O ópio dos
brasileiros
Professor Nazareno*
Karl Marx disse certa
vez que a religião é o ópio do povo. Seguindo essa lógica, compreende-se que no
Brasil também existem pelo menos duas coisas de efeito igualmente anestésico e
hipnótico sobre o povão: o futebol e o Carnaval. Travestidas de cultura
popular, essas duas “drogas”
nacionais têm o poder de amortecer a realidade e de escamotear as agruras de um
povo sofrido e espoliado. O Carnaval só acontece uma vez ao ano, mas consegue
ocultar a triste realidade de maneira muito cruel. Leva multidões às ruas num
delírio jamais visto numa sociedade civilizada. Dizem que une as pessoas das
mais diferentes ideologias e visão social. Aqui, direita, esquerda e centro se irmanam
numa infinita alegria nas comemorações populares. Durante a orgia, o país
mergulha num processo de total esquecimento de seus problemas. E tudo vira
festa.
Já o futebol é o
ano todo. O esporte das multidões opõe torcedores de times diferentes, mas tem
a mesma função da folia: inebriar multidões, semear o comodismo, dar a
impressão de ser algo sério e tirar o pouco poder de luta das pessoas comuns.
Por isso, a classe política e a elite econômica do país “pegam carona” nestas festas populares que nada têm de cultura.
Carnaval é algo patético que apenas incita a violência e favorece o consumo de
drogas. O número de mortos todos os anos por causa das “Folias de Momo” cresce de maneira ascendente em todo o país. Isso
sem falar na sujeira que proporciona nas ruas. Em Porto Velho, por exemplo, a
Banda do Vai Quem Quer promove todo ano um festival de lixo e nojeira. Mesmo após
quarenta anos de desfile, os organizadores e brincantes ainda não foram
civilizados em relação ao fato.
Talvez a única
contribuição que essa banda dá a Porto Velho seja somente a imundície e o lixo
que produz no sábado em que vai às ruas. Toneladas e mais toneladas de podridão
e monturo é o que se observa já no domingo pela manhã. Ainda bem que não
precisa do escasso dinheiro público para desfilar como fazem os muitos blocos
daqui e de outras cidades do país. Nunca entendi por que seus organizadores
nunca tentaram pelo menos conscientizar os brincantes com relação ao lixo que
produzem. Em tempos de Coronavírus, desfilar blocos com milhares de pessoas é
um risco desnecessário que os cidadãos conscientes deveriam evitar. Mas isso é
quase impossível, pois dificilmente se encontra alguém com boa leitura de mundo
e consciente entre os brincantes e também entre os amantes do futebol. Ali é só
bebedor de cachaça.
Com o
pré-carnaval, o Brasil “ganhou” mais
uma semana de dias parados. São quase dez dias sem nenhuma produção nas
indústrias e no governo, com escolas, fábricas e comércio paralisados em troca
de nada. Mas é compreensível, pois “o ano
só começa pra valer mesmo depois do Carnaval”, é o que se costuma dizer no
país que nunca sai da “crise”. Nas
nações civilizadas também existe futebol e Carnaval, mas tudo dentro do aceitável
sem a necessidade absurda de paralisar um país inteiro nem de sair por aí
matando pessoas a esmo em nome da folia. Futebol e Carnaval nunca acrescentaram
nada ao Brasil, além de muito prejuízo, mortes e mais violência numa sociedade já
turbinada pelo álcool e pelas drogas pesadas onde se matam quase 50 mil
cidadãos todos os anos. É tempo de Carnaval e de Flamengo campeão. Não há como
enxergar o Covid-19, fim da democracia, aquecimento global, violência. Tudo é
samba!
*Foi
Professor em Porto Velho.
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