Os erros do “Véi da Havan”
Professor
Nazareno*
Luciano Hang é
um empresário catarinense de extrema-direita também conhecido pela alcunha de “Véi da Havan”. Homem de grande sucesso
empresarial, ele é coproprietário das lojas Havan, um enorme conglomerado de
lojas de departamentos, com mais de 120 filiais espalhadas pelo Brasil e pelo
menos 12 mil funcionários. Um dos homens mais ricos do Brasil, segundo a Revista
Forbes, Hang se envolveu de corpo e alma na última campanha presidencial que
levou Jair Bolsonaro ao Planalto. O “Véi
da Havan” ganhou notoriedade nacional ao se expor publicamente desde o ano
passado numa agressiva campanha política contra a esquerda, o PT e o
ex-presidente Lula. Ele, assim como qualquer outro cidadão brasileiro em pleno
gozo de seus direitos políticos, não está errado em ter uma preferência política
e apoiar qualquer candidato que deseje.
Mas não devia. Ou pelo menos, mesmo
tendo essa preferência, poderia ter evitado se expor da maneira que o fez. Ele
é um comerciante. E essa profissão não é muito indicada para se tomar um
partido ou uma posição política. Bolsonaro teve 57 milhões de votos, mas a
esquerda obteve pelo menos 47 milhões. Em tese, Luciano Hang e a sua Havan
estão “contra” os petistas e os
esquerdistas. Ou seja, estão abrindo mão de um contingente populacional igual a
uma Espanha, uma Colômbia ou uma Argentina. Um bom comerciante não poderia
deixar de vender seus produtos a ninguém. Por isso não deveria se expor
publicamente. A sorte do velho comerciante é que no Brasil, as pessoas se esquecem
facilmente das coisas. O festival de grosserias nas redes sociais e na mídia o
colocou contra uma gama muito grande de brasileiros de esquerda.
Exposto desnecessariamente, Luciano
Hang já foi acusado de não ser um bom comerciante, pois “escolhe” tipo de governo para poder se dar bem. “Um bom comerciante deve sobreviver em
quaisquer circunstâncias”, é um mantra bastante conhecido nesse setor. Além
do mais, há denúncias de que ele deve fortunas ao BNDES e que o presidente
Bolsonaro teria desistido de abrir a “caixa
preta” do banco porque viu uma relação com o nome do comerciante
catarinense. Ele fala mal do PT e do Lula, mas suas mais de 120 lojas não
surgiram do acaso, agora. As lojas Havan foram fundadas em 1986 e prosperaram
em todos os governos. Já se insinuou que Havan remete a Havana, capital de
Cuba, um país socialista. Disseram também que o nome deveria ser algo que
remetesse ao Brasil e que o símbolo deveria ser o Cristo Redentor.
O ódio semeado pelo comerciante
infelizmente já pode ter começado a colher os (maus) resultados. Uma das
estátuas foi criminosamente incendiada em São Carlos, interior de São Paulo. Já
imaginou se essa onde terrorista se dissemina pelo país afora? Afinal de contas
ele fez muitos inimigos com sua equivocada e desnecessária militância política.
O gasto com segurança a partir de agora é um prejuízo a mais que poderia ter
sido evitado se o “Véi da Havan” não
tivesse publicamente declarado de forma tão agressiva a sua preferência por
governantes. O bom comerciante é como o bom jornalista. Ambos não deveriam se
envolver de forma tão enfática nestas disputas estéreis. Deviam evitar, por
exemplo, torcer apaixonadamente por um time de futebol, assumir publicamente uma
posição política, professar uma religião qualquer ou mesmo demonstrar amor
incondicional ao lugar onde nasceu. Eu evito comprar nas lojas Havan.
*Foi
Professor em Porto Velho.
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