...E eis que não
era Viena!
Professor
Nazareno*
Depois de umas
doses de cachaça da pior qualidade que há, eis que andando pela Avenida Jorge
Teixeira em Porto Velho, a podre e imunda capital dos rondonienses, logo me
deparo com uma paisagem encantadora daquelas de tirar o fôlego. Vejo muitas
flores cor-de-rosa e de outras tonalidades espalhadas pelo meio da rua. O
tapete colorido deslumbra a quem passa por ali. Não contive as lágrimas e de
imediato me lembrei de Viena, a apaixonante capital da Áustria, que por anos a
fio foi considerada a melhor cidade do mundo para se viver. A capital do antigo
Império austro-húngaro, com quase dois milhões de habitantes, é um deslumbre
só. Seus jardins floridos, suas verdes e magníficas ruas cheias de flores dão a
impressão de que realmente estamos em um paraíso de tanta beleza. O real
Palácio de Schönbrunn com suas florestas é pura magia.
Há dois anos, tive o raro privilégio
de conhecer essa bela cidade e seus caminhos verdes e floridos. Schönbrunn é
realmente de tirar o fôlego de qualquer um. A linha verde do metrô (U-4) tem
duas paradas bem próximas a este paraíso. Limpeza, conforto e pontualidade são
as características mais presentes que se veem nos transportes urbanos da
capital austríaca. Mobilidade urbana e presteza aos cidadãos são uma constante.
Em qualquer hora do dia ou da noite pode-se visitar o palácio e suas florestas,
árvores e jardins sem medo de assalto ou de outra inconveniência. O inusitado e
lindo lugar não tem nenhum igarapé por perto, mas tem várias fontes de águas
potáveis onde os turistas matam a sede. O Café Gloriette, restaurante
sofisticado situado numa colina nos fundos do palácio, oferece todo tipo de
bebidas, lindas vistas e lanches a preços bem em conta.
O cheiro das flores em Viena fascina
com tantas fragrâncias e variedades. Já em Porto Velho não tem Café Gloriette
nem Palácio com flores. Alguém teve a infeliz ideia de plantar alguns ipês-rosa
em meio a esgotos podres e fedorentos. Não deu outra: misturou o belo ao
imundo. Uma versão botânica e grotesca de “A
bela e a fera”. Mesmo assim, o ambiente surreal magnetiza as pessoas daqui
que nunca foram a Viena nem à outra encantadora e florida cidade da Europa. E mesmo
com a cabeça cheia de álcool, no meio da poeira fétida e sob um sol desgraçado
não há como não sentir o fedor do Igarapé dos Tanques, que insiste em margear
aquele “jardim fora de espaço e de tempo”
na capital karipuna. Enquanto em Viena bebe-se normalmente a água das fontes,
em Porto Velho quem beber daquela água não passa cinco minutos vivo. É ácido
puro!
Esse mesmo igarapé imundo e sujo
margeia o que chamam de rodoviária de Porto Velho. Suas águas pútridas, apodrecidas
e pestilentas além da catinga transmitem doenças, fungos, bactérias e toda
sorte de micróbios a quem tem o infeliz prazer de morar às suas margens. Porto
Velho nunca será Viena. O prefeito e a SEMA não deixam, pois as raras árvores
que há são arrancadas pela raiz como fizeram na Avenida Tiradentes. Diferente
da capital austríaca, a fumaça das queimadas neste verão cinzento e quente dá o
tom lúgubre à cidade. As flores dos coloridos ipês-rosa são bonitas de se ver,
mas parecem que estão no lugar errado. Juro que, por estar bêbado, percebi
Viena naquela linda e indescritível aquarela florida, mas quando olhei para o
chão vi Porto Velho mesmo, com os seus esgotos fedidos, nojentos e a céu
aberto. E a cachaça me fez sonhar ainda mais. Porém, tive medo de assalto e das
doenças que podia pegar. Caí fora!
*Foi
Professor em Porto Velho.
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