Foto: Emily Wang
O “açougue” e o coronavírus
Professor
Nazareno*
O ano 2020 iniciou com a ameaça
global de um vírus extremamente letal. De novo, a espécie humana corre o risco
iminente de ser dizimada. O coronavírus foi diagnosticado inicialmente na
China, já matou dezenas de pessoas e se espalha no mundo numa velocidade
espantosa atingindo vários países. A OMS, Organização Mundial da Saúde já
pensou em decretar um alerta de epidemia global. Cientistas, pesquisadores,
virologistas, epidemiologistas, infectologistas e outros “istas” estão em polvorosa e praticamente já correndo contra o tempo
para chegar à vacina ou a outro remédio para debelar a perigosa ameaça. Mas se
esta hecatombe chegasse a Rondônia, o assombro da humanidade poderia mudar. Calma!
Um vírus tão renomado jamais viria para este fim de mundo isolado. E se vier,
aqui temos o “açougue” João Paulo
Segundo.
Esse insólito hospital público de
Porto Velho é tão importante que resiste há décadas sem que governante nenhum
lhe substitua. Aqui se constroem fóruns de mármore, palácios de vidros,
assembleias legislativas de cristal e muitos outros prédios suntuosos sem que
sobre um só centavo para se construir um novo “açougue”. Sua importância é tanta que se algum político em início
de carreira promete lhe substituir, vira logo pré-candidato a prefeito da “currutela fedida”. Além do mais, se esse
insolente coronavírus aparecer por aqui será aniquilado na hora por outros
vírus e bactérias muito mais resistentes. Os corredores do nosso mais
importante “açougue” são depositários
de espécies incríveis de agentes epidêmicos. E as ruas de Porto Velho também. O
mundo científico precisa nos ver. Isso sem falar na competência das equipes
médicas daqui.
Foi no “açougue rondoniano”, que num caso inédito e curioso, amputaram uma
paciente e assim a mesma não pôde mais assinar seu nome e com isso, perdeu a
possiblidade de receber auxílios do INSS. Como não se orgulhar desse renomado
hospital que, via de regra, vira manchete nacional? Além do mais, a própria
cidade de Porto Velho, a pior dentre as capitais brasileiras para se viver e a
última colocada em saneamento de água e esgotos, é também uma ameaça à rebelde
enfermidade. Sujeira, carniça e imundícies espalhadas no meio das ruas sempre
foram uma constante. Não é qualquer vírus que resistiria a esta suja capital.
Ainda não entendi por que a comunidade científica internacional não se muda
imediatamente para Porto Velho a fim de estudar as curas para esta ameaça
global. O problema é saber se este vírus ataca também os ricos.
Sim, por que no “açougue” de Porto Velho só os pobres e
miseráveis é que morrem. É uma cruel realidade que as autoridades e as pessoas
normais daqui nunca entenderam o porquê. Mas a capital de Rondônia deve ser um
lugar maravilhoso, pois só neste ano de 2020 já tem uma penca de mais de 20
pré-candidatos a prefeito da cidade. E todos eles, claro, prometendo construir
um novo “açougue”. E se forem espertos,
todos eles vão também prometer beijar, amar, acariciar e cuidar da “maldita currutela”. Se já deu certo
antes... O que custa tentar nas próximas eleições? Como visto, o coronavírus
teria uma vida muito difícil em terras karipunas. Além do “açougue” temos também o Hospital de Base com qualidade e
competência já reconhecidas no mundo inteiro. Isso sem falar nas muitas
policlínicas espalhadas pela cidade e na medicina particular de Rondônia. Já
estou com pena desse tal coronavírus!
*Foi
Professor em Porto Velho.
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