quarta-feira, 9 de outubro de 2019

A Civil e a Energia S.A.


A Civil e a Energia S.A.


Professor Nazareno*

Sou um pai de família muito pobre e com pouca instrução. Tinha luz elétrica em minha casa, mas ultimamente não conseguia pagar em dia as contas. Atrasei a última fatura por apenas 15 dias e a companhia de luz já veio me cortar o fornecimento. Só que dessa vez foi diferente. Vários eletricistas chegaram de forma agressiva e todos estavam acompanhados de agentes policiais armados até os dentes. Cercaram a minha humilde residência me fazendo ameaças e me deixaram no escuro. As nebulizações que eu dava no meio filho, que é alérgico e asmático, não podem mais ser feitas. À noite, é quase impossível dormir sem o pequeno ventilador que temos. O calor é sufocante e agora até a água que bebemos é quente. A geladeira, que ficava grande parte do tempo desligada, agora só serve como armário para colocar as poucas compras que ainda consigo fazer.
Não posso entender o porquê dessa atitude dos policiais. Gritavam comigo como se eu fosse um bandido dos mais perigosos. Quanto será que eles ganham para fazer isso com pessoas humildes? Se eu reagisse, teria que ser imobilizado e detido por resistência, diziam eles em voz alta. Meu nome foi para o SPC e Serasa. Não posso mais comprar nada à prestação. Há algum tempo, no início da construção das usinas hidrelétricas, eu gritei a todos pulmões: Hidrelétricas, já! Diziam naquele tempo que o povo mais pobre ganharia um Shopping Center e a vida de todos os nativos iria melhorar muito principalmente os mais pobres. Nós forneceríamos energia boa e barata para os grandes centros consumidores, e como temos várias usinas dessas produzindo muito, praticamente daqui para frente não íamos pagar quase nada pela conta de luz.
O rio das usinas sempre foi desta terra, mas a companhia que fornece a energia é de fora, como sempre. E ela pagou apenas 50 mil reais pela compra de uma empresa “que só dava prejuízos”. E toda a classe política, sem exceção, concordou com aquela venda” absurda, já que na época ninguém deu um só pio. “Tudo para os forâneos, nada para os nativos” é um mantra já bastante conhecido entre os consumidores lesados. Como agora esses mesmos políticos estão querendo “defender o povo?”. Será que eles estão defendendo só os empresários e usam a desculpa de que estão defendendo os mais pobres? Muitos desses políticos “lutadores” vão ganhar “carradas de votos” nas próximas eleições, com certeza. E o poder público, faz o que para amenizar o sofrimento dos mais pobres? Apenas fornece policiais para ajudar uma empresa privada.
Porém, essa mesma empresa de eletricidade é uma das melhores e mais bem intencionadas que já se viu em todo o mundo: além de oferecer o seu produto com lisura e honestidade, também constrói canil, manda reformar pátios de órgãos públicos e revitaliza outros prédios do Estado. E faz isso sem nenhum interesse, não é incrível? Só mesmo por amor à terra onde presta os seus excelentes serviços e também pela dedicação que tem por seus consumidores. Hoje, apesar de eu estar sem energia elétrica em minha casa, não há como não demonstrar o meu incondicional amor a esta terra de gente brava e hospitaleira. “Não nasci aqui, mas meu coração é daqui”. E mesmo à luz de velas e com algumas dificuldades, gritarei com toda a força: "temos os melhores políticos do mundo, que lutam por cada um de nós". Depois de privatizada a energia, falta agora o Procon, a polícia e o IPEM, por isso somos muito felizes como povo.




*É Professor em Porto Velho.

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