Brasília
de pernas abertas
Professor
Nazareno*
Exatos
dois anos e dois dias após a invasão do Capitólio em Washington nos Estados
Unidos por apoiadores da extrema-direita do ex-presidente Donald Trump,
Brasília revive as mesmas cenas lamentáveis quando uma horda de terroristas
apoiadores do também ex-presidente do Brasil Jair Bolsonaro invade a capital
federal e provoca o terror e o caos generalizados. Cerca de quatro mil
manifestantes bolsonaristas “escoltados gentilmente” pela PM do Distrito
Federal e ainda inconformados com a derrota nas urnas verificada nas últimas
eleições em 30 de outubro tentam “na marra” impedir o governo de Luiz
Inácio da Silva, o Lula, eleito democraticamente naquelas eleições. Os
terroristas querem também reconduzir Jair Bolsonaro, o candidato derrotado, ao
cargo de presidente do país. O “Mito” dessa gente fugiu para os Estados
Unidos dias antes da posse de Lula.
As
lamentáveis cenas de vândalos ensandecidos invadindo os prédios dos três
poderes na capital federal não foram nenhuma surpresa para ninguém. Há mais de
uma semana que os extremistas estavam publicamente convocando manifestantes
pelas redes sociais para “invadir” Brasília. Cerca de quarenta ônibus
repletos de desordeiros saíram de várias partes do país rumo à capital federal.
No sábado, dia 7 de janeiro de 2022, já estavam prontos para o ataque final. Na
manhã de domingo, no entanto, começaram os ataques à democracia e ao estado
democrático de direito. As cenas são absurdas, toscas e chocantes. O Congresso
Nacional foi o primeiro a ser solenemente invadido sob o olhar complacente de
apenas “uma meia dúzia” de policiais militares do Distrito
Federal ali presentes. Depois foi a vez do Palácio do Planalto e a seguir
invadiram o prédio do STF.
Multidões de
bandidos travestidos de patriotas e portando bandeiras do Brasil e também
vestindo as cores nacionais quebraram tudo e depois literalmente defecaram
nestes lugares. Sob o olhar complacente de algumas autoridades locais como o
governador do Distrito Federal e do secretário de segurança pública, os
meliantes tocaram o terror no Planalto. Ibaneis Rocha, o governador, já
devidamente afastado pelo Supremo por 90 dais, exonerou seu omisso secretário
de segurança Anderson Torres. Aliás, tanto um quanto o outro são bolsonaristas de
carteirinha só que o responsável por manter a ordem estava nos Estados Unidos
talvez visitando seu ídolo maior, o Jair Bolsonaro, de quem fora Ministro da
Justiça. O ex-presidente talvez seja o principal responsável por estas badernas
e se comprovada a sua culpa deveria vir preso e algemado para nosso país.
Brasília, com
pouquíssima reação ao episódio, ficou de pernas abertas e foi solenemente
estuprada por estes facínoras travestidos de patriotas. Assim como o Brasil inteiro
também sangrou “pelas beiradas”. Nossa frágil democracia não foi
respeitada e mais uma vez o nome da nação, que já era sofrível, ficou ainda mais
manchado no cenário internacional. Mesmo tardia, a reação do governo federal e
das autoridades em geral foi pífia. Apenas foi decretada a intervenção na segurança
pública do Distrito Federal quando deveria se pedir ao Congresso Nacional que
interviesse totalmente naquela unidade da federação, mandasse apurar as
responsabilidades, os financiadores, os negligentes, depois prender e punir na
forma da lei todos os malfeitores responsáveis pela baderna. Toda democracia
tem e deve ser respeitada. Por isso, todos os acampamentos desses “patriotários”
devem ser desfeitos sob pena de multas e prisões dos golpistas acampados.
*Foi Professor em Porto
Velho.
Nenhum comentário:
Postar um comentário