quinta-feira, 9 de janeiro de 2020

Infeliz ano novo a todos

Infeliz ano novo a todos

Professor Nazareno*

            Estão certas as pessoas que dizem que o brasileiro precisa ser estudado. Povo em sua maioria hipócrita, ignorante e sem noção do bom senso, ri de sua própria desgraça e infortúnio. E pior: se considera feliz e realizado. Em Rondônia também não é muito diferente. De um modo geral, os rondonienses são a cópia perfeita de seus conterrâneos de outros Estados do país. Vi muitas pessoas, durante as festas de fim de ano, sorrindo e desejando um feliz ano novo para seus amigos, conhecidos e familiares sem perceberem a besteira que estavam fazendo. Como pode um sujeito que nasceu em Rondônia, mora em Porto Velho, é “bolsomínion” e ainda por cima flamenguista, ter o mínimo de otimismo e bom senso? Para a alegria de muitos porto-velhenses, eu não moro mais aqui, não torço pelo Flamengo e jamais teria votado no Bolsonaro. Eu é que sou feliz.
            Mas não sou. Pois de onde estou morando, leio alguns comentários em meus textos e me divirto demais. Primeiro com os ataques sistemáticos à gramática normativa. Fato este que demonstra nitidamente tratar-se de semianalfabetos ou analfabetos funcionais. Depois me bate uma tristeza sem fim: percebo que cidadãos continuam lendo o Professor Nazareno como se não existissem autores consagrados, best-sellers, ganhadores do prêmio Nobel de Literatura, dentre muitos outros reconhecidos escritores. Ler o que escrevo demonstra bem o nível destas pessoas. E a compreensão dos fatos? Muitos ainda não saíram da Idade da Pedra e desconhecem coisas simples como censura, liberdade de expressão e democracia e ainda se metem a comentar sobre os assuntos que desconhecem. Iletrados, burros ou mal intencionados.
            Por isso, os textos que mais chamam a atenção são, claro, os que falam de futebol. O “Framengo” é o recordista de comentários esdrúxulos, tolos e patéticos desses leitores de araque. O “Mito” vem a seguir com a sua legião de seguidores e adoradores. Não percebem os infelizes que serão eternas massas de manobra desses mesmos políticos. Como pode, numa situação de caos social, de desastre ambiental, de fome, de desemprego e de miséria latente na sociedade, um cidadão sorrir e ainda por cima desejar um feliz ano novo para o outro? Deve ser coisa de brasileiro mesmo. E de rondoniense. Surreal: muitos estão preocupados se o “Mister” continuará como técnico do Flamengo ou se o “Bozo” vai mesmo se candidatar às eleições presidenciais em 2022. Sim, por que aqui dizem estar tudo definido: o Dr. Hildon Chaves será reeleito.
            A estupidez e a burrice alheias são risíveis, infelizmente. E por isso muitos desses cidadãos são seguidores do Olavo de Carvalho e de sua trupe. Sua visão de mundo muitas vezes se resume aos seus toscos sentimentos e emoções. O Flamengo é um bom time de futebol? No Brasil e na América do Sul atualmente é. Porém quando se compara às boas equipes da Europa, o desnível é colossal. Jogando contra o Liverpool, por exemplo, não tinha como não torcer pelo time inglês. O melhor futebol tem que prevalecer sempre. Já na questão política fico depressivo quando escrevem que eu sou petista ou de esquerda. É a mesma tristeza e infelicidade que um sujeito deveria sentir quando o chamam de direitista ou de “bolsomínion”. E ninguém devia gostar de ser chamado de ladrão ou fascista. Como desejar um feliz ano novo se as crianças da zona rural daqui continuarão sem aulas e a cidade ficará ainda mais suja, fedorenta e imunda?



*Foi Professor em Porto Velho.

Um comentário:

Anônimo disse...

Quando eu saio para trabalhar de manhã, fico triste, ver uma cidade tão desorganizada...