quarta-feira, 30 de agosto de 2023

O “lendário” rio das Dragas

O “lendário” rio das Dragas

 

Professor Nazareno*

 

            O rio Madeira banha Porto Velho, a currutela fedida, capital de Roraima. Nasce na cordilheira dos Andes e é totalmente formado pelas águas dos rios Madre de Dios do Peru e do rio Beni em território da Bolívia. O décimo oitavo maior rio do mundo recebe este nome já em terras brasileiras depois que recebe o rio Mamoré na localidade de Vila Murtinho no município de Nova Mamoré. Mas o majestoso rio Madeira já se acabou. Está praticamente extinto. Seu nome era rio das Madeiras por causa da grande quantidade de troncos de árvores que as suas águas derrubavam nas margens e depois carregavam. Até o final do século passado era possível ver troncos e mais troncos descerem boiando rio abaixo até a confluência com o outro gigante, o rio Amazonas. Hoje, não existem mais árvores em seu leito morto. O velho Madeira não é nem sombra do que fora tempos atrás.

            O outrora lendário rio não nasce mais nos Andes. Nasce a partir da hidrelétrica de Santo Antônio. Sua força gigantesca foi domada pela ambição do homem. É exatamente na hidrelétrica de Jirau que o Madeira morre. Já morto e totalmente esgotado chega a Porto Velho onde, domado e sem forças, depende da mão humana para continuar a sua triste saga em direção a sua foz. Repiquetes, enchentes e vazantes não dependem mais da natureza. Jirau e Santo Antônio mataram o maior símbolo de Rondônia e sequer seus habitantes têm hoje acesso a uma conta de energia mais barata. O estupro à natureza e a morte do rio foram em vão. Só beneficiou a quem é de fora do Estado. Mas o tiro de misericórdia mesmo no velho Madeira está sendo dado pelo garimpo ilegal em suas já contaminadas águas. O IBAMA diz que contou, num voo, mais de 400 dragas de garimpo.

            O sobrevoo foi apenas entre Porto Velho e o distrito de Nazaré no baixo Madeira. Mas deu para ver o triste massacre ambiental que o velho Madeira está sofrendo. Só em Rondônia, devem existir pelo menos umas mil dessas dragas jogando mercúrio todo dia em suas águas. E há espaço tranquilamente para mais umas quatro mil dragas ou até mais. Enquanto os órgãos de defesa do meio ambiente não fiscalizarem de fato nem proibirem esse garimpo criminoso, o número de dragas só vai aumentar. E quem sofre com esse absurdo é a natureza, o rio e consequentemente todos os habitantes expostos ao mortífero metal. A inoperância dos incontáveis órgãos públicos, que dizem defender o meio ambiente em plena região amazônica, é uma constante. A fumaça das criminosas queimadas invade ano após ano os céus da região. Nosso céu é sempre azul é uma mentira.

            E nem parece que a esquerda, Lula e o PT ganharam as últimas eleições. Na bolsonarista Rondônia da extrema-direita o que se vê é a destruição pura e simples do que ainda resta da natureza. Por isso, o rio Madeira, hoje “rio das Dragas”, padece sem chances de voltar a ser o que sempre foi com a sua exuberância. Nunca antes na História deste Estado se viu tanto abandono e tanta desgraça como agora. A cada ano que passa, os políticos daqui se superam em tantas maldades. Até os portadores de deficiência física sofrem. Rondônia hoje vive às moscas e totalmente isolada do resto do mundo. Até as empresas aéreas do país fugiram daqui como o diabo foge da cruz. E o pesadelo parece não ter mais fim, já que a classe política está “se lixando” para o caos. E a capital da isolada província padece com tanto horror. Hoje está sem hospital de pronto-socorro, sem esgotos, sem aeroporto, sem água potável, sem porto, sem rodoviária e agora sem seu rio.

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

Nenhum comentário: