sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

O “açougue” e o coronavírus

                                                                        Foto: Emily Wang
O “açougue” e o coronavírus


Professor Nazareno*

            O ano 2020 iniciou com a ameaça global de um vírus extremamente letal. De novo, a espécie humana corre o risco iminente de ser dizimada. O coronavírus foi diagnosticado inicialmente na China, já matou dezenas de pessoas e se espalha no mundo numa velocidade espantosa atingindo vários países. A OMS, Organização Mundial da Saúde já pensou em decretar um alerta de epidemia global. Cientistas, pesquisadores, virologistas, epidemiologistas, infectologistas e outros “istas” estão em polvorosa e praticamente já correndo contra o tempo para chegar à vacina ou a outro remédio para debelar a perigosa ameaça. Mas se esta hecatombe chegasse a Rondônia, o assombro da humanidade poderia mudar. Calma! Um vírus tão renomado jamais viria para este fim de mundo isolado. E se vier, aqui temos o “açougue” João Paulo Segundo.
            Esse insólito hospital público de Porto Velho é tão importante que resiste há décadas sem que governante nenhum lhe substitua. Aqui se constroem fóruns de mármore, palácios de vidros, assembleias legislativas de cristal e muitos outros prédios suntuosos sem que sobre um só centavo para se construir um novo “açougue”. Sua importância é tanta que se algum político em início de carreira promete lhe substituir, vira logo pré-candidato a prefeito da “currutela fedida”. Além do mais, se esse insolente coronavírus aparecer por aqui será aniquilado na hora por outros vírus e bactérias muito mais resistentes. Os corredores do nosso mais importante “açougue” são depositários de espécies incríveis de agentes epidêmicos. E as ruas de Porto Velho também. O mundo científico precisa nos ver. Isso sem falar na competência das equipes médicas daqui.
            Foi no “açougue rondoniano”, que num caso inédito e curioso, amputaram uma paciente e assim a mesma não pôde mais assinar seu nome e com isso, perdeu a possiblidade de receber auxílios do INSS. Como não se orgulhar desse renomado hospital que, via de regra, vira manchete nacional? Além do mais, a própria cidade de Porto Velho, a pior dentre as capitais brasileiras para se viver e a última colocada em saneamento de água e esgotos, é também uma ameaça à rebelde enfermidade. Sujeira, carniça e imundícies espalhadas no meio das ruas sempre foram uma constante. Não é qualquer vírus que resistiria a esta suja capital. Ainda não entendi por que a comunidade científica internacional não se muda imediatamente para Porto Velho a fim de estudar as curas para esta ameaça global. O problema é saber se este vírus ataca também os ricos.
            Sim, por que no “açougue” de Porto Velho só os pobres e miseráveis é que morrem. É uma cruel realidade que as autoridades e as pessoas normais daqui nunca entenderam o porquê. Mas a capital de Rondônia deve ser um lugar maravilhoso, pois só neste ano de 2020 já tem uma penca de mais de 20 pré-candidatos a prefeito da cidade. E todos eles, claro, prometendo construir um novo “açougue”. E se forem espertos, todos eles vão também prometer beijar, amar, acariciar e cuidar da “maldita currutela”. Se já deu certo antes... O que custa tentar nas próximas eleições? Como visto, o coronavírus teria uma vida muito difícil em terras karipunas. Além do “açougue” temos também o Hospital de Base com qualidade e competência já reconhecidas no mundo inteiro. Isso sem falar nas muitas policlínicas espalhadas pela cidade e na medicina particular de Rondônia. Já estou com pena desse tal coronavírus!



*Foi Professor em Porto Velho.

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