Tragédias com
jeitinho
Professor
Nazareno*
Acidentes acontecem. Isso é um fato. Mas no Brasil eles são de certa forma consequências da “brasileirice” e do famoso jeitinho que costumam orgulhar tanta gente por aqui. As tragédias se multiplicam pelo país e somente neste início de ano, já tivemos dois casos que chocaram o mundo: o rompimento da barragem em Brumadinho e o terrível incêndio na concentração do Flamengo, o Ninho do Urubu. O saldo das duas catástrofes é aterrador: quase 400 mortos. Porém, o pior nestes dois casos é que tudo isto poderia ter sido evitado. Isso se esses fatos tivessem ocorrido em um país sério do Primeiro Mundo, onde segurança é levada ao pé da letra. Para se ter uma ideia, o Flamengo foi multado pelos menos 30 vezes pela Prefeitura do Rio de Janeiro por causa de suas instalações. O local não tinha alvará de funcionamento, ainda assim funcionava.
Segundo ainda a Prefeitura do Rio,
faltava um documento do Corpo de Bombeiros e por isso o centro de treinamentos
estava interditado. Infelizmente tem sido assim em quase todas as nossas
tragédias. Providências só são tomadas depois que acontece o pior. Pouco tempo
depois, todo mundo se esquece do ocorrido e a vida “volta ao normal”. Foi assim em Santa Maria na Boate Kiss quando por
total irresponsabilidade dos seus proprietários e também do Poder Público, pelo
menos 242 jovens perderam a vida. Até hoje, seis anos depois, ninguém foi preso
e parece que nunca será. Muito menos responsabilizado pela tragédia que chocou
o mundo. Nos dias que se seguiram, boates espalhadas pelo Brasil inteiro foram
vasculhadas e fiscalizadas como se o nosso país fosse os Estados Unidos ou a
Alemanha. Tudo encenação pura.
Em Brumadinho, a barragem da Vale
soterrou mais de 350 trabalhadores brasileiros. Na Justiça, até agora, não
aconteceu absolutamente nada com o presidente da companhia e nem com os seus
donos. Somente alguns funcionários foram presos e já soltos dias depois. Preso
mesmo quem ficou foram os pobres trabalhadores. E na lama tóxica da barragem
assassina. Agora, sirenes tocam quase todos os dias para alertar a população.
Outra encenação estúpida somente para mostrar eficiência: por que estas
malditas sirenes não tocaram na hora da tragédia para avisar a todos? Depois da
hecatombe em Minas Gerais, barragens no Brasil inteiro estão sendo fiscalizadas
pelas autoridades. Menos a de Santo Antônio a sete quilômetros do centro de
Porto Velho e a de Jirau, pois estas barragens, segundo seus “sábios” técnicos, são totalmente
seguras.
Parece
que todos têm a certeza de que “nem Deus
estoura essas barragens de Rondônia”.
E como o brasileiro só coloca a tranca na porta depois que foi roubado, é bom “botarmos as barbas de molho”. A
hidrelétrica de Santo Antônio fica de frente para a capital do Estado. Está bem
ali só esperando a hora de testar a “capacidade
humana”. Quem já foi orientado dos riscos se uma possível tragédia
acontecer? Nunca houve treinamento para uma evacuação em massa. Sabe-se que em
Rondônia as autoridades não evacuam as pessoas, mas nas pessoas. Onde há
sirenes pela cidade? Quantas mortes ocorrerão em caso de rompimento daquele “troço” cheio de lama? Se o pior
acontecer, quem será responsabilizado? Por que a Capitania dos Portos daqui permite, por exemplo, que barcos viajem sem
que ninguém seja obrigado a usar o colete salva-vidas? Brumadinho, Mariana,
Santa Maria. Porto Velho seria só mais um nome?
*É
Professor em Porto Velho.
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