Rondônia
já prestou um dia
Professor
Nazareno*
Por
incrível que pareça, Porto Velho e Rondônia já foram lugares bons para se viver
e para se morar. E não faz tanto tempo assim. Foi entre as décadas de 50 e 80
do século passado. Naqueles idos e bons tempos quase ninguém confundia Rondônia
com Roraima e as pessoas aqui viviam mais felizes, pelo menos aparentemente. A desgraceira
começou quando se teve a má ideia de transformar o então Território federal em
Estado no início dos anos de 1980, coincidentemente a mesma época que eu
passava por estas distantes terras em direção ao Peru. O lugar tinha futebol e
dos bons. Quem não se lembra do Ferroviário, do Moto Clube, do Flamengo, o rolo
compressor da Arigolândia, do Ipiranga e de tantos outros? O campeonato
estadual era concorrido e o Aluizão se enchia em dia de clássico. Hoje, só
lembranças! Junto com o território, o futebol também acabou.
Atualmente
nem Porto Velho nem Rondônia têm futebol que preste. Torcedores dos grandes
times do sul do país “invadiram” o recém-criado Estado e destruíram o
nome do bom futebol que havia aqui. O Porto Velho, criado bem recentemente e
cujo escudo é uma imitação tosca do Bayern de Munique da Alemanha, é um time
fraco e sem nenhuma tradição. Ganhou em casa por acaso do fracassado Remo do
Pará e logo os seus 4 ou 5 torcedores já acharam que era uma boa equipe. Em
seguida, perdeu para o Ypiranga de Erechim do Rio Grande do Sul e deu adeus à
Copa do Brasil. Outro time de Porto Velho é um tal Genus (sem acento mesmo) que
nem merece comentários. O interior tem outras equipes bem fracas e com nomes
também surreais: Real Ariquemes, Barcelona, Vilhena, União Cacoalense e o Ji-Paraná.
Só seis equipes e um campeonato que se diz de futebol.
Naqueles
bons tempos, a Cachoeira do Teotônio ainda existia e tinha muitos peixes. Lá se
pescava até com a mão. O divertimento era garantido durante os finais de semana
do verão amazônico. Pescar Jatuaranas, Surubins e Dourados no Cai N’água era
também um dos bons programas de domingo com a família. Andar de trem para o
Santo Antônio era um divertimento e tanto. A lendária Estrada de Ferro
Madeira-Mamoré tinha uma praça linda e grande. Lá havia muitos trens, trilhos e
era muito visitada. Uma praça do povo. Antes, Rondônia recebia multidões. Hoje,
muitos estão indo embora. Aqui era uma dádiva de Deus: não tinha Assembleia
Legislativa e só se elegia a cada quatro anos um deputado federal. Porto Velho
até tinha uma Câmara de Vereadores, mas os edis de então nem sempre estavam
alinhados com o prefeito. Fato: éramos felizes e não sabíamos!
E
quem não se lembra da Avenida Sete de Setembro repleta de árvores? O calor
exista, mas não era tão forte como é hoje. A cidade era bem menor, mas muito mais
arborizada. Mesmo sem esgotos, mobilidade, água encanada e sem saneamento
básico, o sofrimento nesta capital não era como é atualmente. Violência, só nos
garimpos e bem longe do perímetro urbano. Drogas, quase não havia. O governo
federal mandava dinheiro aos montes para cá. Naquela época de ouro, a capital
rondoniense não vivia sob o risco iminente de uma inundação. Não havia crise
aérea nenhuma e muitas pessoas viajavam tranquilamente de avião sem ter que
pagar uma fortuna para isso. A mídia da época vivia sob o controle do Estado, é
verdade. Mas muitos jornalistas se sobressaiam tentando emplacar suas
publicações. Hoje a censura é econômica e poucos podem publicar seus textos sem
serem tolhidos pelos donos dessa mesma mídia. Triste, mas o tempo não volta!
*Foi Professor em Porto
Velho.