Infeliz ano novo
a todos
Professor
Nazareno*
Estão certas as
pessoas que dizem que o brasileiro precisa ser estudado. Povo em sua maioria
hipócrita, ignorante e sem noção do bom senso, ri de sua própria desgraça e
infortúnio. E pior: se considera feliz e realizado. Em Rondônia também não é
muito diferente. De um modo geral, os rondonienses são a cópia perfeita de seus
conterrâneos de outros Estados do país. Vi muitas pessoas, durante as festas de
fim de ano, sorrindo e desejando um feliz ano novo para seus amigos, conhecidos
e familiares sem perceberem a besteira que estavam fazendo. Como pode um
sujeito que nasceu em Rondônia, mora em Porto Velho, é “bolsomínion” e ainda por cima flamenguista, ter o mínimo de
otimismo e bom senso? Para a alegria de muitos porto-velhenses, eu não moro
mais aqui, não torço pelo Flamengo e jamais teria votado no Bolsonaro. Eu é que
sou feliz.
Mas não sou. Pois de onde estou
morando, leio alguns comentários em meus textos e me divirto demais. Primeiro
com os ataques sistemáticos à gramática normativa. Fato este que demonstra
nitidamente tratar-se de semianalfabetos ou analfabetos funcionais. Depois me
bate uma tristeza sem fim: percebo que cidadãos continuam lendo o Professor Nazareno
como se não existissem autores consagrados, best-sellers, ganhadores do prêmio
Nobel de Literatura, dentre muitos outros reconhecidos escritores. Ler o que
escrevo demonstra bem o nível destas pessoas. E a compreensão dos fatos? Muitos
ainda não saíram da Idade da Pedra e desconhecem coisas simples como censura,
liberdade de expressão e democracia e ainda se metem a comentar sobre os
assuntos que desconhecem. Iletrados, burros ou mal intencionados.
Por isso, os textos que mais chamam
a atenção são, claro, os que falam de futebol. O “Framengo” é o recordista de comentários esdrúxulos, tolos e
patéticos desses leitores de araque. O “Mito”
vem a seguir com a sua legião de seguidores e adoradores. Não percebem os
infelizes que serão eternas massas de manobra desses mesmos políticos. Como
pode, numa situação de caos social, de desastre ambiental, de fome, de
desemprego e de miséria latente na sociedade, um cidadão sorrir e ainda por
cima desejar um feliz ano novo para o outro? Deve ser coisa de brasileiro
mesmo. E de rondoniense. Surreal: muitos estão preocupados se o “Mister” continuará como técnico do
Flamengo ou se o “Bozo” vai mesmo se
candidatar às eleições presidenciais em 2022. Sim, por que aqui dizem estar
tudo definido: o Dr. Hildon Chaves será reeleito.
A estupidez e a burrice alheias são
risíveis, infelizmente. E por isso muitos desses cidadãos são seguidores do Olavo
de Carvalho e de sua trupe. Sua visão de mundo muitas vezes se resume aos seus
toscos sentimentos e emoções. O Flamengo é um bom time de futebol? No Brasil e
na América do Sul atualmente é. Porém quando se compara às boas equipes da
Europa, o desnível é colossal. Jogando contra o Liverpool, por exemplo, não
tinha como não torcer pelo time inglês. O melhor futebol tem que prevalecer
sempre. Já na questão política fico depressivo quando escrevem que eu sou
petista ou de esquerda. É a mesma tristeza e infelicidade que um sujeito
deveria sentir quando o chamam de direitista ou de “bolsomínion”. E ninguém devia gostar de ser chamado de ladrão ou fascista.
Como desejar um feliz ano novo se as crianças da zona rural daqui continuarão
sem aulas e a cidade ficará ainda mais suja, fedorenta e imunda?
*Foi
Professor em Porto Velho.
Um comentário:
Quando eu saio para trabalhar de manhã, fico triste, ver uma cidade tão desorganizada...
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