terça-feira, 31 de agosto de 2021

A cronologia do golpe

A cronologia do golpe

 

Professor Nazareno*

 

            A democracia no Brasil ainda é muito jovem: tem exatos 36 anos e cinco meses. Começou com José Sarney em março de 1985 após o fim da cruel, assassina, melancólica, ultrapassada e violenta Ditadura Militar, que durou logos 21 anos em nosso país. Segundo o estadista Winston Churchill, “democracia é o pior dos regimes, exceto todos os outros”. Ou seja, ela continua sendo um regime aceitável, pois é o melhor dentre os piores. No Brasil, a partir da eleição de Jair Bolsonaro, a democracia corre risco iminente de levar fim, de se acabar. Aposentado como capitão, o militar de pouco conhecimento intelectual e muito ódio parece que foi eleito presidente do país com um único objetivo: destruir a democracia e as poucas conquistas democráticas que aconteceram nestas menos de quatro décadas de liberdade. Ele vai tentar dar um golpe!

            Eleito pela maioria da vontade soberana do povo brasileiro, o burro e malcriado capitão insinua que vai dar um golpe nele mesmo. Sem saber governar de fato o país que o elegeu, Bolsonaro diariamente compra brigas institucionais e ameaça “na cara limpa” que pode “agir fora das quatro linhas da democracia e da Constituição”. Por isso, o golpe do Bolsonaro no próprio Bolsonaro pode acontecer a qualquer momento. Incapaz de seguir as regras de uma democracia, o falastrão de garganta rasa pode colocar os “fumacentos” e obsoletos tanques de guerra nas ruas e comemorar a tomada do poder. Pode até ser neste sete de setembro ou em outra data festiva. De início, “um cabo e um soldado” cercarão o STF e prenderão todos os nove ministros dali. Kassio Marques seria poupado, pois já foi indicado para defender o tacanho e medíocre líder.

            A seguir, a ópera-bufa entusiasmada invadirá o Congresso Nacional e prenderá todos os parlamentares de oposição. O deputado ou senador que não obedecer será fuzilado sem maiores conversas. Algemados e humilhados, os ministros do STF saem presos para a Papuda. Talibã: a TV Globo, as revistas Veja, Carta Capital e Isto É serão fechadas. Os jornais Folha de São Paulo e o Estadão serão invadidos e todos os jornalistas vão ser presos em plena redação. Em Rondônia, os sites Tudorondonia e Rondoniadinamica serão tomados por bolsonaristas enfurecidos que nomearão um censor para controlar tudo o que será publicado. O Mito golpista” destituirá todos os 27 governadores do país e nomeará Marcos Rogério para assumir o governo em Rondônia. E Marcos Rocha será nomeado senador no lugar do novo governador local.

            A TV Record de Rondônia será escolhida como a porta-voz do “novo governo revolucionário” e divulgará todas as notícias e textos. As polícias militares dos Estados serão transformadas em Guarda Nacional Revolucionária, a GNR, e todos os seus integrantes receberão entre 200 e 300 por cento de aumento todo mês, além de moradia, supermercados e transportes gratuitos. Os jornalistas Vinicius Canova e Luciana Oliveira serão presos, indiciados, torturados e entregues às autoridades bolivianas. Escolas, teatros e universidades serão fechados e só funcionarão aqueles que estiverem mais afinados com o “Mito” e com o novo governo. A essa altura, o Professor Nazareno, sob o som das músicas de Sérgio Reis e Zezé de Camargo, frequentará o pau-de-arara e sessões de afogamento tantas vezes que, sorrindo, dará vivas ao novo governo. O DOI-CODI será restaurado e funcionará ali na antiga sede da TV Rondônia.

 

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

segunda-feira, 30 de agosto de 2021

Bolsonaro no supermercado

Bolsonaro no supermercado

 

Professor Nazareno*

 

      Tentando imitar a primeira ministra da Alemanha, Angela Merckel, o presidente do Brasil Jair Bolsonaro também foi ao supermercado fazer compras. Há umas duas semanas, o mandatário brasileiro teria sido visto em um minimercado da Asa Norte no Distrito Federal empurrando tranquilamente o seu carrinho de compras. Tal qual a chanceler alemã, Bolsonaro estava sozinho e sem nenhum segurança. Algumas pessoas o cumprimentavam somente para mostrar boa educação. Sem ser importunado, o “Mito” comprou de tudo e como todo bom brasileiro, reclamava dos preços e às vezes até fazia piadas com alguns produtos. Na fila do osso, por exemplo, ele afirmou que “nunca na História deste país os cidadãos pobres tiveram tanto acesso à proteína animal. E com mais de 230 milhões de cabeças de gado, ninguém passará fome”. Como em Rondônia!

       Quando um cidadão de classe média tentou puxar conversa com ele próximo à boca do caixa, o mesmo evitou falar e foi direto: “desculpe-me, meu bom senhor, mas estou um pouco apressado, pois tenho que dar expediente no Palácio do Planalto e por isso não se pode demorar muito”. O carrinho do nosso querido mandatário estava lotado. Tinha de tudo. Até gasolina ele havia comprado, pois levara vasilhame específico só para esse fim. “Não gosto de comprar combustíveis em postos de gasolina, pois lá estão bem mais caros”, admitiu o popular presidente do Brasil. Há uns três anos, quando o PT e as esquerdas governavam o país e a Petrobras estava sendo saqueada, era possível comprar combustível nas bombas até por 2,70 reais. Agora, depois que tudo foi devidamente consertado, qualquer cidadão enche seu tanque e ainda sai sorrindo e feliz.

      Sem usar máscara pelo simples motivo de que a pandemia do Coronavírus já está devidamente controlada em quase todas as partes do país e também por que “não é um item obrigatório”, Bolsonaro deu a entender que nenhuma ameaça pandêmica pode se instalar entre nós. “A PGR e outras instituições nacionais não deixariam isto acontecer”, acredita o presidente. “Nos últimos quatro anos, os preços baixaram em quase todas as mercadorias”, admitiu o sorridente líder dos brasileiros. Realmente, da gasolina, à energia elétrica e passando pelos produtos de primeira necessidade o que se observa é uma baixa generalizada em todos os setores. Por isso, a compra de fuzis e de outras armas em vez de se comprar feijão, carne, farinha, verduras ou arroz tem sido incentivada pelo Bolsonaro. Muitos de seus seguidores, orgulhosos, imitarão seu chefe.

         O “Grande Líder”, muito tranquilo, empurrou o seu carinho de compras até o estacionamento onde estava seu velho Pálio, ano/modelo 2016. No trajeto para casa, buzinava cumprimentando os vários eleitores que, sempre de moto, o reconheciam e faziam questão de acompanhar o presidente mais popular da história deste país. Perguntado por que gostava de fazer compras em estabelecimentos pequenos de Brasília, ele disse que evitava fazer a sua feira no STF ou no Congresso Nacional. “Esses supermercados não têm acompanhado ultimamente a política de preços do governo”, disse em tom de desabafo. Angela Merckel vai deixar o poder na Alemanha com popularidade superior aos 80%. Já o Bolsonaro, se sair do poder por aqui, ainda terá um Ibope bem superior a isso. O “Mito” fora do governo terá dificuldades de andar sozinho pelas ruas por causa dos fãs e seguidores. Devia morar num quartel das FFAA.

 

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

 

quinta-feira, 19 de agosto de 2021

Um Talibã nos trópicos

Um Talibã nos trópicos

 

Professor Nazareno*

 

            O temido e brutal regime dos talibãs volta a governar o Afeganistão a partir de 2021. E como sempre eles chegam ao poder pela força das armas. Criado, armado e treinado pelos Estados Unidos e pelos países ocidentais em 1979 para fazer frente à invasão de seu país por tropas da ex-União Soviética, o Mujahedin, nome antigo do Talibã, já governou aquele país com “mão de ferro” entre 1996 e 2001. Mas foi expulso do poder pelas potências ocidentais depois do onze de setembro nos Estados Unidos. Na época, usou a Sharia, versão antiga e ultrapassada do Islã, para impor perseguições e terror em toda a população afegã, principalmente as mulheres. Por incrível que pareça, o Brasil hoje é governado por um regime político muito semelhante ao Talibã. Pela via democrática e voto livre, o bolsonarismo chega ao poder e tenta impor a sua ideologia.

            Da mesma forma que o Talibã, Bolsonaro assume o cargo querendo mudar todos os costumes vigentes na sociedade. Para ele e seus radicais seguidores, a coletividade só tem que funcionar segundo as suas vontades. Nas escolas, por exemplo, os professores que usarem as ideias do pedagogo Paulo Freire são ameaçados de sofrer represálias. Bolsonaro e as milícias bolsonaristas se sentem muito incomodados com a democracia e com os três poderes. Por isso, criam crises institucionais intermináveis e tentam fechar o Supremo Tribunal Federal do país. Na campanha eleitoral que o elegeu, o slogan era bastante sugestivo: “Deus (ou Alá) acima de todos”.  O voto eletrônico recebe críticas e são semeadas dúvidas em todos sobre a lisura das urnas eletrônicas. Normal perseguir e aviltar mulheres desde quando o “Bozo” disse ter fracassado ao nascer sua única filha.

            Os integrantes do grupo radical afegão armaram às escondidas toda a população do país, sabotaram e atacaram a sua frágil democracia, pregaram o atraso, agrediram o Estado laico, inventaram mentiras, demonizaram a esquerda, açodaram o comunismo, perseguiram a mídia e mentiram descaradamente para atingir seus objetivos. No poder de novo, eles querem implementar vários retrocessos políticos e sociais no Afeganistão. Assim como o malcriado capitão quer fazer aqui no Brasil. Só que no país asiático não existe um STF nem um Congresso Nacional, que apesar de ser acusado de fisiologista, corrupto e retrógrado, não permitirá a volta ao obscurantismo. Espertos, os talibãs, que não têm um Gabinete do Ódio, já prometeram anistia geral a todos, principalmente às mulheres. Aqui, o “Bozo” e sua turma são bem piores, pois não dão tréguas a ninguém.

            Também contrários à vacina contra a Covid-19, os talibãs não usam máscaras nem álcool e já suspenderam a vacinação naquele país. Eles também não gostam da televisão, da música nem de cultura. Bolsonaro igualmente detesta a TV Globo e a imprensa. E música só se for de Sérgio Reis, Eduardo Costa, Zezé de Camargo ou então do grupo Ultraje a Rigor. Todos dizem que o Talibã afegane vai banir a arte em seu país. Tolice: o Bolsonaro e sua turma já fizeram isto por aqui desde que assumiram o poder. Estão dizendo também que os bolsomínions deviam se mudar para o Afeganistão em breve, pois lá o país está sendo governado por milicianos, não existe STF, não existem direitos humanos, não há democracia nem TSE, não existem parlamentos nem Congresso Nacional, não existem eleições e quando há, o voto é impresso sem urnas eletrônicas e a milícia escolhe os governantes. Quanto custa uma passagem para Cabul?

 

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

terça-feira, 17 de agosto de 2021

...E eis que não era Viena!

...E eis que não era Viena!

 

Professor Nazareno*

 

            Depois de umas doses de cachaça da pior qualidade que há, eis que andando pela Avenida Jorge Teixeira em Porto Velho, a podre e imunda capital dos rondonienses, logo me deparo com uma paisagem encantadora daquelas de tirar o fôlego. Vejo muitas flores cor-de-rosa e de outras tonalidades espalhadas pelo meio da rua. O tapete colorido deslumbra a quem passa por ali. Não contive as lágrimas e de imediato me lembrei de Viena, a apaixonante capital da Áustria, que por anos a fio foi considerada a melhor cidade do mundo para se viver. A capital do antigo Império austro-húngaro, com quase dois milhões de habitantes, é um deslumbre só. Seus jardins floridos, suas verdes e magníficas ruas cheias de flores dão a impressão de que realmente estamos em um paraíso de tanta beleza. O real Palácio de Schönbrunn com suas florestas é pura magia.

            Há dois anos, tive o raro privilégio de conhecer essa bela cidade e seus caminhos verdes e floridos. Schönbrunn é realmente de tirar o fôlego de qualquer um. A linha verde do metrô (U-4) tem duas paradas bem próximas a este paraíso. Limpeza, conforto e pontualidade são as características mais presentes que se veem nos transportes urbanos da capital austríaca. Mobilidade urbana e presteza aos cidadãos são uma constante. Em qualquer hora do dia ou da noite pode-se visitar o palácio e suas florestas, árvores e jardins sem medo de assalto ou de outra inconveniência. O inusitado e lindo lugar não tem nenhum igarapé por perto, mas tem várias fontes de águas potáveis onde os turistas matam a sede. O Café Gloriette, restaurante sofisticado situado numa colina nos fundos do palácio, oferece todo tipo de bebidas, lindas vistas e lanches a preços bem em conta.

            O cheiro das flores em Viena fascina com tantas fragrâncias e variedades. Já em Porto Velho não tem Café Gloriette nem Palácio com flores. Alguém teve a infeliz ideia de plantar alguns ipês-rosa em meio a esgotos podres e fedorentos. Não deu outra: misturou o belo ao imundo. Uma versão botânica e grotesca de “A bela e a fera”. Mesmo assim, o ambiente surreal magnetiza as pessoas daqui que nunca foram a Viena nem à outra encantadora e florida cidade da Europa. E mesmo com a cabeça cheia de álcool, no meio da poeira fétida e sob um sol desgraçado não há como não sentir o fedor do Igarapé dos Tanques, que insiste em margear aquele “jardim fora de espaço e de tempo” na capital karipuna. Enquanto em Viena bebe-se normalmente a água das fontes, em Porto Velho quem beber daquela água não passa cinco minutos vivo. É ácido puro!

            Esse mesmo igarapé imundo e sujo margeia o que chamam de rodoviária de Porto Velho. Suas águas pútridas, apodrecidas e pestilentas além da catinga transmitem doenças, fungos, bactérias e toda sorte de micróbios a quem tem o infeliz prazer de morar às suas margens. Porto Velho nunca será Viena. O prefeito e a SEMA não deixam, pois as raras árvores que há são arrancadas pela raiz como fizeram na Avenida Tiradentes. Diferente da capital austríaca, a fumaça das queimadas neste verão cinzento e quente dá o tom lúgubre à cidade. As flores dos coloridos ipês-rosa são bonitas de se ver, mas parecem que estão no lugar errado. Juro que, por estar bêbado, percebi Viena naquela linda e indescritível aquarela florida, mas quando olhei para o chão vi Porto Velho mesmo, com os seus esgotos fedidos, nojentos e a céu aberto. E a cachaça me fez sonhar ainda mais. Porém, tive medo de assalto e das doenças que podia pegar. Caí fora!

 

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

sábado, 14 de agosto de 2021

Unanimidade em Cu do Mundo

Unanimidade em Cu do Mundo

 

Professor Nazareno*

 

            Cu do Mundo é uma província atrasada e subdesenvolvida de certo país também atrasado, inculto e subdesenvolvido. O fato é que para os padrões provincianos, o sinal de progresso e prosperidade é defendido por grande parte de sua classe política. Só que tudo é mentira e embromação, como acontece com os políticos de grande parte do país. Se toda a unanimidade é burra como disse o poeta, em Cu do Mundo essa máxima tem a sua validade. O lugar é composto por pessoas também burras que geralmente elegem candidatos igualmente desprovidos de massa cinzenta. Para se ter uma ideia, todos os candidatos do lugar, nesta legislatura e em outras, foram eleitos com o voto eletrônico, mas só por medo, defenderam o voto impresso quando tiveram a chance de provar que são políticos inteligentes, modernos, capazes e compromissados com os avanços sociais.

            Fala-se que alguns deputados, que dizem ser representantes de Cu do Mundo, antes da votação na capital do país, foram interpelados e pressionados por uma tal “boiada reacionária” para que votassem pelo atraso e também pela volta à Idade Média e ao obscurantismo. Acredita-se também que neste lugar amaldiçoado quase todos os políticos são da direita e da extrema-direita. Porém, muitos deles se dizem progressistas e fingem pertencer a partidos reconhecidamente de esquerda somente para angariar votos, principalmente de universitários tolos e com pouco ou nenhum conhecimento da política e por isso, são enganados em todas as eleições. Durante as campanhas políticas, os discursos desses políticos “esquerdistas” são inflamados e enganam muitas pessoas. Cu do Mundo realmente parece ser um caso único na tosca e dantesca política do país.

Dizem as más línguas, e as boas também, que os tanques da última ópera-bufa na capital federal podem ter influenciado bastante os frágeis, pouco inteligentes, fisiologistas, interesseiros, coxinhas e reacionários deputados de Cu do Mundo a votarem na extrema-direita e no atraso. Os tanques e todo o aparato militar, apesar de já sucateados e obsoletos podem ter intimidado os políticos “cu-de-mundenses” a mostrar serviço, mesmo que seja um serviço porco. “Nosso lugar é um rincão simples, distante e atrasado e votar com o governo sempre garante mais verbas”, devem pensar alguns desses políticos já sabendo que “mais verbas é algo bom para todos”. Em Cu do Mundo nunca houve oposição nem esquerda. Nesse fim de mundo, comunistas acreditam em Deus e têm religião assim como pastores evangélicos militam em partidos de esquerda.

Perigo: fazer terrorismo psicológico contra os deputados e outros políticos que estão exercendo mandato pode ser daqui para frente uma prática política a ser adotada pelos eleitores “mais bovinos e idiotas” da localidade. Por isso, um importante analista político afirmou taxativamente: “os políticos não votam por convicção, é medo mesmo. Quem vota amedrontado não merecia representar o cidadão que desbravou estas terras inicialmente inóspitas. Parlamentar tem que ser corajoso para expressar as convicções e não as conveniências. Reflexão não fora de contexto: será que esses deputados de Cu do Mundo têm também a mentalidade golpista? Será que por dinheiro e poder mudam de ideologia assim como quem muda de roupa? Mas em Cu do Mundo as coisas só funcionam dessa maneira mesmo. Nada acontece com político filmado contando propina em saco de lixo nem com político que “toma” terras dos indígenas. Um paraíso!

 

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

quarta-feira, 11 de agosto de 2021

A derrota do arruaceiro

A derrota do arruaceiro

 

Professor Nazareno*

 

            Jair Bolsonaro, o presidente-arruaceiro do Brasil, foi derrotado mais uma vez. Pressionado por todos os lados e com a popularidade em baixa, dessa vez o “arremedo  de presidente” sofreu mais um revés. A PEC, Proposta de Emenda Constitucional, defendida por ele e que acabaria com as urnas eletrônicas e ressuscitaria o voto impresso nas eleições do próximo ano, foi sumariamente derrotada na Câmara dos Deputados. Tal emenda para ser aprovada precisaria de 308 votos. Recebeu “apenas” 229. Isso apesar de o aprendiz de ditador ter mobilizado obsoletos tanques de guerra e invejável aparato militar somente para intimidar os parlamentares que votavam. Despreparado e incompetente, o “Bozo” imitou o general Newton Cruz, que em abril de 1984 mobilizou pateticamente as Forças Armadas para barrar a emenda das Diretas Já!

Naquele momento, a emenda do deputado Dante de Oliveira foi derrotada, mas em seguida acordou o país inteiro numa cívica campanha pela realização de eleições diretas para presidente da República e praticamente decretou já no ano seguinte o fim da horrorosa e assassina aventura militar no país. Com a acachapante e humilhante derrota, o presidente embusteiro e sua “ditadurazinha de quase três anos” também já chegaram ao fim. O bolsonarismo está derrotado e superado. E para a alegria geral, prevaleceu a democracia. Diferente de 1984, quando éramos governados pelos militares golpistas. Bolsonaro está encurralado e sai de cena bem menor do que quando entrou prometendo “mundos e fundos”. Triste: atacou sem tréguas a democracia, criou crises institucionais, semeou o ódio, dividiu toda a sociedade e ainda manchou o nome do Brasil no exterior.

Acossado pela CPI da Pandemia, que mostrou ao mundo a incompetência de um governo que não soube enfrentar uma crise sanitária que já ceifou mais de 564 mil vidas por pura incompetência e amadorismo, o malcriado capitão devia agora baixar a cabeça com esta derrota, silenciar e entregar de uma vez o governo para quem sabe governar e gosta. Na verdade quem manda mesmo no Brasil neste momento é o Centrão, aquele grupo de deputados corruptos e fisiológicos antes criticados ferozmente pelo presidente Bolsonaro e aliados e a quem hoje vergonhosamente o “Mito” já se aliou. Derrotado, humilhado e sem comando nenhum mobilizou uma patética parada militar só para provocar e mostrar o que não tem: força política. Ficou mais fraco. Ou seja, fez um cortejo militar para que os militares lhe convidassem para assistir a outro cortejo militar.

Só que esta pauta do voto impresso votada pelo Congresso Nacional foi um absurdo, algo ridículo e totalmente sem propósito neste momento crítico que vivemos. Existem outras prioridades nacionais. O Brasil vive uma grave crise hídrica e energética e pode nos faltar energia em breve com possíveis apagões. Há incêndios na Amazônia e no Cerrado piorando a questão ambiental do planeta. O país sofre com o descontrole da pandemia do Coronavírus e não há vacinas para todos. A inflação e o desemprego só aumentam. A violência e a pobreza aceleram. Mas parece que o vil mandatário vive em outro planeta. Tanques de guerra desfilando em Brasília excitaram militares, alegraram Bolsonaro, causaram euforia em mentalidades golpistas e intimidaram a nossa frágil democracia. Mas a resposta veio de foguete e a soberania popular derrotou o aspirante a ditador. O arruaceiro só envergonhou o Brasil com este pífio desfile. Tchau, ditadores!

 

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

domingo, 8 de agosto de 2021

Brasil: outro fracasso olímpico?

Brasil: outro fracasso olímpico?

 

 

Professor Nazareno*

 

           

 

Terminaram os jogos olímpicos de Tóquio de 2021, adiados em um ano devido à pandemia de Coronavírus que assola a Humanidade. O Brasil teve a melhor participação no torneio quebrando pelo menos dois recordes: número de pódios com 21 medalhas conquistadas e melhor colocação de todos os tempos em olimpíadas ficando no décimo segundo lugar. Isso além de manter o recorde de sete medalhas de ouro obtido no Rio de Janeiro em 2016. Levando-se em conta o pouco ou quase nenhum investimento que se faz nos esportes em nosso país, os atletas daqui foram verdadeiros heróis lá no Japão. Ficamos atrás apenas das grandes potências olímpicas. Empatamos com o Canadá em medalhas douradas e ficamos a apenas três medalhas de países como Alemanha, França, Itália e Holanda. Por pouco não entramos no rol das grandes potências olímpicas atuais.

E como pode um país como o Brasil, que nunca investiu o necessário nem na Educação de seu povo, despontar quase como uma potência olímpica? Como pode atletas que treinam surfe em tampas de isopor, skatistas que não têm nenhum patrocínio e nadadores que nadam em açudes sem nenhuma estrutura desbancar competidores dos países de ponta que ganham fortunas e têm toda a infraestrutura para competir? Os países campeões em medalhas como EUA, China, Alemanha, Austrália, Japão e Rússia, por exemplo, investem muito em seus atletas, reconhecendo seus talentos desde cedo e "adotando" esses jovens dando-lhes dinheiro, bolsas de estudo, estrutura, equipamentos e assistência. Já o governo Bolsonaro cortou praticamente todos os investimentos feitos nos esportes nos últimos anos. Mas qual foi o governo do Brasil que investiu nesta área?

Em nosso país, a família do Arthur Zanetti vendia bolo na frente do estádio para custear as viagens dele nas competições. Nos anos 2000, uma equipe inteira de ginástica do Flamengo sofreu um sério acidente automobilístico na estrada. Viajavam do Rio a Curitiba de ônibus, pois não tinham dinheiro para ir de avião. “Muitas famílias brasileiras vendem tudo o que têm para sustentar o sonho dos filhos que não conseguem patrocínios ou que perdem o apoio financeiro de empresas, que optam por colocar seu dinheiro e apoio em outros segmentos da indústria cultural ou simplesmente preferem pagar fortunas para que as celebridades promovam seus produtos”. Nossas escolas, principalmente as públicas, não formam nenhum atleta para competir sequer a nível local. Aqui, o poder público estimula só o fracasso e a derrota.

Um país de amadores não pode querer ganhar medalhas de atletas profissionais. Por isso, as 21 medalhas conquistadas com muito suor, esforço e sacrifício pelos nossos atletas nas Olimpíadas do Japão, e também em muitos outros jogos internacionais, não deviam ter nem a bandeira do Brasil nem o Hino Nacional. Uma nação cujos habitantes praticamente só pensam no futebol só devia competir nesta modalidade. Deve ser por isso que se gastam horas a fio discutindo se foi gol, falta ou pênalti em vez de se apoiar também as outras modalidades esportivas e buscar sempre todas as medalhas possíveis. Investindo no esporte, tiram-se as nossas crianças das ruas, das drogas, da fome, da miséria, do tráfico, da milícia e da violência. Toda a sociedade ganha com a vitória dos seus atletas. A mídia devia apoiar dando chance a todos em comerciais. O Governo, o comércio, a indústria, todos deviam ajudar. Aplaudir só depois da vitória é muito fácil.

 

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

terça-feira, 3 de agosto de 2021

Saudades da minha terra

Saudades da minha terra

 

Professor Nazareno*

 

            A minha terra é um lugar muito bom, embora nela não tenha palmeiras nem sabiá para cantar. É uma terra abençoada, cheia de riquezas, sem poluição e muita limpeza pelas suas pequenas ruas de chão batido. Nessa minha terra não há políticos ladrões e também não existe Assembleia Legislativa nem Câmara de Vereadores. Há muito tempo que nessa minha boa morada não tem prefeito nem governador daqueles mentirosos que prometem vacinas inexistentes para erradicar pandemias. Por isso, que tenho bons sentimentos telúricos. Neste lugar mais que abençoado também não existem “hospitais-açougues” só com gente pobre esparramada pelo chão dos corredores. A felicidade estampa a cara dos seus pobres, pois em nenhum outro recanto civilizado do mundo erguem-se hospitais de pronto-socorro por cinco vezes mais o preço de um só.

            O meu torrão natal é incrível. Nele não há pontes escuras e desnecessárias que só servem para incentivar o suicídio. Bela terra, mas que não se produz energia boa e barata apenas para beneficiar os outros que são de fora. Por causa dessa proeza, a conta de energia elétrica para os consumidores dessa minha terrinha bonita é quase de graça. Políticos e autoridades melhores que os de minha morada não há. Aeroporto caindo aos pedaços, mas com fama e status de internacional não existe. Voos mais caros é coisa do passado. Rodoviária com banheiros cheirosos, limpos e asseados é um privilégio para poucos. Igarapé com águas cristalinas e potáveis dá o toque perfeito para a parada dos ônibus interestaduais e também locais. Nada de Zona Leste ou Zona Sul. Condomínios residenciais de luxo, mas sem luxo algum, não são dominados pelas facções criminosas.

            Turismo para nada ver ou visitar já até virou febre em minha morada. Portais sem sacos de lixo em cima e que custaram uma fortuna dos pobres contribuintes foram colocados somente para adornar entrada e saída assim como saída e entrada daquilo que muitos tolos e idiotas ainda chamam de capital. Curva de rio, currutela maldita e fedida, cidadela sem eira nem beira, produtora só de mão de obra quase escrava de tão barata e explorada agora é coisa do passado. Mas um passado recente, muito recente. Reduto do bolsonarismo mais radical, nela condena-se o roubo, mas estranhamente vota-se sempre em políticos ladrões. Violência, trânsito caótico, desorganização, lixo, carniça, monturo e falta de mobilidade urbana lhe adornam uma paisagem bem amazônica, mas sem arborização. Fosse ela uma mulher, muitos seriam enquadrados na lei Maria da Penha.

            O seu Espaço Alternativo para caminhadas, mas sem nenhum banheiro e cheio de lixo jogado pelo chão pelos muitos frequentadores até se parece com um recanto sombrio para “curupiras desocupadas” apreciarem uma espécie de montanha-russa do atraso. A minha cidade não sonha jamais em se ligar a nenhuma outra metrópole do país por meio de estradas que destroem florestas. Sua marca maior é a falta de qualidade de vida, de lazer, de esgoto, de água potável e também de adoração a uma pandemia mortal que já ceifou 2488 vidas só na cidade, mas tem uma vacinação que anda a passo de jabuti aleijado. Sem vacinação, as aulas presenciais voltarão à cidade somente para se verificar quantos professores vão morrer infectados pelo vírus assassino. Muitos moradores desse meu amado torrão acreditam que progresso e felicidade só voltarão a reinar por aqui quando finalmente reinventarem o voto impresso. Where are you from?

 

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.