quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

O amor sem a libido

O amor sem a libido


Professor Nazareno*

            Libido é a vontade de fazer sexo, de transar. É a energia que quase todos os seres humanos têm como uma “diferente” forma de divertimento e também, às vezes, para dar prosseguimento à vida. Amor, muitos dizem que sabem o que é por isso não precisa definir. Sentimos amor por pessoas, por lugares, por coisas, por animais, por objetos. E este amor não tem que estar necessariamente ligado à libido. É o que devia acontecer com muitas pessoas que dizem “de peito aberto” amar o Brasil, amar Rondônia e até Porto Velho. Não amo nenhuma destas três coisas, muita gente sabe disto. Dentro do possível convivo com elas, pois não se escolhe o lugar onde se nasce e muitas vezes até o lugar onde se tem que viver. Os políticos do Brasil, quase todos eles, juram amá-lo incondicionalmente, mas no final das contas o que se percebe é só uma relação libidinal.
            Mas não somente os políticos e as autoridades em geral precisam amar incondicionalmente suas coisas, lugares e pessoas sem a libido, sem o desejo de querer levar vantagem em tudo. O povo também tem muita culpa de fazer tudo isso também. Estacionam seus carros em praças símbolos de suas cidades sem o menor acanhamento como no caso que aconteceu recentemente em Porto Velho. Joga lixo nas ruas normalmente, arranca gramas, flores e outros ornamentos feitos, às vezes, pelo poder público. A Banda do Vai Quem Quer é campeã em lixo, carniça e sujeiras em geral quando desfila todos os anos nas ruas da nossa surrada capital. Custa aos dirigentes da agremiação encabeçar campanhas civilizatórias entre os brincantes para amenizar o caos? Porém, muitos dizem amar a cidade e que é o Professor Nazareno que fala demais.
            Muitos dos vereadores de Porto Velho, por exemplo, recebem auxílio-moradia mesmo morando na cidade. Legal, mas não é imoral, não? Deputados federais de Rondônia que, mesmo tendo recursos, são campeões em usar verbas públicas para isso, verbas públicas para aquilo. Verbas do povo. Juízes e outras autoridades que recebem salários astronômicos sem se preocupar com a miséria reinante no país e que também muitos têm auxílio-moradia sem o menor pudor. Amo Porto Velho, mano! Amo Rondônia, mano! Mas quero ser vereador para me dar bem. Não abro mão dos meus privilégios. Quero ser prefeito para deixar a cidade sem transportes urbanos e os alunos da zona rural sem aulas. E o povão no “açougue” João Paulo Segundo. Tenho plano de saúde, pago bom condomínio e tenho segurança. “Os outros que se lasquem”, pensam.
            Amar um país, um Estado, uma cidade ou mesmo outra pessoa não é fazer o que muita dessa gente faz. Deve-se amar sem a libido, sem o desejo de “fud...” o outro. É ter empatia, é se colocar no lugar do necessitado e se propor a ajudá-lo sem querer receber algo em troca. É saber que um país que tem a oitava economia do planeta não pode ter a 86ª colocação no IDH mundial. Fome onde se produz alimentos. Muito alimento. Nos países mais desenvolvidos e civilizados do mundo essa consciência de justiça social é cada vez mais trabalhada entre as pessoas. Amar Rondônia e sua gente é cuidar já agora, durante o inverno na região, das medidas para combater as futuras queimadas que podem acontecer no próximo verão. E quem se preocupa com isso agora? Governantes fracos apenas refletem o desejo maior de seus governados. “Um fraco rei faz fraca a sua forte gente”. E sem o amor verdadeiro, tudo só vai piorar. Então, ame sem a libido!



*Foi Professor em Porto Velho.

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