Eu
também me censuraria!
Professor
Nazareno*
Eu
fui professor de Redação e Gramática Normativa durante 43 anos. Também sou
jornalista com formação acadêmica. Portanto, leio muito e escrevo textos. Mas
não gosto deles. Nunca gostei de nenhum dos quase mil textos que já escrevi.
Neles falo sobre Porto Velho, Rondônia, o Brasil e o mundo. Procuro mostrar a
realidade. E como ela não presta... Geralmente escrevo pela manhã depois de ir ao
banheiro fazer as minhas necessidades. Ou então quando estou sóbrio. E também
não concordo com muitas ideias de meus textos. Gostaria de ver outra realidade
para mudar minha maneira de escrever. Odeio a censura e o obscurantismo e
sempre entendi que a leitura, qualquer leitura, torna o leitor mais maduro, mais
esperto e mais conhecedor da realidade que o cerca. Por isso, qualquer
tentativa de cercear uma obra deve ser repelida com toda força.
E
parece que a censura quer voltar a nos incomodar. Em Rondônia, um documento da
Secretaria de Estado da Educação, a SEDUC, teria determinado o recolhimento nas
escolas estaduais de 43 livros dentre os quais clássicos da nossa literatura
como “Memórias Póstumas de Brás Cubas”
de Machado de Assis, “Macunaíma” de
Mário de Andrade, “Os Sertões” de
Euclides da Cunha. “Mas a ordem não
chegou a ser efetivada”, disse o governo do Estado. Até clássicos da
literatura internacional como “O Castelo”
de Franz Kafka e “Contos de Terror, de
Mistério e de Morte” de Edgar Allan Poe também passariam pela tesoura
tresloucada da SEDUC/RO, que argumentava que os livros apresentavam “conteúdos inadequados às crianças e
adolescentes”. E se for verdade, Voltaire tremeu no túmulo. Chegamos à
Idade Média.
O
problema é que acontece muita coisa dantesca em Rondônia com relação à censura.
Já vi “jornalistas” se insurgirem
contra meus textos e tentarem fazer campanhas contra mim nas redes sociais. Já
vi um aluno de uma faculdade particular jogar um livro numa professora
simplesmente porque não queria lê-lo. Já vi vários sujeitos metidos a
intelectuais pedirem para os sites censurarem o que escrevo. Mas teimoso que
sou, continuo escrevendo. E mostrando para todos a realidade como eu a vejo. Vai ler quem quer. Tenho esse direito que me é garantido pela Constituição e não
pretendo parar tão cedo. Admito: eu me censuraria, pois como já disse, eu não
gosto do que escrevo. Mas somente eu poderia fazer isto comigo mesmo. Ninguém
mais. Por isso tremo de medo em pensar que tudo isto seja verdade. O Estado
censurando a boa leitura.
Custa-me
acreditar que alguém da SEDUC/RO, órgão a que orgulhosamente servi até durante
a Ditadura Militar, tenha pensado em fazer uma sacanagem destas. Não se pode
voltar no tempo e isto só pode ser brincadeira. Eu posso estar sonhando, mas em
Ariquemes, há dois anos, tentaram proibir livros “impróprios para crianças” rasgando-lhes algumas páginas. O Brasil
hoje, com este “governo de loucos”,
vive dias sombrios em que se prega abertamente que a terra é plana, que nunca
houve tortura aqui, que o Nazismo era de esquerda e tantas outras tolices já
ultrapassadas. E Rondônia parece querer pegar carona na estupidez. Os jornais
de todo o país já repercutem esta idiotice escancarada. Somos notícia
(negativa) de novo. Como se já não bastassem os nossos políticos, o “açougue” João Paulo Segundo e de sermos
a pior cidade do país em saneamento básico, agora alguns “sábios de araque” nos aprontam mais esta vergonha.
*Foi Professor em Porto Velho.
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