Desvendando
o rondoniense
Professor Nazareno*
Já ouvi dizer
várias vezes que o brasileiro precisa ser estudado devido às suas inúmeras
esquisitices. Resultado do cruzamento genético das três etnias majoritárias da
espécie humana: negro, branco e oriental, o cidadão do nosso país de um modo
geral, segundo as teorias deterministas mais conservadoras, não tem concorrente
no mundo todo. Levando-se em consideração este pensamento quem precisa também
ser analisado seriamente é o sujeito nascido em Rondônia, um rincão atrasado,
subdesenvolvido e esquecido do restante da humanidade. Se o brasileiro comum é
fruto de uma mistura racial, o rondoniense ou rondoniano é fruto da “mistura dessa mistura”. Nem superior nem
inferior a nenhum outro povo, mas dono de uma esquisitice tamanha nas suas
ações que a Antropologia levaria milênios para compreender como eles ainda sobrevivem.
Muito estranho que os rondonienses
tenham como ídolo maior um gaúcho e não um autêntico filho da terra. Coronel
Jorge Teixeira de Oliveira, um preposto da ditadura militar em terras karipunas
e que jamais teve um único voto dos eleitores rondonienses, desponta como um
verdadeiro Deus por aqui. José Maurício Bustani, diplomata de reconhecimento
internacional nunca foi citado pelos moradores locais. Raríssimos rondonienses
sabem que ele nasceu em Porto Velho. Carlos Ghosn, megaempresário de sucesso na
área automobilística nasceu também em Rondônia, mas por aqui quase ninguém sabe
disto. O rondoniano comum costuma endeusar apenas quem nasceu em outro lugar.
Tanto é que quase nenhum deles jamais governou o Estado. A prefeitura da
capital nunca teve um administrador nascido em terras karipunas. Todos vieram
de fora.
É muito esquisito que o povo
rondoniense, mesmo sendo honesto e correto em sua maioria, nas eleições quase só
vota e elege candidatos ladrões e corruptos. E de preferência que tenha nascido
em outro Estado. O governo estadual, as câmaras municipais e o Poder
Legislativo local, por exemplo, estão infestados de forâneos. Neste aspecto,
Rondônia é a puta do Brasil e ainda tem que pagar pelo preservativo. Muitos se
satisfazem quando pegam um empreguinho qualquer no segundo ou terceiro escalão das
administrações públicas. “Tudo para quem
é de fora, nada para os nativos” parece ser o lema deste povo bisonho. Os
melhores empregos, as melhores colocações, as melhores terras. Tudo para os
visitantes. A imponente floresta Amazônica, o Cerrado no Cone Sul do Estado e
até o majestoso rio Madeira foram estuprados só para atender aos outros.
O cidadão daqui parece que está
muito bem conformado com o “açougue”
João Paulo Segundo, um campo de extermínio de pobres feito sob medida para
matar somente quem nasceu aqui. Sim, porque quem é de fora geralmente tem bons
planos de saúde e quando a “coisa se complica”
volta para se tratar em seus locais de origem. A fumaça criminosa todos os anos
alegra também muitos cidadãos nativos. “É
o pregresso chegando”, dizem euforicamente. Porto Velho ser a pior dentre
as capitais do Brasil em saneamento básico, qualidade de vida e queimadas traz
euforia para todos. Futebol nem existe por aqui. Só os times de fora é que merecem
destaque. E todo final de ano muitos passam suas férias nas praias do Nordeste,
no exterior e também no Centro-Sul do país. Aqui só ficam os pobres. Rondoniense
adora andar de barco, mas sem colete. Será que estas “qualidades sinistras” habitam também os que se dizem rondonienses
de coração?
*É
Professor em Porto Velho.
Nenhum comentário:
Postar um comentário