Marcha
para o Satanás
Professor
Nazareno*
Existe
já há algum tempo a Marcha para Jesus. Milhões de cristãos evangélicos saem às
ruas das principais cidades do Brasil quase sempre no dia de Corpus Christi para
prestar homenagens ao, segundo eles, “único filho de Deus”. Porém, hoje deveria
existir também uma outra marcha levando-se em consideração o que a maioria das
pessoas que se acham religiosas dizem e fazem no seu cotidiano. Seria a Marcha
para Satanás. Esta deveria ser também bem representativa, uma vez que o “Anjo
do Mal” igualmente tem muito poder. O Cão nunca foi derrotado por Deus e
até hoje tem se mostrado um inimigo à altura do Todo Poderoso. Além do mais, as
pessoas de um modo geral não seguem o Capeta diretamente, mas costumam fazer
tudo o que dele deriva. O nosso Salvador é sinônimo do bem e das coisas boas,
enquanto o Tinhoso representa tudo o que é do mal.
A
História nos ensina que Jesus Cristo certamente não teve muito apego ao
dinheiro. Coisa que muitos dos seus seguidores não o fazem. Dinheiro só pode
ser coisa do Cramunhão mesmo. Foi Cristo que expulsou os vendilhões do templo e
censurou abertamente a ambição desmedida daqueles que diziam seguir os seus
passos. Jeová nunca deu importância para o dinheiro ou a riqueza, já os seus
seguidores não conseguem viver sem o vil metal. Aliás, foi o Filho das Trevas
que sempre esteve ligado à ambição, à usura e à exploração. Judas, por exemplo,
traiu o Santíssimo por 30 dinheiros, dizem as escrituras. Na política, o
Messias não pode estar ligado à direita ou à extrema-direita, posições
ideológicas que defendem o capitalismo e a exploração do homem pelo homem. Por
isso, entende-se que o Rei dos Reis só podia militar num desses partidos de
esquerda.
O
Filho de Deus era de esquerda, com toda a certeza. Ele repartia o pão, amava a
todos sem se importar com suas origens, cor, raça, gênero ou posição social e
combatia, nas suas ações, a elite da época e os poderosos de Roma. Por causa
disso, o Senhor das Trevas o perseguia sem dó. Duvido que a esquerda tenha
crucificado e matado a Jesus. Quem fez isso foram os ricos e poderosos a mando
do Império Romano. Fazer uma marcha dessas é algo justo, mas de certa maneira
não representa os ideais de muitos que dela participam. As pessoas hoje geralmente
são violentas, injustas, ambiciosas, más, mentirosas, hipócritas e creem só no
dinheiro e na riqueza. E tudo isso é coisa do Capiroto. Por isso, a “Marcha
para o Satanás” também tinha que acontecer todos os anos. Seria algo até representativo.
E quem tramaria um golpe de Estado: Jesus Cristo ou o Lúcifer?
E
quem tentaria tomar as terras dos povos originários? E quem deixaria esses
mesmos povos, como os yanomamis, morrerem à mingua sem a mínima proteção do
Poder Público? Jesus Cristo certamente não pregaria o ódio entre os irmãos e
nem incentivaria a compra de armas pela população. Tremo só de pensar que o
Altíssimo divulgasse mentiras e fake news. Óbvio que o unigênito de Deus jamais
destruiria o meio ambiente em busca de ouro e de outros metais preciosos. O
respeito à natureza seria uma de suas ações mais fortes. E nunca tentaria
implantar uma monstruosa ditadura para governar o seu povo. O Nazareno é
democrático, podem ter certeza disso. Nada de golpes de Estado, de censura,
torturas e nem de perseguições e mortes a seus oponentes. Por isso, é fácil
entender por que o Redentor pode não estar sendo representado nesta marcha. A
hipocrisia criou uma coisa, mas segue outra. Os gays são representados na
marcha deles?
*Foi Professor em Porto Velho.