Porto
Velho, uma cidade cem anos
Professor
Nazareno*
A Biologia nos ensina que todo ser vivo possui função excretora. Já a Sociologia nos fala que toda cidade é um organismo vivo. Dizem que Porto Velho, a nossa capital, é uma cidade. Logo, por ser um organismo vivo deveria ter sistema excretor. Mas não tem. E nunca teve em toda a sua imunda e suja existência de um século. Toda a sujeira produzida por aqui fica dentro do próprio organismo mesmo. Única produção local, são mais de 50 toneladas diárias só de fezes humanas sem ter um lugar de destino. Isso sem falar no lixo e nas imundícies características de uma cidade quase sem água tratada e saneamento básico. Cem anos é a característica maior da capital mais suja do país, segundo o Instituto Trata Brasil. Com pouca qualidade de vida, sem planejamento urbano e sem arborização, a cidade já deveria ter perdido o posto de capital de Estado.
Porto Velho cem anos e também sem
viadutos. Até que as autoridades, quer dizer, os amados e probos políticos que nós
portovelhenses sempre elegemos tentaram construir estes obsoletos e caros
elefantes brancos. Localizados na entrada, ou saída, da cidade são um eterno
desafio aos inoperantes homens públicos locais e há vários anos ficaram lá abandonados
com suas carcaças repletas de manilhas enfeando ainda mais o que já era
horroroso de se ver. Na iminência de cair em cima de carros e pedestres, as tristes
e monstruosas obras pelo menos serviram de catacumba para as pretensões do PT,
o partido que tentou construí-las. Tem uma ponte, mas é inútil, está escura,
custou mais de 300 milhões de reais, continua inacabada, foi inaugurada há
pouco e liga “o nada a coisa alguma”. Lá está a síntese da cidade: feia e
sem nenhuma função aparente.
Cem anos, sem esgotos, sem água
tratada, sem limpeza, sem árvores, sem planejamento urbano nenhum, com muita
malária, dengue, imundícies e lixo, a capital de “Roubônia” é também
muito conhecida pela alcunha de PORCO VELHO. Na enchente histórica de 2014, ano
do centenário desta currutela, o rio Madeira mostrou a verdadeira face da
cidade: um lixão a céu aberto. Tem e sempre teve Prefeito, mas é como se fosse
um município sem o dito cujo. Talvez por ser uma cidade cem anos, poucas
pessoas lhe declaram amor. Quem pode, estuda e mora fora daqui. Muita gente
esconde o fato de ter nascido na “capital brasileira do lixo, da carniça e da
podridão”. E como quem não gosta geralmente não preserva, durante essa
cheia histórica, muitas autoridades locais deixaram as águas infectas destruírem
o pouco da história da cidade.
Na última Copa do Mundo, alguns políticos
mentirosos chegaram a dizer que “isto aqui” seria uma das subsedes do
torneio. Claro que muitos otários acreditaram, mas o que diabos um elegante e
nobre europeu, acostumado com a civilidade, a limpeza e a organização viria
fazer no meio do mato, do atraso e do lodaçal? Somos uns 500 mil contribuintes
vivendo de ilusões, abandonados e na catinga. A Câmara de Vereadores da cidade
é uma piada das mais infames. Dizem as más (e boas) línguas que é um dos
lugares onde há mais sujeira e lama em toda a capital. Isso porque muitos não
conhecem a Assembleia Legislativa do Estado. Diferente das aldeias mais
desenvolvidas e bonitas do mundo, flores por aqui nem nos cemitérios há. É só
lama no inverno e poeira no verão. Chamá-la de antessala do inferno seria um
desrespeito ao Satanás e a sua gente, já que até o “Coisa Ruim” deve defecar
normalmente. Cem anos e por isso com tantos problemas, a cidade deveria ser
transformada em vila ou distrito ou então ser entregue aos bolivianos. Quem
sabe assim teríamos dias melhores? E com muito mais limpeza.
*É Professor em
Porto Velho.
Um comentário:
Professor, eu tive que tomar dois comprimidos de omeprazol pra ler este texto. haha
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