O
“lendário” rio das Dragas
Professor
Nazareno*
O
rio Madeira banha Porto Velho, a currutela fedida, capital de Roraima. Nasce na
cordilheira dos Andes e é totalmente formado pelas águas dos rios Madre de Dios
do Peru e do rio Beni em território da Bolívia. O décimo oitavo maior rio do mundo recebe este nome já em terras
brasileiras depois que recebe o rio Mamoré na localidade de Vila Murtinho no
município de Nova Mamoré. Mas o majestoso rio Madeira já se acabou. Está
praticamente extinto. Seu nome era rio das Madeiras por causa da grande
quantidade de troncos de árvores que as suas águas derrubavam nas margens e
depois carregavam. Até o final do século passado era possível ver troncos e
mais troncos descerem boiando rio abaixo até a confluência com o outro gigante,
o rio Amazonas. Hoje, não existem mais árvores em seu leito morto. O velho
Madeira não é nem sombra do que fora tempos atrás.
O
outrora lendário rio não nasce mais nos Andes. Nasce a partir da hidrelétrica
de Santo Antônio. Sua força gigantesca foi domada pela ambição do homem. É
exatamente na hidrelétrica de Jirau que o Madeira morre. Já morto e totalmente esgotado
chega a Porto Velho onde, domado e sem forças, depende da mão humana para
continuar a sua triste saga em direção a sua foz. Repiquetes, enchentes e
vazantes não dependem mais da natureza. Jirau e Santo Antônio mataram o maior
símbolo de Rondônia e sequer seus habitantes têm hoje acesso a uma conta de
energia mais barata. O estupro à natureza e a morte do rio foram em vão. Só
beneficiou a quem é de fora do Estado. Mas o tiro de misericórdia mesmo no
velho Madeira está sendo dado pelo garimpo ilegal em suas já contaminadas
águas. O IBAMA diz que contou, num voo, mais de 400 dragas de garimpo.
O
sobrevoo foi apenas entre Porto Velho e o distrito de Nazaré no baixo Madeira.
Mas deu para ver o triste massacre ambiental que o velho Madeira está sofrendo.
Só em Rondônia, devem existir pelo menos umas mil dessas dragas jogando
mercúrio todo dia em suas águas. E há espaço tranquilamente para mais umas
quatro mil dragas ou até mais. Enquanto os órgãos de defesa do meio ambiente
não fiscalizarem de fato nem proibirem esse garimpo criminoso, o número de
dragas só vai aumentar. E quem sofre com esse absurdo é a natureza, o rio e
consequentemente todos os habitantes expostos ao mortífero metal. A inoperância
dos incontáveis órgãos públicos, que dizem defender o meio ambiente em plena
região amazônica, é uma constante. A fumaça das criminosas queimadas invade ano
após ano os céus da região. Nosso céu é sempre azul é uma mentira.
E
nem parece que a esquerda, Lula e o PT ganharam as últimas eleições. Na
bolsonarista Rondônia da extrema-direita o que se vê é a destruição pura e
simples do que ainda resta da natureza. Por isso, o rio Madeira, hoje “rio
das Dragas”, padece sem chances de voltar a ser o que sempre foi com a sua
exuberância. Nunca antes na História deste Estado se viu tanto abandono e tanta
desgraça como agora. A cada ano que passa, os políticos daqui se superam em
tantas maldades. Até os portadores de deficiência física sofrem. Rondônia hoje
vive às moscas e totalmente isolada do resto do mundo. Até as empresas aéreas
do país fugiram daqui como o diabo foge da cruz. E o pesadelo parece não ter mais
fim, já que a classe política está “se lixando” para o caos. E a capital
da isolada província padece com tanto horror. Hoje está sem hospital de pronto-socorro,
sem esgotos, sem aeroporto, sem água potável, sem porto, sem rodoviária e agora
sem seu rio.
*Foi Professor em Porto
Velho.