Coronavírus em
Rondônia
Professor
Nazareno*
Até que enfim.
Graças a Deus o terrível coronavírus chegou a Rondônia: sim, por que foi a hora
de as autoridades daqui mostrarem ao mundo como enfrentar de forma competente a
mais nova ameaça à humanidade. Uma família residente na zona leste desta
capital, cansada da lama e das alagações, foi passar as férias de fim de ano na
China e lamentavelmente trouxe para nós a terrível hecatombe. O governo do
Estado colocou toda a sua infraestrutura para atender as pessoas contaminadas.
Rondônia não é a China, mas aqui foram construídos dois enormes hospitais em
apenas uma semana. Um, na parte leste da cidade e o outro nas proximidades do
Porto Velho Shopping. Todas as pessoas com febre, tosse ou suspeitas de estarem
com o terrível vírus foram levadas a um desses hospitais de referência. Só
dependia da classe social de cada um.
Equipes médicas do “açougue” João Paulo Segundo e do
Hospital de Base se revezaram para dar conta de tanto trabalho. Todos eles
muito atenciosos, competentes e dedicados. Cientistas e pesquisadores ligados
à Unir, a Universidade de Rondônia, e às
universidades São Lucas, Uniron e FIMCA estiveram feito loucos na corrida para
isolar o vírus e encontrar logo a cura para a doença. Nunca se viu em Rondônia
um frenesi como esse. Nem no último verão, durante as apocalípticas queimadas
da floresta, o governo mostrou tanta competência, rapidez e boa vontade para
resolver um problema. Levas e mais levas de funcionários comissionados, “aqueles sujeitos que devem ser contratados
em vez dos concursados”, se apresentaram espontaneamente para ajudar nos
trabalhos. A mídia, antes omissa, esteve também ajudando em todas as tarefas.
A classe política do Estado “entrou na jogada” e não mediu esforços
para ajudar os seus eleitores infectados. Enquanto deputados e vereadores mandavam
seus “assessores” distribuírem
máscaras, muitos deles não paravam de fazer visitas aos internados. Essa
síndrome do coronavírus mostrou ao Brasil como os políticos de Rondônia são
importantes para um povo. Muitos inclusive abriram mão do seu auxílio-moradia
em benefício dos mais carentes e necessitados. Rodeado de seus mais de 200
funcionários comissionados, um deputado estadual teria dito que daqui não
sairia enquanto a questão não fosse resolvida e o vírus mortal totalmente
debelado. “Morrerei aqui junto com o meu
povo” teria dito o bom parlamentar. Isso é Rondônia, mano! Chineses,
europeus, africanos e norte-americanos deveriam seguir este grande exemplo.
Morrer contaminado por uma doença de
nível internacional é o que muitos cidadãos de Rondônia querem hoje,
infelizmente. “Chega! Já estamos cansados
de morrer de malária, de infecção hospitalar, de ataques de lombrigas, dengue e
até de fome”, é o que muitos diziam. “Queremos
o coronavírus entre nós”, gritavam eufóricas muitas pessoas. Estranho e
irônico, mas percebia-se certo ar de felicidade na maioria dos cidadãos contaminados.
Via-se que depois da construção desses novos hospitais em tempo recorde e da
empatia dos políticos com o seu povo, qualquer morte já seria uma dádiva. Até a
antes odiada Energisa teria contribuído para sanar as dificuldades do povo
sofrido do Estado. “Só” faltou
energia na cidade oitenta vezes durante a epidemia. Uma coisa inédita, algo até
inacreditável. Inédito também o trabalho da Polícia Civil, do Procon e IPEM.
Nenhum erro na contagem dos mortos. A China não é aqui. Ainda bem.
*Foi
Professor em Porto Velho.
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