Eu, prefeito de
Porto Velho
Professor
Nazareno*
Depois de muita
luta comigo mesmo e com os meus familiares, resolvi que neste ano de 2020
entrarei na política e pretendo ser candidato a prefeito de Porto Velho,
capital de Roraima. Ser um reles vereador não me interessa. Quero o cargo
majoritário. E ganharia as eleições com muita folga, já que sou uma das pessoas
mais benquistas daqui. Obter 200 mil votos é fichinha numa cidade que já
demonstrou várias vezes ter uma grande empatia com a minha pessoa. E no Palácio
Tancredo Neves, eu farei coisas que até o Satanás duvidará. Em primeiro lugar
abriria mão do meu salário como alcaide. Mas não extinguiria a verba. A
prefeitura nada economizaria: todo mês com a grana na minha conta eu a doaria a
uma instituição e com isso conseguiria bem mais benefícios políticos. E como
quase todos os eleitores são burros e idiotas pensarão que faço o bem.
Como prefeito de
uma capital, eu não perderia a oportunidade de viajar todo mês para o exterior.
Visitaria Paris, Barcelona, Viena, Nova Iorque, Berlim, Roma e toda e qualquer cidade
civilizada do mundo só para ver como funcionam as coisas por lá e depois poder
rir da cara dos otários eleitores porto-velhenses que votaram em mim, pois nada
que fosse bom eu traria para este “fim de
mundo sem eira nem beira”. Assim que assumisse o poder, mandaria demitir
todos os funcionários concursados e contrataria somente comissionados. “Afinal de contas um comissionado pode ser demitido
a qualquer instante e um concursado é para a vida toda”. Além do mais, com
o pessoal que entrou por concurso é muito mais difícil se fazer as “rachadinhas”. Votem em mim,
principalmente aqueles que não gostam muito de estudar para fazer concursos
públicos.
Comigo todos os alunos da zona rural e
das áreas ribeirinhas ficarão sem aulas para sempre. Dois anos sem estudar é
muito pouco. Na questão ambiental vou inovar: arrancarei as poucas árvores
frutíferas da cidade e vou mandar plantar só Louro Bosta. O inconfundível
cheiro de merda a que já estamos acostumados aqui indicará o início do verão em
toda a cidade. Isso se antes o fogaréu descontrolado não der fim ao que resta
da floresta amazônica. Serei o prefeito do motosserra e da fumaça. Criarei até
o “dia do fogo” em Porto Velho. Só
não esperem que eu vá amar, beijar, abraçar, acariciar e lamber a imunda cidade
onde serei prefeito. Não sou lombriga nem tampouco tapuru. E espero que durante
a chuva de merda que todos esperam ansiosamente cair um dia por aqui, eu esteja
viajando para as belíssimas cidades da Europa ou dos Estados Unidos.
Mas juro que não deixarei a pacata e
charmosa vilazinha de Calama sem médico fixo. Aquele povo não merece essa tormenta
todos os anos. Na minha gestão comprarei todos os vereadores. Não quero ter oposição
no Legislativo Municipal. Distribuirei rios de dinheiro para todos eles. Afinal
de contas só haverá comissionados na prefeitura e os gastos com a folha serão
drasticamente reduzidos. Mandarei finalmente iluminar a ponte do rio Madeira. E
uma “reluzente favela” nascerá do
outro lado do rio. Mandarei subsidiar farinha de mandioca para toda a população
da cidade. Carnaval será a minha obra principal para todas as pessoas de bom
gosto. Premiarei a banda que produzir mais lixo na cidade. E já sei qual será a
vencedora. “Se não fosse essa famosa
banda, os garis estariam todos desempregados”. Por favor, votem em mim.
Serei um prefeito inovador. Só tem um problema: se eu for mesmo eleito,
desapareço daqui muito antes de assumir.
*Foi Professor em Porto Velho.
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