quarta-feira, 25 de janeiro de 2023

Porto Velho será extinta

Porto Velho será extinta

 

Professor Nazareno*

 

            A capital de Roraima está encolhendo. Na última projeção do IBGE feita em 2021, Porto Velho, a imunda e fedorenta capital karipuna, tinha uma população de 548 mil habitantes. Havia, portanto, a expectativa de que, terminado o censo de 2022, a cidade chegasse a quase 600 mil moradores. Ledo engano, pois, se os atuais números divulgados pelo IBGE estiverem corretos, houve uma diminuição de quase 100 mil habitantes. Isso mesmo. Porto Velho tem agora algo em torno de 461 mil habitantes. Ora, se essa cifra populacional continuar decrescendo assim, em muito pouco tempo a imunda capital dos rondonienses não terá um único morador. A constante diminuição da população local é algo visto diariamente por quem quiser observar. Muitos dos funcionários públicos que se aposentaram, nascidos ou não aqui, já “montaram no porco” e caíram fora faz tempos.

            Poucas pessoas em sã consciência querem ficar morando nesta suja e inabitável cidade depois da aposentadoria. Eu mesmo conheço inúmeras famílias que se mudaram para as paradisíacas praias do Nordeste e até para a aprazível Serra Gaúcha e imediações. E alguns são aqueles rondonienses “da gema” que nasceram por aqui mesmo. Nas férias de final e ano o que se observa nas redes sociais são rondonienses e ex-rondonienses postando fotos à beira-mar. Porto Velho nunca teve qualidade de vida nenhuma. É a pior dentre as 27 capitais do Brasil em IDH. Agora, por exemplo, estamos no inverno, época das chuvas na região, e a cidade, que não tem esgotos nem saneamento básico, fica toda alagada com ratos, tapurus, fezes humanas e toda sorte de sujeira e imundície boiando pelas principais avenidas. No verão é a poeira que atormenta os pobres moradores daqui.

            Guardadas as devidas proporções, Porto Velho se parece com uma grande aldeia yanomami. Assim como o Estado inteiro, a cidade parece que não tem nem nunca teve uma administração que lhe dê o mínimo de urbanidade e de civilidade. Aqui praticamente não existe transporte coletivo e a rodoviária é um lixo só. Mas promessas de se construir um novo terminal rodoviário são constantes e antigas. Só que a obra nunca sai do papel. Nem rodoviária muito menos hospital de pronto socorro. E tanto o prefeito da capital quanto o governador do Estado são de fora. O primeiro é pernambucano e o segundo nasceu no interior do Rio de Janeiro. O bolsonarista governador coronel Marcos Rocha tem feito promessas de que “em breve” Porto Velho terá um bom hospital para atender às demandas. Felizes, os eleitores que o reelegeram creem que se livrarão do velho açougue.

            Por tudo isso, não é nenhuma novidade que Porto Velho poderá desaparecer para sempre do mapa. E parece que o processo já se iniciou, pois se a cada dois anos tiver 100 mil moradores a menos, não levará nem uma década para se transformar em uma humilde e pequena vila do tamanho de Calama, Nazaré ou São Carlos no baixo Madeira. Espertos, muitos de seus próprios filhos são os primeiros a se mandar para lugares melhores e bem mais civilizados para se viver. Infelizmente a lúgubre cidade não tem nada que atraia qualquer turista ou visitante de última hora. Tem uns viadutos imprestáveis, mal feitos e tortos que só servem para atrapalhar ainda mais o já caótico trânsito local. Tem também uma ponte escura que não liga nada a nada e que até agora só serviu para aumentar o número de suicídios na cidade. Eu particularmente ainda quero estar morando por aqui só para testemunhar o Armagedom porto-velhense. Espero que isso não demore tanto tempo!

 

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

terça-feira, 24 de janeiro de 2023

O Bolsonarismo é grotesco


 

O Bolsonarismo é grotesco


Pastor René Kivitz*


Nós não estamos discutindo Lula e Bolsonaro. Nós estamos discutindo modelo de sociedade. E o modelo de sociedade que o Bolsonarismo traz para mim ele não é compatível com a minha sensibilidade espiritual, cristã, humana, cidadã. Eu não posso admitir que um jornalista e um ambientalista sejam mortos na floresta e o presidente diga que a culpa é deles, o que eles foram fazer lá? Eu não posso admitir e achar que é normal um sujeito invadir uma festa de aniversário de uma família e assassinar o aniversariante na frente da sua esposa e de seus filhos. Eu não posso admitir que seja normal um irmão puxar um revólver dentro de um templo no meio de um culto e dar um tiro no outro e o culto continuar. Mas Ismael o quê que o presidente tem a ver com isso? Então eu não estou falando do Bolsonaro. Eu estou falando do bolsonarismo.

Estou falando de uma cultura. De uma mentalidade. Não posso admitir que alguém saia na rua com suástica e que alguém faça discurso nazista e que ache que isso é liberdade de expressão, direito de opinião. Eu não posso admitir um negócio desse. Então o sujeito que vem falar comigo: ah! E o PT? Ah! Para, faz favor. Não estamos discutindo corrupção. Nós estamos discutindo muito mais coisas aí. Pense o que teria acontecido se um preto no saguão do aeroporto disparasse acidentalmente uma arma de fogo. O ex-ministro da Educação, Milton Ribeiro, fez isso no saguão do aeroporto. E aconteceu o quê? Nada. E se fosse um homem preto? Pense o que seria desse Brasil o que teria acontecido no Brasil se ficasse comprovado que a família do presidente Lula comprou 51 imóveis em dinheiro vivo?

Se ficasse comprovado que os filhos do presidente Lula homenagearam milicianos e deram empregos para eles nos seus gabinetes? O que teria acontecido nesse país, como que a elite do poder político do Brasil teria tratado o presidente Lula se o vizinho, assassino, tivesse uma filha que namorasse com um de seus filhos? Então o que acontece com o Brasil é grotesco na minha opinião. Nós temos 3% da população do mundo e 11% das vítimas de Covid. De cada cinco brasileiros que morreram quatro mortes poderiam ter sido evitadas. Nós temos 700 mil pessoas que morreram com um presidente da República que fez motociatas, mas não foi visitar um hospital. Nós não estamos falando de corrupção, nós estamos falando de modelo de sociedade. E o modelo de sociedade no Brasil é de tal ordem que o Mandetta, que foi Ministro da Saúde, que propôs um protocolo alinhado com a OMS, a Organização Mundial da Saúde, teve que sair do governo e não foi eleito. Mas o Pazuello, o general subserviente ao chefe de Estado, o presidente Bolsonaro, que deu ordem para cancelar compras de vacinas, ele foi eleito.

Que Brasil é esse? Que Brasil é esse que o Ricardo Salles, que fez passar uma boiada no sentido de desmantelamento dos órgãos de controle das florestas, recebe mais votos do que a Marina Silva? Que Brasil é esse? Então, nós não estamos discutindo mais  corrupção. Falar em corrupção com orçamento secreto, que o presidente vai dizer que não é problema dele? Como não é problema dele? Um orçamento secreto que é um escândalo de corrupção muito maior do que foi o chamado Petrolão. Nós não estamos falando de corrupção. Nós estamos falando de modelo de civilização, de modelo de sociedade, né? Uma sociedade que quer manter-se estratificada. Eu insisto nisso já, infelizmente, faz tempo.

Nós temos um contingente significativo da nossa sociedade que quer manter a ordem social estabelecida. Homem vale mais do que mulher. Hetero vale mais que gay. Magro vale mais que gordo. Branco vale mais que preto. Rico vale mais que pobre. Europeu e americano valem mais que brasileiro, sul-americano e africano. É isto que está posto. Quando você tem um ministro da Economia que diz que o dólar está muito baixo e que agora a empregada doméstica quer ir para a Disney. Quando você tem um ministro da Educação que diz que a universidade não é para todo mundo. Quando você tem um ministro da Educação que diz que pobre tem que fazer curso técnico, nós estamos falando de modelo de sociedade e de civilização.

Quando você tem uma ministra da Mulher e dos Direitos Humanos que diz que menino veste azul e menina veste rosa nós não estamos falando de corrupção, nós estamos falando de modelo de civilização. Quando nós temos uma sociedade em que a religião que se torna hegemônica se julga no direito de depredar, destruir, incendiar terreiros de religiões de matriz afro, não estamos falando de corrupção. Quando nós temos um pais estruturalmente racista que ainda discute a legitimidade de cota racial, nós não estamos falando de corrupção. Nós estamos falando de modelo de sociedade. E eu lamento muito ser uma das vozes dentro da Igreja que vocaliza esse tipo de discurso porque dizem: Ah! então você é Lula. Você é... E o PT? Rapaz, faz favor! Não estamos discutindo corrupção.

P.S: Precisaríamos, então, discutir sobre o genocídio dos Yanomamis durante o governo de Bolsonaro ou também temos que nos calar diante da monstruosidade em terras indígenas ?

 

 

 

*Texto do Pastor René Kivitz, teólogo, conferencista e escritor em São Paulo. 

(Transcrição da entrevista do pastor feita por Professor Nazareno)

https://www.facebook.com/dinah.winchester.1/videos/601793765090647


sexta-feira, 20 de janeiro de 2023

Implante o comunismo, Lula!

Implante o comunismo, Lula!

 

Professor Nazareno*

 

            Lula, o PT e as esquerdas ganharam as últimas eleições presidenciais no Brasil. E até que se prove o contrário, foi de forma honesta, ordeira e pacífica. Durante os próximos quatro anos, portanto, vão governar o Brasil e todos os brasileiros. Acusado de ladrão por grande parte da direita e da extrema-direita, o ex-metalúrgico foi preso “injustamente”, mas saiu da prisão e desbancou nas urnas o candidato reacionário e conservador e a partir de agora é “quem vai dar as cartas” por aqui. Tivesse sido eu o eleito, começaria agora a implantar as mudanças de que o país precisa para se desenvolver e rumar, enfim, para o primeiro mundo. Lula deveria implantar imediatamente o comunismo ou o socialismo em nossa sociedade. Somos uma das nações mais ricas do mundo, mas temos pessoas que passam fome e vivem na miséria quase absoluta, apesar de produzirmos muitas riquezas.

Somos o segundo produtor de alimentos em todo o planeta e maior fornecedor de proteína animal para o exterior. Apesar de termos infinitas outras commodities, ainda há pelo menos 33 milhões de miseráveis em nosso meio. O governo do PT tem que acabar com esta vergonha. E para implantar o comunismo ou o socialismo não precisa “tomar de quem tem e dar a quem não tem” como muitos ingenuamente ainda acreditam. Basta para isso criar políticas macroeconômicas de distribuição das riquezas nacionais. Limitar os ganhos e os lucros exorbitantes das grandes empresas, por exemplo, já seria um bom começo. Óbvio que sempre de forma legal e dentro dos preceitos de uma verdadeira democracia. Lula deveria trabalhar em comum acordo com o Congresso Nacional, o STF, as Forças Armadas e a sociedade produtiva em geral. Todos irmanados pelo bem comum.

A criação de um salário mínimo decente de uns mil euros já seria um bom início. Aqui, paga-se pouco mais de 200 euros enquanto Portugal tem hoje um salário mínimo de quase 800 euros mensais. Lula deveria implantar um socialismo igual ao que se pratica nas principais nações da União Europeia como França, Itália, Espanha e Alemanha. Nada de exploração nem de salários aviltantes como os que temos hoje. Uma classe social não deve jamais trabalhar para enriquecer outra como vemos nesta periferia de capitalismo. A terra devia ter uma função social. Nada de latifúndios improdutivos nem de grandes empresas, bancos, indústrias, empresários, especuladores e banqueiros nadando em dinheiro enquanto a miséria e a fome campeiam. Eu mudaria até a cor da nossa bandeira. Nada de verde e amarelo apenas. Vermelha! Para combinar com o novo tipo de sociedade.

Fosse comigo, todas as Igrejas deveriam ser taxadas e pagariam impostos ao Estado. E de forma justa, quem ganha mais deve pagar mais. Nas escolas de todo o país seria implantado o sistema integral de ensino como é feito nas mais desenvolvidas nações do mundo. Paulo Freire e suas ideias progressistas e humanas seriam difundidos e todos os professores seriam mais valorizados. Assim como também seriam valorizados e reconhecidos muitos outros profissionais voltados à educação e à cultura. O respeito à democracia, aos preceitos da ciência e aos valores e direitos humanos tudo seria incentivado. Os povos originários e outras minorias nacionais teriam sua cultura e vida respeitadas. As Forças Armadas e as polícias estaduais, instituições de Estado e não de governos, garantiriam a nossa paz e a soberania. Sonho: Lula não vai fazer nada isso. Ele é como o Bolsonaro e os outros foram. Apenas uma marionete nas mãos da elite nacional.

 

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2023

... E o golpe fracassou!

... E o golpe fracassou!

 

Professor Nazareno*

 

            Eu tenho 64 anos. Nasci em agosto de 1958. Neste tempo de vida já presenciei pelo menos três golpes de estado no Brasil. O primeiro foi em 31 março de 1964. Eu era muito pequeno e me lembro de poucas coisas, mas sei que aquele deprimente espetáculo circense durou pelo menos 21 anos. Com medo do comunismo, a elite nacional aliou-se aos militares, depuseram João Goulart e instalaram uma feroz Ditadura Militar que exilou muitos brasileiros, proibiu eleições para presidente, cassou, matou e torturou quem lhe fez oposição. O segundo foi mais recente: em 17 de abril de 2016 quando o Congresso Nacional, por iniciativa do deputado Aécio Neves do PSDB, derrotado nas eleições presidenciais, aliou-se ao vice-presidente Michel Temer e ao Supremo Tribunal Federal e tiraram Dilma Rousseff do poder. Já o último golpe foi dado no dia 8 de janeiro de 2023.

            Por ser um golpe de estado contra uma democracia instalada a duras penas, todas essas agressões foram ridículas. O golpe de 64 foi o mais violento e cruel de todos, pois durou mais de duas décadas e assassinou muita gente. O de 2016 “virou pó” em apenas 6 anos e 8 meses com a posse de Lula para o seu terceiro mandato. Já o terceiro golpe foi o mais patético de todos. Foi abortado no seu nascedouro e mostrou ao mundo que a nossa democracia, embora seja jovem e frágil, resiste como uma fera em defesa de suas crias. Derrotado nas urnas nas últimas eleições para presidente, Jair Bolsonaro, o presidente da extrema-direita, que passou seus quatro anos de mandato fazendo ameaças claras à democracia, se refugia nos Estados Unidos dois dias antes da posse do novo governo. De lá, pode ter insuflado os seus fanáticos seguidores a derrubar Lula e o PT para ele assumir.

            Acampados pateticamente em frente aos quartéis de todo o país desde que perderam as eleições em 30 de outubro passado, muitos dos chamados “patriotários” encheram uma centena de ônibus e foram a Brasília “para tomar o poder, derrotar o comunismo e restaurar a liberdade”. Numa sombria tarde de domingo, dia 8 de janeiro, invadiram, ocuparam, depredaram e saquearam os prédios dos três poderes na vã esperança de que teriam apoio das Forças Armadas e do aparato policial nas suas intenções golpistas. O delírio dessa “meia dúzia de burros aloprados” foi tanto que muitos já imaginaram os tanques enferrujados e gotejando óleo dando apoio aos golpistas de mentirinha. Com o STF e o Congresso Nacional ocupados e fechados, o governo Lula renunciaria diante do caos e Bolsonaro voltaria triunfante dos EUA para assumir o poder.

            Mas nem a Polícia Militar nem o Exército, totalmente, caíram na lorota do golpe e a maioria dos vândalos terroristas e arruaceiros foi presa. Dependendo do país, muitos deles seriam sumariamente fuzilados sem sequer ter direito à defesa por atentar contra a democracia e tentar a abolição de forma violenta do estado democrático de direito. Caçados agora como ratos, muitos vão pagar pelo que destruíram e ainda amargar um bom tempo atrás das grades. A postura firme do governo Lula e do STF conseguiu salvar, por enquanto, a nossa democracia. Falta agora saber quem planejou, quem financiou, quem incentivou e quem se omitiu na fatídica invasão da Praça dos Três Poderes em Brasília. E cabeças já estão rolando pela estupidez de se tentar dar um golpe de estado sem perceber a conjuntura política internacional. Com gentinha assim na oposição, Lula pode fazer um péssimo governo. Todos devem se preparar para outras investidas fascistas.

 

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

sábado, 14 de janeiro de 2023

Delírios “patriotários”


 Delírios “patriotários


Professor Nazareno*

 

Eu sou evangélico e sempre confiei cegamente nas sábias palavras do meu pastor. Homem religioso, ele não mente nunca e sabe das coisas, pois é um leitor assíduo da Bíblia, a palavra de Deus. Apesar de ter estudado pouco em escolas tradicionais, já que só tem o primeiro grau completo, o meu pastor é um indivíduo sábio, intelectual e tem mais conhecimentos do que qualquer mestre, doutor ou pós-doutor. Defensor da família e dos bons costumes, ele nunca abandonou a trilogia “Deus, Pátria e Família”. Por isso na política sempre apoiou e apoia todo e qualquer candidato que também defende “aquilo que Deus determinou para os homens de fé”. Num culto realizado no final de outubro do ano passado, ele determinou que todos nós, homens movidos pela santa palavra, fôssemos para a frente dos quartéis de todo o país para fazer a vontade do Criador. E por lá ficamos.

E a vontade de Deus é que Jair Messias Bolsonaro, um homem santo sempre guiado pelos desígnios do Pai Eterno, jamais deixará de ser o nosso querido presidente. Foi o Senhor que mandou esse homem para governar o nosso país, não por apenas quatro anos, mas por toda a sua vida. Por isso o “Mito” de todos os brasileiros nunca abandonou o cargo maior da nação. Jair Bolsonaro ainda é o nosso líder e continuará a sê-lo por muito tempo. Lula não tomou posse nem subiu rampa nenhuma. É tudo fake news. É tudo mentira da mídia golpista. As pessoas gostam de se enganar. Como pode um sujeito como esse ex-metalúrgico ser presidente de uma nação cujo Deus é o Senhor? Lula é do Satanás e o seu falso governo jamais representará os homens tementes a Deus. Cansado de tanto trabalhar, Bolsonaro está nos Estados Unidos de férias e breve voltará para assumir tudo.

Esse tal de Lula é uma farsa. É um impostor. O próprio general Augusto Heleno já disse para o meu pastor que para o nosso “Mito” reassumir a presidência do Brasil é só uma questão de tempo. As Forças Armadas estão do nosso lado. Estão do lado de Deus. Todo mundo de bom senso e com bons conhecimentos nos apoia. Muitos militares, empresários do agronegócio, banqueiros, evangélicos, políticos e até alguns professores de História creem em nossas ideias. Por isso, devemos sempre cantar o hino nacional para pneus e fazer apelos seguidos para os extraterrestres nos ajudar. Dormir acampado em frente a um quartel passando algumas dificuldades, levando sol e chuva, é nada para quem crê em Deus, no pastor, nas Forças Armadas, numa sociedade livre do comunismo e quer a vitória final. Vamos ficar aqui o tempo que for preciso para chegarmos ao nosso paraíso.

E esse paraíso é Jair Bolsonaro continuar presidente do Brasil. Nossa bandeira jamais será vermelha! Negros, homossexuais, índios, quilombolas, pessoas pobres, umbandistas, comunistas e militantes da esquerda em geral jamais terão acesso ao poder numa nação séria como a nossa. Essa possibilidade não está escrita na Bíblia nem em nenhum outro lugar. O nosso “eterno presidente” vai voltar e vai mandar prender todos os ministros do STF que não concordarem com ele. Vai fechar o Congresso Nacional se os políticos não o apoiarem e vai também mandar para o exílio quem ousar lhe fazer oposição. Vamos fechar todas as rodovias do país. Vamos obstruir avenidas. As forças policiais estão com a gente também. Vamos tomar conta de Brasília e das principais cidades. Todos devem vestir verde e amarelo e plotar o nome do “ungido” no seu carro e em suas casas. “Mito” para sempre nosso presidente! Deus, pátria e família é nosso lema.

 


*Foi Professor em Porto Velho.


segunda-feira, 9 de janeiro de 2023

Brasília de pernas abertas

Brasília de pernas abertas

 

Professor Nazareno*

 

            Exatos dois anos e dois dias após a invasão do Capitólio em Washington nos Estados Unidos por apoiadores da extrema-direita do ex-presidente Donald Trump, Brasília revive as mesmas cenas lamentáveis quando uma horda de terroristas apoiadores do também ex-presidente do Brasil Jair Bolsonaro invade a capital federal e provoca o terror e o caos generalizados. Cerca de quatro mil manifestantes bolsonaristas “escoltados gentilmente” pela PM do Distrito Federal e ainda inconformados com a derrota nas urnas verificada nas últimas eleições em 30 de outubro tentam “na marra” impedir o governo de Luiz Inácio da Silva, o Lula, eleito democraticamente naquelas eleições. Os terroristas querem também reconduzir Jair Bolsonaro, o candidato derrotado, ao cargo de presidente do país. O “Mito” dessa gente fugiu para os Estados Unidos dias antes da posse de Lula.

            As lamentáveis cenas de vândalos ensandecidos invadindo os prédios dos três poderes na capital federal não foram nenhuma surpresa para ninguém. Há mais de uma semana que os extremistas estavam publicamente convocando manifestantes pelas redes sociais para “invadir” Brasília. Cerca de quarenta ônibus repletos de desordeiros saíram de várias partes do país rumo à capital federal. No sábado, dia 7 de janeiro de 2022, já estavam prontos para o ataque final. Na manhã de domingo, no entanto, começaram os ataques à democracia e ao estado democrático de direito. As cenas são absurdas, toscas e chocantes. O Congresso Nacional foi o primeiro a ser solenemente invadido sob o olhar complacente de apenas “uma meia dúzia” de policiais militares do Distrito Federal ali presentes. Depois foi a vez do Palácio do Planalto e a seguir invadiram o prédio do STF.

Multidões de bandidos travestidos de patriotas e portando bandeiras do Brasil e também vestindo as cores nacionais quebraram tudo e depois literalmente defecaram nestes lugares. Sob o olhar complacente de algumas autoridades locais como o governador do Distrito Federal e do secretário de segurança pública, os meliantes tocaram o terror no Planalto. Ibaneis Rocha, o governador, já devidamente afastado pelo Supremo por 90 dais, exonerou seu omisso secretário de segurança Anderson Torres. Aliás, tanto um quanto o outro são bolsonaristas de carteirinha só que o responsável por manter a ordem estava nos Estados Unidos talvez visitando seu ídolo maior, o Jair Bolsonaro, de quem fora Ministro da Justiça. O ex-presidente talvez seja o principal responsável por estas badernas e se comprovada a sua culpa deveria vir preso e algemado para nosso país.

Brasília, com pouquíssima reação ao episódio, ficou de pernas abertas e foi solenemente estuprada por estes facínoras travestidos de patriotas. Assim como o Brasil inteiro também sangrou “pelas beiradas”. Nossa frágil democracia não foi respeitada e mais uma vez o nome da nação, que já era sofrível, ficou ainda mais manchado no cenário internacional. Mesmo tardia, a reação do governo federal e das autoridades em geral foi pífia. Apenas foi decretada a intervenção na segurança pública do Distrito Federal quando deveria se pedir ao Congresso Nacional que interviesse totalmente naquela unidade da federação, mandasse apurar as responsabilidades, os financiadores, os negligentes, depois prender e punir na forma da lei todos os malfeitores responsáveis pela baderna. Toda democracia tem e deve ser respeitada. Por isso, todos os acampamentos desses “patriotários” devem ser desfeitos sob pena de multas e prisões dos golpistas acampados.

 

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

sábado, 7 de janeiro de 2023

Ainda respiramos tirania


Ainda respiramos tirania


Professor Nazareno*

 

Dizem que hoje não há escravos. Mas se houvesse, quantos de nós mesmos não apoiaríamos a escravidão naturalmente? Sim! Seguimos religiões sem nem conhecê-las, seguimos Bolsonaro e o bolsonarismo, desejamos a morte de seres humanos, queremos a volta da ditadura militar, apoiamos torturas, somos homofóbicos, somos intolerantes, somos preconceituosos, abominamos a política de direitos humanos, praticamos a corrupção, desdenhamos da democracia, criticamos a diversidade, apoiamos a mutilação de livros como aconteceu em Ariquemes, não buscamos a leitura de mundo, defendemos justiça com as próprias mãos, bradamos diariamente pela pena de morte, incentivamos a censura, reagimos contra as minorias, somos misóginos, acampamos em frente dos quartéis pedindo “na maior cara de pau” um golpe militar e a volta da ditadura e do caos.

Os negros de ontem são os homossexuais e muitas outras minorias de hoje. O mundo dito civilizado praticamente não evoluiu neste aspecto. No Brasil a situação parece que ficou pior ainda. Como explicar o fanatismo de tantas pessoas acampadas pelo Brasil afora debaixo de sol e de chuva pedindo a volta de um regime de exceção? Bom ou ruim, Lula foi eleito democraticamente e derrotou Jair Bolsonaro nas urnas. Por isso, segundo as regras da democracia, será pelos próximos quatro anos o presidente do Brasil e de todos os brasileiros. O próprio ex-presidente disse que “não mobilizou ninguém e que por isso não ia desmobilizar ninguém”. Dois dias antes da posse de Lula, Bolsonaro abandonou o Brasil e os seus eleitores e fugiu num avião da FAB para os Estados Unidos. Comenta-se que, pressionado pelos familiares, deve voltar às pressas ao Brasil para evitar a extradição. 

Se o próprio ídolo deles “já deu no pé”, talvez por não acreditar no que tanto pregava, o que justifica então pais de família, profissionais liberais, inúmeras pessoas ditas de bem se expor ao ridículo publicamente? Sem nenhuma pauta que justifique a sua inglória luta, muitas dessas pessoas apenas exteriorizam o seu real caráter e a sua maneira bruta de ser. Certos da vitória, participaram de uma eleição sem antes contestar nada. Como perderam (no voto), agora querem virar o jogo na marra e implantar outra ditadura militar tão cruel e até mais sanguinária quanto a que tivemos a partir de 1964. Sem discussões, querem impor um regime como o Nazista de Adolf Hitler. Sem nenhuma leitura de mundo, muitos desses “patriotários” querem a volta do tempo ao tentar instalar a Idade Média em pleno século XXI. Mudamos e essas conquistas não podem retroceder.

Como a nossa Constituição permite o direito de protestar, esses vândalos poderiam ter ficado acampados o tempo que quisessem, desde que não obstruíssem ruas, estradas e nem praticassem atos de terrorismo como aconteceu na invasão de Brasília. Mesmo com intenções golpistas, iam ficar muito tempo ainda à espera de uma virada de mesa na política, mas o “Xandão” já tirou todos de lá. O pior é que mesmo defendendo pautas anacrônicas e há muito tempo já ultrapassadas, Jair Bolsonaro teve espantosos 58 milhões de votos na última eleição. Só perdeu a contenda porque a oposição explorou de maneira fenomenal a sua desastrosa e criminosa atuação durante a pandemia da Covid-19. Seus rompantes antidemocráticos, seus preconceitos, sua homofobia, seu desprezo pelas minorias, sua maldade explícita ao bom senso e ao politicamente correto excitam os seus fãs, que veem nele a extensão do jeito de ser de cada um. Sem anistia, cadeia para todos!

 


*Foi Professor em Porto Velho.


quarta-feira, 4 de janeiro de 2023

Bolsonaro tem que ser punido

Bolsonaro tem que ser punido

 

Professor Nazareno*

 

            Mal começou um novo governo no Brasil em janeiro de 2023, e uma das perguntas mais frequentes é se o ex-presidente Jair Bolsonaro, que em um avião oficial do governo brasileiro fugiu para os Estados Unidos poucos dias antes da posse de Lula, merece ser punido pelas incontáveis barbaridades que falou e cometeu durante os quatro anos de seu mandato. Se for culpado, SIM! E não se trata de nenhuma caça às bruxas muito menos de perseguição a ninguém. É a aplicação pura e simples da lei. O Brasil infelizmente já tem tradição de não punir o seu passado, ao contrário de países vizinhos nossos. Foi assim durante a famigerada Ditadura Militar ocorrida entre 1964 e 1985. Torturas, cassações, assassinatos, perseguição a oposicionistas, ataques aos direitos humanos, dentre inúmeros outros crimes hediondos ficaram impunes. Todos precisam acertar contas com o passado.

            Isso pode até ser doloroso, mas é necessário. Assim, podem-se evitar crimes futuros. Bolsonaro foi muito cruel e desumano durante o seu mandato principalmente no tocante à pandemia da Covid-19, que até agora ceifou a vida de quase 700 mil brasileiros. Para alguns, essa macabra cifra pode ter alcançado mais de um milhão de vidas de nossos compatriotas. Na maior cara de pau e na frente de todo mundo, Bolsonaro negou a ciência, criou vários obstáculos para vacinar os brasileiros, incentivou aglomerações. Manaus no Amazonas talvez tenha sido a cidade que mais sofreu com a insanidade do desastrado e desbocado presidente do Brasil. Faltou oxigênio e as mortes por lá superaram todas as expectativas. Cidadãos pobres sendo enterrados em valas comuns são cenas que jamais sairão dos corações e mentes de muitos brasileiros. O “Bozo” foi insensível e monstruoso.

            Antes disso, durante o golpe que deram na Dilma Rousseff em 2016, o abjeto presidente fez apologias à tortura e enalteceu publicamente o coronel Brilhante Ustra, um notório torturador do regime militar. Bolsonaro cometeu um crime após o outro. Tudo isso tem que ser apurado com todo o rigor e criminalizado na forma da lei. Se for culpado, deve ser punido. E nada de anistia. Ele que trate de se defender de todas as acusações para escapar da prisão. O último ato dele na presidência foi repetir a falta de educação do Marechal Floriano Peixoto e do presidente-general João Figueiredo: como os outros dois militares do passado, ele não passou a faixa presidencial para o seu sucessor. Floriano esnobou o civil Prudente de Moraes e Figueiredo fez pouco caso de outro civil, o José Sarney em 1985. Além de cruel, Bolsonaro também foi incompetente e vil em seu cargo.

            O senhor ex-presidente Jair Messias Bolsonaro precisa ser investigado por tudo de ruim que fez para o Brasil e os brasileiros. Lula, o atual presidente, foi preso por quase dois anos na Operação Lava-Jato. Sérgio Cabral, ex-governador do Rio de Janeiro, também foi preso. Eduardo Cunha, ex-presidente da Câmara dos Deputados, passou um bom tempo na prisão, assim como o também ex-presidente golpista Michel Temer, que foi parar no xilindró. Todos eles acusados de serem corruptos. E por que Bolsonaro não pode ser preso também? O tirano pode até não ser corrupto, apesar dos quase 700 bilhões de reais do dinheiro público usados para garantir sua reeleição em 2022, mas a sua insistência em dar um golpe na nossa frágil democracia já seria um bom motivo para ir dormir na cadeia. Além do mais, o “miliciano genocida” criou várias crises institucionais e semeou o ódio em todo o país. Punido, serviria de exemplo. Ou seria reeleito em 2026.

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

domingo, 1 de janeiro de 2023

Não roube (muito), Lula!

Não roube (muito), Lula!

 

Professor Nazareno*

 

            Não há o que se discutir: Luiz Inácio Lula da Silva foi eleito em 2022, de forma transparente, pela terceira vez presidente do Brasil. Agora com mais de 60 milhões de votos no segundo turno. Ex-metalúrgico de São Paulo, mas com raízes nordestinas, Lula já governou o Brasil por duas vezes consecutivas. O primeiro mandato foi entre 2003 e 2006 e o segundo foi entre 2007 e 2010. E nas duas administrações, os escândalos de corrupção do seu governo se tornaram algo banal entre os brasileiros. O mensalão foi a marca maior do primeiro mandato, enquanto o petrolão “adornou” as manchetes diárias no segundo mandato. Os dois casos, no entanto, não atrapalharam em nada as pretensões políticas do primeiro governo de esquerda que o Brasil teve. Lula não só foi reeleito como também conseguiu eleger tranquilamente Dilma Rousseff em 2010 e reelegê-la em 2014.

            Apesar de não ser um principiante na administração do país, Lula aparece outra vez como uma nova esperança para muitos brasileiros. Ele teve o crédito de, dessa vez, derrotar o Fascismo bolsonarista e livrar o Brasil de uma longa noite que durou quatro anos de ataques à democracia, às instituições e ao bom senso. E mesmo tendo sido eleito com uma diferença muito pequena de votos, menos de dois por cento em relação ao seu adversário, o ex-metalúrgico vai precisar trabalhar de maneira bem diferente do que fez nos seus mandatos anteriores. Isso se não quiser a volta do obscurantismo, da devastação do meio ambiente e de tudo de ruim que o país passou no último governo. Se não fizer as coisas direito, em 2026 o Fascismo voltará com mais força ainda. Em primeiro lugar, Lula não devia roubar e “nem deixar roubar” nesse seu atual governo como já aconteceu antes.

            Depois, não pode falar em herança maldita. Afirmar que o governo anterior deixou o país em frangalhos, não cola mais. No Brasil, de um modo geral todos os governantes assim que assumem o poder, colocam logo culpas no seu antecessor. Ora, quando eram candidatos todos sabiam de cor e salteado como o país estava sendo governado. Portanto, já deviam estar preparados para resolver todos os problemas herdados. Assim, nada de desculpas esfarrapadas. Além do mais, Lula não roubando e nem deixando roubar um só centavo de dinheiro público, pode até sobrar alguns recursos, já que o Brasil é um dos países mais ricos do mundo. Investir em educação de qualidade, combater a desigualdade social, acabar com a fome, taxar as grandes fortunas, implantar o Socialismo e não fazer acordos espúrios com o Centrão nem com parlamentares ladrões já seria um bom começo.

            O novo governo deveria também acabar com o latifúndio improdutivo, o garimpo ilegal, a especulação financeira e as agressões à natureza. O Brasil precisa urgentemente deixar de ser um pária internacional e se inserir na nova ordem mundial. Os “patriotários” precisam também sair imediatamente da frente dos quartéis e começarem a fazer oposição séria e responsável ao novo governo. Aceitar a derrota é uma das principais características de toda democracia. Sendo bem vigiados, Lula, o PT e seus aliados não vão roubar (tanto) como fizeram anteriormente. O pior é que assim como o Bolsonaro, Lula pode ser apenas mais uma marionete nas mãos da elite nacional, que sempre ditou as regras do jogo. E certamente ele já o foi, pois os banqueiros, por exemplo, nunca ganharam tanto dinheiro dos brasileiros como nos governos petistas. E também o agronegócio, as empreiteiras, doleiros, especuladores. Se roubar, Lula devia roubar menos. Roubando muito seria pego.

 

 

 

*Foi Professor em Porto Velho*