sábado, 8 de setembro de 2018

Turismo na fumaça



Turismo na fumaça


Professor Nazareno*

           
             Porto Velho, a capital de Roraima, é o cu do mundo. Disso quase todo mundo que tem o azar de morar por aqui sabe. Claro que essa comparação não é para ofender ninguém, pois se deve respeitar essa parte do corpo humano. Sabe-se também que é a última dobra do esfíncter anal e que tem talvez a pior qualidade de vida dentre as capitais do país. E nesta época do ano, a fumaça tóxica das criminosas queimadas dão o toque urbano característico da cidade. Estamos no início de setembro, em pleno verão nesta parte do Brasil, com temperaturas beirando os 40 graus, umidade relativa do ar muito baixa e fumaça sufocante. Visitar a cidade só se for a negócios. Turismo neste buraco quente e asfixiante nem pensar. O apelido de antessala do inferno é fácil de entender se alguém passar pelo menos uma hora andando por suas ruas quentes e sujas.
            Por isso, o desfile de sete de setembro em Porto Velho é algo patético no meio de todo este ambiente infernal. Pelotões se perdem em meio à densa camada de fuligem. Pior: o Corpo de Bombeiros, ironizando a todos os presentes ali, desfila seus modernos carros de combate a incêndios florestais. Autoridades se cumprimentam e o povão aplaude a todos no meio daquele verdadeiro inferno na terra. Entra ano e sai ano e a fumaça densa atormenta os moradores. Crianças e velhos doentes lotam os poucos e despreparados hospitais públicos. Rinite alérgica, asma, bronquite, sinusite e outras doenças da estação é o que mais se observa nesta época. Uma vergonha se levarmos em consideração que aqui temos Bombeiros, SIPAM, Sivam, Sema, IBAMA dentre muitos outros órgãos responsáveis pela defesa do meio ambiente e das florestas equatoriais.
            Ninguém sabe qual a época do ano é a pior por aqui. Quando terminar este suplício sufocante, vêm as chuvas torrenciais com rajadas de ventos que derrubam árvores, torres de comunicação, sinais de trânsito e provocam as já famosas alagações com lama podre entrando nas residências feitas de palafitas. As ruas sem esgotos ou saneamento básico se enchem rapidamente de água contaminada e pútrida. Os poucos bueiros são tomados por lixo, papel, plástico e garrafas pet provocando um caos urbano só visto nas piores cidades do mundo subdesenvolvido. O martírio na “capital do lixo” passa a ser movido a água. Só escapa da hecatombe quem tem a sorte de morar nos dois ou três únicos edifícios da urbe. Para completar a bagunça, a cidade não tem mobilidade urbana nenhuma. Moto táxis, táxis compartilhados e ônibus velhos completam o caos.
            Sem nenhum acanhamento, os políticos estão agora à cata de votos. Mesmo aqueles que nada fizeram pela cidade. Na maior cara de pau os miseráveis prometem mundos e fundos para os sofridos eleitores porto-velhenses. Só que quanto menos eles fizerem por Porto Velho e por Rondônia mais chances eles terão de ser eleitos. Essa rotina amaldiçoada se repete a cada ano que tem eleições. Nenhum deles promete, por exemplo, acabar com a fumaça e o lodaçal, marcas registradas das duas únicas estações climáticas da cidade. Passam-se as eleições, sai verão, entra inverno e a rotina de sofrimento e angústias continua a nos fazer companhia. Para fazer turismo na “capital da fedentina” é necessário usar máscara no verão e botas sete léguas no inverno. As campanhas do governo do Estado, em outdoor e cartazes, para acabar com as queimadas não são lidas porque há muita fumaça. Turismo em Rondônia: estágio para o inferno.




*É Professor em Porto Velho.

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