Saudades da
minha terra
Professor
Nazareno*
A minha terra é
um lugar muito bom, embora nela não tenha palmeiras nem sabiá para cantar. É
uma terra abençoada, cheia de riquezas, sem poluição e muita limpeza pelas suas
pequenas ruas de chão batido. Nessa minha terra não há políticos ladrões e
também não existe Assembleia Legislativa nem Câmara de Vereadores. Há muito
tempo que nessa minha boa morada não tem prefeito nem governador daqueles mentirosos
que prometem vacinas inexistentes para erradicar pandemias. Por isso, que tenho
bons sentimentos telúricos. Neste lugar mais que abençoado também não existem “hospitais-açougues” só com gente pobre
esparramada pelo chão dos corredores. A felicidade estampa a cara dos seus pobres,
pois em nenhum outro recanto civilizado do mundo erguem-se hospitais de
pronto-socorro por cinco vezes mais o preço de um só.
O meu torrão natal é incrível. Nele
não há pontes escuras e desnecessárias que só servem para incentivar o suicídio.
Bela terra, mas que não se produz energia boa e barata apenas para beneficiar
os outros que são de fora. Por causa dessa proeza, a conta de energia elétrica
para os consumidores dessa minha terrinha bonita é quase de graça. Políticos e
autoridades melhores que os de minha morada não há. Aeroporto caindo aos
pedaços, mas com fama e status de internacional não existe. Voos mais caros é
coisa do passado. Rodoviária com banheiros cheirosos, limpos e asseados é um
privilégio para poucos. Igarapé com águas cristalinas e potáveis dá o toque
perfeito para a parada dos ônibus interestaduais e também locais. Nada de Zona
Leste ou Zona Sul. Condomínios residenciais de luxo, mas sem luxo algum, não
são dominados pelas facções criminosas.
Turismo para nada ver ou visitar já
até virou febre em minha morada. Portais sem sacos de lixo em cima e que
custaram uma fortuna dos pobres contribuintes foram colocados somente para
adornar entrada e saída assim como saída e entrada daquilo que muitos tolos e
idiotas ainda chamam de capital. Curva de rio, currutela maldita e fedida,
cidadela sem eira nem beira, produtora só de mão de obra quase escrava de tão
barata e explorada agora é coisa do passado. Mas um passado recente, muito
recente. Reduto do bolsonarismo mais radical, nela condena-se o roubo, mas
estranhamente vota-se sempre em políticos ladrões. Violência, trânsito caótico,
desorganização, lixo, carniça, monturo e falta de mobilidade urbana lhe adornam
uma paisagem bem amazônica, mas sem arborização. Fosse ela uma mulher, muitos seriam
enquadrados na lei Maria da Penha.
O seu Espaço Alternativo para
caminhadas, mas sem nenhum banheiro e cheio de lixo jogado pelo chão pelos muitos
frequentadores até se parece com um recanto sombrio para “curupiras desocupadas” apreciarem uma espécie de montanha-russa do
atraso. A minha cidade não sonha jamais em se ligar a nenhuma outra metrópole do
país por meio de estradas que destroem florestas. Sua marca maior é a falta de
qualidade de vida, de lazer, de esgoto, de água potável e também de adoração a
uma pandemia mortal que já ceifou 2488 vidas só na cidade, mas tem uma
vacinação que anda a passo de jabuti aleijado. Sem vacinação, as aulas
presenciais voltarão à cidade somente para se verificar quantos professores vão
morrer infectados pelo vírus assassino. Muitos moradores desse meu amado torrão
acreditam que progresso e felicidade só voltarão a reinar por aqui quando
finalmente reinventarem o voto impresso. Where are you from?
*Foi
Professor em Porto Velho.
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