sexta-feira, 3 de janeiro de 2020

Os erros do “Véi da Havan”


Os erros do “Véi da Havan

Professor Nazareno*

            Luciano Hang é um empresário catarinense de extrema-direita também conhecido pela alcunha de “Véi da Havan”. Homem de grande sucesso empresarial, ele é coproprietário das lojas Havan, um enorme conglomerado de lojas de departamentos, com mais de 120 filiais espalhadas pelo Brasil e pelo menos 12 mil funcionários. Um dos homens mais ricos do Brasil, segundo a Revista Forbes, Hang se envolveu de corpo e alma na última campanha presidencial que levou Jair Bolsonaro ao Planalto. O “Véi da Havan” ganhou notoriedade nacional ao se expor publicamente desde o ano passado numa agressiva campanha política contra a esquerda, o PT e o ex-presidente Lula. Ele, assim como qualquer outro cidadão brasileiro em pleno gozo de seus direitos políticos, não está errado em ter uma preferência política e apoiar qualquer candidato que deseje.
            Mas não devia. Ou pelo menos, mesmo tendo essa preferência, poderia ter evitado se expor da maneira que o fez. Ele é um comerciante. E essa profissão não é muito indicada para se tomar um partido ou uma posição política. Bolsonaro teve 57 milhões de votos, mas a esquerda obteve pelo menos 47 milhões. Em tese, Luciano Hang e a sua Havan estão “contra” os petistas e os esquerdistas. Ou seja, estão abrindo mão de um contingente populacional igual a uma Espanha, uma Colômbia ou uma Argentina. Um bom comerciante não poderia deixar de vender seus produtos a ninguém. Por isso não deveria se expor publicamente. A sorte do velho comerciante é que no Brasil, as pessoas se esquecem facilmente das coisas. O festival de grosserias nas redes sociais e na mídia o colocou contra uma gama muito grande de brasileiros de esquerda.
            Exposto desnecessariamente, Luciano Hang já foi acusado de não ser um bom comerciante, pois “escolhe” tipo de governo para poder se dar bem. “Um bom comerciante deve sobreviver em quaisquer circunstâncias”, é um mantra bastante conhecido nesse setor. Além do mais, há denúncias de que ele deve fortunas ao BNDES e que o presidente Bolsonaro teria desistido de abrir a “caixa preta” do banco porque viu uma relação com o nome do comerciante catarinense. Ele fala mal do PT e do Lula, mas suas mais de 120 lojas não surgiram do acaso, agora. As lojas Havan foram fundadas em 1986 e prosperaram em todos os governos. Já se insinuou que Havan remete a Havana, capital de Cuba, um país socialista. Disseram também que o nome deveria ser algo que remetesse ao Brasil e que o símbolo deveria ser o Cristo Redentor.
            O ódio semeado pelo comerciante infelizmente já pode ter começado a colher os (maus) resultados. Uma das estátuas foi criminosamente incendiada em São Carlos, interior de São Paulo. Já imaginou se essa onde terrorista se dissemina pelo país afora? Afinal de contas ele fez muitos inimigos com sua equivocada e desnecessária militância política. O gasto com segurança a partir de agora é um prejuízo a mais que poderia ter sido evitado se o “Véi da Havan” não tivesse publicamente declarado de forma tão agressiva a sua preferência por governantes. O bom comerciante é como o bom jornalista. Ambos não deveriam se envolver de forma tão enfática nestas disputas estéreis. Deviam evitar, por exemplo, torcer apaixonadamente por um time de futebol, assumir publicamente uma posição política, professar uma religião qualquer ou mesmo demonstrar amor incondicional ao lugar onde nasceu. Eu evito comprar nas lojas Havan.



*Foi Professor em Porto Velho.

Nenhum comentário: