Politicamente “incorreto”
Professor
Nazareno*
Diz a História
que o imperador romano Calígula teria no auge de sua demência nomeado o seu
cavalo Incitatus como senador. Fala-se inclusive que logo após, o mesmo
quadrúpede deveria ser nomeado cônsul. Mais de dois mil anos depois, também no
auge da sua demência coletiva, parte do povo brasileiro elegeu Jair Messias Bolsonaro
como o seu presidente. Como a vida medíocre, a cultura tosca, as atitudes
grosseiras, a carreira militar desqualificada, a contribuição parlamentar nula,
a inconsistência partidária, o linguajar chulo, seus comentários impróprios à
moral, sua fala cheia de barbaridades e a sua total incompetência na diplomacia
política influenciaram o voto de quase 58 milhões de brasileiros? O país foi
tomado de uma hora para outra pelo “empoderamento
da burrice”. Merecemos mesmo ter outro Incitatus?
O Brasil
infelizmente é a cara de seus governantes. E como não existe governo corrupto
com sociedade honesta e nem o contrário, a eleição de um sujeito xucro para
governar os brasileiros foi a coisa mais normal do mundo. Assim como Donald
Trump representa grande parte dos eleitores norte-americanos, Bolsonaro também representa
muito bem os seus eleitores. Monoglota e incapaz de proferir um discurso com
coerência, o atual presidente do Brasil é apenas mais um representante de
plantão das classes mais abastadas que sempre dominaram e deram as cartas na sociedade
nacional. As barbaridades ditas por ele e que serviram para elegê-lo até que
diminuíram, mas a escolha de seus assessores continua a provocar situações
vexaminosas entre os cidadãos brasileiros e fazem a festa de uma imprensa cada
vez mais “antenada” pela crítica.
As declarações
da “ministra da goiabeira” Damares
Alves são um “prato cheio” para os
chargistas de plantão. Em apenas um mês, o desgoverno do “Mito” é um festival de declarações sinistras e de desmentidos.
Durante a campanha, Bolsonaro disse, por exemplo, que era preciso afrouxar
todas as leis ambientais, pois os “coitados
dos empresários” estavam sofrendo muito por não conseguirem produzir de
forma satisfatória. Foi aplaudido e com isso ganhou muitos votos. A tragédia de
Brumadinho, no entanto, fez o governo e o seu líder se calarem e reconhecerem a
realidade dos fatos. Em Davos na Suíça, o Brasil nunca foi tão mal
representado. Até o intérprete escalado para o evento sequer falava
corretamente o Inglês. O “Mito”
também resolveu enveredar pelo caminho do populismo barato. Porém, a hipocrisia
mostrou a real face dos fatos.
Bolsonaro
assinou o termo de posse com uma caneta barata, mas na prática o Brasil teve a
posse presidencial mais cara de toda a História. A primeira-dama fez um belo
discurso em libras, a língua de sinais, porém a secretaria que cuida da
educação de surdos foi extinta logo depois. Embora a comitiva presidencial
tenha se hospedado em um hotel de luxo na Suíça, o “Mito” se permitiu fotografar comendo em um bandejão. Bolsonaro é
fotografado lavando roupa enquanto o patrimônio da família presidencial é
estimado em mais de 15 milhões de reais. E após o COAF detectar movimentações
suspeitas de Flávio Bolsonaro, o presidente disse que “se seu filho errou que pague”. Só que o diretor do COAF foi
exonerado pelo próprio presidente e, a pedido, o STF barrou investigações sobre
o assunto. Com medo de boicote dos árabes, o Brasil não vai mais mudar sua
embaixada em Israel para Jerusalém. Establishment: o politicamente correto?
*É Professor em Porto Velho.
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