O meu amigo
chinês
Professor
Nazareno*
Deng Hua Fong é um amigo meu. Ele é
professor na província de Hubei, China, e leciona Mandarim na cidade de
Xianning, distante apenas 97 quilômetros de Wuhan. Conheci-o quando estive na
Europa no ano passado. Deng sempre quis conhecer a Amazônia. Por isso está
hospedado em minha casa aqui mesmo em Porto Velho. Só que ele está um pouco
gripado. Ele tosse muito, tem febre e está espirrando. Não estou muito
preocupado com a saúde do meu amigo. Disse-lhe que a mudança de temperatura entre
os dois países pode ter-lhe custado uma “gripezinha
à toa”. Deng está todo feliz e já me disse que gostaria de fazer muitas
visitas a órgãos públicos de Porto Velho. Assim que melhorar deste resfriado,
pretendo andar com ele pelas ruas e bairros da cidade e, claro, visitar várias
coisas desta capital, pois o mesmo está muito curioso com tudo.
Terei o maior prazer em mostrar ao
meu amigo oriental o novo prédio da Assembleia Legislativa de Rondônia ali na
antiga Esplanada das Secretarias no encontro das avenidas Calama e Farquar. De
preferência assistir com ele a uma das muitas sessões ordinárias daquela casa
de leis. Não tem coisa mais prazerosa do que, entre um espirro e outro do meu
amigo, observar atentamente aos discursos dos 24 deputados estaduais. Meu amigo
ficará mais curioso ainda quando souber quanto custa para Rondônia cada um
desses parlamentares. Direi a ele que todos os deputados em um ano equivalem
aproximadamente a um novo hospital todo equipado. Não sei qual será a reação dele
a todo este descalabro. Talvez mais espirros ainda dentro daquele ambiente
também doentio. Deng é um sujeito muito politizado, por isso será normal a sua
reação.
E quando ele
souber que aqui em Rondônia o Estado e as prefeituras contratam mais
funcionários comissionados do que concursados? Lógico que vindo de um país
comunista como é a China ele não vai entender muito bem essa prática esquisita daqui.
Mas explicarei tudo detalhado a ele: “Deng,
o comissionado pode ser demitido a qualquer hora, enquanto o concursado é para
a vida toda”. Além do mais, lhe mostrarei que um funcionário comissionado
pode se prestar a uma “rachadinha”,
prática muito usual no país. Meu medo é que ele espirre ainda mais. Na ponte
ainda escura do rio Madeira ele sem dúvida ficará maravilhado quando eu levá-lo
lá. Falarei a ele sobre a Energisa e as boas relações que ela tem com o
consumidor de Rondônia. O ideal seria fazermos um passeio dentro de um ônibus
urbano. Mas isso será impossível.
No Espaço
Alternativo da cidade ele certamente ficará encantado com aquela “geringonça imprestável”. E deverá me
perguntar para que serve aquilo. Mas legal mesmo será quando eu levar meu amigo
chinês à Câmara Municipal de Porto Velho para ver os vereadores “trabalhando” em benefício do povo. Isso
em outra sessão também ordinária, claro. Qual será a reação dele quando souber
que as crianças da zona rural do município estão há mais de dois anos sem
direito à escola por falta de transporte escolar? Tomara que ele não morra de
tanto espirrar, pois lhe direi que Porto Velho é uma porcaria, mas tem mais de
20 pré-candidatos querendo ser prefeito. Já pensou na sua reação quando souber
o que é auxílio-moradia e para quem é pago? Só não o levo à Banda do Vai Quem
Quer porque parece que essa gripe dele está piorando e bem antes do Carnaval
ele voltará à China. Já ao famoso “açougue”
jamais o levaria.
*Foi
Professor em Porto Velho.
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