Uma nação
privatizada
Professor
Nazareno*
Sempre acreditei
na máxima de que “quando tudo for
privado, seremos privados de tudo”. E essa discussão no Brasil vem desde os
governos neoliberais de FHC no final da década de 1990. “O Estado tem que ser o menor possível”, diziam os teóricos dessa
aberração social. No nosso país, onde os governantes nunca investiram em Educação
de qualidade, o resultado não podia ser diferente: desemprego em massa e uma
economia baseada na informalidade. Essas são as “conquistas” que observamos hoje mais de duas décadas depois. A Vale
do Rio Doce e a Energisa são dois exemplos típicos da grande onda de
privatizações que tomou conta do Brasil nos últimos anos. Mesmo com 13 anos de
um governo de esquerda, a onda privatizante se espalhou pelo Brasil, entregou
várias empresas estatais à iniciativa privada e ainda continua sendo uma
panaceia milagreira.
Mas não é. A
privatização dos bens pertencentes ao Estado só aumentou a desigualdade social
e os problemas dos cidadãos brasileiros, que pagam uma das maiores cargas
tributárias do mundo, e nada recebem em troca. Se o Estado se desfizer de seus
bens, deveria também parar de cobrar tantos tributos. Mas a desestatização não
funciona assim. Pelo menos no nosso país. O Estado se desfaz de seu patrimônio
e continua cobrando altos impostos de todos. Aqui não temos Educação de
qualidade, não temos Saúde, não temos saneamento básico, nem qualquer
assistência do Poder Público. Até o que se paga de energia vai para uma empresa
privada que só vê o lucro. No caso específico de Rondônia, a atuação da
Energisa dispensa quaisquer comentários. Assim como a Vale do Rio Doce com os seus
incríveis desastres de Mariana e de Brumadinho.
Nos países
desenvolvidos de Primeiro Mundo tudo o que é público funciona muito bem. No
Brasil, só dá certo tudo que é privado. Por isso, a ideia de privatizar tudo
tomou conta de todos indistintamente. Quando os funcionários da antiga Ceron
saíam às ruas, por exemplo, todo mundo gritava a uma só voz: “têm que privatizar mesmo. Só assim vai
melhorar”. E a classe política local foi a primeira a entregar o patrimônio
dos rondonienses aos forasteiros. Depois eles tentaram consertar a bobagem
criando uma CPI na Assembleia Legislativa para “defender os consumidores lesados pela empresa mineira”. Tarde
demais. “Só conversa para inglês ver”.
Sem a sua empresa de energia elétrica e tendo que pagar por uma das mais altas
taxas de energia elétrica do país, os tolos rondonienses perderam tudo e hoje choram
“desolados” sobre o leite derramado.
Agora o governo
do “Mito” quer privatizar o resto do
que sobrou do Estado brasileiro. Os Correios, A Caixa Econômica Federal, o Banco
do Brasil, os poucos bancos estaduais que ainda existem, as estradas, as
escolas públicas, os hospitais, a Petrobras, os portos, a Amazônia, o Cerrado,
o litoral, as chapadas, as universidades federais e talvez até todos os Estados
da Federação. Nada escapa da sanha privacionista do atual governo. Se depender
de Brasília, tudo será entregue à iniciativa privada. E nada de se fazer a
reforma tributária. Nada de diminuir os impostos. Nada de tentar melhorar os
serviços públicos. Os mais de 13 milhões de desempregados sofrem pela
incompetência dos sucessivos governos. O Estado sendo público nunca funcionou
para a maioria de seus sofridos cidadãos. Por que melhorará se for todo doado à
iniciativa privada? Aqui sempre prevaleceu a ideia da “Casa Grande e Senzala”. Triste tudo isso!
*Foi
Professor em Porto Velho.
Nenhum comentário:
Postar um comentário