Meu candidato NÃO
é fascista!
Professor
Nazareno*
Já escolhi o
candidato em quem poderei votar nas próximas eleições para Presidente da
República. Dentre todos eles, não há um melhor e que represente tão bem todos
os anseios e pensamentos da esmagadora maioria dos brasileiros. E já vou logo
adiantando: ele NÃO é
fascista. Nunca foi, embora seja cria da caserna. Chegou ao posto de capitão e
por isso tem pensamento e mentalidade moldada dentro dos quartéis. Pode até ter
certo viés antidemocrático, porém a sua “visão
de mundo” supera todas as adversidades possíveis. De propostas simplistas
para administrar um país de enorme complexidade, o meu escolhido não assimila
nem de longe os resquícios que marcaram os perdedores do Tratado de Versalhes.
E é apenas uma coincidência ele ter subido nas preferências por causa da crise
econômica, desemprego, corrupção e violência urbana.
As ideias do meu guru são mesmo
revolucionárias. De início, prega-se armar toda a população para combater a
violência desenfreada. Esqueçam códigos, leis, tratados, convenções, acordos e
outras “tolices” mais. Embarquem no
caminho perigoso e sem volta da “violência
se combate com mais violência”. Pode até ser uma reedição da lei de Talião,
mas “é melhor ter uma sociedade de cegos
e banguelas do que ter de viver acossado nas mãos de bandidos ou de comunistas”.
“Bandido bom é bandido morto”. Aliás,
a lição da caserna foi-lhe muito útil mesmo: impossível viver numa sociedade
dominada pelos adoradores de Karl Marx. Fora do campo ideológico, no entanto,
as soluções fáceis grassam naturalmente para o delírio de seus eleitores.
Negros, índios, mulheres e minorias como homossexuais e quilombolas já sentem um
frio na espinha.
O meu candidato NÃO é tirano, mas entende que existe uma ordem natural das
coisas. Por isso, defende intransigentemente a família tradicional, mesmo já
tendo se casado três vezes e de ter dois filhos “por fora”. Ele é o máximo: tem quatro filhos homens e “fraquejou” quando nasceu o quinto, uma
menina. Mas NÃO é misógino. E
vou logo avisando: nada de Estado Laico. “O
negócio aqui é Estado Cristão”. Gays, esquerdistas, mulheres e até alguns
tipos de religião podem sofrer “privações”
por parte do governo. E está liberada de agora em diante a nossa capacidade de
fazer piada com eles. Não há fascismo nenhum em mostrar o peso dos negros em
arroubas ou de se recusar a estuprar mulher feia. Será que só as bonitas é que
mereceriam este tratamento? E filhos bem criados não “viram” homossexuais nem se casam com mulheres negras.
Meu futuro
presidente NÃO é despótico,
mas defende que a mulher deve ganhar menos do que o homem porque engravida
todos os anos. Não há tirania também em se usar a estupidez e a ignorância como
armas políticas para defender seus ideais. Muitos já fizeram isso. Só que agora,
meio que tardio, prega-se abertamente a utilização do voto útil para derrubar o
meu escolhido. Tolice, ele é fruto da incompetência da Direita e da Esquerda e por
isso fica muito difícil parar com as suas investidas. Estado fraco, corrupção
sem controle, leniência da lei e da ordem, judiciário corrupto, privilégios,
caos social, injustiça secular e desigualdade social abriram o caminho para ele
e agora estão querendo se arrepender? O meu preferido não é um homem de carne e
osso como esses de vocês e NÃO
é ditador. “É uma mentalidade, uma ideia,
uma imaginação que quer usar a democracia para asfixiá-la no seu nascedouro”.
Será que ele vai conseguir?
*É
Professor em Porto Velho.
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