Rondônia de luto
Professor
Nazareno*
O dia é dois de outubro. E a tristeza é uma
só: Porto Velho, a insólita, suja, fedorenta e amaldiçoada capital dos rondonienses
está completando 104 anos de muita agonia e sem absolutamente nada para
comemorar. Roraima inteira devia estar de luto por esta data tão triste em seu
calendário. Porto Velho é a pior dentre as capitais do Brasil em saneamento
básico e água tratada. O Instituto Trata Brasil praticamente aponta nossa
capital como um lugar inóspito para se viver, uma vez que tem um dos piores
IDH’s do país. Diferente de cidades relativamente novas como algumas do
Centro-Sul do Brasil, a exemplo de Blumenau, Londrina e Maringá, a “Capital da Fedentina” desponta como a
pior em limpeza e urbanização. E para piorar este ranking, o lugar é violento,
sem planejamento, desarborizado, quente e sem mobilidade urbana.
Morar em Porto Velho é como uma
praga rogada em outras encarnações, se isso existir. Nada, mas absolutamente
nada na cidade nos traz alegria. Com raríssimos 2% de rede de esgotos é comum
encontrarmos nas ruas merda boiando a céu aberto. Água encanada há, mas não
chega a 30%, por isso o abastecimento geralmente é feito a partir de poços
rasos, sujos, cavados ao lado de fossas sépticas. Doenças já erradicadas nos
lugares desenvolvidos e civilizados há séculos como lombriga, conjuntivite,
sarna, diarreia crônica e coceiras são rotina por aqui. E não tem como se
tratar adequadamente. O “açougue”
João Paulo Segundo, uma espécie de hospital de pronto-socorro é o único
logradouro público disponível para atender aos milhares de pacientes. Entra
governo e sai governo e o “velho açougue”
lá atestando a incompetência das nossas autoridades.
A cidade aniversariante é um lugar
tão desgraçado que nunca teve um filho seu para lhe administrar nestes 104 anos
de existência. Desde o maranhense Major Guapindaia até o pernambucano Hildon
Chaves que os eleitores fazem questão de escolher para prefeito somente os
cidadãos de fora. A rotina urbana é dividida em duas estações anuais. O inverno
com muita merda, lama, lodo, sujeira, mato, fedentina, lixo, carniça, ratos,
urubus, baratas, percevejos, carapanãs e toda sorte de insetos. E o verão com poeira
sufocante, fumaça das queimadas, buracos nas ruas e mais bosta. Nunca entendi
porque os funcionários públicos lotados na cidade não recebem uma espécie de
adicional de insalubridade. Aqui se corre o risco de contrair malária, dengue,
Zika, esquistossomose, lepra, curuba, febre tifo e outras doenças já
erradicadas na civilização.
Porto Velho está aniversariando e como
presente maior deveria receber um decreto de extinção. Ou pelo menos perder a
condição de ser capital de um Estado, já que não reúne nenhuma qualidade para
isso. Não tem porto, não tem aeroporto internacional, não tem rodoviária
decente, não tem praças floridas, não tem arborização e nem recantos de lazer. Muitos
dos filhos da terra e aqueles “de coração”
ficam bravos quando alguém ousa apontar essas verdades. São pessoas que gostam
de viver no lodaçal urbano. A “capital
das sentinelas avançadas” é um lixo, uma imundície, um buraco quente
imprestável e mal administrado. Eu fico é envergonhado quando meus parentes vêm
da Serra Gaúcha e de Curitiba para me visitar. Já lhes pedi que não façam mais
sacrifícios desnecessários. Como dar os parabéns para uma currutela fedida
assim? Meus pêsames, Porto Velho! O lugar é tão ruim que podia ser a morada do
Bolsonaro.
*É
Professor em Porto Velho.
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