A sucata como História
Professor
Nazareno*
A Estrada de
Ferro Madeira Mamoré ou simplesmente “Ferrovia
do Diabo” em Porto Velho, capital de Rondônia, foi uma daquelas obras que
marcaram a história de toda a humanidade. Foi. No passado mesmo, pois a mesma
deixou de existir já faz um bom tempo. O desrespeito aos seus construtores e à
própria origem da capital dos rondonienses é algo jamais imaginado em qualquer
sociedade minimamente civilizada. O cemitério de locomotivas, esquecido e
apodrecendo a céu aberto, parte o coração de quem ainda tem coragem de caminhar
entre as “tetânicas ferrugens” que
lhe adornam. Rondônia perdeu a sua História para o descaso, para a
irresponsabilidade. Hoje os pedaços que restaram da histórica ferrovia estão
sendo vendidos como sucatas. O que restou de seus trilhos “defende” muitas casas. Seu outrora brilho internacional apagou.
“Os
rondonienses não servem nem para defender suas origens” é a impressão que
se tem. Diferentes de outros povos como os europeus, que hoje ganham fortunas
mostrando a turistas e visitantes as suas grandiosas obras do passado. E um
passado que algumas vezes ultrapassa os milhares de anos. A EFMM tem pouco mais
de cem anos. E já está totalmente destruída e aniquilada. A enchente histórica
de 2014 deu o tiro de misericórdia na velha ferrovia. Hoje a prefeitura de
Porto Velho está “escavacando por lá”
para fazer não se sabe ainda o quê. O PT gastou 11 milhões de reais na praça
para que os desocupados continuassem cagando nela. Enquanto a China gasta uma
semana para construir um enorme hospital devido à crise do coronavírus, os
remendos e consertos na velha Madeira Mamoré demoram meses e até anos.
Esperando as eleições?
O que se percebe é que para o mundo,
a abandonada ferrovia tem História e importância. Já para muitos rondonienses
não passa de um lixo, de algo descartável. Toda festa ou comemoração que lá se
faz, toneladas de dejetos são jogadas na grama. Guardadas as devidas
proporções, é como se fosse as ruas de Porto Velho para a Banda do Vai Quem
Quer: quantidades de lixo, monturo e sujeira é o presente que fica toda vez que
o bloco desfila. Na EFMM a imundície e a carniça abundam como se aquilo fosse
uma terra de ninguém. E se for a “mãe de
Rondônia” como muitos dizem, teve o desprazer de ser estuprada
silenciosamente por seus ingratos filhos. Se o diabo atentasse e eu fosse
rondoniense teria vergonha de dizer que “aquilo”
é um patrimônio histórico do lugar onde nasci. Tenho certeza de que qualquer
povo, por mais rústico, se acanhava.
Em 2020, Porto Velho terá eleições
para prefeito e vereadores. Mas de 20 pré-candidatos estão na corrida. Não se
sabe ainda o porquê de uma cidade tão abandonada, tão saqueada, tão desprezada,
tão cheia de lama e alegações, tão problemática, ainda desperta o desejo de
muitos para lhe administrar. Aqui só se veem problemas. A melhor época do ano nestas
distantes terras são as férias de dezembro e janeiro quando “enxurradas” de porto-velhenses invadem
as praias do Nordeste e os estados e cidades mais civilizadas e organizadas do
Sul do Brasil para passar as férias e postar fotos nas redes sociais. Sempre
disse que em Rondônia não tem cultura. Pelo menos uma cultura própria que fosse a marca peculiar de sua gente. E agora desconfio que também não tem
História. A não ser que o “açougue”
João Paulo Segundo, a ponte escura, as hidrelétricas, que elevaram a conta de energia,
e a ferrugem da EFMM sejam tradição.
*Foi
Professor em Porto Velho.
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