mais fieis seguidores do governo Bolsonaro, “a arte alemã da próxima década será heroica, ou então não será nada”, percebe-se que a mesma pode se aplicar ao senhor Jair Messias Bolsonaro e a todo o seu governo. Primeiro por que não haverá a próxima década para uma trupe imoral, retrógrada, espúria e fascista nestes ares de democracia que estamos respirando. Os longos quatro anos a que foi eleito lhe são uma porção muito grande de tempo. Uma eternidade até. O “Bozo” nunca foi nada mesmo e voltará o quanto antes para a sua notória insignificância de onde jamais deveria ter saído. Chega de tanta vergonha para nós. Ultimamente, a rotina no nosso país tem sido uma só: amanhece o dia, e já se espera qual a humilhação a que vamos ser submetidos.
            A não ser que toda essa pirotecnia absurda esteja sendo feita de caso pensado: cria-se o fato, convoca-se a mídia, divulga-se nas redes sociais e espalha-se o escândalo para encobrir outro pior ainda. Dessa vez, dizem que o caso de Roberto Alvim serviu para esconder a compra de votos do governo para aprovar a reforma da previdência. Outros já asseguram que foi para encobrir os recentes escândalos na Secretaria de Comunicação da Presidência da República cujo chefe, Fábio Wajngarten, está enrolado até o pescoço. Se for assim, trata-se de um governo medíocre. Muito pior do que os governos ladrões do PT e seus asseclas. O governo Bolsonaro pode até não ser fascista, mas na essência não tem demonstrado outra coisa. Seu ódio aos esquerdistas é muito pior do que a perseguição dos nazistas aos judeus e as outras minorias daquela época.
            O PT e as esquerdas fizeram mal ao Brasil? Sim. Fizeram muito mal. Mas devem ser combatidos no campo das ideias. Além do mais, perderam as últimas eleições. Logo, estão fora! Bolsonaro em seu “governo de mentirinha”, em seu “governo abjeto” a rigor nada fez de bom até agora pelo Brasil. Governa apenas preocupado com ideologias sem levar em conta os reais problemas do país que jurou consertar. Seus filhos, estranhamente afastados da mídia por enquanto, são muito piores do que os filhos do Lula. Só têm trazido problemas e vergonhas para a nação. Antidemocráticos e trogloditas como o pai e alguns assessores, já ameaçaram a ordem democrática da nação com a volta do AI-5 e outros desatinos. Contidos, se recolheram também a sua insignificância. O Brasil, como se vê, é muito maior do que tudo “isso”.
            O presidente do Brasil é uma das piores desgraças para a nação. Um vexame sem tamanho. O mundo civilizado já o leva a pagode por se tratar de uma excrescência. Uma recente postagem no Facebook dizia que ele “não lê, não estuda, não entende de música, não entende de arte, não tem curiosidade, não tem conhecimento, não fala línguas, não tem empatia, não tem modos, não tem educação, não tem respeito, não tem honra, não tem história, não tem caráter, não aceita a diversidade, não bebe bebidas alcoólicas, não sabe negociar, é maniqueísta e também não é tolerante. Nem cachorro ele tem”. Pior: dizem também nessas redes socais que ele deu dignidade aos ignorantes, elevou a autoestima dos idiotas, valorizou a estupidez, deu voz aos imbecis e cargos aos canalhas. Fascistas: o aprendiz de nazista Roberto Alvim já escancarou tudo: “era para SER sem parecer SER”. E quebrou o pacto bem antes: parece que neste covil todos são.



*Foi Professor em Porto Velho.

sexta-feira, 17 de janeiro de 2020

“Fora, nazistas toscos!”

Fora, nazistas toscos!

Professor Nazareno*

            Eu moro no Brasil, país de aproximadamente 215 milhões de habitantes. A esmagadora maioria sem leitura de mundo, sem instrução, sem conhecimentos, sem aceso a uma educação de qualidade e com pouquíssima visão da realidade. Muitos deles, analfabetos funcionais, mal compreendem o que conseguem, às duras penas, ler. A maioria não domina as quatro operações da matemática básica, não fala outro idioma além do dialeto do Português e não consegue se expressar de forma compreensível em Língua Portuguesa escrita. Mas muitos deles são eleitores e votam todos os anos que têm eleições. Por isso, não podem entender, por exemplo, o que foi o Nazismo, o Fascismo ou qualquer outro “ismo” da história da humanidade. Nunca ouviram falar do Holocausto, da Ditadura Militar, da Era Vargas ou de qualquer outro fato já conhecido.
E talvez por isso mesmo muitas autoridades desse atual “governo de tontos” estão passando dos limites com suas declarações monstruosas e absurdas como a do ex-secretário especial da cultura Roberto Alvim. Além de já ter sido sumariamente demitido, ele deveria ter sido preso por fazer apologia pública ao Nazismo. Só que no campo da ideologia, o governo Bolsonaro tem sido um desastre para o Brasil. Um governo que tem feito vergonha para todos nós no mundo inteiro. Mas isso não é de agora. Desde a campanha eleitoral, o “Bozo” tem-se destacado pelas declarações absurdas, monstruosas e toscas. E quase toda vez tem sido aplaudido efusivamente pelos seus semianalfabetos seguidores. O “Mito” foi homofóbico, misógino, racista, fascista, intolerante, preconceituoso e mesmo assim foi eleito com 57 milhões de votos.
Ou o “governo do descontrole verbal” e seus seguidores param imediatamente com estas declarações anômalas ou vai cair mais cedo do que se espera. O mundo dito civilizado não tolera mais nenhuma insensatez estúpida. Vivemos, pelo menos no Brasil de hoje, num mundo regido pela diversidade e não pelo maniqueísmo sem sentido. Um viés de esquerda não se pode combater com um viés de direita nem vice-versa. Penso aqui: como estão se sentindo agora muitos dos meus amigos professores de História que votaram nesta gente? Atacar ideologias, fazer acusações sem provas, disseminar o ódio e aprofundar ainda mais a divisão ideológica do país tem sido a tônica deste desgoverno que em vez disso, devia estar preocupado com os problemas mais graves do país. Os mais de 13 milhões de desempregados hoje querem comida e não ideologia para viver.
Jair Bolsonaro já elogiou um notório torturador, o coronel Brilhante Ustra, e foi ovacionado. Disse abertamente que a Ditadura Militar tinha que ter matado pelos menos umas 30 mil pessoas e recebeu efusivos aplausos e votos. Infelizmente quem aplaude essas coisas são ainda dois tipos de pessoas: os maus intencionados e os que, por absoluta ignorância, desconhecem o real perigo com o qual estão flertando. Infelizmente o pensamento de Roberto Alvim é o mesmo de muitos assessores que fazem parte deste governo que já foi acusado de ser um “governo de milicianos”. Depois do Nazismo, o mundo também não tolera as queimadas da Amazônia. E o governo do “Mito” incentiva as duas coisas. Viramos um vilão internacional. A impressão que se tem é que está faltando ainda muita gente deste “governo de destrambelhados” ainda ser demitida por causa de suas sandices. O Brasil agradece e o mundo respirará mais aliviado sem eles.



*Foi Professor em Porto Velho.

quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

O amor sem a libido

O amor sem a libido


Professor Nazareno*

            Libido é a vontade de fazer sexo, de transar. É a energia que quase todos os seres humanos têm como uma “diferente” forma de divertimento e também, às vezes, para dar prosseguimento à vida. Amor, muitos dizem que sabem o que é por isso não precisa definir. Sentimos amor por pessoas, por lugares, por coisas, por animais, por objetos. E este amor não tem que estar necessariamente ligado à libido. É o que devia acontecer com muitas pessoas que dizem “de peito aberto” amar o Brasil, amar Rondônia e até Porto Velho. Não amo nenhuma destas três coisas, muita gente sabe disto. Dentro do possível convivo com elas, pois não se escolhe o lugar onde se nasce e muitas vezes até o lugar onde se tem que viver. Os políticos do Brasil, quase todos eles, juram amá-lo incondicionalmente, mas no final das contas o que se percebe é só uma relação libidinal.
            Mas não somente os políticos e as autoridades em geral precisam amar incondicionalmente suas coisas, lugares e pessoas sem a libido, sem o desejo de querer levar vantagem em tudo. O povo também tem muita culpa de fazer tudo isso também. Estacionam seus carros em praças símbolos de suas cidades sem o menor acanhamento como no caso que aconteceu recentemente em Porto Velho. Joga lixo nas ruas normalmente, arranca gramas, flores e outros ornamentos feitos, às vezes, pelo poder público. A Banda do Vai Quem Quer é campeã em lixo, carniça e sujeiras em geral quando desfila todos os anos nas ruas da nossa surrada capital. Custa aos dirigentes da agremiação encabeçar campanhas civilizatórias entre os brincantes para amenizar o caos? Porém, muitos dizem amar a cidade e que é o Professor Nazareno que fala demais.
            Muitos dos vereadores de Porto Velho, por exemplo, recebem auxílio-moradia mesmo morando na cidade. Legal, mas não é imoral, não? Deputados federais de Rondônia que, mesmo tendo recursos, são campeões em usar verbas públicas para isso, verbas públicas para aquilo. Verbas do povo. Juízes e outras autoridades que recebem salários astronômicos sem se preocupar com a miséria reinante no país e que também muitos têm auxílio-moradia sem o menor pudor. Amo Porto Velho, mano! Amo Rondônia, mano! Mas quero ser vereador para me dar bem. Não abro mão dos meus privilégios. Quero ser prefeito para deixar a cidade sem transportes urbanos e os alunos da zona rural sem aulas. E o povão no “açougue” João Paulo Segundo. Tenho plano de saúde, pago bom condomínio e tenho segurança. “Os outros que se lasquem”, pensam.
            Amar um país, um Estado, uma cidade ou mesmo outra pessoa não é fazer o que muita dessa gente faz. Deve-se amar sem a libido, sem o desejo de “fud...” o outro. É ter empatia, é se colocar no lugar do necessitado e se propor a ajudá-lo sem querer receber algo em troca. É saber que um país que tem a oitava economia do planeta não pode ter a 86ª colocação no IDH mundial. Fome onde se produz alimentos. Muito alimento. Nos países mais desenvolvidos e civilizados do mundo essa consciência de justiça social é cada vez mais trabalhada entre as pessoas. Amar Rondônia e sua gente é cuidar já agora, durante o inverno na região, das medidas para combater as futuras queimadas que podem acontecer no próximo verão. E quem se preocupa com isso agora? Governantes fracos apenas refletem o desejo maior de seus governados. “Um fraco rei faz fraca a sua forte gente”. E sem o amor verdadeiro, tudo só vai piorar. Então, ame sem a libido!



*Foi Professor em Porto Velho.

segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

Marte: eu também iria


Marte: eu também iria

Professor Nazareno*

Não conheço a porto-velhense Sandra Maria Feliciano de 55 anos, professora, advogada e mulher de muita coragem e profissionalismo. Mas já admiro essa grande rondoniense pela sua bravura e determinação em querer dar uma grande contribuição à ciência e zarpar para Marte, o planeta vermelho, praticamente sem volta. A professora é uma das finalistas para participar de uma viagem interplanetária com destino ao nosso vizinho no Sistema Solar. E a viagem será só de ida. Com essa aventura inédita, a heroína rondoniense nunca mais voltará a Porto Velho e a Rondônia e de quebra também se livrará para sempre do Brasil, país chinfrim, afundado em roubos, corrupção, violência, desmatamentos, maracutaias políticas e governantes esdrúxulos. Não tive a coragem dela e o máximo que fiz foi sair só de Porto Velho para morar nas redondezas.
Sair para sempre de Porto Velho e de Rondônia é algo que sempre aguçou a imaginação cabocla. Neste último final de ano, por exemplo, levas e mais levas de rondonienses “montaram no porco” para passar o Réveillon nas praias do Nordeste e nas cidades mais civilizadas do sul do país. E alguns sortudos foram até a Europa. As redes sociais não cabiam de tantas fotos nas praias nordestinas. Poucos conseguem ficar tanto tempo aqui sem respirar civilidade e bons modos. O desejo de abandonar estas longes terras, subdesenvolvidas, incivilizadas e atrasadas já virou uma espécie de “panaceia milagreira” faz tempo. E a nobre professora fez diferente. E tudo em favor da ciência e do progresso da humanidade. Parabéns, mesmo! Mulher de garra, ela teve a coragem de fazer o que poucos teriam. Seu heroico exemplo se eternizará para sempre.
Se eu tivesse a bravura dela, viajaria imediatamente e me livraria de ver a Banda do Vai Quem Quer com suas toneladas de lixo nas ruas de Porto Velho em fevereiro próximo. “Não existe coisa mais patética em terras karipunas do que a produção e a sujeira em nome da cultura”. O carnaval de Porto Velho é uma ostentação à fedentina urbana e aos poucos princípios de civilidades e de limpeza. Não veria também a má administrada cidade de Porto Velho sem transportes urbanos e as crianças da zona rural do município sem ter que ir à escola por falta de transporte escolar. Não ver o “Flor do Maracujá” seria demais! Ignorar a falta de esgotos da pior cidade do Brasil é uma felicidade imensurável. Um êxtase quase inatingível!  E já pensou na alegria de “numa tacada só” livrar-se de todos os direitistas, bolsonaristas, esquerdistas e até dos petistas?
A brava professora com a sua aventura entrará para a história não só de Rondônia, mas também do Brasil e até do mundo. Um exemplo a ser seguido pelas próximas gerações, pois o último rondoniense de prestígio, Carlos Ghosn, não tem zelado muito pelo nome dos rondonienses. Mas o ideal mesmo seria que houvesse também algumas vagas para Lula e para Bolsonaro nesta viagem insólita. Para eles e para alguns de seus mais fervorosos defensores. Damares Alves, Abraham Weintraub, Fernando Haddad, Zé Dirceu... Eles iriam e nunca mais voltariam para o nosso pobre país, para o nosso pobre mundo. Já pensou se alguns candidatos a vereador e a prefeito de Porto Velho nas próximas eleições também conseguissem algumas vaguinhas para essa viagem? Quem sabe se algumas das nossas autoridades estaduais também não se aventurariam? Meu medo é que tudo dê certo e tentem fundar a “Colônia Brasil” por lá.
 


*Foi Professor em Porto Velho.

quinta-feira, 9 de janeiro de 2020

Infeliz ano novo a todos

Infeliz ano novo a todos

Professor Nazareno*

            Estão certas as pessoas que dizem que o brasileiro precisa ser estudado. Povo em sua maioria hipócrita, ignorante e sem noção do bom senso, ri de sua própria desgraça e infortúnio. E pior: se considera feliz e realizado. Em Rondônia também não é muito diferente. De um modo geral, os rondonienses são a cópia perfeita de seus conterrâneos de outros Estados do país. Vi muitas pessoas, durante as festas de fim de ano, sorrindo e desejando um feliz ano novo para seus amigos, conhecidos e familiares sem perceberem a besteira que estavam fazendo. Como pode um sujeito que nasceu em Rondônia, mora em Porto Velho, é “bolsomínion” e ainda por cima flamenguista, ter o mínimo de otimismo e bom senso? Para a alegria de muitos porto-velhenses, eu não moro mais aqui, não torço pelo Flamengo e jamais teria votado no Bolsonaro. Eu é que sou feliz.
            Mas não sou. Pois de onde estou morando, leio alguns comentários em meus textos e me divirto demais. Primeiro com os ataques sistemáticos à gramática normativa. Fato este que demonstra nitidamente tratar-se de semianalfabetos ou analfabetos funcionais. Depois me bate uma tristeza sem fim: percebo que cidadãos continuam lendo o Professor Nazareno como se não existissem autores consagrados, best-sellers, ganhadores do prêmio Nobel de Literatura, dentre muitos outros reconhecidos escritores. Ler o que escrevo demonstra bem o nível destas pessoas. E a compreensão dos fatos? Muitos ainda não saíram da Idade da Pedra e desconhecem coisas simples como censura, liberdade de expressão e democracia e ainda se metem a comentar sobre os assuntos que desconhecem. Iletrados, burros ou mal intencionados.
            Por isso, os textos que mais chamam a atenção são, claro, os que falam de futebol. O “Framengo” é o recordista de comentários esdrúxulos, tolos e patéticos desses leitores de araque. O “Mito” vem a seguir com a sua legião de seguidores e adoradores. Não percebem os infelizes que serão eternas massas de manobra desses mesmos políticos. Como pode, numa situação de caos social, de desastre ambiental, de fome, de desemprego e de miséria latente na sociedade, um cidadão sorrir e ainda por cima desejar um feliz ano novo para o outro? Deve ser coisa de brasileiro mesmo. E de rondoniense. Surreal: muitos estão preocupados se o “Mister” continuará como técnico do Flamengo ou se o “Bozo” vai mesmo se candidatar às eleições presidenciais em 2022. Sim, por que aqui dizem estar tudo definido: o Dr. Hildon Chaves será reeleito.
            A estupidez e a burrice alheias são risíveis, infelizmente. E por isso muitos desses cidadãos são seguidores do Olavo de Carvalho e de sua trupe. Sua visão de mundo muitas vezes se resume aos seus toscos sentimentos e emoções. O Flamengo é um bom time de futebol? No Brasil e na América do Sul atualmente é. Porém quando se compara às boas equipes da Europa, o desnível é colossal. Jogando contra o Liverpool, por exemplo, não tinha como não torcer pelo time inglês. O melhor futebol tem que prevalecer sempre. Já na questão política fico depressivo quando escrevem que eu sou petista ou de esquerda. É a mesma tristeza e infelicidade que um sujeito deveria sentir quando o chamam de direitista ou de “bolsomínion”. E ninguém devia gostar de ser chamado de ladrão ou fascista. Como desejar um feliz ano novo se as crianças da zona rural daqui continuarão sem aulas e a cidade ficará ainda mais suja, fedorenta e imunda?



*Foi Professor em Porto Velho.

quarta-feira, 8 de janeiro de 2020

Eu, prefeito de Porto Velho


Eu, prefeito de Porto Velho

Professor Nazareno*

Depois de muita luta comigo mesmo e com os meus familiares, resolvi que neste ano de 2020 entrarei na política e pretendo ser candidato a prefeito de Porto Velho, capital de Roraima. Ser um reles vereador não me interessa. Quero o cargo majoritário. E ganharia as eleições com muita folga, já que sou uma das pessoas mais benquistas daqui. Obter 200 mil votos é fichinha numa cidade que já demonstrou várias vezes ter uma grande empatia com a minha pessoa. E no Palácio Tancredo Neves, eu farei coisas que até o Satanás duvidará. Em primeiro lugar abriria mão do meu salário como alcaide. Mas não extinguiria a verba. A prefeitura nada economizaria: todo mês com a grana na minha conta eu a doaria a uma instituição e com isso conseguiria bem mais benefícios políticos. E como quase todos os eleitores são burros e idiotas pensarão que faço o bem.
Como prefeito de uma capital, eu não perderia a oportunidade de viajar todo mês para o exterior. Visitaria Paris, Barcelona, Viena, Nova Iorque, Berlim, Roma e toda e qualquer cidade civilizada do mundo só para ver como funcionam as coisas por lá e depois poder rir da cara dos otários eleitores porto-velhenses que votaram em mim, pois nada que fosse bom eu traria para este “fim de mundo sem eira nem beira”. Assim que assumisse o poder, mandaria demitir todos os funcionários concursados e contrataria somente comissionados. “Afinal de contas um comissionado pode ser demitido a qualquer instante e um concursado é para a vida toda”. Além do mais, com o pessoal que entrou por concurso é muito mais difícil se fazer as “rachadinhas”. Votem em mim, principalmente aqueles que não gostam muito de estudar para fazer concursos públicos.
Comigo todos os alunos da zona rural e das áreas ribeirinhas ficarão sem aulas para sempre. Dois anos sem estudar é muito pouco. Na questão ambiental vou inovar: arrancarei as poucas árvores frutíferas da cidade e vou mandar plantar só Louro Bosta. O inconfundível cheiro de merda a que já estamos acostumados aqui indicará o início do verão em toda a cidade. Isso se antes o fogaréu descontrolado não der fim ao que resta da floresta amazônica. Serei o prefeito do motosserra e da fumaça. Criarei até o “dia do fogo” em Porto Velho. Só não esperem que eu vá amar, beijar, abraçar, acariciar e lamber a imunda cidade onde serei prefeito. Não sou lombriga nem tampouco tapuru. E espero que durante a chuva de merda que todos esperam ansiosamente cair um dia por aqui, eu esteja viajando para as belíssimas cidades da Europa ou dos Estados Unidos.
Mas juro que não deixarei a pacata e charmosa vilazinha de Calama sem médico fixo. Aquele povo não merece essa tormenta todos os anos. Na minha gestão comprarei todos os vereadores. Não quero ter oposição no Legislativo Municipal. Distribuirei rios de dinheiro para todos eles. Afinal de contas só haverá comissionados na prefeitura e os gastos com a folha serão drasticamente reduzidos. Mandarei finalmente iluminar a ponte do rio Madeira. E uma “reluzente favela” nascerá do outro lado do rio. Mandarei subsidiar farinha de mandioca para toda a população da cidade. Carnaval será a minha obra principal para todas as pessoas de bom gosto. Premiarei a banda que produzir mais lixo na cidade. E já sei qual será a vencedora. “Se não fosse essa famosa banda, os garis estariam todos desempregados”. Por favor, votem em mim. Serei um prefeito inovador. Só tem um problema: se eu for mesmo eleito, desapareço daqui muito antes de assumir.



*Foi Professor em Porto Velho.

sábado, 4 de janeiro de 2020

E Rondônia deu certo...


E Rondônia deu certo...

Professor Nazareno*

            Sábado passado, dia 04 de janeiro de 2020, o jovem Estado de Rondônia comemorou seus 38 anos de instalação. Uma pena, pois neste tempo todo, a atrasada província ainda não conseguiu provar que as autoridades brasileiras da época estavam certas ao transformar o distante e atrasado território na 23ª unidade da Federação. “A mais nova estrela no azul da União” era o mantra dos políticos e militares que empurraram de goela abaixo dos brasileiros todos os prejuízos de sua fracassada empreitada. Rondônia só foi criada para dar uma folga no Congresso Nacional à ARENA, o partido de sustentação da Ditadura Militar. E a "tramoia política" deu certo: pelo menos mais três senadores e uma penca de novos deputados federais passaram a integrar o partido do governo dando-lhe então uma maioria um pouco mais folgada.
            O novo Estado já começou de forma errada: fora criado no dia 22 de dezembro de 1981, mas “manhosamente” só foi instalado no ano seguinte, 13 dias depois. “Para não atrapalhar as festas de fim de ano”, teriam dito algumas das autoridades da época. Resultado: dois feriados desnecessários para um mesmo e lamentável fato. Em todo este período, no entanto, Rondônia só deu prejuízos à nação. Prejuízos e também muita vergonha. Praticamente não há um ano em que escândalos de corrupção e desmandos não sejam rotina por aqui. Pior: todo final de ano as pessoas esvaziam as principais cidades do Estado para lotar as paradisíacas praias do Nordeste e outros destinos mais civilizados do Brasil. Passar férias por aqui só para os lisos e desprivilegiados. Rondônia ainda hoje não tem bons lugares que possam atrair qualquer tipo de turista.
            Além do mais, a criação do Estado provocou um dos maiores desastres ambientais de toda a história da humanidade. Partes do Cerrado e da Amazônia foram dizimadas sistematicamente em nome do “progresso” e do “desenvolvimento”. Fala-se que o primeiro governador do lugar, reconhecido por quase todos como um verdadeiro Deus, teria dito que as fumaças eram bem vindas, pois significavam progresso e expansão do agronegócio. Rondônia foi um equívoco histórico. Levas e mais levas de nordestinos desempregados e colonos expulsos de suas terras no sul do país vieram colonizar “aos trancos e barrancos” as “novas e promissoras” terras. Andando pelo interior do novo Estado o que se via eram colonos “jogados” na beira das estradas. “Todos eles com uma mulher, cinco ou seis filhos, um cachorro e um saco de panelas”.
            Começava a existir assim, da pior maneira possível, esse novo Estado, que passou a viver somente de ciclos. Ciclo do ouro, da cassiterita, ciclo agropecuário, das hidrelétricas, da estrada do Pacífico, ciclo disso e ciclo daquilo. E todos fracassaram retumbantemente. O governo passou a ser, como ainda é hoje, o maior empregador de pessoas. Aqui praticamente nada dá certo. Não tem indústrias, não tem turismo, boas escolas, nem hospitais decentes e o pouco que se produz é sempre à custa da natureza. O acanhado aeroporto de sua suja e imunda capital vive às moscas. É onde se têm as passagens mais caras do país. A velha rodoviária, que resiste até hoje, é um lugar infame e emporcalhado que retrata muito bem o caos. Todos os anos durante o verão a vergonha rondoniana se torna internacional: a fumaça das queimadas do que resta da floresta amazônica assombra o mundo e nos coloca como  vilões do aquecimento global.




*Foi Professor em Porto Velho.