Ainda respiramos tirania
Professor Nazareno*
Dizem que hoje não há
escravos. Mas se houvesse, quantos de nós mesmos não apoiaríamos a escravidão
naturalmente? Sim! Seguimos religiões sem nem conhecê-las, seguimos Bolsonaro e
o bolsonarismo, desejamos a morte de seres humanos, queremos a volta da
ditadura militar, apoiamos torturas, somos homofóbicos, somos intolerantes,
somos preconceituosos, abominamos a política de direitos humanos, praticamos a
corrupção, desdenhamos da democracia, criticamos a diversidade, apoiamos a
mutilação de livros como aconteceu em Ariquemes, não buscamos a leitura de
mundo, defendemos justiça com as próprias mãos, bradamos diariamente pela pena
de morte, incentivamos a censura, reagimos contra as minorias, somos misóginos,
acampamos em frente dos quartéis pedindo “na maior cara de pau” um golpe
militar e a volta da ditadura e do caos.
Os negros de ontem são os homossexuais e muitas outras minorias de hoje. O mundo dito civilizado praticamente não evoluiu neste aspecto. No Brasil a situação parece que ficou pior ainda. Como explicar o fanatismo de tantas pessoas acampadas pelo Brasil afora debaixo de sol e de chuva pedindo a volta de um regime de exceção? Bom ou ruim, Lula foi eleito democraticamente e derrotou Jair Bolsonaro nas urnas. Por isso, segundo as regras da democracia, será pelos próximos quatro anos o presidente do Brasil e de todos os brasileiros. O próprio ex-presidente disse que “não mobilizou ninguém e que por isso não ia desmobilizar ninguém”. Dois dias antes da posse de Lula, Bolsonaro abandonou o Brasil e os seus eleitores e fugiu num avião da FAB para os Estados Unidos. Comenta-se que, pressionado pelos familiares, deve voltar às pressas ao Brasil para evitar a extradição.
Se o próprio ídolo deles “já
deu no pé”, talvez por não acreditar no que tanto pregava, o que justifica
então pais de família, profissionais liberais, inúmeras pessoas ditas de bem se
expor ao ridículo publicamente? Sem nenhuma pauta que justifique a sua inglória
luta, muitas dessas pessoas apenas exteriorizam o seu real caráter e a sua
maneira bruta de ser. Certos da vitória, participaram de uma eleição sem antes
contestar nada. Como perderam (no voto), agora querem virar o jogo na marra e
implantar outra ditadura militar tão cruel e até mais sanguinária quanto a que
tivemos a partir de 1964. Sem discussões, querem impor um regime como o Nazista
de Adolf Hitler. Sem nenhuma leitura de mundo, muitos desses “patriotários”
querem a volta do tempo ao tentar instalar a Idade Média em pleno século XXI.
Mudamos e essas conquistas não podem retroceder.
Como a nossa Constituição
permite o direito de protestar, esses vândalos poderiam ter ficado acampados o
tempo que quisessem, desde que não obstruíssem ruas, estradas e nem praticassem
atos de terrorismo como aconteceu na invasão de Brasília. Mesmo com intenções
golpistas, iam ficar muito tempo ainda à espera de uma virada de mesa na
política, mas o “Xandão” já tirou todos de lá. O pior é que mesmo
defendendo pautas anacrônicas e há muito tempo já ultrapassadas, Jair Bolsonaro
teve espantosos 58 milhões de votos na última eleição. Só perdeu a contenda
porque a oposição explorou de maneira fenomenal a sua desastrosa e criminosa
atuação durante a pandemia da Covid-19. Seus rompantes antidemocráticos, seus
preconceitos, sua homofobia, seu desprezo pelas minorias, sua maldade explícita
ao bom senso e ao politicamente correto excitam os seus fãs, que veem nele a
extensão do jeito de ser de cada um. Sem anistia, cadeia para todos!
*Foi Professor em Porto Velho.
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