Turismo na
fumaça
Professor
Nazareno*
Porto Velho, a capital de Roraima, é o cu do mundo. Disso quase todo mundo que tem o azar de morar por aqui sabe. Claro que essa comparação não é para ofender ninguém, pois se deve respeitar essa parte do corpo humano. Sabe-se também que é a última dobra do esfíncter anal e que tem talvez a pior qualidade de vida dentre as capitais do país. E nesta época do ano, a fumaça tóxica das criminosas queimadas dão o toque urbano característico da cidade. Estamos no início de setembro, em pleno verão nesta parte do Brasil, com temperaturas beirando os 40 graus, umidade relativa do ar muito baixa e fumaça sufocante. Visitar a cidade só se for a negócios. Turismo neste buraco quente e asfixiante nem pensar. O apelido de antessala do inferno é fácil de entender se alguém passar pelo menos uma hora andando por suas ruas quentes e sujas.
Por isso, o desfile de sete de
setembro em Porto Velho é algo patético no meio de todo este ambiente infernal.
Pelotões se perdem em meio à densa camada de fuligem. Pior: o Corpo de
Bombeiros, ironizando a todos os presentes ali, desfila seus modernos carros de
combate a incêndios florestais. Autoridades se cumprimentam e o povão aplaude a
todos no meio daquele verdadeiro inferno na terra. Entra ano e sai ano e a fumaça
densa atormenta os moradores. Crianças e velhos doentes lotam os poucos e despreparados
hospitais públicos. Rinite alérgica, asma, bronquite, sinusite e outras doenças
da estação é o que mais se observa nesta época. Uma vergonha se levarmos em
consideração que aqui temos Bombeiros, SIPAM, Sivam, Sema, IBAMA dentre muitos
outros órgãos responsáveis pela defesa do meio ambiente e das florestas
equatoriais.
Ninguém sabe qual a época do ano é a
pior por aqui. Quando terminar este suplício sufocante, vêm as chuvas
torrenciais com rajadas de ventos que derrubam árvores, torres de comunicação,
sinais de trânsito e provocam as já famosas alagações com lama podre entrando
nas residências feitas de palafitas. As ruas sem esgotos ou saneamento básico
se enchem rapidamente de água contaminada e pútrida. Os poucos bueiros são
tomados por lixo, papel, plástico e garrafas pet provocando um caos urbano só
visto nas piores cidades do mundo subdesenvolvido. O martírio na “capital do lixo” passa a ser movido a
água. Só escapa da hecatombe quem tem a sorte de morar nos dois ou três únicos
edifícios da urbe. Para completar a bagunça, a cidade não tem mobilidade urbana
nenhuma. Moto táxis, táxis compartilhados e ônibus velhos completam o caos.
Sem nenhum acanhamento, os políticos
estão agora à cata de votos. Mesmo aqueles que nada fizeram pela cidade. Na
maior cara de pau os miseráveis prometem mundos e fundos para os sofridos eleitores
porto-velhenses. Só que quanto menos eles fizerem por Porto Velho e por
Rondônia mais chances eles terão de ser eleitos. Essa rotina amaldiçoada se repete
a cada ano que tem eleições. Nenhum deles promete, por exemplo, acabar com a
fumaça e o lodaçal, marcas registradas das duas únicas estações climáticas da
cidade. Passam-se as eleições, sai verão, entra inverno e a rotina de
sofrimento e angústias continua a nos fazer companhia. Para fazer turismo na “capital da fedentina” é necessário usar
máscara no verão e botas sete léguas no inverno. As campanhas do governo do
Estado, em outdoor e cartazes, para acabar com as queimadas não são lidas
porque há muita fumaça. Turismo em Rondônia: estágio para o inferno.
*É
Professor em Porto Velho.
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