sábado, 4 de janeiro de 2020

E Rondônia deu certo...


E Rondônia deu certo...

Professor Nazareno*

            Sábado passado, dia 04 de janeiro de 2020, o jovem Estado de Rondônia comemorou seus 38 anos de instalação. Uma pena, pois neste tempo todo, a atrasada província ainda não conseguiu provar que as autoridades brasileiras da época estavam certas ao transformar o distante e atrasado território na 23ª unidade da Federação. “A mais nova estrela no azul da União” era o mantra dos políticos e militares que empurraram de goela abaixo dos brasileiros todos os prejuízos de sua fracassada empreitada. Rondônia só foi criada para dar uma folga no Congresso Nacional à ARENA, o partido de sustentação da Ditadura Militar. E a "tramoia política" deu certo: pelo menos mais três senadores e uma penca de novos deputados federais passaram a integrar o partido do governo dando-lhe então uma maioria um pouco mais folgada.
            O novo Estado já começou de forma errada: fora criado no dia 22 de dezembro de 1981, mas “manhosamente” só foi instalado no ano seguinte, 13 dias depois. “Para não atrapalhar as festas de fim de ano”, teriam dito algumas das autoridades da época. Resultado: dois feriados desnecessários para um mesmo e lamentável fato. Em todo este período, no entanto, Rondônia só deu prejuízos à nação. Prejuízos e também muita vergonha. Praticamente não há um ano em que escândalos de corrupção e desmandos não sejam rotina por aqui. Pior: todo final de ano as pessoas esvaziam as principais cidades do Estado para lotar as paradisíacas praias do Nordeste e outros destinos mais civilizados do Brasil. Passar férias por aqui só para os lisos e desprivilegiados. Rondônia ainda hoje não tem bons lugares que possam atrair qualquer tipo de turista.
            Além do mais, a criação do Estado provocou um dos maiores desastres ambientais de toda a história da humanidade. Partes do Cerrado e da Amazônia foram dizimadas sistematicamente em nome do “progresso” e do “desenvolvimento”. Fala-se que o primeiro governador do lugar, reconhecido por quase todos como um verdadeiro Deus, teria dito que as fumaças eram bem vindas, pois significavam progresso e expansão do agronegócio. Rondônia foi um equívoco histórico. Levas e mais levas de nordestinos desempregados e colonos expulsos de suas terras no sul do país vieram colonizar “aos trancos e barrancos” as “novas e promissoras” terras. Andando pelo interior do novo Estado o que se via eram colonos “jogados” na beira das estradas. “Todos eles com uma mulher, cinco ou seis filhos, um cachorro e um saco de panelas”.
            Começava a existir assim, da pior maneira possível, esse novo Estado, que passou a viver somente de ciclos. Ciclo do ouro, da cassiterita, ciclo agropecuário, das hidrelétricas, da estrada do Pacífico, ciclo disso e ciclo daquilo. E todos fracassaram retumbantemente. O governo passou a ser, como ainda é hoje, o maior empregador de pessoas. Aqui praticamente nada dá certo. Não tem indústrias, não tem turismo, boas escolas, nem hospitais decentes e o pouco que se produz é sempre à custa da natureza. O acanhado aeroporto de sua suja e imunda capital vive às moscas. É onde se têm as passagens mais caras do país. A velha rodoviária, que resiste até hoje, é um lugar infame e emporcalhado que retrata muito bem o caos. Todos os anos durante o verão a vergonha rondoniana se torna internacional: a fumaça das queimadas do que resta da floresta amazônica assombra o mundo e nos coloca como  vilões do aquecimento global.




*Foi Professor em Porto Velho.